domingo, 29 de dezembro de 2024

Ovelhas "selvagens"


“... vós bem sabeis que não é lícito a um homem judeu, ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros, mas Deus mostrou-me que, a nenhum homem chame comum, ou imundo.” At 10;28

Deus vetara casamentos com estrangeiros que tivessem outros deuses; em caso de adesão ao Deus de Israel, mesmo esses seriam aceitos, como vemos na saga de Rute, a moabita.

A Palavra do Santo prescrevia que estrangeiros fossem bem tratados pelos hebreus; “O estrangeiro não afligirás, nem o oprimirás; pois, estrangeiros fostes na terra do Egito.” Ex 22;21

Caso desejassem participar do culto ao Senhor, conforme os ritos deveriam ser aceitos; “Se algum estrangeiro se hospedar contigo, e quiser celebrar a páscoa do Senhor, seja-lhe circuncidado todo o homem, então se chegara a celebrá-la; será como o natural, da terra...” Ex 12;48

Então, o “não é lícito” de Pedro, derivava mais das tradições arraigadas no judaísmo, que da Palavra de Deus. Talvez a ideia de “povo santo” não tenha sido bem entendida; a separação prescrita no salmo primeiro, “Não anda segundo o caminho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”, tenha sido desviada do propósito, passando a significar, não se misturar com gente de outros povos, embora, não seja isso que o texto diz.

Preconceituoso pensar que os do “povo santo” não cometem falhas; e, equacionar, necessariamente, os estrangeiros, com os adjetivos aqueles; ímpios, pecadores, escarnecedores.

Pedro estava com seu judaísmo ainda não depurado pelo Espírito Santo, que precisou trabalhar na vida dele, para lhe sanar a compreensão. Mostrou-lhe uma visão com animais de todas as espécies; ordenou que matasse e comesse, ao que, Pedro retrucou: “De modo nenhum, Senhor; porque nunca comi coisa alguma, comum ou imunda.” Atos 10;14 Então O Senhor respondeu: “Não faças tu, comum, ao que Deus purificou.” Isso, por três vezes.

Então, chegaram os enviados de Cornélio, o centurião estrangeiro, piedoso, que fora instruído por um anjo, a mandar chamar Pedro, para ouvir O Evangelho.

Foi exatamente quando chegou a casa desse, que Pedro disse as palavras que vimos no início; “... Deus mostrou-me que, a nenhum homem chame comum, ou imundo.”

Adiante, melhor inteirado da situação, deu sinais de cura de sua tradição, alienada do Divino propósito; “... Reconheço, na verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas, que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação O teme, e faz o que é justo.” Atos 10;34 e 35
No mesmo ambulatório, e ao mesmo tempo, O Médico dos Médicos curava Pedro e Cornélio.

O “Ide por todo o mundo, pregai O Evangelho a toda criatura”, ordenado pelo Salvador, estava devagar, quase parando, justamente por isso. A influência da tradição judaísta, na qual todos foram formados, retinha-os ao redor de Jerusalém, no máximo ousavam até Samaria. Embora tinham recebido a Cristo, ainda não tinham compreendido a Sua abrangência. O “Em ti será benditas todas as famílias da Terra”, dito a Abraão, começava, finalmente, a se cumprir.

Pois, O Senhor decidiu transformar o mais ferrenho perseguidor da Igreja, no mais ousado defensor. “Saulo, por que me persegues?” O mais intrépido defensor do Judaísmo foi transformado, pelo conhecimento de Jesus Cristo; naturalmente rejeitado, após convertido, pelos colegas da antiga fé, perseguido para morte, até; assim, um que tinha poucos motivos para ficar orbitando ao Sinédrio, recebeu a missão, não cumprida pelos demais apóstolos.

“Disse-me, vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe.” Atos 22;21

Ainda hoje, passados dois milênios, preconceitos religiosos, tradições, apegos a laços sanguíneos tolhem que muitos sejam abençoados como O Senhor deseja.

O conselho a se evitar o convívio com maus traços de caráter acaba, “convenientemente” ressignificado, como se prescrevesse evitarmos a companhia dos que não gostamos. Agir assim é um desserviço às nossas próprias almas, uma maximização dos nossos preconceitos, em consórcio com a ignorância sobre A Palavra de Deus.

O mesmo Espírito Santo que educara a Pedro, de modo que fosse à casa de um romano ensinar O Evangelho, “assinou a obra”, quando o apóstolo O obedeceu; “Dizendo Pedro, ainda essas palavras, caiu O Espírito Santo sobre todos os que ouviram a palavra; os fiéis, que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se que o dom do Espírito Santo se derramasse ‘também’ sobre os gentios.” Vs 44 e 45

É maravilhoso saber que não somos os favoritos de Deus; Ele pensa maior que nossos umbigos; O Salvador dissera: “Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também Me convém agregar estas; elas ouvirão Minha Voz, haverá um rebanho, e Um Pastor.” Jo 10;16

Muitos daqueles dos quais, eventualmente, não gostamos, O Senhor ama; vai salvar. Com ou sem nossa participação. A escolha é nossa.

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