domingo, 20 de março de 2022

Altos e baixos


“Melhor é a criança pobre e sábia que o rei velho e insensato, que não se deixa mais admoestar.” Ecl 4;13

Como uma criança poderia ser sábia? Costumamos ver a sabedoria como contingente; a Palavra coloca como uma disposição de espírito; “O Temor do Senhor é o princípio da sabedoria” Prov 1;7; “Instrui o sábio, ele se fará mais sábio...” Prov 9;9

Essa disposição de ouvir e aprender possibilita que nosso caminho errante seja refeito, tornado retilíneo; “... Porque os caminhos do Senhor são retos ...” Os 14;9 O dito que Ele escreve certo por linhas tortas deriva de nossa percepção, a qual sofre lapsos de saber.

A sabedoria do alto é um dom; “Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos. Escudo é para os que caminham na sinceridade, para que guardem as veredas do juízo. Ele preservará o caminho dos Seus santos.” Prov 2;7 e 8

Se, o oposto à criança sábia é um rei insensato que não aceita admoestação, necessária a conclusão, pois, que a “sabedoria” da criança consiste em ouvir, se deixar ensinar.

Stephen Hawkin disse que, “A fé é um brinquedo de crianças com medo do escuro;” e, um pregador respondeu: “O ateísmo é uma brincadeira de adultos com medo da luz.” Ambas as sentenças fazem sentido.

Porém, convém lembrar que esse pleito traz uma reverberação de Platão, que dissera: “Trágico não é a criança com medo do escuro; antes, o adulto com medo da luz.”

Pois, “Aquele que não se fizer como uma criança não pode entrar no Reino dos Céus.”

A Palavra nos apresenta como errantes no escuro sendo buscados pela Luz da qual temos medo; “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz; não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;19 e 20

A rejeição à Luz deriva mais do medo de sermos vistos, que do medo de ver. O que é a velha hipocrisia, senão, uma máscara para sair bem na foto, enquanto nossas almas seguem saindo mal nos fatos?

No império das vontades naturais todos nós somos “reis velhos e insensatos”, chamados a nascer de novo, para que a criança interior regenerada comece a ouvir.

Nesse lastro se estende o ensino que, “diante da honra vai a humildade.”

Se, até nos imperfeitos domínios humanos, arrogância e soberba cheiram mal, o que dizer delas, diante Daquele que, “É tão Puro de Olhos que não Pode ver o mal...?” Hab 1;13

Talvez, alguém estar num lugar alto e carecer admoestação seja indicativo que não está apto para o lugar que ocupa. Os degraus das escadas humanas são “pregados” por conveniências, fisiologismos, cegueira, lisonjas, idolatria e variáveis similares, invés da aptidão e idoneidade, como convém.

Além das arroladas “credenciais” dos que elevam a altos postos, outra é necessária para o que será içado; “A estultícia está posta em grandes alturas...” Ecl 10;6

Grandes homens, Moisés, Jeremias, Isaías, temeram ao serem chamados por Deus; acharam-se ineptos. Convoquemos um estúpido a um lugar alto; ele se dirá pronto, antes mesmo de saber para quê.

Se eu for suficientemente parvo para aceitar uma carga maior que minhas forças, necessariamente serei para desacatar conselhos, ensinos.

Uma tendência vaticinada para esses dias é a exaltação de gente baixa, moralmente; Ruy Barbosa chamou de “triunfar das nulidades”, e Isaías previu com palavras semelhantes; “... o mundo enfraquece e murcha; enfraquecem os mais altos do povo da terra.” Is 24;4

Aos olhos dos Céus as coisas não são como parecem aos nossos; “A estultícia está posta em grandes alturas, mas os ricos estão assentados em lugar baixo. Vi servos a cavalo, e príncipes andando sobre a terra como servos.” Ecl 10;6 e 7

A terra dos homens costuma estratificar a espécie conforme o dinheiro ou bens que cada um possui; as “classes sociais”. O cotejo celeste é diferente; não se dá entre o que tem pouco e o que possui muito dinheiro; antes, coloca o metal num balaio e noutro, a sabedoria.

“Porque a sabedoria serve de sombra, como de sombra serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.” Ecl 7;12

Cotejando a vida com os bens O Salvador perguntou: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se perder sua alma”?

No nosso doentio reino do engano, as presunções rasteiras são coroas; no de Cristo para o qual somos chamados, a coroa se disfarça de cruz.

O lugar para o qual Ele nos chama é alto demais, para que subamos a ele com vestes sujas.

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