segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Os mortos, vivos


“Porque aquele que está morto, está justificado do pecado.” Rom 6;7

Isso, se deslocado do contexto, entendido de modo superficial, pode dar azo a interpretações distorcidas, heresias. Já existe no imaginário popular, uma espécie de sagração da morte; como se, ela trouxesse a correção dos erros de quem vive de modo ímpio, avesso ao Criador.

Aquele que fora alvo das mais ácidas críticas pelas escolhas na vida, uma vez morto, recebe elogios, leniências várias, como se, a cessação da existência terrena trouxesse um apagador e zerasse por inteiro, a lousa dos vícios. Machado de Assis usou isso: “Podemos elogiar à vontade; está morto.”

Basta frequentar autos fúnebres, ou, perceber como alguns citam a morte, para identificar traços dessa doença. O sujeito pode ter os desajustes que tiver, ter vivido os mais variados tipos de erros, quando morre, “Passou para o andar de cima; se tornou uma estrela; estará olhando por nós; no fundo era uma boa pessoa.” etc.]

O ambiente fúnebre deve ensejar reflexões nos que estão vivos. Lá vemos a exposição prática da nossa finitude. Analisar isso pode ajudar a curar alguns vícios, como arrogância, pretensão, egoísmo.

Está dito: “Melhor é ir à casa onde há luto, que ir à casa onde há banquete; porque naquela está fim de todos os homens; os vivos aplicam isso aos seus corações; melhor é a mágoa que o riso, porque com a tristeza do rosto, se faz melhor o coração.” Ecl 7;2 e 3

A tentativa de tornar ao profano, sagrado, apenas pelo seu fim, seria uma interpretação rasa, do verso, “Aquele que está morto, está justificado do pecado.” Visto mais de perto, o sentido é outro. As letras miúdas do contrato, não podem ser desprezadas.

Enquanto o sopro da vida pulsa, muitas coisas podem ser mudadas, refeitas; cessada sua incidência, não mais; donde vem o dito: “enquanto há vida, há esperança.” Se, alguém não fez a boa escolha em tempo, terá que se resignar a um dito expresso por Jeremias: “Passou o verão, findou a sega e não estou salvo.” Jr 8;20

O “morto” em apreço, que está justificado porque morreu, é um “morto voluntário” como prescreveu O Salvador; “... quem perder sua vida por amor de Mim, achá-la-á.” Mat 10;39

Somos desafiados, por amor a Ele, à “crucificação da carne”, deixar o ego na submissão, no preceituado, “negue a si mesmo”; enfim, nossa identificação com O Salvador em renúncias e obediência ao Divino querer, deve ser tal, que é como se tivéssemos morrido.

Paulo esposa essa ideia; “Ou não sabeis que, todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo, o fomos, na Sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele, pelo batismo, na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim, andemos também em novidade de vida.” Rom 6;3 e 4
Não é algo que cessa a vida, pois; antes, renova, transforma.

Adiante, explica melhor o sentido: “Sabendo isto; que nosso homem velho foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, e não o sirvamos mais.” V 6

Há três tipos de mortes, que devemos distinguir. O primeiro, aquele de conhecimento comum, quando cessou a existência terrena, separou-se a alma do corpo. O segundo, o que, mesmo respirando ainda, está espiritualmente morto, alienado de Deus; a sina da maioria.

Desses, O Salvador disse: “Em verdade em verdade vos digo que, vem a hora, agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; os que a ouvirem, viverão.” Jo 5;25 Aludindo à conversão e consequente, “Novo nascimento.”

Por fim, nosso morto voluntário em apreço, aquele que leva a obediência e santificação às últimas consequências; seu não! aos reclames ímpios da carne é tão decidido, que é como se ela estivesse morta. “Os que são de Cristo, crucificaram à carne, com suas paixões e concupiscências.” Gál 5;24 “Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas quanto a viver, vive para Deus.” Rom 6;10
Esses, pois, são os “mortos” que estão justificados dos seus pecados.

Isso visto sob outro aspecto, é tido por “andar em espírito”; não significa que deixaremos de ter um corpo natural como os demais; apenas, que os clamores desse e suas inclinações perversas não serão mais as diretrizes para as nossas vidas.

“Aquele que está morto está justificado do pecado”; deve ser visto no prisma espiritual; quem nasceu de novo e anda segundo o Espírito está livre de condenação; “Portanto, agora nenhuma condenação há, para os que estão em Cristo Jesus; que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Rom 8;1

Não é um jazer, que o justifica; antes, um novo modo de andar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário