quinta-feira, 24 de março de 2022

Umbigos coroados


“Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” Autor desconhecido

Adversidade de certa forma tem poder sobre mim. Senão, sequer ousaria ser minha “adversária”. Todavia, o poder em minha mão é a pedra de toque que mensura meu caráter. Como atuo em relação ao que está sob minha jurisdição, mostra quem sou.

Um rei estende seu poder sobre todo o reino; entretanto, às vezes o mal está bem perto; Isaías disse ao rei Ezequias. “... Assim diz o Senhor: Põe em ordem tua casa, porque morrerás...” Is 38;1 Mesmo sendo rei, seu poder era limitado; “... quem está altamente colocado tem superior que o vigia; há mais altos do que eles.” Ecl 5;8

Na “Império Virtual”, cada um é “César” com sua coroa de latão, reinando sobre opiniões e gostos; os seus são decretos reais; os alheios, meros vassalos.

Não concordou com algo? Exclui. Desgostou de um reparo, um conselho, opinião; posta uma indireta venenosa, quando não, um direto no queixo do atrevido que ousou discordar do/a rei/rainha. O “Coliseu” continua alimentando seus leões com carne humana.

Certa vez li de uma “amiga” que não aceitava opiniões contrárias; “Isto aqui não é uma democracia; (a página dela) é uma monarquia e a rainha sou eu.” Me afastei por falta de jeito para vassalar num reino assim.

As coroas, embora feitas para as cabeças, algumas parecem ornar umbigos.

A “humildade” dos políticos em campanha, e a arrogância dos mesmos, uma vez eleitos, é didática sobre o mal do poder. Ele já estava feito, potencialmente; mercê das circunstâncias, errava camuflado na masmorra do coração egoísta; mas, a escada do sufrágio fez subir ao trono, onde pode ser visto de longe. Dane-se o Peter Parker! Agora tremam ante o Spiderman!

Amiúde, esse “poder” exacerbado é um substrato das nossas fraquezas; por inépcia para enfrentarmos a nós mesmos, única vitória cujo galardão é certo, gastamos munição enfrentando aos outros, parece mais fácil. “cortamos a grama” dos átrios vizinhos, enquanto no nosso, medra toda sorte de ervas daninhas.

Sócrates, o filósofo, definindo ao ser humano disse ser esse, um invólucro de pele, cobrindo um monstro policéfalo (com várias cabeças) e um homenzinho no alto. Segundo ele, cada cabeça do dito bicho é um desejo insano; o homenzinho impotente, a razão, que deveria pautar as escolhas, mas sempre capitula aos poderes superiores do bicho.

Essa impotência não passou desconhecida Daquele que sonda aos corações e sabe todas as coisas; a primeira providência Dele, nos que recebem ao Salvador é “energizar” ao homenzinho aquele, para que pudesse resistir aos ataques do “monstro”; “A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome;” Jo 1;12

Dada nossa condição de pecadores mortais, a exortação a Ezequias serve para cada um de nós: “Põe me ordem tua casa, porque morrerás.” Ou, alguém supõe que possa lutar com a morte? “Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter; tampouco, tem ele poder sobre o dia da morte; também não há licença nesta peleja; nem, a impiedade livrará aos ímpios.” Ecl 8;8

Atualmente o egoísmo parece um “Mister Olímpia” pelos músculos que expõe. No futebol, por exemplo, basta alguém cometer o “crime” de gostar de um clube rival, para ser alvo das mais veementes agressões. Como alguém ousaria não gostar do mesmo que eu? Tal deixa de ser adversário e se faz inimigo. Não falo de uma torcida específica; em todas as cores existe muitos assim.

Ora, o poder para operar coisas nos domínios do Espírito, (Santo) depende de quanto permitimos que o mesmo poder opere em nós, antes de, terceiros. Pois, Deus “... É Poderoso para fazer tudo, muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” Ef 3;20

Por isso, a instrução de Paulo para que se disciplinasse aos desobedientes, apenas, quando os pretensos disciplinadores já o fossem; “Estando prontos para vingar toda desobediência, quando for cumprida vossa obediência.” II Cor 10;6

Noutras palavras: Exerçam poder sobre outros, à medida que permitirdes que o mesmo poder atue sobre vós. Como Cristo na tentação do deserto, expulsou Satanás de perto de si mesmo, antes de expulsá-lo das vidas de terceiros.

Os simples contemplam privilégios do poder; os prudentes consideram responsabilidades; quem padece mais sede de poder sobre outros, é porque inda não bebeu das taças do poder sobre si mesmo. Não conseguindo dominar ao maior adversário, investe contra os menores.

Escolhe a desgraça por fugir da Graça Divina: “... tempo há em que um homem tem domínio sobre outro, para desgraça sua.” Ecl 8;9

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