sábado, 19 de março de 2022

Internáufragos


“Não há criatura alguma encoberta diante Dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos Daquele com quem temos de tratar.” Heb 4;13

Se tivéssemos consciência desse fato tentaríamos melhorar nossos atos, invés de melhorar camuflagens, como fazem os hipócritas.

Em geral, as vidas são como nas redes sociais; o que somos se oculta, o que queremos parecer toma as vitrines; a nuvem aceita tudo. A maioria fala de si mesmo; falta conhecimento e intimidade para falar de Deus; buscar a Glória Dele, não a própria.

Às vezes um vídeo/áudio “vaza”; uma gotícula de realidade põe tudo a perder em Fantasiópolis; como recentemente ocorreu com o deputado paulista Arthur do Val, sob risco de cassação pelo vazamento de algumas coisas pouco elogiosas que ele falou.

Se, uma gota faz esse estrago, como será quando a piscina toda for descoberta, por ocasião do Juízo?

Cristo acusou seus oponentes religiosos chamando-os de “sepulcros caiados”, embelezados externa e apodrecidos internamente. Também aqueles “postavam” apenas virtudes e ocultavam o lixo. Porém, “Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que Eu não veja?” Jr 23;24

Cada um traz em si fragmentos da Imagem de Deus perdida, a consciência. Ela aquilata as coisas, valora sem interferir. Acusa o erro e silencia ante a ação reta; mas, a decisão sobre fazer ou não determinada coisa é um derivado da vontade, faculdade da alma, não do espírito, como a consciência. Por isso a sentença: “... nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Rom 8;1

Não poucas vezes ouvi gente caminhando resoluta em direção aos vícios dizendo: “Faço mesmo! não quero nem saber.” Esse “não quero saber” era um revide à própria consciência que, em seu labor luminoso fazia saber que a escolha era má. O processo de cauterização, estava ativo; a vontade acossada pelo desejo insano abafava a luz que “incomoda” quem vive no reino da mentira.

Esses meandros da fé, que demandam obedecer à luz interior castram os “direitos” da vontade rebelde; daí ser impossível seguir a Cristo sem o “Negue a si mesmo.”

Podemos, como sementes sobre pedras, ao acúmulo de alguma poeira e umidade até germinar, sem a profundidade necessária para resistir ao sol quando aquece. Gostar de Cristo, Sua promessa de salvação, depois recuar, quando percebermos a realidade envolvida no pacote.

Naqueles que nascem de novo da água e do Espírito, a luz da consciência passa por um upgrade; coisas tidas como normais deixam de sê-lo; as erradas potencializam o erro; um convertido a Cristo não para de pecar; apenas, deixa de fazê-lo “sem culpa” como antes. A luz da consciência mostra a coisa como é, não como a vontade deseja.

Assim, carecemos superar um monte de vontades perversas às quais estávamos acostumados, até chegarmos à Divina; “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável, e perfeita Vontade de Deus.” Rom 12;2

Ações justas não carecem esconderijo; aliás, deveriam ser perpetuadas, como desejou Jó e foi atendido acerca das suas falas; “Quem me dera agora, que minhas palavras fossem escritas! Quem me dera, fossem gravadas num livro! E com pena de ferro, com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha. Porque eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra.” Cap 19;23 a 25

Na pós verdade atual, onde narrativas suplantam fatos, afinidade ideológica prescinde de lisura moral, temos toda liberdade para bajular, mentir; ousemos um reparo mínimo, um conselho, um ensino e presto veremos quanto a sinceridade é mal vista no oceano global dos internáufragos.

Foi fugindo das consciências que os ancestrais desses caíram; “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tim 1;19

Gritamos “urbe et orbe” nossas inconformidades com a insanidade das guerras; depois, no próximo post mostramos nossos assados e bebidas finas, para ostentar, quanto somos felizes. Assomamos do profundo ao raso com a velocidade de um foguete; ou, vivemos ao rés do chão e fingimos profundidade.

“É bem mais difícil julgar a si mesmo do que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti és um verdadeiro sábio.” Há mais do que parece, nessa frase de Saint-Exupérry.

Antes da Ceia do Senhor sempre somos desafiados a isso. “Examine, pois, o homem a si mesmo...” I Cor 11;28

Quem olha inside, honestamente, consegue ver seus tons de cinza, necessariamente será cauteloso para não colocar lábaros multicores nas janelas.

No fundo, nossas ostentações frívolas são autocríticas; o que sabemos que deveríamos ser, e apenas encenamos. “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.” Jo 13;17

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