“Ao terceiro dia, levantou Abraão seus olhos e viu o lugar de longe.” Gn 22;4
Deus ordenara que ele fosse a Moriá, a lá oferecesse seu filho Isaque em holocausto. Impressiona o quão lacônica a narrativa bíblica é; num verso ordena o inusitado e doloroso sacrifício; no seguinte mostra ele agindo, como se nada demais tivesse se passado durante a noite. “Então, levantou Abraão pela manhã, de madrugada, albardou seu jumento, tomou consigo dois dos seus moços, e Isaque, seu filho; cortou lenha para o holocausto, levantou-se e foi ao lugar que Deus lhe dissera.” V 3
Se fosse uma narrativa estritamente humana, a dura e insone noite do velho Abraão daria uns cinco capítulos de novela. Cogitações, altercações, confissões, quiçá, planos alternativos, temores, resmungos poderiam fazer parte de uma noite em claro, de quem colocaria os próprios sentimentos em contraponto à ordem recebida. Não foi assim.
Por certo, grande peso emocional abalou-o; mas fiel como era, levantou cedo e se dispôs a fazer o que fora ordenado. Pior que a dor emocional de sacrificar ao próprio filho, ainda concorria toda uma logística difícil; munir-se dos meios, cortar lenha e caminhar três dias até chegar ao local indicado. Isso, por si só bastaria para que muitos desistissem de um relacionamento com O Altíssimo, por achar duro demais. Nenhuma dificuldade o deteve; no terceiro dia chegou à base do monte, que ainda carecia ser galgado.
Eram homens de outra fibra. Lembro o incidente de Naamã, quando, tendo buscado por Eliseu desejando ser curado da lepra, se decepcionou porque, invés de ser recebido com honras, o profeta apenas enviou-lhe um moço servidor dizendo que ele mergulhasse sete vezes no Jordão, para ser curado.
Tal indiferença de Eliseu ante um militar tão graduado feriu seu orgulho; tencionava voltar para casa. Um dos seus servos, contudo, insistiu: “Se ele tivesse ordenado algo difícil, porventura não o farias?” Então, por que não mergulhar sete vezes, algo tão fácil? Ante a lógica do argumento ele cedeu, fez o que foi ordenado e acabou restabelecido em plena saúde.
Voltando à ideia dos homens de outra têmpera, (os raízes) eles tendiam a recuar ante o que parecia demasiado fácil, ou desonroso; não, diante do difícil. Como citou Dave Hunt, o que nos está preparado no devir é “glorioso demais para ser fácil.” Por isso os fujões ante as dificuldades desagradam a Deus. “O justo viverá pela fé; se ele recuar, a Minha Alma não tem prazer nele.” Heb 10;38
O que foi demandado de Abraão, requeria uma renúncia extraordinária. Certamente sofreu os abalos naturais de uma saga tão pesada; todavia, não recuou. Quando estava prestes a consumar o ato, O Anjo do Senhor o impediu, provendo um cordeiro em lugar do menino. O Eterno não desejava o filho morto; apenas, que Abraão afirmasse sua fé e obediência às últimas consequências.
Muitos tentaram ancorar suas vidas erradas numa espécie de herança espiritual, como se bastasse ser descendente de Abraão, para possuir o valor dele. Jesus disse: “... se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão.” Jo 8;39 deixando patente que não eram laços de sangue, mas identidade espiritual que contava.
João Batista fora além: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos, temos a Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” Luc 3;8
Hoje, os “cristãos” de língua pretendem ancorar todos os seus anseios em “Nome de Jesus”, O Nobre “descendente” de Abraão.
Também não basta o Nome, como ensinou Paulo: “Todavia, o fundamento de Deus fica firme tendo este selo: O Senhor conhece os que são Seus; qualquer que profere o Nome de Cristo, aparte-se da iniquidade.” II Tim 2;19
Essa coisa leviana de terceirizar o relacionamento com Deus, tipo, o pastor, o bispo, ou profeta, orará por mim, e tudo ficará bem, é um triste testemunho de uma geração sem valor, apegada ao comodismo reles, onde deveria primar pela honra, pelo valor excelso das coisas em jogo.
Os “Naamãs” de hoje colocariam de cara sete fotos no “History” felizes por ter sido muito fácil. Apenas não fariam uma marcha da Síria a Israel. Mergulhariam na piscina de casa e mandariam vídeos ao profeta.
Depois de alistar aos heróis da fé que deram suas vidas por amor a Deus, o texto bíblico afirma: “Ainda não resististes até o sangue, combatendo contra o pecado.” Heb 12;4
A Divina Graça pagou o que não podíamos; a necessária santificação requer que renunciemos o que podemos, capacitados pelo Espírito Santo.
Também foi provido um Cordeiro para nos poupar a vida; mas só a obediência irrestrita deixa evidentes os filhos de Abraão.
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