sexta-feira, 7 de março de 2025

Lealdade



"Leais são as feridas feitas pelo amigo, mas os beijos do inimigo são enganosos." Prov 27;6

Se, alguém fosse convidado a escolher entre feridas e beijos, a escolha parece óbvia. Ninguém, gozando saúde psicológica escolheria às coisas que lhe fossem danosas. Contudo, remédios amargos podem ser portadores de saúde, enquanto, “doçuras” inoportunas, ser meras camuflagens de feridas ainda maiores.

Se, um amigo me vir por um descaminho qualquer, cujo final será danoso e me avisar, ainda que, atuando contra minha inclinação natural que tende pelo aludido caminho, poderá ser um “chato” um desmancha-prazeres, eventualmente; mas mostrará que sua amizade é vera; correrá risco de perdê-la, caso eu me mostre refratário à correção, mas não desejará ver eu me perder, sem antes me alertar, pela sua lealdade.

Essa história individualista e doentia, de que cada um é um planetinha errante, um micro universo que se basta, sem necessidade de ninguém, pode parecer libertária, mas é o suprassumo, do desprezo, da indiferença culpada disfarçada de respeito aos direitos.


Os caminhos costumam ser cheios de enganos. “Há um caminho que a o homem parece direito, mas, no fim, são os caminhos da morte.” Prov 14;12 Inicialmente é um caminho, o direito de escolha de cada um; no final, se dilui em vários caminhos, porém todos com o mesmo destino: “Os caminhos da morte.” A inclinação natural do homem, refém da carne sempre o arrasta nessa direção. “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois, não é sujeita à Sua Lei, nem pode ser.” Rom 8;7

Tentar reconduzir a alguém, de volta ao bom caminho, segundo Deus, costuma ferir suscetibilidades, despertar melindres dos que não querem ser incomodados, mesmo que suas liberdades de escolhas os estejam levando à perdição.

Poderia um amigo que vir isso, se fazer alheio, silente, omisso, como se, nada estivesse vendo? Se assim fizesse agiria de modo desleal. “Leais são as feridas feitas pelo amigo...”

Quem foi abençoado com certa porção de luz espiritual, recebeu junto com ela o dever de usá-la com propósito, para que a posse da mesma faça sentido. “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire; mas, no velador para dar luz a todos os que estão na casa; assim, resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai que está nos Céus.” Mat 5;14 a 16

Apesar dos doentios anseios do individualismo, a vida sobre a terra não é o império do direito, onde compete a cada um fazer o que bem lhe aprouver. Quem isso disse foi o Capeta por ocasião da queda. Os fatos subsequentes, mostraram que era mentira.

Nossa estada por aqui, é um limite de tempo e espaço, para que voltemos à comunhão com O Eterno; o tempo que for gasto alheio ou fora disso, acaba sendo um desperdício. “De um só sangue (Deus) fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando O pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós.” Atos 17;26 e 27

Em suma, usemos nosso tempo e nossos limites espaciais, para este fim; para reencontrar o rumo de casa, o retorno à paz com Deus. Ele fez Sua parte; “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a mensagem de reconciliação.” II Cor 5;19

Notem os que se incomodam com nossa “intromissão” em suas vidas, quando anunciamos O Evangelho, que assim fazendo, deixamos fluir algo que O próprio Senhor pôs em nós; a “Palavra da reconciliação.” Se nossa lealdade a Ele nos faz importunos, às vezes, é O Amor Divino que nos constrange, pois, não seria digno, aqueles que receberam à salvação, desejaram-na apenas para si, deixando que os demais se percam. Não combina com O Amor de Deus que foi colocado em nós.

Nas filosofias de botecos o mundo diz que prefere tristes verdades, às alegres mentiras. Mas, quando a triste verdade de que estão perdidos sem Cristo, O Salvador, é apresentada a esses “filósofos”, não poucos se ofendem, pois, preferem os “beijos” adoecidos dos que dizem que todos estão certos, e no fim, todos os caminhos levam a Deus.

O excesso de amor próprio, onde o sujeito prefere ser falso a soar incômodo, é que patrocina falsificações, onde deveria ser o assento exclusivo da verdade. O vero amor fere, pois, costuma a preocupar-se mais com seus alvos, que com sua reputação.

terça-feira, 4 de março de 2025

Pra onde vamos?


“Ainda que vivesse duas vezes mil anos, e não gozasse o bem, não vão todos para o mesmo lugar?” Ecl 6;6 Seria fútil a vida, mesmo vivendo dois milênios, se alguém não gozasse do bem, fartando-se dele. Afinal, “Não vão todos para o mesmo lugar?”

A interpretação do Eclesiastes requer alguns cuidados, pelas características peculiares desse livro. O próprio autor deixa claro que é produto das suas reflexões, não, de alguma revelação de origem Divina. “Apliquei meu coração a esquadrinhar, informar-me com sabedoria de tudo o que acontece, debaixo do céu...” Cap 1;13 Assim, a fonte são as humanas reflexões do pensador, e o âmbito, a vida sobre a terra.

A ideia de que vão todos para o mesmo lugar é recorrente nos botecos da vida. “O inferno é aqui mesmo; aqui se faz, aqui se paga; morreu acabou” quem jamais ouviu coisas assim?
Que a semeadura terá ceifa correspondente, isso é bíblico. Mas, a coisa não deve ser levada de modo tão estrito que ignoremos as letras miúdas do contrato.

O Texto diz: “O que semeia na carne, da carne ceifará a corrupção; o que semeia no espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” Gál 6;8 O arrependimento para perdão, é uma “semeadura” no espírito; alguém que fez coisas más, quando convencido disso reconhece, se arrepende e clama por perdão, não colherá, necessariamente, a punição pelo mal que fez. A semeadura pretérita, na carne, foi anulada por uma nova, agora, no espírito. “Se o ímpio se converter de todos os pecados que cometeu, guardar todos os Meus estatutos, proceder com retidão e justiça, certamente viverá; não morrerá.” Ez 18;21

Você não acha justo? O Senhor pergunta: “Não Me é lícito fazer o que quiser do que é Meu? Ou, é mau o teu olho porque Eu Sou bom?” Mat 20;15

Tanto alguém pode colher o que não plantou pela Divina graça, quanto, ter feito coisas dignas de recompensas, e perder esses “créditos” se, apostatar da fé e voltar as costas para o Senhor. “De todas as justiças que tiver feito, não se fará memória, na sua transgressão, com que transgrediu, no seu pecado, com que pecou, morrerá.” Ez 18;24 Pois, “O justo viverá pela fé; se ele recuar, Minha Alma não tem prazer nele.” Heb 10;38 Daí, a importância ímpar da perseverança.

Quando Deus fala que um morrerá, outro não, isso por si só elimina a ideia simplista de que vão todos para o mesmo lugar. É inevitável a morte física, e nesse escopo, apenas, “vão todos para o mesmo lugar”, a sepultura. Até o “filósofo” Chicó, sabia disso: “Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre.” Ariano Suassuna. O que acontecerá depois, depende das escolhas de cada um.

Mesmo aos animais participam da mesma sina, quanto à vida física; “Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó; todos voltarão ao pó” Ecl 3;20 Porém, surge uma pergunta: “Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima, e dos animais, para debaixo da terra?” v 21

Invés de fazer das suas reflexões uma terra arrasada, onde tanto faz ser justo ou ímpio, o pensador é criterioso: Aos jovens, diz: “... anda pelos caminhos do teu coração, pela vista dos teus olhos, sabe, porém, que por todas essas coisas, te trará, Deus a juízo.”

Se, as reflexões dele não pretendem ir além das coisas debaixo do céu, o pensador sabe que há mais do que isso; encerra seu apanhado com um conselho bem sóbrio: “De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda Seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o homem; porque Deus há de trazer a juízo a toda obra, até, tudo o que está encoberto; quer seja bom, quer seja mau.” Ecl 12;14

A simples ideia de um juízo vindouro, não que seja coisa simples, já elimina a possível conclusão precipitada de que todos vão, necessariamente, para o mesmo lugar.

Dizem os que se ocuparam em contar, que há mais menções sobre o inferno, que sobre o Céu, nos Evangelhos; isso, por si só evidencia a cuidado necessário, e o zelo do Salvador, para que o evitemos.

Acreditar alguém no que deseja, não é crer, é fugir. Ainda que, a apresentação da doutrina pertinente à vida possa ser múltipla, a fonte é ímpar; “As palavras dos sábios são como aguilhões; como pregos bem fixados, pelos mestres das assembleias, que nos foram dadas pelo Único Pastor.” Ecl 12;11

segunda-feira, 3 de março de 2025

Pregadores verdes


“Vinde meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.” Sal 34;11

Os meninos podem ser biológicos, psicológicos ou espirituais.

O primeiro caso, a idade. Alguém, ainda, na idade do aprendizado, que deve ser aproveitada, para neles incutir valores. “Instrui o menino no caminho em que deve andar; até quando envelhecer, não se desviará dele.” Prov 22;6

O ensino na infância, seja para o bem, seja para o mal, fica como que, impregnado na alma. Jeremias cita os que aprenderam o vício invés da virtude; figura isso como se fosse parte do ser, a própria pele dos ensinados; “Porventura, pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo suas manchas? Então, podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” Jr 13;23

O menino psicológico é o que, mesmo tendo tempo, idade adulta, por negligência, se recusa a crescer, fazendo figurar no gráfico da sua alma, o upgrade necessário; entendendo que é hora de assumir responsabilidades maiores, interpretar no teatro da vida, um melhor script que aquele pertinente à infância.

De uns que, malgrado o decurso do tempo, preferiram seguir psicologicamente infantes, pela negligência em abraçar A Palavra de Deus como diretriz normativa para viver, foi dito: “Porque, devendo ser mestres pelo tempo... necessitais de leite... qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na Palavra da justiça, porque é menino.” Heb 5;12 e 13

Se, a simplicidade de uma criança nos é recomendada pelo Salvador, isso é atinente à humildade, e à índole ensinável que devemos ter; entretanto, no prisma do entendimento podemos mais; Paulo resume numa sentença o que convém: “... sede meninos na malícia, e adultos no entendimento.” I Cor 14;20

Por último, o menino espiritual. Aos que colocavam dons como aferidores de estatura espiritual, (o simples disputar isso já é infantil) Paulo colocou o amor como mais importante que os dons, e mencionou sua infância naturalmente superada, pretendendo emular seus leitores a crescer também; disse: “Quando eu era menino falava como menino, sentia como menino, discorria como menino; mas quando me tornei homem, acabei com as coisas de menino.” I Cor 13;11

Outro traço que mostra a meninice espiritual é a inconstância doutrinária; qualquer novidade soa atraente ao menino, invés da novidade de vida que devem evidenciar os que passam a pertencer ao Senhor. Preceituando a edificação como necessária, Paulo explica um dos motivos: “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em redor por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que pela astúcia agem fraudulosamente.” Ef 4;14

Se tratando de ministério, salvaguardada a Divina Soberania que pode usar a quem quiser, quando e onde quiser, não devemos tratar à meninice de modo diferente do que ela é. O conselho para as coisas de nossa iniciativa, veta que se coloque a inexperiência, como autoridade sobre os mais vividos. Da separação de ministros, Paulo Diz: “... não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia nas ciladas do Diabo.” I Tim 3;6

Está havendo uma danosa inversão nesses dias; meninos em todos os sentidos, são colocados em lugares de pregadores; invés de ser instrumentos de ministração da Palavra da Vida, começam a “revelar macumbas” e ver “varões de branco”, ante plateias incautas que, vergonhosamente pagam aos tais para que esses os enganem.

Quando O Eterno usar a alguém precocemente, não carecerá muito barulho; os próprios frutos evidenciarão que O Pai está no negócio.

Ninguém precisa de reveladores fajutos, adivinhadores de CPFs e similares. O Capeta já fazia coisas assim no início da Igreja e levou um pé na bunda por isso. Ver Atos, cap 16

O que a Igreja carece urgente é de intérpretes idôneos da Palavra, que a conheçam e vivam. “Revelar” invejas e macumbas, até as ciganas fazem.

Um ministro idôneo não atrai público, necessariamente; poderá pregar para igrejas lotadas, mas, saberá que não é estrela, nem motivo para a presença, dos que ali estão; antes, Cristo É.

Essa invasão da puberdade, nos púlpitos e na mídia, já é um derivado de uma safra de pastores sem zelo, que se preocupam mais com frequência que com fidelidade. Quem disse que um templo repleto é sinal necessário de bênção? Um pirralho desses, por causa da febre da fama que contamina incautos, pode atrair muitos.

José foi exaltado no Egito com trinta anos; Gn 41;46 O ministério dos levitas exigia a plenitude do vigor e maturidade, de 30 a 50 anos; Num 4;3. Cristo começou Seu Ministério com essa idade. Luc 3;23 deve haver uma razão para isso.

A sadia mensagem do Evangelho carece duma gravidade que, em geral, a juventude desconhece. Jovens, sois bem vindos na casa do Pai! “Vinde meninos, ouvi-me; eu vos ensinarei o temor do Senhor.”

Saber para servir



“A sabedoria clama lá fora; pelas ruas levanta sua voz.” Prov 1;20

Interessante essa descrição de Sophia! Desfila como se fosse um vendedor ambulante a “kombi dos ovos”, anunciando alto e bom som, seu produto, a promoção da vez.

Busca ambientes povoados; não é próprio dela, anunciar suas preciosidades em lugares ermos. “Nas esquinas movimentadas ela brada; nas entradas das portas, nas cidades, profere suas palavras.” v 21

Seu público-alvo, óbvio, os que precisam mais dela. “Até quando, ó símplices, amareis à simplicidade? Vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? Vós insensatos, odiareis o conhecimento?” v 22

Sabe que os símplices, escarnecedores e insensatos são assim, precisamente por falta dela; e os busca, tentando supri-los. (simplicidade, no contexto, não é ausência de artifícios, complexidade; o que seria algo bom; antes, ausência de luz, de conhecimento, tolice)

Seu método de ensino toca o dedo na ferida, invés de anestesiar ao enfermo deixando-o doente; diz: “Atentai para minha repreensão...” v 23

Agora começamos a ter problemas. Em geral, os símplices, escarnecedores e insensatos o são, justamente, pela sua aversão ao ensino, mormente, quando esse vem voando no tapete mágico da correção.

A fronteira tênue, que tem de um lado, aceitar que está errado e carece ser corrigido; do outro, a arrogância, a presumir-se dono de si e das escolhas, rechaçando a tudo o que tentar se “intrometer”; costuma bater a porta na cara da Sabedoria, pelas mãos dos que mais carecem dela.

Por isso, no mesmo tratado, mais adiante, diz: “Dá instrução ao sábio, ele se fará mais sábio; ensina ao justo, ele aumentará em entendimento.” Prov 9;9 Aquele que tem sabedoria suficiente para entender às próprias carências, admiti-las, esse é o aluno predileto da doutora Sophia. Os demais, costumam evitá-la. “Se não paga minhas contas, não dê palpites”, defendem-se.

Nos dias da infância dela, havia disputa entre os filósofos e os sofistas; aqueles desejando com todas as forças, conhecê-la; esses, contentando-se em pintar um simulacro, fingindo saber o que ignoravam. Essa doença persiste até hoje, mais perniciosa que nunca. Os que bebem uma gota dela desejam mais; os que nada sabem, desfilam airosos fingindo saber tudo.

Os avessos ao saber não se preocupam em melhorar, antes, em defender-se. A Sabedoria traz consigo um necessário câmbio de espírito, por isso; para que, enfim, possa ser entendida onde é temida; desejada, onde é rejeitada. “... vos derramarei abundantemente do Meu espírito, e vos farei saber minhas palavras.” V 23

Ontem deparei com uma “pérola” provavelmente derivada dos pregadores da “hipergraça”, onde Deus faz tudo, aceita, tolera tudo e nós somos o centro dos Seus afetos e Sua Obra; dizia: “O Evangelho não é um tijolo para lançares na cabeça das pessoas; antes, uma bacia com água, para lavar seus pés.” Pareceu mui belo num primeiro momento; mas, tinha o segundo.

Depois de refletir a respeito, comentei: Jesus lavou os pés aos Seus discípulos, porque lhe seguiam obedientes se deixando ensinar; mas, lançou em rosto a maldade dos maus, chamando-os de hipócritas, raça de víboras! Certas situações não têm a ver com o que O Evangelho é; mas, com o que as pessoas são.

Esse tipo de “defesa” é uma pérola de sofisma, para ser usada por aqueles que são resilientes à correção, avessos à repreensão. O Evangelho traz amor, perdão, justiça, verdade, denúncia, correção... tudo no mesmo pacote. Em Cristo, “A Misericórdia e a Verdade se encontraram; a Justiça e a Paz se beijaram. A verdade brotará da terra, a Justiça olhará dos Céus.” Sal 85;10 e 11

Dependendo do diagnóstico do paciente, será prescrito o remédio que ele necessita. O fraco carece ser erguido, o arrogante, abatido; para ambos, o tratamento requer o arrependimento como parte do processo; há insumos em Cristo para todos os males.

Não é próprio da Sabedoria trata câncer com Aspirina, nem, hemorragia com muletas.

Assim, sempre que alguém anuncia de modo probo, à mensagem de Cristo, A Sabedoria está desfilando, clamando em demanda de quem a deseje ouvir.

Sabedor que nossa inclinação natural é avessa a Ele, O Senhor faz, nos que lhe dão ouvidos, a necessário transplante de órgão; “Dar-vos-ei um coração novo, porei dentro de vós um espírito novo; tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne; porei dentro de vós o Meu Espírito, farei que andeis nos Meus Estatutos, guardeis os Meus Juízos e os observeis.” Ez 36;26 e 27

Se, os sábios carecem guardar, observar a Lei de Cristo, Sophia nos capacita para servir, invés de promover nossa independência. Ou isso, ou nos atrevermos contra O Eterno, porém sem o auxílio dela, pois, “Não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho, contra O Senhor.” Priv 21;30

domingo, 2 de março de 2025

O lugar das coisas


“Porque Deus há de trazer a juízo toda obra, até o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” Ecl 12;14

Se, o “Eclesiastes” parece um tratado mui pessimista, onde, nem prazeres, posses, ou mesmo, sabedoria têm muito valor, “tudo é vaidade e aflição de espírito”; no epílogo, o autor deixa uma porta aberta para que a justiça, enfim, se estabeleça. “... Deus há de trazer a juízo, toda obra...”

Abraão dissera: “Longe de Ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de Ti; não faria justiça, o Juiz de toda a Terra?” Gn 18;25

A essência das coisas escapa aos olhos da carne; não conseguimos ir além das aparências; só nesse prisma é possível que haja ações encobertas. Os anjos fiéis e os caídos veem tudo.

Na nossa atuação, dos que são fiéis a Cristo, mesmo reduzidos às fraquezas de corpos carnais, há um ensino para aqueles que não estão presos aos mesmos limites; tanto denunciando como injustificável as escolhas dos que caíram, quanto, emulando aos fiéis, para que assim permaneçam.

Soa meio pretencioso, seres pífios, falhos, como nós, serem instrumentos didáticos ante aos anjos nos Céus; porém, é A Palavra de Deus expõe: “Para que agora, pela Igreja, a multiforme Sabedoria de Deus seja conhecida, dos principados e potestades nos Céus.” Ef 3;10 Afinal, “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo, para confundir as sábias; escolheu as coisas fracas deste mundo, para confundir as fortes.” Isso vale tanto no escopo terreno, quanto, universal. É a Sabedoria Dele, que se evidencia mediante isso, não, nossa.

Acaso, quando escolhemos obedecer, malgrado nossas fraquezas e más inclinações, nossa escolha não está sendo um “juízo” contra os anjos que preferiram a desobediência? Nossa atuação nos faz “juízes” dos anjos, tanto condenando os que preferiram a corrupção, quanto, justificando os que escolheram a fidelidade. “Não sabeis que havemos de julgar os anjos? Quanto mais, as coisas pertencentes a esta vida?” I Cor 6;3

Se, nosso agir está visível ante as criaturas espirituais, o que dizer, do Criador? “Não há criatura alguma encoberta diante Dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes, aos Olhos Daquele, com quem temos de tratar.” Heb 4;13 Diante Dele, não apenas nossos atos, mas, até desejos, pensamentos; pois, “vê” nossos corações.

Passarmos por momentos de descrença, ao vermos as coisas fora do lugar, indignos sendo honrados, e probos perseguidos, vilipendiados, é inevitável nesse mundo; mesmo o mais sábio dentre os homens, passou. Ele escreveu: “Tudo sucede igualmente a todos, o mesmo sucede ao justo e ao ímpio, ao bom e ao puro, como ao impuro; assim, ao que sacrifica, como ao que não sacrifica; tanto ao bom, quanto ao pecador, ao que jura, quanto, ao que teme o juramento.” Ecl 9;2

Isso deve ser entendido como um derivado da longanimidade Divina que dá tempo a todos, esperando pelo arrependimento, e da Sua Graça abrangente, que envia sol e chuva, sobre justos e injustos. Nada a ver com juízo, que está reservado para os dias porvir.

Se, as coisas não podem suceder despercebidas no aspecto espiritual, no prisma imanente não é assim; porque a visão plena das ações, no tocante a nós e nossa relação com o mundo invisível, depende dos “olhos da fé”, e se restringe ao existenciário de cada um; quanto mais incrédulo alguém for, menos verá. “A fé é o firme fundamento das coisas que se espera, e a prova das que não se vê.” Heb 11;1

Onde vislumbra nuances de incredulidade, o traíra investe suas fichas, transformando essa miopia incipiente, em cegueira cabal. “Nos quais, o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo, que é a Imagem de Deus.” II Cor 4;4

Então, se, como Salomão, observando as vicissitudes da vida, as coisas nos parecerem fora do lugar, (elas insistem nisso) saibamos que, ainda não foi pronunciado o juízo do Eterno, quanto o devido mérito de cada uma.

A Palavra de Deus é categórica: “Não vos enganeis, Deus não se deixa escarnecer; porque tudo que o homem semear, isso ceifará; porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no espírito, do espírito ceifará a vida eterna.” Gál 6;7 e 8

O mesmo Juiz aponta as duas escolhas possíveis e suas consequências: “Portanto, comerão do fruto dos seus caminhos, e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos; porque o erro dos simples os matará, e o desvio dos insensatos os destruirá; mas o que Me der ouvidos habitará em segurança, estará livre do poder do mal.” Prov 1;31 a 33

sábado, 1 de março de 2025

Carnaval gospel??


“Melhor é ir à casa onde há luto, que ir à casa onde há banquete; porque naquela está o fim de todos os homens; os vivos o aplicam ao seu coração.” Ecl 7;2

Quem já pregou num culto fúnebre sabe por experiência, que os ambientes de tristeza, consternação, são muito mais permeáveis às coisas espirituais, que os festivos. Essa é a ideia esposada no verso acima.

Quando, o mundo comemora o carnaval, muitas igrejas fazem seus “blocos” a pretexto de evangelizar nesses festejos que a maioria das pessoas se envolve. Seria essa atitude, sábia, prudente, oportuna, ou um erro?

Quando Paulo prescreve pregar a tempo e fora de tempo, ou diz: “Fiz-me de tudo para com todos”, não devemos levar a extremos, que “embasem” situações que ele não tencionava. A tempo e fora de tempo, significa, quer seja oportuno, quer não; como ele e Silas cantando louvores no cárcere; ou escrevendo suas cartas em prisões. Mesmo não parecendo situações oportunas, usou-as.

O fiz-me de tudo para com todos, o contexto imediato explica: “Fiz-me como judeu, para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da Lei, como se estivesse debaixo da Lei, para ganhar os que estão debaixo da Lei. Para os que estão sem Lei, como se estivesse sem Lei... fiz-me de fraco para com os fracos, para que pudesse ganhar os fracos...” I Cor 9;20 a 22 Portanto, o “tudo” deve ser entendido nesse contexto, nada além disso.

Se, o Carnaval fosse um Estado, dentro do qual, para ingressar fosse necessário contextualizar, adotando o idioma e alguma faceta cultural, poderia ser uma boa iniciativa, os cristãos se disfarçarem de “Carnavalenses”, para circular entre eles, difundindo sua mensagem.

Entretanto, o Carnaval é um estado de espírito, onde os espíritos das crenças afros, os orixás, são cultuados, e concomitantemente, embriaguez, drogas e promiscuidade ocorrem para quem quiser ver. Não bastasse isso, zombarias com símbolos cristãos, e escárnios contra O Senhor, até, também desfilam nesses ambientes.

Salvaguardada, eventual boa intenção de alguém sincero, se, vista a coisa pelo prisma da prudência, do zelo e da sabedoria, ela não se firma.

Uma coisa é contextualizar, adotando linguagem semelhante a determinado grupo, suportando ambientes inóspitos, até; outra seria “lançar pérolas aos porcos, ou dar aos cães as coisas santas”, coisas que O Salvador disse que não devemos fazer.

Sabem as pessoas esclarecidas que, para certas “questões” o silêncio acaba sendo a melhor resposta; de igual modo, para determinados ambientes e manifestações, não compactuar nem se misturar acaba sendo a mensagem mais eloquente.

Não fomos chamados para parecer “legais” aos ímpios; antes devemos ser como sal e luz; eloquentes ao paladar e aos olhos, invés de camuflarmos Cristo de diabinho, para parecermos inofensivos.

Outra coisa: Seriam esse “bloqueiros góspeis” tão ciosos da necessidade de pregação do Evangelho em todos os dias, que não aceitariam ficar nenhum, sem o fazer? Ou, estariam se misturando à festa profana, com um pretexto evangelístico para matar a saudade? Se o zelo evangelístico dos tais também acaba na quarta-feira de cinzas, eles próprios sabem que são fraudulentos.

Se, no prisma da interação social, devemos ser acessíveis a todos, independente das nossas diferenças filosóficas e espirituais, quando nosso relacionamento com O Pai está em escopo, uma escolha radical se faz necessária;

Paulo é categórico: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? Que comunhão tem a luz com as trevas? Que concórdia há entre Cristo e Belial? Que parte tem o fiel com o infiel? Que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Ele disse: Neles habitarei, entre eles andarei, Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo; por isso, saí do meio deles e apartai-vos, diz O Senhor, não toqueis nada imundo e Eu vos receberei; Eu serei para vós, Pai, e sereis para Mim, filhos e filhas, diz O Senhor, Todo Poderoso.” II Cor 6;14 a 18

Pois, o fiz-me de tudo para com todos, certamente não abarca a ideia de me fazer como o drogado, o promíscuo, o profano, ou o ébrio, para “ganhar” aos tais.

Não foi quando na esbórnia que o Filho Pródigo recobrou a luz e o siso que precisava; mas, depois, quando o calor dela arrefeceu, e as consequências das escolhas pretéritas assomaram. O carnaval é um culto, e não é dedicado a Deus.

Se, circunstâncias alheias à sua vontade levarem alguém que teme ao Senhor e peregrinar por lá, sentir-se-á estrangeiro, sem motivos para cânticos, como os judeus no cativeiro. “Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?” Sal 137;4

Os negligentes

 

“O que é negligente na sua obra é também irmão do desperdiçador.” Prov 18;9

Vemos na negligência uma face do desperdício; pois, sendo o negligente um “irmão” do desperdiçador, é esse traço, o comportamental que os aproxima.

Se, outra coisa estraga, o negligente, por certo, é relapso para com as oportunidades que a vida oferece.

Perde à chance de crescer, sendo bom ouvinte da Palavra de Deus; assim uns foram apreciados: “... vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais que se vos torne a ensinar, os primeiros rudimentos das Palavras de Deus, vos haveis feito tais, que necessitais de leite, não de sólido mantimento.” Heb 5;11 e 12 Desperdiçaram tempo, pela preguiça de ouvir; seguiam crianças espirituais, quando, já poderiam ser professores. Davam trabalho, quando, deveriam dar frutos.

Tende o homem, a dar ouvidos para as coisas com as quais se identifica; às outras, ouve de má vontade; “O ímpio atenta para o lábio iníquo; o mentiroso inclina os ouvidos à língua maligna.” Prov 17;4

Daí, se diz que a mentira dá duas voltas na Terra, antes que a verdade tenha tempo de calçar suas botas. Más notícias voam, enquanto, os bons exemplos nem chamam a atenção. Porque, majoritariamente somos maus; ouvir da maldade alheia, como que “justifica” à nossa.

O que faz desafiadora a mensagem do Evangelho é que, invés de acarinhar nossos egos adoecidos, ou acoroçoar nossas maldades reiteradas, nos desafia a mudar, confronta segundo Deus. Conversão não é coisa para covardes; apenas para os que se atrevem contra si mesmos.

Quando estamos dispostos a dar ouvidos apenas às coisas para com as quais concordamos de antemão, não estamos ouvindo a ninguém; antes, às nossas próprias inclinações, ainda que, desfilem pelos lábios alheios. Sócrates dizia que, quando alguém aplaude algo com o qual se identifica, no fundo, aplaude a si mesmo.

O Evangelho como nos é proposto, é de um confronto tal, que não pode conformar com nosso modo de pensar; nem pretende reformá-lo; antes, anela nos transformar radicalmente, de modo a deixarmos nossa rasa percepção das coisas; “negue a si mesmo”, e adotarmos como diretriz, doravante, os pensamentos Divinos.

“Deixe o ímpio seu caminho, e o homem maligno seus pensamentos, e se converta ao Senhor que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque, Grandioso É, em perdoar; porque Meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos, os Meus, diz O Senhor.” Is 55;7 e 8

Por isso a Divina mensagem traz consigo uma cruz; para que nela, mortifiquemos nossas ímpias maneiras às quais estávamos acostumados, nos identificando com Cristo, pela obediência ao Pai, às últimas consequências; “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo, o fomos na Sua morte?” Rom 6;3

Antes Dele, poderíamos ser negligentes, porque nada tínhamos a perder. “Porque, quando éreis servos do pecado estáveis livres da justiça.” Rom 6;20 Nada tínhamos a perder, uma vez que estávamos mortos. “Porque o salário do pecado é a morte...” v 23

Logo, tendo sido redimidos, regenerados em Cristo, não nos cabe mais sermos negligentes, desperdiçando a magnífica graça, com a qual Ele nos buscou. “... o pecado não terá domínio sobre vós, porque não estais debaixo da Lei, mas debaixo da Graça; pois que? Pecaremos porque não estamos debaixo da Lei, mas debaixo da Graça? De modo nenhum.” Rom 6;14 e 15

A negligência para com a edificação segundo A Palavra de Deus, nos deixa à mercê de qualquer salafrário da praça; até desses pirralhos da moda, que “veem anjos, varões de branco, revelam macumbas, adivinham nomes, CPFs” invés de serem mensageiros da Palavra da Vida. Quem aprendeu dos Pensamentos de Deus, não se faz presa de babaquices ao rés do chão, como essas.

Àqueles mesmos, que foram acusados de negligentes ao ouvir a Santa Mensagem, foi apresentado como resultado da devida diligência, a maturidade espiritual, e com ela, o discernimento. “O mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume têm os sentidos exercitados, para discernir tanto o bem, quanto, o mal.” Heb 5;14 Perfeitos aqui, significa aptos, espiritualmente maduros, não, sem pecados.

Escrevendo aos Efésios, Paulo esposou a edificação como necessária, para não sermos ludibriados pelos enganadores. “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens, que com astúcia agem fraudulosamente.” Ef 4;14

Toda sorte de negligência é perdulária; mas, nenhuma tem potencial para ensejar maiores danos, que a espiritual, pelo valor que está em jogo nesse âmbito; a vida eterna.

Corramos por mais, pois, sem sermos descuidados com o que já recebemos; “Mas, o que tendes, retende-o até que Eu venha.” Apoc 2;25