terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Deus e o mal


“Porventura, da Boca do Altíssimo não sai, tanto o mal, quanto o bem? De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos próprios pecados.” Lam 3;38 e 39

Esse “mal” procedente do Altíssimo é um daqueles textos para deleite dos que sentem prazer em atribuir imperfeições ao Eterno.

Os filósofos antigos faziam distinção entre o “Númeno” e o “Fenômeno”. Aquele primeiro refere-se ao ser, à essência das coisas, e o fenômeno, à aparência, a manifestação.

Do ponto-de-vista do fenômeno, dizemos que o sol nasce e se põe todos os dias; pois, assim nos parece. Entretanto o ser é diferente; é a terra que gira sobre si mesma, produzindo essa sensação.

Um exemplo mais, e basta; quando nossos abdomens adquirem certa protuberância, de modo que algumas roupas não nos servem mais, dizemos que elas ficaram pequenas, embora permaneçam do mesmo tamanho. A mudança se deu em nós.

Porque A Palavra de Deus fala mediante homens, aos homens, natural que use o modo antropomórfico (forma humana) de falar, para facilitar a compreensão. Assim, aquilo que soa como um mal, aos nossos olhos, aos Dele, nem sempre é assim.

A relação do Eterno com o mal em si, com a essência do mesmo é absolutamente impossível. Abraão dissera: “Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; longe de Ti; não faria justiça o Juiz de toda a Terra?” Gn 18;25

Por Habacuque, disse: “Tu És tão puro de olhos que não podes ver o mal; a opressão não podes contemplar...” Hac 1;13

Tiago pontuou a absoluta aversão do Santo, para com o mal; “Ninguém, sendo tentado diga: Por Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Cada um é tentado, quando é atraído e engodado pela própria cobiça.” Tg 1;13 e 14

A rigor, nem o pecador é atraído pelo mal; carece de um “engodo”, alguma nuance de bem, de prazer, vantagens, revanche, algo que, como uma isca, esconda o anzol da maldade, para que esse incauto o abocanhe.

O Eterno, É Santo e Onisciente. Assim, além da aversão pelo mal, dada a Sua Essência, também não pode, como nós, ser enganado por desejos doentios, em consórcio com o logro dos fenômenos.

Jeremias profetizara por mais de duas décadas, advertindo do juízo vindouro, se não houvesse arrependimento e mudança, na sociedade daqueles dias. Foi rejeitado, perseguido, agredido, preso.

A resiliência, mormente dos líderes, na maldade, tornara o juízo, o cativeiro, inevitáveis.

Num contexto de terra arrasada, o povo cativo em Babilônia, a cidade e o templo destruídos que Jeremias escreveu suas lamentações. Ele, pela demora do julgamento anunciado, fora testemunha da longanimidade Divina, da espera pelo arrependimento, para não carecer o julgamento.

Então, o “mal” em apreço só o era, do ponto-de-vista humano; do Divino era apenas justiça. O mesmo profeta testificara da difícil necessidade do Eterno; “Ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão, segundo a grandeza das Suas misericórdias; porque não aflige nem entristece de bom grado, aos filhos dos homens.” Lam 3;32 e 33

Não é algo que apraz ao Todo Poderoso, mas eventualmente, vê como necessário.
Quanto à Sua Essência e bondade, o simples fato de enviar sol e chuva, sobre justos e injustos já deixa ver nuances.

Logo, quando Ele Diz: “Eu formo a luz e crio as trevas, faço a paz e crio o mal, Eu, O Senhor faço todas essas coisas;” Is 45;7 Está O Santo reivindicando Seu direito Soberano de julgar às coisas como lhe aprouver, sem dar satisfação às criaturas; não, evidenciando alguma relação Sua, com o mal em si.

O contexto imediato do verso inicial das lamentações, nesse apreço, deixa ver o tipo do “mal” que era referido; também a causa do mesmo. “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos próprios pecados.”

Quando o homem tiver consciência que, em geral, seus “males” são consequências, e eventuais limitações inatas serão recompensadas no porvir, invés de queixar-se contra Deus, colocará limites em si mesmo, será parcimonioso na semeadura. “Não erreis; Deus não se deixa escarnecer; tudo que o homem semear, isso ceifará; o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; o que semeia no espírito, ceifará a vida eterna.” Gál 6;7 e 8

Enfim, os caçadores de “contradições bíblicas”, que procuram erros na Palavra de Deus, já deixam, por essa escolha, patente sua preferência pelo mal. Quando o ceifarem terão que culpar a si mesmos.

Felizes os que leem À Palavra de Deus! mas que o façam como quem aprende, não, como quem julga ao Eterno. “Lendo A Palavra de Deus, encontrei muitos erros; todos, em mim.” Agostinho
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