sexta-feira, 11 de março de 2022

Cura do coração


“O coração conhece sua própria amargura; o estranho não participará no íntimo da sua alegria.” Prov 14;10

Seja amargura, seja alegria, pois, só quem está sentindo conhece a real intensidade emotiva que incide sobre si.

Quem olha de fora vê aparências; mas, quem vive sabe como as coisas são. Oportuno o conselho para não tentar mitigar dores com falas vazias. “O que canta canções para o coração aflito é como aquele que se despe num dia de frio, ou como o vinagre sobre salitre.” Prov 25;20 A aflição da alma é funda demais para poder ser removida com verniz.

Os amigos de Jó falaram muitas inverdades quando opinaram sobre a sina do infeliz; porém, sabiam disso. Quando o encontraram no auge da dor, limitaram-se a lhe fazer companhia; esperaram que ele rompesse o silêncio, mesmo demorando uma semana. “Assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande.” Jó 2;13

Não obstante, esse promissor começo, quando falaram caíram na vala comum da acusação; de tal modo, que o sofredor desejou se ver livre das suas molestas palavras; “Vós sois inventores de mentiras; vós todos, médicos que não valem nada! Quem dera que vos calásseis de todo, pois isso seria vossa sabedoria.” Cap 13;4 e 5

A sabedoria do silêncio, esposada depois, por Salomão: “Até o tolo, quando se cala é reputado por sábio; o que cerra seus lábios é tido por entendido.” Prov 17;28

Diretamente proporcional ao aumento da iniquidade, concorre o aumento das inquietações; a incapacidade de se calar, olhando, cada um para dentro de si: “Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar; as suas águas lançam de si lama e lodo. Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus.” Is 57;20 e 21

Nesses tempos líquidos e velozes, em que a conquista célere da ciência facilita meios, enquanto o desleixo com valores apodrece fins, as pessoas já não têm tempo para essas coisas introspectas e demoradas; desligar as parafernálias da ilusão e olharem dentro de si tentando entender, cada um, as próprias escolhas.

Um breve tratado como esse é desprezado sob a pecha de “textão”. Não pelo conteúdo que a maioria se recusa a conhecer, mas, pelos intermináveis parágrafos que demandariam uns cinco minutos para ler, imaginem! Quem teria tanto tempo a perder? Os mesmos que perdem partes grandes de alguns meses, acompanhando, torcendo, e votando no BBB e similares.

Os adeptos do “poder da mente”, iogues, e afins, quando decidem se entrincheiram em si mesmos, como um quelônio na carapaça, imaginando determinada cor, cenário, dizendo coisas auto motivadoras, cujo pensamento positivo ajudaria a conquistar; ora, se a cura para as angústias está dentro de cada um, quem precisaria de médico? Deus, por exemplo?

Tentar elevar-se sobre as aflições baseado na matéria prima encontrável em si mesmo, equivale a tentar levitar puxando os próprios cabelos.

Urge entendermos que somos pacientes espirituais. Jesus Cristo é O Médico dos Médicos; em Sua Palavra deixou a Receita que nos pode curar. Assim, quem quiser meditar de modo proveitoso, não o faça no vácuo; tenha conteúdo a meditação.

O venturoso cantado no Salmo Primeiro é um que, “Tem seu prazer na Lei do Senhor; na Sua Lei medita de dia e de noite.” v 2

Embora as “veredas antigas”, A Palavra Do Eterno, soe com jurássica a essa geração descolada, moderninha, somente nela as angústias da alma encontram lenitivo, em todas as idades; “Com que purificará o jovem seu caminho? Observando-o conforme Tua Palavra.” Sal 119;9

Facilmente vemos as injustiças alhures, depreciamos a violência nefasta das guerras; todavia, nada vale “combatermos” males distantes e ignorarmos os que nos habitam. Cada um de nós abriga em seu íntimo suas “guerras” particulares que podem perder a própria alma.

Mas, quem ousaria encarar a isso? “Reconhecemos um louco sempre que o vemos; nunca, quando o somos.”

Infelizmente, muito do que desfila como “Cristianismo” é mera encenação de palco; como aqueles teatrinhos da “Semana Santa”. Depois, cada um segue à sua maneira. Já gritou ao microfone suas “convicções”, encenou, cantou sobre elas; depois, no teatro da vida prossegue atuando segundo seu ímpio coração.

Enquanto esse doidivanas não reconhecer que sua resiliente má inclinação é que o angustia; pior, encomenda sua alma a angústias eternas, seguirá traindo a si mesmo, encenando ter uma luz que não possui.

O coração conhece sua angústia; precisa reconhecer que suas escolhas doentias lhe dão ocasião; senão, seguirá como certos antros cujos fachadas pintam com luzes no Natal; pretensa alusão à virtude, enquanto “trabalham”, e ganham o pão, servindo vícios.

“Todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem.” Samuel Beckett

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