sábado, 11 de janeiro de 2025

Línguas estranhas são falsas?


“Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil. Porque a um, pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; a outro, operação de maravilhas, a outro, profecia; a outro, dom de discernir espíritos; a outro, variedade de línguas, e a outro, interpretação das línguas. Mas O mesmo Espírito, opera todas estas coisas repartindo particularmente a cada um, como quer.” I Cor 12;7 a 11

A questão dos dons espirituais costuma ser muito controversa, fonte de disputas. Os cessacionistas advogam que os tais eram uma necessidade para aqueles dias, da Igreja incipiente, Escrituras ainda incompletas; com o fechamento do “Cânon”, não são mais necessários os dons, bastando a Palavra de Deus.

Em geral a maioria dos dons passa despercebida; seria absurdo alguém combater a existência dos dons da Palavra da sabedoria, da ciência, da fé, de discernimento espiritual... no entanto, um dom, que recebe as mais severas diatribes é o de línguas.

Ontem assisti um vídeo do pastor Rodrigo Mocellin, a quem admiro e respeito, defendendo que o dom de línguas é falso. Foi autêntico e necessário naqueles dias, onde pessoas que falavam diversos idiomas diferentes, foram capacitadas a ouvir falar das grandezas de Deus em suas próprias línguas; faladas sobrenaturalmente, por gente que as não conhecia, capacitadas pelo Espírito. Eram línguas humanas, entendidas pelos que as falavam e seus cotidianos. Certo.

“Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão, a Deus; porque ninguém o entende; em espírito fala mistérios.” I Cor 14;2 Significa, segundo ele, o veto a que se fale, uma vez que não seria entendido pela igreja.

Há muita falsificação por aí, também, no referente ao dom de línguas. Grassam imitações carnais desconexas, e até demônios que também falam visando enganar. Por isso a necessidade de se discernir espíritos, não apenas em questões doutrinárias, mas também, na das manifestações dos dons.

Que em Atos 2 as línguas eram humanas, pelo menos as registradas, (nada garante que outras não tenham sido faladas) isso é pacífico.

O incidente de Atos 10;44 e 46, na casa de Cornélio, também menciona a manifestação do Espírito Santo, e o dom de línguas, sem especificar se eram apenas as línguas dos presentes, hebraico e latim, porque essas eles já falavam, sem carecer de dom nenhum. Contudo, “... os ouviram falar línguas e glorificar a Deus.” V 46

A suposição mais lógica aqui, é que falaram em línguas estranhas a ambos os idiomas ali representados, e houve interpretação. Senão, bastaria Lucas ter registrado que os hebreus falaram latim, e os romanos, hebraico.

Quanto ao cessacionismo, ouvi o doutor Augustus Nicodemos, outro homem respeitável pelo seu conhecimento, dizer que a frase, “Quando vier o que é perfeito, o que é em parte será aniquilado.” Isso significaria, que quando o Cânon fosse fechado os dons não seriam mais necessários; quais? Apenas línguas, ou todos?

Afinal, reconheço nos dois pastores citados, os dons da sabedoria e da ciência. Ora, o fato de haver falsificação, mau testemunho, escândalos entre os que falam em línguas estranhas, isso valora os frutos, não, os dons.

Em nenhum lugar há mais distorções, heresias, concurso de farsantes, que no ensino da Palavra. Nem por isso, os dons atinentes ao conhecimento dela são falsos. Os farsantes imitam coisas genuínas, sobretudo, as que podem emprestar alguma credibilidade. Falsos "linguarudos" seria um argumento pró autenticidade dos dons, não, o contrário.

Então, o cessacionismo tem problemas, porque faria cessar apenas um ou dois dons que os proponentes não concordam. Os que como o Pastor Rodrigo advogam que foi uma necessidade pontual, dado haver muitos estrangeiros então, que também precisavam ouvir sobre Deus, precisariam de explicar qual o sentido do dom da interpretação de línguas. Pois, se eram meras línguas terrenas, que os ouvintes as entendiam, tal dom, não faria sentido, tampouco, teria utilidade.

“Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil.” Se a utilidade do dom de línguas é ser um sinal para os incrédulos, o próprio doador saberá onde e quando o mesmo convém.

Quem lê o que escrevo, concordando ou não, terá que convir que balizo argumentos na Palavra de Deus, com a hermenêutica mais saudável possível. Não defendo como atuais, esses dons, porque possuo; experiências pessoas não embasam doutrina.

O que expus nesse breve apanhado é fundado em argumentos bíblicos. Há muita coisa falsa por aí, que devemos combater. Mas rotular algo de “falso” apenas por discordar, é tentar guindar as predileções, a um patamar que elas não alcançam.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

vida; quanto vale?


“... que é a vossa vida?” Tg 4;14

Tiago está desaconselhando a temeridade de “dispormos” do amanhã como se ele, necessariamente, nos pertencesse. Não sabeis o que acontecerá amanhã. Que é a vossa vida? subentendendo que nem da posse dela poderemos estar seguros, muito menos, de coisas que projetarmos sem considerar o Divino querer.

O que é a nossa vida? Antes de mais nada, não é nossa, embora tenhamos a mordomia sobre ela. O Senhor ensina: “... Meu é o mundo e toda sua plenitude.” Sal 50;12 Uma vez que fazemos parte disso, pois, necessária a conclusão que pertencemos a Ele. Servindo-o, ou não.

Deixando a questão da posse, da vida, o que ela é? Paulo disse que Deus, “De um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da Terra, determinando os tempos, já dantes ordenados, e os limites da sua habitação, para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando o pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós.” Atos 17;26 e 27

O Eterno não ordenaria que buscássemos o que já possuímos. Se carecemos buscá-lo, certamente é porque necessitamos, porque Nele é nosso lugar. Somos extensão da Divina Criação, desdobramento, por assim dizer; mas, o homem, em dias pretéritos, por alguma razão se apartou do Criador, ao qual, deve buscar outra vez, para encontrar o sentido da vida.

Davi descreveu em linguagem poética, o que a distância do Eterno faz, em almas sensíveis; “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, suspira minha alma por Ti, ó Deus; minha alma tem sede de Deus, do Deus Vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?" Sal 42;1 e 2 Se, ele sabia que carecia entrar, para ver à Face Divina, óbvio que ele estava de fora.

Jesus Cristo ensinou: “Eu Sou a porta; se alguém entrar por Mim, salvar-se-á; entrará e sairá, e achará pastagens.” Jo 10;9 Embora pareça contraditório, tanto, Jesus É a Porta, quanto, bate às portas dos nossos corações, buscando aos que deseja salvar. Ele É a Porta, porque não outra forma de se chegar a Deus; bate às nossas, porque nos ama e anela regenerar.

Então, se nossas vidas são nossas, no sentido que nos foi permitido geri-las, não o são no sentido da posse, de dispormos delas como nos aprouver, tirar nossa própria ou a de outrem; nem, de termos a última palavra sobre as escolhas meritórias ou não. “Eu sei ó Senhor, que não é do homem seu caminho, nem do homem que caminha, dirigir seus passos.” Jr 10;23

Não que não seja possível, o homem fazer escolhas erradas contra O Divino querer; a maioria faz assim, infelizmente. Apenas não é possível que essas escolhas tenham um final ditoso, abençoado. “O caminho dos ímpios é como a escuridão, nem sabem em que tropeçam.” Prov 4;19

Pois, nossa orientação meramente pelas vistas tem grandes chances de nos induzir ao engano. “Há caminhos que ao homem parecem direitos, mas no fim, são os caminhos da morte.” Prov 14;12 Aquele que É Onisciente, e anuncia o fim desde o princípio, não é vencido pelas aparências.

O profeta Jeremias nos apresentou a sentença contra a pretensa autonomia humana; “Assim diz O Senhor: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne o seu braço, aparta seu coração do Senhor.” Jr 17;5

Não apenas nossa limitação ao âmbito das vistas nos faz escolher o caminho errado, como tolhe que possamos discernir o que é certo. “Porque será como a tamargueira no deserto, não verá quando vem o bem; antes, morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e inabitável.” Jr 17;6

Embora nossas vidas sejam, inicialmente, alienadas do Senhor, inclinadas ao pecado, pela corrupção de nossas naturezas após a queda, ainda assim, somos amados por Ele que garante: Uma alma salva vale mais que o mundo inteiro perdido.

O que é nossa vida? Sem Cristo, uma empresa falida. Ele, porém, faculta o novo nascimento a quem se arrepende e se dispõe a obedecê-lo.

Paulo fez distinção entre a velha natureza, e a nova regenerada, o “homem espiritual;” disse: “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, não, nossa.” II Cor 4;7

Enfim, nossa vida em si mesma mui pouco vale; pode ser perdida por qualquer desventura; em Deus, é feita uma preciosidade de valor eterno, e certamente será instrumento para bênção de outras tantas.

É algo do qual devemos abrir mão, perder, para ganhar em troca, outra que já não poderá ser perdida. “Quem achar sua vida perdê-la-á; e quem perder sua vida por amor de Mim, achá-la-á.” Mat 10;39

O garimpo


“Preparas uma mesa perante mim, na presença dos meus inimigos...” Sal 23;5

A certeza de bênçãos em submissão ao Divino Pastor, poderá ser entendida de modo superficial, como se fôssemos lançados a um lugar de comodismo; ou, fartura e ausência de obstáculos. Não é essa a ideia, porém. Servir ao Senhor não é acertar na loteria.

As verdadeiras riquezas não são vulgares, como disse o poeta Drummond de Andrade: “As pessoas se enganam pensando que os cofres dos bancos possuem riquezas; lá tem apenas dinheiro.”

Além da possibilidade de passar pelo “vale da sombra da morte”, Davi entendia o caminho como estreito, requerendo retidão; “veredas da justiça”; não ignorava a presença dos desafetos. O próprio Saul que fora abençoado mediante a vida dele, o procurava matar.

Assim, invés de uma presunção festeira, pelo fato de O Senhor ser seu Pastor, supondo que nada de ruim ocorreria o autor entendia e expressou, que apesar dessas coisas todas, a fidelidade Divina seguia presente, valia a pena confiar no Eterno. “Se formos infiéis Ele permanece fiel; não pode negar a Si mesmo”. II Tim 2;13

Afinal, Davi escreveu boa parte dos salmos, na sina de proscrito, fugitivo, errante; apostou na Divina fidelidade, mesmo quando as circunstâncias pareciam dizer o contrário. Essa é a verdadeira fé; “... Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10 Pois, quem tem certeza do Divino cuidado, já tem luz suficiente.

A “fé” utilitarista, que atina mais ao que espera obter, do que a devida fidelidade, a despeito das circunstâncias, longe de ser fé, não passa de auto engano. Como se, O Senhor Onisciente pudesse ser manipulado por uma criatura insignificante. O suposto crente em apreço trai a si mesmo, cegado pela própria hipocrisia.

O Eterno deplorou a “adoração” efêmera, que era fruto de um momento apenas; “... porque vossa benignidade é como a nuvem da manhã; como orvalho da madrugada que cedo passa.” Os 6;4 Que valor tem uma “metamorfose” assim?

As provas e tentações são um convite do Senhor a vencermos, para, então, sermos abençoados. “Bem aventurado o homem que sofre a tentação, porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual, O Senhor tem prometido aos que O amam.” Tg 1;12

Sofrer a tentação é resisti-la, não, cair. Quando caímos, não sofremos no momento, apenas, pecamos. Em geral a carne sente prazer em pecar, embora, armazene, com isso, um depósito de dores futuras, as consequências.

Ele não nos prova para saber como reagiremos; pois, já sabe. Mas o faz para que também saibamos. Uma coisa é declararmos nossa fé com os lábios; outra, a vivermos, no teatro das ações. Assim, as provas servem como um filtro, como o instrumento do garimpeiro, que ciranda até separar o precioso do fútil. “Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo se ache em louvor, honra e glória, na revelação de Jesus Cristo.” I Ped 1;7

O objeto da fé é a pessoa em quem se crê; não, um conjunto de circunstâncias que se espera usufruir. “Crede em Deus, crede também em Mim...” ensinou O Salvador. A fé sadia visa corresponder ao Divino amor, não, obter favores. “Sem fé é impossível agradar a Deus...” Heb 11;6

Quando, eventuais estreitamentos são necessários, ou permitidos, pelo Supremo Pastor, como no caso de Jó, devemos aprender a reagir como ele. Quando sua mulher, que tinha uma “fé” utilitária, o aconselhou a renunciar a Deus e morrer, disse: “... como fala qualquer doida, falas tu; receberíamos o bem, de Deus, e não receberíamos o mal?” Jó 2;10

Adiante, acossado pelas falsas suposições de seus amigos, de que estava sofrendo como juízo pelas suas culpas, recusou-se a aceitar tão injusta acusação; porém, sem renunciar sua fé; “Ainda que Ele me mate, Nele esperarei; contudo, meus caminhos defenderei perante Ele.” Cap 13;15

Sendo o mundo como é; alienado do Santo, jazendo no maligno, o simples fato de alguém crer em Deus, ser fiel a Ele, já torna necessária a existência de inimigos. “prepara-me uma mesa na presença dos meus inimigos...”

Um “cristianismo” que, para evitar isso, mundaniza-se, foge de inimigos frágeis e se faz inimigo do Todo Poderoso. “Adúlteros e adúlteras; não sabeis que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.” Tg 4;4

Sejamos, na medida do possível, instrumentos de Deus, para reconciliar com Ele os que estão em inimizade; mas se formos forçados a escolher entre O Senhor ou eles, azar deles. Sigamos à mesa, onde é servido o Pão dos Céus.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Questão de honra


“Coroa de honra são as cãs, quando elas estão no caminho da justiça.” Prov 16;31

Os cabelos branquearem no caminho da justiça é uma metáfora, que aponta seu dito a um ser humano que envelheceu nesses caminhos. Sendo o mundo, tal qual é; eivado de corrupção, mentiras, vícios, promiscuidade, interesses rasos, logros, fisiologismos, negociatas sujas etc. certamente quem ousa escolher o caminho da justiça, terá que dizer muitos nãos! às “oportunidades” que o assediarão ao longo dos seus dias.

Paulo chamou o galardão de salvo que esperava receber, de “coroa da justiça.” “Desde agora a coroa da justiça me está guardada, a qual, O Senhor, Justo Juiz, me dará naquele dia; não somente a mim, mas também a todos que amarem à sua vinda.” II Tim 4;8 Ele leu, amar à vinda do Senhor, como um predicado dos justos, e sabia o que estava dizendo. Os “justos” do Senhor não o são em si mesmos; mas, herdam a justiça de Cristo, ao qual, aprenderam amar.

Embora, a recompensa dos salvos seja esperável no porvir, devemos nos portar aqui, como se já tivéssemos o que foi prometido para lá. A certa igreja ainda em plena batalha nas lidas terrenas foi dito: “... Guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.” Apoc 3;11 A Igreja em Filadélfia tinha apenas fidelidade em meio às lutas; foi tratada como tendo já uma coroa, por isso.

De igual modo, as cãs. O vulgo pode olhar um ancião envelhecido e ver apenas um senil de cabelos brancos; o mundo espiritual que vê além das aparências, de longe identificará, onde estiver um “coroado” do Senhor; esse, embora não tendo ainda, visível, seu prêmio, por certo, o tem reservado no devir.

Lógico que não bastam cabelos brancos; é necessário que seu possuidor os tenha branqueado na trilha da justiça. Como bem disse Ruy Barbosa: “Não te impressiones com cabelos brancos, porque os canalhas também envelhecem.”

Mas num tempo sombrio como esse, onde as pessoas não veem outros valores, senão, dinheiro, fama, prazeres, quem se importaria com a honra? Deus zela por ela e se importa.

Essa é uma daquelas coisas que se nota mais quando nos falta que quando a temos. Esteja qualquer um de nós, numa situação desonrosa, e presto assomará a sensação de que nos falta algo, que as coisas não estão nos devidos lugares. A Palavra ensina que os que se humilham serão exaltados; portanto, humilhações, não, honras terrenas, estão em nossa rota de colisão, se formos fiéis.

Como somos chamados em Cristo a padecer fome e sede de justiça, todos os que a Ele seguem, conhecem a desonra bem de perto. Embora, saibamos que vale a pena padecê-la por amor a Ele, ninguém a considerará uma coisa boa.

Acima de tudo devemos honrar ao Senhor; Ele reclamou de um povo relapso, que oferecia coisas desprezíveis em seus cultos; “O filho honra ao pai, e o servo ao seu senhor; se Eu Sou Pai, onde está a Minha honra? Se Eu Sou Senhor, onde está o Meu temor?” Ml 1;6

Quem pretender ter ao Senhor como pastor, entenda; será Ele que escolherá qual o caminho que lhe convém; “... guia-me pelas veredas da justiça, por amor do Seu Nome.” Sal 23;3

As veredas da justiça de Deus, permitem que sejamos injustiçados aqui; pois, nos desafia a depositar nossas esperanças no além. Se as recompensas fossem imediatas, a coisa deixaria de ser pela fé, e se faria mero escambo, negócio.

O Eterno nos assegura a certeza da justa retribuição; “... aos que me honram, honrarei; porém, os que Me desprezam serão desprezados.” I Sam 2;30 apenas, não define o tempo, em que essa retribuição será manifesta.

Enfim, optar pelo caminho estreito, que demanda o ser justo mesmo sendo, eventualmente, injustiçado, é o dever de todos os que pretendem pertencer a Cristo.

Independe, qual idade tenham. Os que escolhem esse rumo desde cedo, e permanecem nele até o entardecer da vida, exibem uma virtude preciosa aos Divinos Olhos; perseverança.

Caminhar pontualmente com O Senhor, em momentos ásperos, de dificuldades qualquer um consegue. Se manter fiel, mesmo nas decepções, injustiças, até na fartura, isso é prerrogativa de poucos.

Camões disse: “A verdadeira afeição, na longa ausência se comprova”. Os que amam a Deus deveras, mesmo que deparem com “longa ausência” Dele, em manifestar sinais dos Seus cuidados, responder orações, abrir portas, permanecem leais, esses são os que honram ao Senhor, atribuindo a Ele, fidelidade e integridade.

E devem aprender a fazer isso, por reconhecer a Dignidade do Eterno, não por esperar algo em troca.

“Ninguém jamais foi honrado por aquilo que recebeu. Honra é a recompensa por aquilo que damos.” Calvin Coolidge

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Os bichos-homens


“Disse no meu coração, quanto à condição dos filhos dos homens, que Deus os provaria, para que assim pudessem ver que são, em si mesmos, como animais.” Ecl 3;18

Temos uma aparente contradição aqui. Na descrição da criação do homem, diz A Palavra que foi feito à “Imagem e Semelhança de Deus.”
Entretanto, Salomão, o mais sábio dentre os homens, diz que o homem em si mesmo, se parece com os animais. Qual o motivo desse desencontro?

O que difere homens e animais, é que somos racionais, capacitados a abstrações como, meditar, planejar, imaginar, orar, raciocinar, apreciar o belo, criá-lo até, etc. Enquanto, os animais são instintivos, não indo além, (salvo se condicionados pelo adestramento) do básico à subsistência; comer, beber, procriar.

A proposta da serpente acenava com autonomia, independência. Aceita essa e rompida a relação com O Criador, o homem “morreu”. Isso, nem sempre é bem compreendido por todos, o que dá azo a distorções de interpretação.

A morte comum é a separação entre a alma e o corpo, a morte espiritual foi a separação entre o espírito do homem, e O Espírito de Deus. O homem caído, espiritualmente morto, ainda é racional, dotado das faculdades aquelas. Agora, mortal no físico, também.

Como o espírito humano não foi criado para funcionar alienado de Deus, jaz impotente, sabendo ainda quais coisas deveria fazer, mas agora, suplantado pelos desejos carnais, que o escravizam em consórcio com o pecado. “... a inclinação da carne é inimizade contra Deus...” Rom 8;7

Então, O Eterno deu uma Lei, “inatingível” ao homem em si, para curá-lo da arrogância plantada pela serpente; que poderia se virar sozinho. “... Deus os provaria par que pudessem ver que são, em si mesmos, como animais.”

Paulo desenvolveu: “Porque bem sabemos que a Lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.” Rom 7;14

Quem supõe que pode se arranjar pelos próprios méritos, pois, incorre em maldição, por recusar o conselho Divino e adotar a distorção do inimigo. “... Maldito o homem que confia no homem, faz da carne o seu braço, e aparta seu coração do Senhor.” Jr 17;5 e em estupidez, por pretender tomar pelo braço, coisas que estão no domínio do espírito. Por isso as obras resultam inúteis.

Ouçamos O Salvador: “... aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus... aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus.” Jo 3;3 e 5

Como, o morrer não foi morrer, literalmente, mas separar-se o homem de Deus na inimizade do pecado, o “Novo nascimento” também não é um nascimento, estritamente; antes, regeneração e reconciliação do homem com O Criador. “Isto é; Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” II Cor 5;19

Enquanto isso não for resolvido, o homem seguirá em si mesmo, tentando esconder o que faz, pois, ainda sabe o que agrada a Deus e o que desagrada, apenas é impotente para escolher o que deve. “Porque segundo o homem interior, tenho prazer na Lei de Deus.” Rom 7;22

Pelo constrangimento ensejado por esse, que o homem carnal se faz fugitivo, onde alguma luz espiritual brilha, eventualmente. “... todo aquele que faz o mal odeia à luz; não vem para a luz para que suas obras não sejam reprovadas.”

Por outro lado, “quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” Jo 3;19 e 20

A função da Lei nunca foi salvar; Paulo chamou-a de “Ministério da condenação.” II Cor 3;9 Além de mostrar ao homem “independente” sua queda, atuou para conduzir os pecadores ao Único refúgio possível; “De maneira que a Lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados.” Gál 3;24

Religiões, rituais, boas obras, penitências, sacrifícios, tudo isso resulta inútil, enquanto a questão da vida espiritual não for resolvida. Não que a boa obra feita por um “morto” seja má; apenas, herda a condição de seu agente; se faz, também, morta.

“... Cristo que pelo Espírito Eterno ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus purificará, vossas consciências das obras mortas, para servirdes O Deus Vivo.” Heb 9;14

Claro que valores ensinados na Lei de Deus, como amor a Ele e ao próximo seguem vigentes. Apenas, pretender ser justificado por ela, nos aliena do Salvador. “Separados estais de Cristo, vós que vos justificais pela Lei; da Graça tendes caído.” Gál 5;4

Enfim, se alguém acredita que pode se virar sozinho, boa sorte! Mas, O Senhor foi categórico: “... sem Mim, nada podeis fazer.” Jo 15;5

Preguiça "santa"


“Haverá muita bonancia (sic) em tua vida em 2025 Tomo posse”

Deparei com essa postagem nas redes sociais. Imagino que o autor quis dizer, “bonança”. A questão não é o erro de grafia, coisa que pode ser entendida. Mas, o número assombroso de améns, “tomo posse” “gratidão” e similares, revelando um aspecto doentio e preocupante das humanas inclinações.

Muitas publicações similares evidenciam que a coisa não é pontual; antes, uma epidemia de ingenuidade, fetichismo, perversão doutrinária, em consórcio com a preguiça de meter o peito n’água, em busca de progresso pelo trabalho.

Grassa mesmo entre os que se dizem cristãos. Depois que algum “iluminado” criou a doutrina do “poder da Palavra” da “confissão positiva”; os desafeitos ao trabalho saíram das suas tocas e subiram nas mesas.

O poder da Palavra não é um ensino bíblico? É. Vejamos: “A morte e a vida estão no poder da língua; aquele que a ama, comerá do seu fruto.” Prov 18;21

Quando se refere a morte e vida, atina ao testemunho que podemos dar com nossas línguas. Imaginemos, num contexto como aquele, onde havia pena de morte, acusarmos a alguém de um crime cuja punição fosse essa. Com mais uma testemunha do mesmo calibre poderíamos matar alguém, mesmo não sendo culpado. Coisa que foi feita contra Nabote, por exemplo. I Rs 21;13

Por ser nossa língua um instrumento assim, tão cortante, devemos ser cuidadosos no uso. “Não falarão os meus lábios, iniquidade, nem minha língua pronunciará engano.” Jó 27;4

Invés de ancorarmos expectativas num suposto poder, somos exortados ao dever; pois, “O Senhor cortará todos os lábios lisonjeiros, e a língua que fala soberbamente.” Sal 12;3 etc.

Tiago adverte sobre não misturarmos “água e vinagre”, diz: “Nenhum homem pode domar à língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal. Com ela bendizemos a Deus e Pai, com ela amaldiçoamos aos homens, feitos à semelhança de Deus.” Tg 3;8 e 9

Assim, o que os difusores da famigerada “doutrina” fazem, é fundir ensinos que respeitam às palavras humanas, com A de Deus.

A Palavra do Eterno é poderosa. Por ela criou tudo o que há; por ela regenera aos que creem, por ela julgará o mundo; “A Voz do Senhor é poderosa, a Voz do Senhor é cheia de majestade; a Voz do Senhor quebra os cedros... a Voz do Senhor separa as labaredas do fogo...” Sal 29;4, 5 e 7

Nossa relação com ela deve ser de quem a “come”, se deixa moldar pelo que preceitua, antes de a ensinarmos a terceiros. “Como purificará o jovem, seu caminho? Observando-o conforme a Tua Palavra.” Sal 119;9 O jovem e todos os que andarem por caminhos impuros.

Ser primeiro corrigido pela Palavra, para depois corrigir mediante a mesma, é o sentido prático, do tirar a trave do próprio olho, antes de se ocupar com o cisco no olho alheio; ou, “estando prontos para corrigir toda desobediência, quando for cumprida vossa obediência.” II Cor 10;6

Sabedor que o poder está na Palavra de Deus, não na humana, alguns conseguem entortar as coisas ainda; deixam a bíblia na cabeceira da cama aberta no salmo 91, para espantar maus espíritos. (conheci uma que assim fazia e sobre a mesma cama adulterava) invés de cumprir à Palavra a transformara num fetiche inútil. Os demônios devem ter rido dela.

Outros colocam nas geladeiras: “O Senhor É o meu pastor, nada me faltará.” Achando que isso garantirá uma geladeira sempre repleta. A ênfase, claro! no “nada me faltará.”

Certa vez presenciei uma cena engraçada: Uma mãe que vivia ao bel prazer, totalmente alheia a Deus, falou ao seu filho que temia ao Senhor, o verso supra; ao que ele respondeu: “É pastor de ovelhas, não de cabritos.”

As mudanças de calendário, todos sabem, são inócuas. Se alguns as usam como pretextos para comes e bebes e mandingas várias, não significa que alguma mudança acontecerá, necessariamente. Os que usam roupas coloridas conforme o que almejam, estão pedindo coisas aos “Orixás” não a Deus. Vergonhosamente muitos “cristãos” o fazem.

Uma mudança de mentalidade, segundo Deus, transforma radicalmente a pessoa. Primeiro, nos valores que importam deveras, os espirituais. Nas coisas cotidianas, O Senhor supre ao fiel, embora o desafie a fazer sua parte.

Devemos ser protagonistas das nossas melhorias materiais. Essa doença fugaz de presumir que alguma declaração pomposa fará as coisas acontecer, e seremos coadjuvantes das nossas aquisições, pela vasta aceitação que tem, já testifica que não vale nada.

O único “poder” que tais exposições exercem é deixar patentes as más inclinações, dos espiritualmente relapsos, e fisicamente preguiçosos. “Vai ter com a formiga ó preguiçoso! Olha para os seus caminhos e sê sábio”. Prov 6;6

Lavouras de Deus


“Porque a terra que embebe a chuva que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada, perto está da maldição; seu fim é ser queimada.” Heb 6;7 e 8

Pequena alegoria evidenciando qual deve ser a reação dos que recebem a semente da Palavra de Deus. Tanto podemos produzir erva proveitosa, quanto, espinhos e abrolhos.

Como sabemos que é alegoria atinente aos servos de Deus? O verso seguinte explica: “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, coisas que acompanham a salvação...” Assim, entendemos que a “terra” são nossos corações, a boa semente, a Palavra de Deus; a erva proveitosa ou, espinhos, nossa resposta ao Divino amor manifesto, e seu convite direcionado a nós.

Desde a Antiga Aliança, O Eterno usou essas figuras, de onde podemos aprender a quais coisas O Divino Agricultor chama de ervas proveitosas; “Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, os homens de Judá são a planta das Suas delícias; esperou que exercessem juízo, eis aqui, opressão! Justiça, e eis aqui, clamor!” Is 5;7 Ações calcadas na justiça, no juízo, são frutos desejáveis ao Eterno.

Na Parábola do Semeador, O Salvador figurou Sua Palavra como semente, nossos corações como terra. Por Isaías usara linguagem semelhante; como uma semente fértil que faz brotar e produzir, “Assim será a Palavra que sair da Minha Boca; não voltará para Mim vazia, antes, fará o que Me apraz, prosperará naquilo para o que a enviei.” Is 55;11

Então, se a terra que produz o que Deus deseja é por Ele abençoada, natural a conclusão que, quem quer ser abençoado, deve ser antes, uma bênção. Como disse quando chamou a Abrão; “... tu serás uma bênção.” Gn 12;2

À medida que, a Palavra da Vida começa operar em nós efetuando as transformações necessárias, outros que nos observam já serão influenciados pelo que notarão em nós; “... muitos o verão, temerão e confiarão no Senhor.” Sal 40;3 A transformação veraz, de quem se converte, se torna mensagem para quem observa.

Um cristianismo que não tem reflexos horizontais, que não faz Cristo visível em nós, certamente tem problemas. O Salvador ensinou que não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte, significando que Ele em nós, certamente seria visto de longe; “Assim, resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai que está nos Céus.” Mat 5;16

Infelizmente, muitos que se mostram refratários à disciplina e obediência indispensáveis no Reino de Deus, hiper enfatizam à Graça Divina, e menosprezam os necessários frutos. Acaso um lavrador ara à terra se não desejar que ela lhe produza? “Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura...” I Cor 3;9 ensina Paulo.

O fato da salvação ser de Graça, atina ao nosso “mérito”; não a podemos pagar, nem a merecemos; entretanto, o termos sido salvos mediante arrependimento e submissão a Cristo, nos coloca na condição de lavoura que deve produzir; a certos lavradores relapsos, foi dito: “Portanto, Eu vos digo que, O Reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que produza seus frutos.” Mat 21;43

A ineficácia das obras para efeito de salvação, prescreve o não colocarmos as mesmas em lugar indevido; porém, como testemunhas da salvação, elas são requeridas, necessárias.

“Porque somos feitura Sua, criados em Jesus Cristo para as boas obras, as quais, Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10 Deus lançou Sua semente para que produzisse.

O “Deus me aceita como eu sou”, dos que se recusam a ser regenerados como Cristo É, precisam ler melhor à Palavra; “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas passaram, tudo se fez novo.” II Cor 5;17

Os que altercam com a Santa Palavra, opondo a ela óbices do humano pensar, ainda não entenderam a distância que há entre a Santa Semente e as das ervas daninhas.

“Deixe o homem ímpio o seu caminho, e o homem maligno seus pensamentos... porque os Meus pensamentos não são os vossos, nem vossos caminhos os Meus, diz O Senhor; porque assim como os Céus são mais altos que a Terra, são os Meus caminhos mais altos que os vossos, e meus pensamentos, mais altos que os vossos.” Is 55;7 a 9

O Salvador ensinou que pelos frutos se pode conhecer às árvores. Assim, produzirmos o que Deus deseja, não é mero reclame da produtividade; antes, um necessário traço de identidade. “... mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei minha fé, pelas minhas obras.” Tg 2;18