domingo, 27 de março de 2022

Dormindo com o inimigo


“Eis que a mão do que me trai está comigo à mesa.” Luc 22;21

A traição deriva sempre de alguém que tem certa intimidade, amizade; um inimigo agir de modo avesso às nossas conveniências é ser fiel à sua inimizade, agir conforme. É o que deveríamos esperar dele.

A perfídia traz sempre um componente de surpresa; exceto, para Aquele que É Onisciente; Ele pode denunciá-la antes de acontecer.

Nós, dadas nossas limitações cognitivas devemos estar atentos sempre aos riscos das amizades nos decepcionarem. “Que Deus me livre dos meus amigos! Dos inimigos eu me cuido.” Voltaire

Preferimos o bom, o agradável, ao bem e saudável. O primeiro tem a ver com a resposta dos sentidos ao sabor, não obstante, possa se revelar um mal, no fim. O bem, mesmo que, eventualmente, tenha gosto amargo, uma vez processada sua essência trará um resultado benéfico no final, coisas que A Palavra de Deus versa.

Do “bom” que nos seduz rumo à dor, diz: “Há um caminho que ao homem parece direito, mas no fim dele é o caminho da morte.” Prov 14;12

Do “mal” cuja presença receberíamos de mau grado ensina: “Melhor é a repreensão franca que o amor encoberto. Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos.” Prov 27;5 e 6 Quem preferiria feridas a beijos??

Todavia, dentre todas as traições possíveis, a mais perniciosa é a do que trai a si mesmo. Porque muitos que isso fazem, sequer percebem que estão privando-se da Graça Divina e lançando-se inadvertidamente no campo da maldição; alienação da vida.

A Palavra nos ensina: “... Maldito o homem que confia no homem, faz da carne o seu braço e aparta o seu coração do Senhor! Porque será como a tamargueira no deserto, não verá quando vem o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável.” Jr 17;5 e 6

Alguns, mercê de interpretações rasas, entendem que não devemos confiar em outras pessoas. Não é essa a intenção do texto. Se o dito “faz da carne o seu braço a aparta seu coração do Senhor,” é um que confia em si mesmo, invés de confiar no Eterno; coisa que o traidor sugerira no Éden. Notemos que esse traído não será decepcionado por terceiro, como seria o que fosse traído por um amigo; antes, será cegado; “não verá quando vem o bem.”

Pois, esse “trair a si mesmo” não é um ato tão particular quanto parece; há um tênue consórcio com a oposição, Satanás, que, por alinhar-se à vontade natural perversa, camufla-se de vontade humana, quando o pecador faz o desejo daquele, pensando buscar o próprio.

Primeiro patrocina a dúvida, descrença; no rastro dessas, traz a consequente cegueira. “Mas, se ainda nosso Evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo, que é a Imagem de Deus.” II Cor 4;3 e 4

Cegueira, privação de entendimento. Naqueles que recebem o “mal” da cruz, Deus faz o contrário; permite que sejam “Iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; e a sobre-excelente grandeza do Seu Poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do Seu Poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à Sua direita nos Céus.” Ef 1;18 a 20

Aos que, cegados pelo inimigo atuam de modo autônomo, A Palavra chama de “sábios aos próprios olhos”; primeiro aconselha que evitemos isso; “Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal.” Prov 3;7

Noutra parte aquilata o valor; “Tens visto o homem que é sábio aos seus próprios olhos? Pode-se esperar mais do tolo que dele.” Prov 26;12

Paulo denunciou a luta interior contra esse traidor que, muitos nem percebem; “De maneira que agora já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.” Rom 7;17

A maldição campeia entre os que “dormem com o inimigo” colocando as próprias inclinações em lugar do Senhor; a Bênção Dele visita aos que O servem; “Bendito o homem que confia no Senhor, cuja confiança é o Senhor. Porque será como árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro, e não receia quando vem o calor, mas sua folha fica verde; no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto.” Jr 17;7 e 8

O risco é depreciarmos à ação de Judas, sem perceber que seu mal nos “Judia” também.

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