sábado, 24 de maio de 2025

O lugar dos ricos


“A estultícia está posta em grandes alturas, mas os ricos estão assentados em lugar baixo.” Ecl 10;6

Deve existir alguma razão compreensível para a estupidez desejar lugares altos, enquanto, a riqueza se ajeita em ambientes baixos. A conjunção adversativa, “mas”, separando as duas partes, formata um paralelismo antitético; onde, situações opostas são cotejadas.

Como não temos estupidez versus sabedoria, nem riqueza versus pobreza, forçosa a conclusão que a “riqueza”, não tem a ver com posses, estritamente.

No mesmo livro, um pouco antes, encontramos o dinheiro e a sabedoria, cada um, apreciado: “Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.” Ecl 7;12 Haveria algum bem mais precioso que a vida?

Elementar que a sabedoria é riqueza maior que o dinheiro. Deve ser ela, que está na antítese à estultícia na sentença que vimos no início.
Assim, teremos: “A estultícia está posta em grandes alturas, mas os sábios estão assentados em lugar baixo.”

Por quê a estupidez busca o cume do Everest, desejando ser vista a todo custo, mesmo privada de predicados que ensejem admiração? Porque é próprio dessa “nonsense”, acreditar que o mundo deve vê-la, como ela mesma se vê.

Se não recebe aplausos e louvores que acredita merecer, facilmente se ressentirá, contra a “ingratidão e ignorância” alheias; contudo, seguirá airosa, na “segurança” do “eu sou mais eu.” “O caminho do insensato é reto aos próprios olhos, mas o que dá ouvidos ao conselho é sábio.” Prov 12;15 Quem jamais viu estúpidos assim, nos píncaros do poder?

O que A Palavra de Deus adjetiva como sabedoria, não verte da mesma fonte que esse mundo bebe. Tiago fez distinção entre a sabedoria do alto, e a “terrena animal e diabólica.” Tg 3;15 Paulo andou nas mesmas pisadas: “Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da Glória.” I cor 2;7 e 8

Pois, os reputados sábios nesse sistema ímpio, invés dos lugares baixos, aos quais se amoldam os espirituais, estão, nas luxuosas cátedras de grandes universidades; não poucos, entram em filas para aquisição de ingressos, onde assistirão aos honoráveis oradores, defendendo o ateísmo, o evolucionismo, hedonismo, e outras aberrações afins.

O simples buscar por lugares altos, como esses fazem, desprovidos de uma visão que, o mirante ocupado sugeriria existir, já os transforma em estultos; pois, ineptos para conhecer a si mesmos, se arvoram em guias de multidões. Há “filósofos” incapazes de reger dignamente o próprio ânus, que posam de regentes de mentes alheias.

Ante uma geração mentecapta como a atual, onde, invés de uma dose saudável de ceticismo, basta se ouvir as proposições mais ousadas, para se inclinar e aplaudir a ousadia, como se fosse ela uma virtude em si mesma, Sophia agoniza.

Plateias sonolentas agem como se, as tolices embaladas em papéis vistosos se fizessem algo caro, apenas pelo brilho artificial; muitos mestres encantadores de serpentes deitam e rolam, posando de sumidades científicas, filosóficas, espirituais, acenando ciscos por sementes, em suas peneiras customizadas em neon, fiados na ausência dos ventos do senso crítico.

A sabedoria espiritual prescinde desse “mise en scene” todo, pois não pretende comunicar com os olhos; antes, com os corações.

Seu valor não está no desfile, mas no fim ao qual conduz. Para tanto, O Eterno, Sua Fonte, usa coisas simples, quando assim o quer, sem nenhum prejuízo à essência do que nos dá. Enriquece pessoas desprovidas de posses, de cultura; mediante essas, pode abençoar a outros que lhe deem ouvidos. Deve significar alguma coisa, o fato de que, aquele em quem estão, “todos os tesouros da sabedoria e da ciência.” Col 2;3 Tenha vindo o mundo numa reles manjedoura. “... os ricos estão assentados em lugar baixo.”

Assim, os seguidores Dele, geralmente são conhecidos pela essência, não pela aparência. “Porque, vede, irmãos, vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, ou nobres, que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir às fortes; escolheu as coisas vis deste mundo, as desprezíveis, as que não são, para aniquilar às que são; para que nenhuma carne se glorie perante Ele.” I Cor 1;26 a 29

Desde sempre escutamos “filosofias de botecos” esposando a superioridade das coisas que o dinheiro não compra. Frases alugadas, por profundas que sejam, destoando do nosso agir, não passam de estultícia também. Os lugares baixos dos sábios, são como montes, que, evidenciam A Cristo de longe.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

As obras sem fé


“A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; o fogo provará qual é a obra de cada um.” I Cor 3;13

Aparentemente, as obras testificam da fé; atuarmos dessa ou daquela maneira, pressupõe o derivado de um modo de crer; de como vemos e aprendemos a vida.

Segundo Tiago, a fé sem obras é morta; nossa regeneração em Cristo, deverá, necessariamente, resultar num modo de agir, consoante; “Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10

Entretanto, no verso inicial, encontramos as obras em xeque, não, a fé; “... o fogo provará qual é a obra de cada um...” então, a conclusão necessária é que, assim como a fé fica sem chão se não tiver o concurso das obras correspondentes, também as ações padecerão orfandade de sentido, se, não tiverem a fé como motivadora.

Quer dizer que fazer a coisa certa, não basta? Suprirmos a necessidade de alguém, pelo ponto de vista desse alguém, basta. Mas, nosso feito deve ser oriundo do propósito de glorificarmos a Deus.

A Lei resumida em dois mandamentos, coloca o amor ao próximo como sendo um deles; porém, antes e mais importante, o amor a Deus. Se esses dois motivos, nessa ordem, forem a razão de eventuais atitudes de nossa parte, então o necessário consórcio entre fé e obras estará estabelecido, em nossas almas.

Seria possível fazer o bem sem fé? O que são as muitas “penitências” as placas por “graças alcançadas” os despachos de esquinas, etc. senão, testemunhos da intenção de alguém, de “pagar” ao mundo espiritual por alguma bênção? “Fazer o bem” em circunstâncias assim, é negócio.

O Todo Poderoso não quer ser pago, nem poderia; “Se Eu tivesse fome, não te diria, pois Meu é o mundo e sua plenitude.” Sal 50;12 Mas, deseja e merece ser honrado; disso faz questão; requer que, antes de “colocarmos o peito n’agua” para alguma boa obra, coloquemos o coração Nele, para que o amor seja nosso motivo conjunto, o Dele e o nosso.

Os que fazem boas obras diante das câmeras, para serem vistos e admirados, têm o egoísmo como motivo, não o amor.

Até os filósofos que não tinham uma visão espiritual mais aguda, suspeitavam de algumas “bondades.” Platão disse mais ou menos o seguinte: “Quando um homem for considerado justo, lhe caberão por isso, encômios, louvores; assim, ficaremos sem saber se o tal é justo por amor à justiça, ou, aos louvores que recebe. Convém, pois, colocá-lo numa situação em que seja privado de tudo isso. Se ainda assim, prosseguir sendo justo, certamente o é, por amor à justiça.”

Mais ou menos dessa forma, O Senhor prova às nossas obras. A fé deve ser um valor íntimo, que nos liga ao Santo em tempo integral; não, um verniz oportunista que, brilha nalgumas circunstâncias, noutras some, opaco. “No dia da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade considera; porque também Deus fez a este, em oposição àquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele.” Ecl 7;14

Fácil nos alegrarmos “em Deus”, quando todos os ventos sopram a favor. Nessas ditosas situações, efusivas declarações de fé, de lealdade, saltitam quase que, naturalmente.

Porém, “... o fogo provará qual é a obra de cada um...” quando o fogo das provações nos toca, aí nossa fé é testada, em sua essência. Se, do outro lado da moeda, às vezes, sem moeda nenhuma, outras, sem saúde, sem honra, ainda seguirmos fiéis, essa honrosa atitude provará mais que nossa fé; deixará ver que nossas obras pretéritas eram frutos do amor a Deus; não, de interesses imediatistas.

Muitos fazem uma leitura errada da fé, como se ela fosse uma força em si, da qual, O Poderoso necessita para nos abençoar; NÃO!!

Deus faz questão da fé, porque a dúvida O desonra; é blasfema supondo que O Eterno seria mentiroso; diria algo e não o faria. “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe, e É galardoador dos que O buscam.” Heb 11;6

Por isso, quando uma turma excitada por uma recente multiplicação de pães e peixes feita pelo Senhor, se “voluntariou ao ativismo” antes de obras, lhes foi requerida a fé. “Disseram-lhe, pois: Que faremos para executarmos as obras de Deus? Jesus respondendo, disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que Ele enviou.” Jo 6;28 e 29

Melhor é que façamos o bem, invés do mal, em qualquer circunstância; mas, a excelência reside em fazermos a coisa certa, pelo motivo certo.

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Os insensatos


“Desvia-te do homem insensato, porque nele não acharás lábios de conhecimento.” Prov 14;7

O Senhor ordenou que se fosse por todo o mundo, e pregasse o Evangelho a toda Criatura. Nada pode ser mais inclusivo; Todo o mundo, o que abarca todas as nações; toda a criatura, o que inclui todos os tipos de pessoas.
Então, quando lemos uma sentença assim, “Desvia-te do homem insensato”, seria uma exceção, alguém para o qual, as Boas Novas não devem ser pregadas? Não.

A insensatez é uma disposição mental, réproba, de alguém avesso ao bom siso, que pode até crer em Deus; embora, ainda padecendo lapsos, que o atrapalham no curso da vida. Paulo nos exorta: “Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual é a vontade do Senhor.” Ef 5;17

Para, desviarmo-nos do homem insensato, requer que antes caminhemos um pouco. Pelo menos, pelo tempo suficiente para conhecer seu modo de agir; senão, como saberemos que e o tal é privado de bom senso?

A antítese à insensatez varia, dependendo do ambiente onde desfila; nos lugares que, o senso comum prescreve aversão às coisas espirituais, a “sensatez” estará no descaso, no ateísmo até; Porém, nos ambientes onde predomina o crer, a sensatez necessária, tem um viés espiritual, não, psicológico. Por isso, a exortação de Paulo, contém: “... entendei qual é a Vontade de Deus.”

O que professa crer, mas age de modo diverso, não fazendo melhor que os descrentes, em muitos casos, atuando pior, até; esse é o tipo de insensato do qual nos convém manter distância.

“Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem; isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, os avarentos, roubadores ou, idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo. Mas agora vos escrevi que não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com o tal nem ainda comais.” I Cor 5;9 a 11

Embora a vida religiosa desses, demande que mencionem às coisas de Deus, eventualmente, não o fazem com o compromisso de quem coloca por obra, aquilo que afirma crer. Tal discrepância entre discurso e atitudes, o senso comum chama de hipocrisia. Esse é o tipo de insensato do qual devemos nos desviar.

Quando anjos apareceram, junto ao sepulcro do Senhor, já ressurreto, interpelaram às mulheres que O buscavam, com essas palavras: “Estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos?” Luc 24;5

No caso delas, era por ignorância acerca do que sucedera; mas, nós bem sabemos. Então, se também pretendermos buscar ao Senhor Vivo, entre os mostos, estaremos incorrendo em insensatez.

A vida espiritual veraz, requer muito mais que meros rótulos; demanda identificação com O Senhor, nas renúncias, e novo modo de viver, atinente aos desejados frutos; “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo o fomos na Sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos em novidade de vida.” Rom 6;3 e 4

Mais que a omissão em entender a vontade do Eterno, os insensatos da presente geração, se atrevem a alterar a doutrina, validando comportamentos opostos ao Divino querer, revelado na Palavra do Eterno.

O Senhor permanece no mesmo lugar, e Seus ensinos, inalterados. “Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede; perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho e andai por ele; achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele.” Jr 6;16

“Desvia-te do homem insensato, porque nele não acharás lábios de conhecimento.”
Em geral aquilatamos o conhecimento com saber algo; mas no prisma espiritual demanda estabelecermos um relacionamento com Deus. Dos que faziam coisas religiosas alienados do Salvador, malgrado isso, tudo, Ele preveniu: “Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade.” Mat 7;23

O conhecimento possível, de Deus, no aspecto teórico, está revelado na Sua Palavra; porém, o conhecimento que Ele deseja, mediante um relacionamento, requer nos deixarmos moldar pelo que aprendemos Dele. Mais que intelecto perspicaz, requer sentimento verdadeiro. “Aquele que tem os Meus mandamentos e os guarda esse é o que Me ama; aquele que Me ama será amado de Meu Pai; Eu o amarei e Me manifestarei a ele.” Jo 14;21

O homem sensato, segundo Deus, pode ser visto como louco aos olhos do mundo; e daí? “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” I Cor 1;18

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Obra acabada


“Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer.” Jo 17;4

Muitos acreditam que glorificar a Deus seja uma coisa de lábios. Se, a glória se expressar num efusivo louvor ao Nome do Eterno, carece mais do que palavras. “Este povo se aproxima de Mim com sua boca e Me honra com seus lábios, mas seu coração está longe de Mim.” Mat 15;8 Os louvores dos lábios devem ter o coração como fonte.

Isso posto, há uma forma inda mais excelente de glorificarmos ao Senhor. Se, o louvor oriundo do coração é aceitável, diante Dele, a excelência é louvá-lo, levando a efeito o que Ele nos ordena; “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que Me deste a fazer.”

A Obra que cada um administra, integralmente, é a mordomia da própria alma, que deve servir ao Senhor. Invés de um eflúvio pontual, fazer de nossa vida inteira, um modo de ser alinhado aos valores do Eterno, que O glorifica muito mais. “Observaste Meu servo Jó?”

Louvarmos, num momento de euforia, nem sempre significa que levaremos a efeito o que começamos. Quem depende do estímulo emocional, para levar a cabo sua obra, tem tudo para abandonar a empresa cujo desenrolar passa por inúmeros momentos de prova; nem sempre nossas emoções nos hão de ser favoráveis;

na parábola do Semeador, O Senhor ilustrou: “O que foi semeado em pedregais é o que ouve a Palavra e logo recebe com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; chegada a angústia e a perseguição, por causa da Palavra, logo se ofende;” Mat 13;20 e 21 O que, num momento ensejou alegria, depois, mudou em angústias. As emoções não são boas conselheiras no prisma espiritual. Devemos balizar nossa caminhada pela Palavra, a despeito dos sentimentos.

O homem imprudente que se atreve em tão sério empreendimento, sem calcular os custos, também foi figurado como o pretenso construtor de uma torre, que começou o projeto sem os meios suficientes. “... Este homem começou a edificar e não pôde acabar.” Luc 14;30 Perseguições, zombarias fazem parte do “Opróbrio de Cristo,” ao qual, somos desafiados a suportar.

Sobre perseverança encontramos ainda mais: “Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o Reino de Deus.” Luc 9;62 Quem decide-se ir após o chamado Divino, deve fazer como Eliseu, que matou os bois e queimou a tralha, tolhendo as comodidades que poderiam lhe tentar a retroceder. Abriu mão do arado, literal, para se dar por inteiro à seara profética.

Mas como, aquele que consuma sua obra glorifica a Deus? Onde, quando, temos certeza que isso foi obtido? Acontece que, ao longo da caminhada, a fé é testada muitas vezes; quanto mais distante alguém vai, na vereda da obediência ao Senhor, maiores embates terá que enfrentar. Como saber que venceu?

O consumar a obra, de Cristo, João Batista, Paulo e Estêvão, para citar alguns, terminou com morte violenta. Todos eles foram vencedores. Assim, aprendemos que, a nossa obra não é um destino, ou um número a atingir. Tipo; pregar em tais lugares, durante tantas vezes, a quantas pessoas; antes, é um modo íntimo de ser, que direciona sempre, o agir, a despeito das circunstâncias.

A manutenção da atitude inabalável do obreiro, malgrado, as provas que venha a enfrentar é a obra a ser realizada. “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” II Tim 4;7

Embora a ideia de obra enseje sempre um pensamento sobre algo a fazer, em muitas circunstâncias requer apenas, não duvidarmos. “Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que Ele enviou.” Jo 6;29 Claro que, o crer genuíno não é mera abstração; requer que andemos conforme cremos. “A fé sem obras é morta.”

Por isso, invés de receitas pontuais, faça isso, aquilo, a Obra de Deus requer de nós a mesma postura, em meio aos afazeres e tentações que podem diversificar; “... Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” Apoc 2;10

A bem da verdade, somos mais pacientes que agentes, na Obra de Deus; “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra, aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo;” Fp 1;6

Cada tentação que assedia, é um convite para que desçamos ao vale do pecado, abandonando a necessária santificação, para qual fomos chamados. Mesmo que estejamos ocupados apenas das nossas almas, ainda estaremos envolvidos em algo grande que vale mais que o mundo inteiro perdido. Façamos nossas as palavras de Neemias, quando convidado para baixo: “... Faço uma grande obra, de modo que não poderei descer...” Ne 6;3

O medo dos maus


“Aquilo que o perverso teme sobrevirá a ele, mas o desejo dos justos será concedido.” Prov 10;24

Certa vez li um livro chamado, “Temer é Ocasionar”, ideia derivada do texto acima. A profilaxia sugerida era sermos confiantes em todo o tempo; cultivar um pensamento positivo, nada temer, para que nenhum mal viesse sobre nós.

Na época pareceu uma boa dica, com certo viés lógico; porém, olhando com melhores olhos, suspeito que essa não seja a sadia interpretação.

Embora abarque dois sentimentos, temor e desejo, liga-os a dois sujeitos distintos. O perverso e o justo. Seria o temor do perverso, a causa dele ser adjetivado assim, perverso porque temeu algo; ou, o monstro temido, seria a sentença necessária por ele ter escolhido a perversão?

Alguns medos são consequências, não, causas. “Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los; mas os justos são ousados como um leão.” Prov 28;1 Se foge é porque teme; e certamente, possui motivos. O temor assim não ocasiona infortúnios, revela as ações.

Há um temor antecipado, que, significa reverência, respeito, e tolhe que façamos as más escolhas; desse está dito: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria...” Prov 1;7 e outro, após termos feito às coisas más, que é a revelação, na consciência, de que, o mal perpetrado, fatalmente terá consequências.

O temor pode ter dois sujeitos distintos; o do justo que teme ao Senhor e evita pecar, por isso; e o do perverso que, já pecou, e teme ser punido pelo que fez. Nesse escopo, o temor que ocasiona alguma coisa é o do justo, que preserva o sadio relacionamento com o Criador. O do perverso nada ocasiona, senão, a fuga, pela informação antecipada de que a Divina justiça o busca, e, fatalmente, o encontrará.

Embora pareça contraditório, no escopo espiritual o antídoto ao medo não é a coragem; antes, o amor. Sendo esse, em relação ao próximo e a Deus, o motivador das atitudes em misericórdia e justiça, quando falhamos nele, tememos que tenha consequências essa falha; porém vivendo plenamente, de modo probo ante O Eterno, nada tememos; descansamos Nele, confiantes. “No amor não há temor, antes, o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor.” I Jo 4;18 Se o temor tem consigo a pena, ou a punição, ele é uma fuga, não o fomento de alguma incidência futura.

Afinal, todo os atos injustos contra nossos semelhantes seriam evitados, se, invés do egoísmo, fôssemos movidos pelo amor. Não poucas vezes, Deus busca pelos maus para a devida correção, mediante as autoridades que constituiu sobre a terra. Quando justa, a “justiça dos homens” é uma extensão da Divina. “Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, vingador para castigar ao que faz o mal.” Rom 13;4

A expressão, “não temas” e similares, são recorrentes na Palavra de Deus; sempre, como um alento a quem precisa agir segundo Deus, não, como se, o não temer, bastasse; fosse uma espécie de “couraça mística” a nos blindar contra o mal. Ousar na direção prescrita é um ato de fé, que agrada ao Eterno.

Uma coisa é não temermos quando Deus assim nos diz; outra, ignorarmos ao Seu dito, e agirmos temerariamente. Esse tipo de inconsequência que levou Adão a desconsiderar o limite colocado pelo Amor Divino, e se lançar nos braços de um “novo amor”.

Quando caiu a ficha, do que ele tinha feito, tardiamente o temor entrou em cena. “Ouvi a Tua voz soar no jardim e temi, porque estava nu, e me escondi.” Gn 3;10

A acusação quase que ressentida que, cada um interpreta a Bíblia de um jeito, como se, ela embasasse a todo tipo de desejo, é uma fraude. Sá há duas formas de interpretar; certo e errado. Torturar a revelação até que ela “confesse” o que os ímpios desejam ouvir, não é interpretar; e cometermos erros em passagens mais difíceis, também ocorre, pelas nossas limitações.

Contudo, naquilo que é básico para nosso viver segundo Deus, a Palavra é categórica; de fácil compreensão. Portanto, o temor dos que agem mal, é já um mensageiro íntimo, atuando para convencê-los que afrontaram ao Divino querer.

Por isso, a preservação de uma fé sadia demanda uma consciência em silêncio; quando ela faz barulho, é porque, em algum momento, abraçamos o caminho dos perversos. Andando no caminho desses, natural herdarmos seus temores também.

Paulo aconselhou ao jovem Timóteo, sobre, como convém andar: “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tim 1;19
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terça-feira, 20 de maio de 2025

O tempo do temor


“Mas quem Me negar diante dos homens será negado diante dos anjos de Deus.” Luc 12;9

A migração de agente para paciente, nem sempre é vista com a necessária seriedade. Quem deixou de gozar boa saúde, carecendo uma internação hospitalar, por exemplo, experiencia, de modo sério, como é parar de ter o direito à iniciativa, agindo como aprouver, e passar a cumprir ordens, seguir prescrições ao alvitre dos especialistas. Então, deixamos de ter a iniciativa das ações, e passamos a depender das escolhas de terceiros.

O fim da vida terrena e o juízo que a sucederá, de certa forma, segue rota semelhante. Deixaremos a condição de testemunhas, onde o que pensamos acerca do Senhor será dito e demonstrado diante de todos, pelas nossas opções, livremente, e seremos alvos do testemunho de terceiros, dos anjos que, tendo acompanhado nossa atuação, a descreverão, fielmente.

Sairemos de atores terrenos, num teatro com reflexos espirituais, e rumaremos ao banco dos réus, onde nossa atuação será analisada aos Olhos da Divina justiça. O tempo da liberdade de escolhas colidirá, na morte, com o momento da apreciação do que fizemos, quando, no usufruto dessa.

Em muitos casos esse encontro é antecipado por alguma fatalidade, mesmo, a vida possuindo ainda vasto prazo de validade; de modo que, é prudente estarmos preparados, em qualquer idade. “Em todo o tempo sejam alvas tuas roupas, e nunca falte o óleo sobre tua cabeça.” Ecl 9;8

O Salvador mencionou a uns que, na plenitude arbitrária, fizeram suas escolhas por conta, alienados do Senhor; até usaram rótulos e práticas religiosas; porém, desconsiderando à Palavra da Vida; e tardiamente, na hora da prestação de contas, pretenderiam ter com O Senhor, um relacionamento que, absolutamente, não tiveram.

“Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos Céus, mas o que faz a vontade de Meu Pai, que está nos Céus. Muitos Me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu Nome? em Teu Nome não expulsamos demônios? em Teu Nome não fizemos muitas maravilhas? Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade.” Mat 7;21 a 23

Assim, é necessária a conclusão que, mero ativismo religioso, não é substituto para conhecermos e seguirmos ao Divino querer.

O primeiro aspecto da nossa pública confissão de pertencermos ao Senhor vem pelo Batismo; quando, depois de havermos crido, voluntariamente nos alistamos nas fileiras do Salvador, e deixamos isso patente, aos olhos de quem puder ver.

Essa iniciação ritual simboliza um compromisso vital, uma identificação com nosso Salvador, de modo a negarmos nossas vontades naturais às últimas consequências, como Ele fez; “Ou não sabeis que, todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos em novidade de vida.” Rom 6;3 e 4

A “certeza” que ainda teremos muito tempo e ocasiões para as decisões mais sérias atinentes à salvação, é uma insanidade na qual, muitos têm se perdido. A Palavra ensina: “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8;11

Duas convicções podemos ter, à luz da Palavra: Uma: Deus não tem prazer na morte do ímpio; Ez 33;11. Outra: Mesmo nos amando e querendo salvar, não nos autoriza à temeridade; antes, permite que ceifemos as consequências das nossas escolhas. Gál 6;7 e 8

Infelizmente, a grande maioria dessa geração parece temer mais um “cancelamento” nas redes sociais, ou, a faca cortante da língua da vizinhança, do que teme a Deus. 

Porém, O Salvador ensinou que devemos reverenciar ao Juiz dos vivos e dos mortos, mais do que, a própria morte até; “Digo-vos, amigos Meus: Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas Eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei Aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a Esse temei.” Luc 12;4 e 5

Aquele que honrar ao Altíssimo agora, alinhando seu viver segundo A Palavra Dele, no tempo do juízo nada terá a temer; porém, quem O desconsiderar aqui, fazendo as coisas a sua maneira, quando estiver ante o trono do juízo, tremerá de medo, mas será demasiado tarde. O tempo do arbítrio terá se findado; chegará a ceifa das consequências.

Quando A Palavra aconselha: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar;” Is 55;6 adverte que chegará um tempo em que isso não mais será possível. “... Hoje, se ouvirdes Sua Voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação.” Heb 3;15

A inveja em xeque


“O furor é cruel, a ira impetuosa; mas, quem poderá enfrentar a inveja?” Prov 27;4

Embora vejamos três feras distintas, a rigor, são duas. Furor e ira são frutos do mesmo baraço, derivadas do extravasar emocional por alguma contrariedade, anelo frustrado, injustiça sofrida, ou vislumbrada contra outrem, quiçá, pretextada, apenas...

Do outro lado do ringue, como uma adversária de força mui superior, um Golias a arrostar o mundo, a inveja. Quem poderia enfrentá-la?

Sua “força” não reside na força, estritamente; antes, na dissimulação. O invejoso nunca diz: Eu me oponho a tal pessoa, empresa, projeto, nomeação etc. porque tenho inveja. Antes, se veste de uma série de “argumentos” nobres, para que o invejoso invés de ser visto, pareça um defensor de valores, zeloso guardião de virtudes.

Como se enfrenta a um adversário assim? Qual um ambiente cercado de espelhos em ângulos que difundem a mesma imagem em diversas direções, assim o invejoso com seus argumentos de araque, não se atreve a um enfrentamento objetivo, direto; nunca se sabe direito onde está o adversário real, e onde é apenas um reflexo dos seus interesses vis.

Claro que um quê das outras nuances, ira, fúria também “patrocinam” as ações do invejoso; sempre, lógico, dissimuladas de ardente defesa da virtude. Ele jamais se mostrará invejoso, simplesmente; antes, “zeloso pelo bem”.

“A inveja é um pecado envergonhado, é por isso que você não admite que é invejoso. Não que você não seja, mas que não admite.” Q. J. Pahar

Acaso, os oponentes de Jesus Cristo, assumiam abertamente que O odiavam, porque Ele era invencível nos argumentos, convincente na Doutrina, veraz nas denúncias, e de quebra, operava sinais extraordinários? Não! 

Para consumo interno, o acusavam de ser blasfemo, inimigo de Moisés, transgressor da Lei, endemoniado; para os ouvidos romanos O apresentavam como sedicioso, revolucionário, inimigo de César. Era necessário que todos se lhe opusessem.

Se, essas narrativas fajutas logravam algum efeito ante os incautos, diante do Governador, que enxergava um pouco além, a coisa não se sustentava. “Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que vos solte o Rei dos Judeus? Porque ele bem sabia que por inveja os principais dos sacerdotes o tinham entregado.” Mc 15;9 e 10

Se, no momento da execução criminosa, a ira, e a fúria tiveram participação, quem a fez possível e “necessária”, foi a inveja. Por ser sua força a da persuasão, opera nas mentes, distorcendo fatos, difundindo mentiras; que, uma vez aceitos, fomentarão o uso da força, validada por motivações vis, envernizadas de justiça.

Nos dias de Acabe, o pusilânime rei invejou a vinha de Nabote, pela sua beleza, viço, produtividade, e a quis comprar. Mas, o infeliz vinhateiro alegou que não poderia vender, era de herança e ele prezava.

Então ele se frustrou, descaiu-lhe o semblante, pois, não poderia ter algo que tanto desejava.

A rainha Jezabel, que para efeito de fazer maldades era “melhor” que ele, disse: Deixa comigo! Eu lhe darei tua tão desejada vinha. Alugou falsas testemunhas, as quais afirmaram, ante os anciãos, que Nabote blasfemara contra Deus e contra o rei, e “em defesa de Deus”, o infeliz foi condenado à morte e seus bens confiscados. Ver I Rs cap 21

Outra vez, os tentáculos robustos da inveja, travestidos de zelo religioso. Para efeito do seu culto, a megera Jezabel usava a Baal; mas para “justificar” um assassinato para fins de pilhagem, profanou a Santo Nome do Eterno. Seu fim inglório foi pleno de justiça.

Embora o ensino que devamos amar ao próximo, um sentimento assim, sem fins lucrativos, não costuma ser muito encontrável, infelizmente.

Em geral se “ama”, aos ídolos dos esportes, da música, fé, cinema, pelo prazer que a atuação desses enseja; amando o que nos dá prazer, nos mostramos egoístas.

Os que estão em meio a alguma necessidade, servem como parâmetros das nossas “conquistas”; podemos até lhes dar alguma ajuda, desde que tenha câmera para registrar; porém, aos que estão na “mesma prateleira” num patamar que o invejoso devaneia que poderia estar, também, ai deles, se ousarem brilhar!

“Ainda vi que todo o trabalho, toda a destreza em obras, traz ao homem a inveja do seu próximo. Também isto, é vaidade e aflição de espírito.” Ecl 4;4

Enfim, uma radiografia da inveja. Seu valor, nulo; vaidade; sua causa: Aflição de espírito. Desejar cegamente alguma coisa, acaba nos cegando para as demais. O invejoso deixa de ser feliz com o que possui; prefere sofrer ao ver o que os outros têm.

Em todos os extratos sociais, se pode ser feliz ou infeliz; é uma questão de alma, não, de bolso. “... Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.” Luc 12;15
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