“... há justos a quem sucede segundo as obras dos ímpios, e ímpios a quem sucede segundo as obras dos justos...” Ecl 8;14
Essa colheita invertida desafia nossas mentes; sobretudo, porque está sedimentado no saber popular, a tal “Lei do retorno”, ou, “Semeadura e ceifa”. O conceito é bíblico, “Não erreis. Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso ceifará.” Gál 6;7 há alguns desdobramentos que também são.
“Sucede” significa que acontece após; não, que será a recompensa final. Depois de uma impiedade, nosso imediatismo cogitaria a necessidade do juízo; sobretudo, quando a mesma nos prejudica; nem tanto, quando é cometida por nós.
A longanimidade Divina permite essas discrepâncias, durante a qual, porfia para que os errados de espírito reconsiderem, se arrependam e aprendam o caminho de Deus. Por ser Eterno, Ele tem outro tipo de “urgências”; “... não tenho prazer na morte do ímpio; antes que ele se converta e viva...” Ez 33;11
A prosperidade dos ímpios foi abordada por Agur, no salmo 73. Embora, o senso lógico dele tenha embotado por um pouco, ao parecer que Deus valorizava à maldade, considerando às coisas no prisma espiritual, entendeu melhor. “Quando eu pensava entender isso, foi para mim muito doloroso; até que entrei no Santuário de Deus, então, entendi o fim deles. Certamente Tu os puseste em lugares escorregadios; Tu os lanças em destruição.” Sal 73;16 a 18
Tendemos a ver o necessário processo como se fosse o produto. Quantos Israelitas, durante a marcha para a terra prometida, acusaram Moisés de ser um farsante, uma vez que estavam no deserto, não, numa terra fértil como predito?
Ora, estavam em marcha, não haviam chegado. A travessia foi prolongada em quarenta anos, por causa da incredulidade deles. Sim, mesmo as coisas da terra, relacionadas com o agir Divino, junto aos que chama, demandam por fé. Se, num sentido amplo envia sol e chuva sobre justos e injustos, àqueles que chama para si, O Senhor responsabiliza a agir de modo honroso.
O ímpio pode coisas que o santo não pode; não porque aquele seja maior; antes, porque esse representa O Eterno. Pertencer a Deus é sobremodo, honroso; porém, responsabilizador, consequente, sério. Quem nada tem a perder, nada carece guardar; o que recebeu o dom da vida eterna recebeu um tesouro inefável, que deve zelar.
Os que observam mais o percurso que o destino, têm maiores chances de serem vítimas do enganador, que, com suas ilusões costuma paramentar aos caminhos do erro, como incautos decoram as “Árvores de Natal.” O Valor de um caminho não tem a ver com nuances do percurso, eventuais facilidades, prazeres; antes, com o objetivo ao qual conduz; A Palavra ensina: “Há um caminho que ao homem parece direito; mas, no fim dele, são os caminhos da morte.” Prov 14;12
Tendemos a ser mais acessíveis nas carências que na prosperidade; não há momento mais permeável para a Palavra de Deus, que um auto fúnebre, por exemplo. A eloquente presença da morte a pautar nossa finitude tende a deixar no fundo das algibeiras, ainda que por um pouco, vícios como arrogância, egoísmo, indiferença, orgulho, e abrir ouvidos para a esperança, a justiça e a misericórdia Divinas; “... ali se vê o fim de todas as coisas, e os vivos o aplicam aos seus corações.” Ecl 7;2
Assim, se somos mais abordáveis em nossas fragilidades que nas horas de exaltação, quando vemos um ímpio de vento em popa, fazendo as maiores atrocidades e tudo “dando certo”, pode ser um indício que Deus já tenha desistido do tal. Quem premia a maldade não é O Senhor.
Por fim, resta considerarmos em qual contexto a ceifa inevitável acontecerá: “Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas, o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” Gál 6;8
Corrupção ou vida eterna serão consequências no porvir, da semeadura feita aqui. Embora nosso ímpio próspero, em apreço, pareça semear maldades e colher benesses, a colheita que conta deveras, não será aqui; Paulo ensina: “Se esperarmos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19
Ainda que, nuances de quem abraçou o chamado à vida eterna possam e devam ser vistas aqui, certamente, a recompensa espera no além. Foi às portas da morte que Paulo disse: “Desde agora a coroa da justiça me está guardada, a qual, O Senhor, Justo Juiz, me dará naquele dia; não somente a mim, mas também a todos os que amarem à Sua vinda.” II Tim 4;8
Enfim, se você atua de modo justo e as coisas não “dão certo”, peça olhos espirituais, para identificar melhor as bênçãos que encerram.
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