sábado, 17 de agosto de 2024

Além do ex


“Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. Que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte.” Rom 6;20 e 21

Estarem “livres da justiça”, não significa que, vivendo no pecado, não seriam julgados por isso; não é essa a ideia. Antes, nada tinham a perder, sendo injustos; pois, estavam já, espiritualmente mortos. Assim, suas vidas pecaminosas por absolutamente descompromissadas com a obediência, eram “livres”. Quem encontra a “Pérola de grande valor”, abdica de ser livre, daquele modo, pela ventura de ser servo de Cristo.

A simples demanda pelos frutos, na óbvia ausência deles, é já um argumento capaz de despertar os ouvintes, de modo a entenderem a retórica do apóstolo.

“...agora, (convertidos) vos envergonhais.” Não é próprio que nos envergonhemos de frutos, antes de dissoluções, erros, descaminhos.

São normais, motivos para vergonha, tendo vivido às nossas maneiras se, num venturoso dia tivermos um encontro com O Salvador. O contraste diametral, entre o aprendido Dele, e o antes vivido, será inevitável. Não por coincidência, a abordagem primeira do Evangelho é, “arrependei-vos!”

Tenho um pé atrás com as “conversões” de gente que se apresenta com ex isso, aquilo; faz da sua “nova vida”, um eterno recordar das coisas que fazia como satanista, traficante, assaltante, assassino, enfim, na impiedade pretérita.

Cada fala do “convertido”, traz algum feito de quando servia à oposição; o canhoto continua sendo o protagonista na vida do “nascido de novo”; O Senhor, eventual coadjuvante. Onde foi parar o necessário pejo?

No futebol se usa a expressão, a “lei do ex”; quando um jogador que atuou por determinada equipe, agora servindo a outra faz um gol contra seu antigo time. Pois, para esses saudosos do lixo, parece vigorar uma infinda lei do ex, onde deveria vigorar a novidade de vida.

Nosso passado de erros e serviço à oposição, deveria nos envergonhar; ser mencionado apenas, quando estritamente necessário, afinal, agora estamos em Cristo; “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo.” II Cor 5;17 

Paulo ensina mais: “Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; vos renoveis no espírito da vossa mente e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” Ef 4;22 a 24

Mesmo eventuais frutos de quem, deveras, nasceu de novo, não devem ser motivos para “testemunhos” se, esses envolverem os lábios do próprio agente. A Palavra ensina: “Que um outro te louve, não, tua própria boca; o estranho, não os teus lábios.” Prov 27;2

Nosso testemunho de vida em Cristo, no tocante à nossa participação, deve ser visto, não, ouvido; “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos Céus.” Mat 5;16

Se, mesmo as coisas meritórias, não devem ser motivos de muito barulho, por que o seriam, as vergonhosas? Verteriam essas de um masoquismo espiritual?

Quem muito excursiona aos dias do pecado, em repetidas menções ao que deveria ter sido deixado para lá, evidencia saudade, do que deveria sentir vergonha. Mesmo a vergonha é uma coisa boa, quando a causa requer. Como dizia o Batoré: “Pensa que é bonito ser feio?”

O Senhor denunciou Seu povo em determinado contexto, como incapaz, de, ao menos demonstrar essa “qualidade”, em face aos seus descaminhos: “... tu tens fronte de uma prostituta, não queres ter vergonha.” Jr 3;3

Paulo se dizia o principal dos pecadores, quando, para evidenciar a grandeza da Divina misericórdia, sem entrar em detalhes sobre as atrocidades que cometeu ao perseguir à Igreja. Falou oportunamente, o estritamente necessário.

A saudade dos pepinos do Egito levou muitos ingratos a chamarem o Maná de “alimento vil”, nos dias do Êxodo. O Salvador ensinou: “Porque, onde estiver vosso tesouro, ali estará também o vosso coração.” Luc 12;34

Por que colocaríamos sobre a mesa, coisas que ficam melhor na gaveta da vergonha? Evitemos que isso contamine nossa caminhada; em Cristo convém buscarmos o devido crescimento em santificação, pela escolha da novidade de vida, com obras correspondentes; “Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10

Não sei se, depressão é excesso de passado, ansiedade, excesso de futuro, como definiu alguém; mas, que essas coisas interferem no viver, para bem ou para mal, é inegável. Devemos andar, “... esquecendo-me das coisas que, atrás ficam, avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo...” Fp 3;13 e 14 Se evocarmos algo antigo, que seja por uma boa causa; para ter esperança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário