domingo, 17 de dezembro de 2023

Perdas necessárias


“O que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. Na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas; considero-as como escória, para que possa ganhar a Cristo;” Fp 3:7 e 8

Toda a escolha implica em perdas; ao dizermos sim, a determinada opção, automaticamente dizemos, não, a todas as demais. Imaginemos alguém em idade de se casar, que deseja isso, tendo três ou quatro pretendentes; ao escolher aquela/e que lhe agrada, sem dizer, de modo indireto, diz não, às outras possibilidades.

Quem se rende a Cristo deveras, esquece de todas as demais religiões, dada a inutilidade delas, e a exclusividade do Salvador; “ninguém vem ao Pai, senão, por mim.” Jo 14;6 Além disso, diz não, ao modo de vida pecaminoso de antes, entendendo que foi chamado a ser santo.

Seria saudável alguém se casar e conservar nas suas paredes, quadros com fotos de antigos amores? Não causaria constrangimentos, ciúmes, até? Quem for a Cristo esqueça crendices antigas, amores pretéritos. O Espírito Santo, dado a nós, após pertencermos a Ele, é zeloso; “Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes? Tg 4:5

As opções religiosas de Paulo, então, era o judaísmo, versus o novo nascimento em Cristo.

Alguns que se converteram, não tendo entendido ainda a ruptura necessária, tentavam fundir às duas coisas; Paulo ensinou que era uma ou outra; eram excludentes; “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela Lei; da graça tendes caído.” Gál 5:4

A Lei era santa, justa e boa, mas não fora dada para salvar, antes, para conduzir ao Salvador; “De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.” Gál 3:24

Com as credenciais requeridas para ser visto como um religioso respeitável, Paulo tinha o “pedigree” que os judaístas aprovariam; não se importou que essas qualidades fossem tidas como escórias, pela excelência do conhecimento do Salvador.

Ele mesmo alistou seus predicados judaicos; “Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a Lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na Lei, irrepreensível.” Fp 3:5 e 6 Fora muito bom no que se tornara inútil; seu potencial judaísmo.

O Salvador mesmo ensinou, que, quem lograsse ver O Reino de Deus como é de fato, certamente abriria mão de todas as demais “riquezas” pela excelência dele; “O Reino dos Céus é semelhante ao homem, negociante, que busca boas pérolas, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a.” Mat 13:45,46

Muitos “se convertem” trazendo seus cacoetes religiosos de antes, e os pretendem “cristianizar”; outros, estragam à “Sã Doutrina” enchendo-a de penduricalhos como se ela fosse uma árvore de Natal.

“Sola Scriptura;” diziam os reformadores;

a Escritura, a tradição da igreja e dogmas, defende o catolicismo;

a Escritura e o “Espírito de Profecia” de Ellen White, objeta o adventismo;

a Escritura, com sua “tradução” peculiar, e livros aprovados pela Torre de Vigia, esposa o jeovismo;

algumas nuances da Escritura, e os muitos acréscimos e deturpações de Joseph Smith, pretende o mormonismo;

algumas porções escolhidas da Escritura, sobre amor e caridade especialmente, e, ensinos dos mortos que, supostamente, voltariam em médiuns, defende o espiritismo... etc.

Negar-se cabalmente, por Cristo, embora proposto a todos, não é para qualquer um. “Muitos são convidados; poucos, escolhidos.”

Paulo foi categórico sobre os câmbios necessários: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas passaram; e tudo se fez novo.” II Cor 5:17

Além dos cacoetes religiosos, muitos vícios que A Palavra declara abomináveis, como as perversões sexuais, também são trazidos pra dentro da Igreja, de modo profano, para emporcalhar os lugares santos.

Qualquer um pode vir a Cristo, sujo como estiver; não importa quais pecados tenha cometido. Ele É Grandioso em perdoar. Todavia, quem se arrepende e confessa, além da palavra de perdão ouve outras; “Vá e não peques mais.” O Senhor perdoa a todos; não aceita a tudo.

Se, Paulo considerou como escórias, credenciais que eram tidas como respeitáveis na sociedade dele, pela excelência de Cristo, como consideraria, práticas que sempre foram vistas como réprobas, desprezíveis?

Ah, mas, os tempos são outros... Não! Os homens são outros. Muito piores que os de antes, sem a capacidade salutar de sentir vergonha, necessária, ante situações vergonhosas.

Quanto mais a humanidade se afasta do alvo, mais gritante será a diferença das “novas criaturas” em Cristo; pois, Ele não muda. “Jesus Cristo É O Mesmo; ontem, hoje e eternamente.” Heb 13;8

sábado, 16 de dezembro de 2023

Em busca de Sophia


“O escarnecedor busca sabedoria e não acha nenhuma, para o prudente, porém, o conhecimento é fácil.” Prov 14:6

Embora, sabedoria e conhecimento sejam postos como sinônimos, no paralelismo antitético da poesia hebraica, não é estritamente assim.

O conhecimento é uma ferramenta amoral, que pode ser adquirido pelos ateus, ímpios, ou, santos; sabedoria, por ter uma origem mais nobre, não é tão pródiga assim.

Na antítese do provérbio acima, temos o escarnecedor e o prudente; aquele buscando Sophia numa empreitada vã, enquanto, para o prudente, a empresa se revela simples. Por quê?

Acaso um governante sábio colocaria uma arma poderosa, nas mãos de um assassino? Então, o Eterno daria sabedoria ao ímpio. É certo que há muitos astutos, velhacos, gerindo, manipulando, tripudiando de gente melhor que eles; porém, os céus os reconhecem como sábios? “Essa não é a sabedoria que vem do alto; é terrena, animal e diabólica.” Tg 3:15

A quem não tem relação sadia com o dever, o consórcio com o poder não fica bem. Quando um indigno governa, isso não procede do Senhor; a permissão procede, tendo em vista algo justo, como eventual punição, juízo, ou, aprendizado para aqueles que, pelo acossar das paixões efêmeras, acham prazeroso ser inconsequentes.

“A sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e bons frutos, sem parcialidade nem hipocrisia.” Tg 3:17

Não é Deus que fecha a porta para que os ímpios aprendam. Eles mesmos o fazem. Sendo, “O temor do Senhor o princípio da sabedoria...” Prov 1;7 contudo, eles preferem a amplidão dos escárnios; a justiça Divina faculta uma colheita consoante com o plantio; “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo que o homem semear, isso ceifará.” Gál 6:7

Deus Fala em Seu amor misericordioso chamando-os ao arrependimento; invés de ouvir, eles escarnecem; então, “também Eu me rirei na vossa desventura, em vindo vosso terror, Eu zombarei, em vindo o vosso terror como a tempestade, e a vossa perdição como o redemoinho, quando vos chegar o aperto e a angústia. Então, Me invocarão, mas não responderei; procurar-me-ão, porém não vão Me achar.” Prov 1:26-28 Adverte O Senhor.

O conflito entre filósofos e sofistas, residia no fato que, os amantes do saber o desejavam, para encontrar a verdade; enquanto, os retóricos vãos, queriam apenas um simulacro, para emplacar narrativas verossímeis, visando a dominação pelo engano. Mentir com pompa e circunstância fazendo isso parecer verdade já lhes bastava, conquanto, dobrassem o vulgo. Qualquer semelhança com a maioria dos políticos é semelhante mesmo.

A sabedoria não erra por subsolos assim. Ela é um Dom Divino distribuído seletivamente. “Porque o Senhor dá a sabedoria, da Sua Boca vem inteligência e entendimento. Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos; é escudo para os que caminham na sinceridade, guarda as veredas do juízo e conserva o caminho dos Seus santos.” Prov 2:6-8

Revela nossos caminhos tortos mediante a luz da Sua Palavra; depois desafia-nos ao arrependimento e mudança; quem aceita é perdoado e salvo. A seguir, enriquece aos salvos, com dons da Sua Graça. “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso. Porque a um é dada, mediante O Espírito, a palavra da sabedoria...” I Cor 12:7,8

Sendo um dom da Divina Graça, como a sabedoria espiritual repousaria sobre um escarnecedor? Se, nem todos os justificados em Cristo são sábios pelo contingente de luz que possuem, o são, pelo princípio da boa escolha.

Os mais simplórios, possuem a luz que mostra o caminho à eternidade, enquanto, os laureados pelo conhecimento nas universidades humanas, erram de modo bisonho; pois, “... Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; escolheu as coisas humildes do mundo, as desprezadas, aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença Dele.” I Cor 1:27-29

A sabedoria terrena constrói magníficos engenhos, meios de transporte, aparatos tecnológicos, etc... A sabedoria espiritual não usa diamantes em fundas.

“Expomos sabedoria entre os experimentados; não, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a Sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se tivessem conhecido, jamais teriam crucificado O Senhor da glória;” I Cor 2:6-8

Não apenas os que isso fizeram, mas aos de hoje, que rejeitam ao Senhor e Sua Palavra, a sentença é a mesma; “Os sábios serão envergonhados, aterrorizados, presos; rejeitaram À Palavra do Senhor; que sabedoria é essa que eles têm?” Jr 8:9

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Os videntes


“Visão de Isaías, filho de Amós...” Is 1;1

Encontramos no livro de Samuel: “Antigamente em Israel, indo alguém consultar a Deus, dizia assim: Vinde, vamos ao vidente; porque ao profeta de hoje, antigamente se chamava vidente.” I Sam 9:9

Enquanto os profetas de Baal, aconselhavam Acabe a ir pra uma guerra indevida, Micaías o profeta do Senhor disse: “Vi Israel como um rebanho sem pastor...” Figura para vaticinar a morte do rei.

O Senhor fazia uso de imagens para comunicar Seu propósito, aos Seus servos. Além de falar com eles, permitia que vissem coisas na dimensão espiritual.

Quando um grande exército cercou Dotã, visando prender a Eliseu, o moço que o servia apavorou-se; “Orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. O Senhor abriu os olhos do moço, e viu; o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu.” II Rs 6:17

O que escapava ao vulgo era “normal” para o que fora escolhido por Deus.

Os falsos profetas, quando denunciados por Jeremias, invés de palavras falsas, apenas, difundiam também, visões falsas; “... Não deis ouvidos às palavras dos profetas, que entre vós profetizam; fazem-vos desvanecer; falam da visão do seu coração, não da Boca do Senhor.” Jr 23:16

A Lei ensinava que qualquer incidente carecia de no mínimo duas testemunhas para ser considerada a versão, aceitável; aos que chamava a falar Sua Palavra, acrescentava O Senhor, visões espirituais, testemunhas a corroborar a mensagem, como relatou Amós, por exemplo: “... eis que o Senhor estava sobre um muro, levantado a prumo; tinha um prumo na Sua Mão.” Am 7:7 depois, a explicação: “... Que vês tu, Amós? Eu disse: Um prumo. Então disse O Senhor: Eis que eu porei o prumo no meio do meu povo Israel...” V;8 um sinal de juízo.

Após o advento do maior de todos os profetas, (... entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta que João o Batista;” Luc 7:28) houve uma mudança no trato do Eterno com a humanidade; “A Lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o Reino de Deus...” Luc 16:16

Isso eliminou a necessidade de profetas nos moldes antigos; dado, um fato majestoso antevisto pelos profetas; “Porque O Senhor está para sair do seu lugar, descerá e andará sobre as alturas da terra.” Miq 1:3

A epístola aos hebreus ensina: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho.” Heb 1:1

“quem vê a Mim vê ao Pai... Eu e o Pai Somo Um...”
Ensinou Jesus. Então, era Deus andando sobre a terra.

Também nesse caso a Palavra não foi apenas ouvida; antes, “O Verbo se fez carne...” ela foi vista, além de ouvida, como escreveu Pedro; “Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos Sua Majestade.” II Ped 1:16

Paulo, que inicialmente fora adversário; uma vez convertido e edificado, pretendia que o conhecimento de Jesus fosse espiritual; embora, também vira ao Senhor nos dias da Sua carne; “Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne; ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne...” II Cor 5:16 

O Salvador deveria ser “visto” pela transformação operada nas vidas pertencentes a Ele; “Assim, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo.” V;17

Sendo Cristo, “Autor e consumador da fé...”, e a “fé o firme fundamento das coisas que não se vê...” somos desafiados mais ao uso dos ouvidos, que, dos olhos; “... a fé é pelo ouvir, e ouvir pela palavra de Deus.” Rom 10:17 Então, “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Apoc 3:6

Embora, eventualmente O Espírito Santo mostre visões a quem lhe aprouver, geralmente o faz por uma necessidade ministerial, ou, uma informação que julga necessária a quem lhe é íntimo; não para gerar a fé: “... Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e creram.” Jo 20:29

Esses “profetas” de redes sociais do “O Senhor me mostra, isso, aquilo...” fariam melhor uso do dom de ver se o usassem para ler o que está escrito. Lá O Eterno nos mostra o que convém ser, e ensina a discernir pela Palavra, o ser, além das aparências.

Entre as muitas coisas que Isaías viu, estava um povo que “honrava” Deus com os lábios, estando o coração distante. Esse povo, vazio e profano, causava maldição; “... a terra está contaminada por causa dos seus moradores... Por isso a maldição consome a terra...” Is 24:5,6

O preconceito


“Os bárbaros usaram conosco de não pouca humanidade; porque, acendendo uma grande fogueira, nos recolheram a todos por causa da chuva que caía e do frio.” Atos 28:2

O navio que levava Paulo preso a Roma, encalhara na ilha de Malta no Mediterrâneo. Chegando lá, os náufragos foram recebidos como Lucas relata acima. Os “Bárbaros” foram muito humanos.

Quem eram os bárbaros? De qual povo descendiam? Na verdade, não se tratava estritamente de um gentílico, uma etnia; antes, era um termo genérico, pejorativo, aplicado a muitos povos. Inicialmente, os gregos consideravam bárbaros aos que não fossem gregos. Reputados inferiores, alienados da cultura helenista, beócios, cruéis, belicosos, insensíveis.

Nos dias do Império Romano, os povos alheios à cultura de Roma; iberos, celtas, trácios, germânicos, persas, eram todos “Bárbaros.”

Derivados dessa palavra migraram até nossos dias. Quando algo hediondo acontece, presto adjetivamos como sendo uma “barbárie”; isto é: Algo próprio dos bárbaros. Cá no Rio Grande do Sul se usa a expressão, “barbaridade”, com sentido de espanto, também, de algo que extrapola ao “normal”; derivado da antiga ideia que, rotulava aos povos periféricos aos grandes centros culturais, daquela forma.

Então, posto isso, parece que temos uma “contradição” na narrativa de Lucas. Os bárbaros nos trataram de forma muito humana. Os frutos dos “bárbaros” deixavam ver que a pecha que sofriam era preconceito.

Atualmente se usa e abusa da ideia de preconceito, não por escrúpulos humanistas, upgrade civilizatório; antes, por vileza ideológica, onde, o fomento da luta de “classes”, divergências comportamentais, diferenças raciais, se mostra muito útil ao estratagema de “dividir para conquistar”.

Então, embora preconceito seja uma coisa abjeta, que deva ser combatida, na maioria dos lábios que fazem diatribes, não se trata, deveras, de defesa da igualdade; antes, da máscara de um preconceito maior, ideológico, buscando ser “canonizada” pela suposta luta, contra preconceitos pontuais. Uma cantilena pronta fazendo pose de oásis, em cérebros ermos.

Nos dias do Salvador existia isso bem enraizado. Quando determinado escriba perguntou ao Mestre: “Quem é o meu próximo?” O Senhor contou do “Bom Samaritano.” Mas, como poderia ser bom, se era um maldito samaritano? Sim, o preconceito era tal, a ponto de uma mulher de Samaria se espantar por Jesus ter falado com ela; “pois os judeus não se comunicam com os samaritanos.” Ruim é sentir-se superior a outrem; porém, a tal ponto, de sequer falar com o “inferior”, aí extrapola todos os limites.

Embora sejam os judeus o “povo eleito” descendentes de Abraão, havia algo mais que mero laço sanguíneo, que O Salvador buscava para referendar a descendência abençoada. Zaqueu era um deles; somente depois de crer em Jesus e se arrepender de seus pecados, que foi arrolado como da bendita estirpe; “... também este é filho de Abraão.” Luc 19:9 Paulo explicou: “Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão.” Gál 3:7

João Batista “vacinara” contra a temeridade de confiar apenas no sangue; “Não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.” Mat 3:9

Eles continuam sendo alvo do Amor de Deus, semente bendita; mas, nenhum será salvo sem reconhecer ao Messias, que veio ao mundo como judeu. Felizmente, na reta final, muitos O estão reconhecendo.

Todavia, criou-se uma narrativa, (novo nome da mentira) que chama de “preconceito” à rejeição da perversidade sexual. Preconceito, como a palavra sugere, é um conceito prévio, “à priori”, antes de conhecermos as atitudes.

Como foi então, o de chamar aos maltenses de bárbaros, malgrado, fossem mui civilizados.

Nossas atitudes são nossos “frutos;” como nos comportamos numa área tão sensível como a sexual, tem grande relevância; o Mestre ensinou: “Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos; toda a árvore má produz frutos maus.” Mat 7:16,17

Quem define o que é bem ou mal? O inimigo propôs que deveria ser o homem. “Vós sereis como Deus, sabereis o bem e o mal.” Sempre que ignoramos à Palavra de Deus e decidimos por conta, gostando ou não, estamos seguindo à palavra do Diabo. Sim, eu sei, “discurso de ódio.”

Os estragadores de palavras estragaram mais que “preconceito;” agora, advertir alguém que está agindo contra a vontade de Deus, para que não se perca, é “odiar”. Dividir para conquistar não eclode na política apenas; nas coisas espirituais, sobretudo.

O surgimento de “mestres” que esposam a defesa de posturas perversas em nome de “Amor” mata mais que armas de guerra, pelo número de pessoas que desvia para perdição.

Todavia, “Os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala...” 125:1

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

O Bendito Semeador



“A luz semeia-se para o justo; a alegria para os retos de coração.” Sal 97:11

Em si mesmo não há um justo sequer, como ensina A Palavra de Deus; os que, arrependidos das suas injustiças se submetem a Cristo, são justificados; desde então, reputados justos, por causa da Justiça do Salvador, a eles atribuída.

Se, apenas após sermos iluminados para a conversão, somos tidos por justos, por que, a “luz semeia-se para o justo?” Não seria essa “semeadura” um “chover no molhado.” Estaria iluminando de novo, a quem já teria sido?

O fato de termos recebido luz para entender o básico, que a salvação é apenas em Cristo, não significa que tenhamos luz bastante para compreendermos, tudo. Há um processo de iluminação progressiva, chamado de santificação, que demanda nosso crescimento contínuo.

O conhecimento da verdade, para libertação das amarras da mentira, é um aprendizado do Senhor, mediante Sua Palavra; “... Se vós permanecerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sereis Meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Jo 8:31,32

Os demais erram na escuridão total; “O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam.” Prov 4:19

Os que receberam ao Salvador veem um pouco; são instados a seguirem ampliando a visão, até o perfeito discernimento espiritual; “A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” Prov 4:18

Os amadurecidos no ouvir e praticar, À Palavra, são considerados perfeitos, aptos para as coisas mais profundas das Escrituras; capazes de discernir as coisas além das aparências. “O mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5:14

É necessária certa justiça, para, ante eventuais “conflitos” poder dizer como Paulo: “... sempre seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso...” Rom 3:4 Ou, como disse Agostinho, com certo humor: “Lendo a Bíblia encontrei vários erros; todos, em mim.”

Sem essa sadia disposição de encarar à verdade mesmo quando ela nos desnuda, jamais poderemos ser iluminados; pois, nossa ímpia resiliência, egoísta, assopraria as velas que O Espírito Santo acendesse. Por isso, a “luz semeia-se para o justo.” A quem ousa ser justo o bastante, pra reconhecer às próprias injustiças.

Ademais, há um necessário consórcio entre luz e caminhada, que só os justificados se atrevem a adquirir; a luz que não molda nosso agir serve muito pouco. Não vai além de um patrimônio intelectual, um adereço espetaculoso que pode ser muito útil no desfile da vaidade; mas, que será absolutamente inócuo, no prisma da necessária purificação. Por isso, o ver e andar na vereda espiritual estão casados; “Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” I Jo 1:7

“... e
(semeia) alegria para os retos de coração.” Há uma diferença substancial entre a alegria e humor. Esse é superficial, efêmero; aquela, tem raízes.

Qualquer situação jocosa, seja um fato, ou mera construção verbal, pode nos fazer rir; despertar nosso senso de humor. Passado o instante, some. A alegria espiritual, sobretudo, não precisa de circunstâncias, por brotar de fontes que escapam do alcance dos olhos. “Porque o reino de Deus não é comida, nem bebida; mas, justiça, paz, e alegria no Espírito Santo.” Rom 14:17

Segundo o salmista ele tinha em seu íntimo um gozo maior que aqueles que festejavam uma grande colheita. “Puseste alegria no meu coração, mais que, no tempo em que se lhes multiplicaram trigo e vinho.” Sal 4:7

Essa alegria, além de um testemunho de paz com Deus, tem uma função medicinal, contra doenças psicossomáticas, como pânico, depressão e afins; “O coração alegre aformoseia o rosto, mas pela dor do coração o espírito se abate.” Prov 15:13 Ou, “O coração alegre é como bom remédio, mas o espírito abatido seca até os ossos.” Prov 17:22

Tal alegria requer o concurso da retidão, porque sendo patrocinada pelo Espírito Santo, jamais verteria de fontes espúrias à aprovação Divina. Deus também quer “entender a piada”; digo, sentir prazer conosco; pois o egoísmo humano divorciado dele, é obra maligna, como denunciou certa vez: “... escolheram aquilo em que Eu não tinha prazer.” Is 66:4

Como disse Neemias, “... a alegria do Senhor é vossa força.” Ne 8:10

A luz revela nossas enfermidades; depois desafia-nos a recebermos O Médico que nos visita: Jesus Cristo. Cumpridas suas prescrições, a vida espiritual é regenerada; justificados por Ele, somos iluminados para ver por onde convém andar, e nos alegramos pelo fato dele sempre andar conosco. “... eis que estou convosco todos os dias...” Mat 28:20

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Flores e frutos


Deparei com duas frases divergentes que me fizeram pensar. A primeira, com bela roupagem poética mas, discutível teor filosófico dizia: “Se ninguém me regar, não tenho obrigação de ser flor que se cheire.”

A outra trazia: “cuide do jardim da sua mente; o pensamento que você rega, cresce.

A primeira ideia me pareceu escapista, daquele que atribui a outrem a responsabilidade pelas escolhas suas. Se, não foi regado em tempo, tratado como gostaria, não tem dever de se tornar uma pessoa que a sociedade venha a gostar. Essa “filosofia” eliminaria o papel da superação; anularia feitos de tantos, que, mesmo privados de meios, recursos, fizeram grandes e relevantes coisas.

Nossas escolhas arbitrárias, mais que as de outrem, moldam nossos destinos, como disse Baudelaire: “Conheço muitos que não puderam quando queriam, porque não quiseram, quando podiam.”

A ideia de “pagar na mesma moeda”, pode ter algum apelo no prisma da justiça; mas, não no da sabedoria. Invés de, mero e seco, “eu devolvo segundo o que recebo”, devemos aprender a semear o que gostaríamos de colher; Jesus ensinou: “Portanto, tudo que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhes também, porque esta é a lei e os profetas.” Mat 7:12 Não nos compete sermos ceifeiros, antes de termos sido semeadores.

Isso requer dar o primeiro passo; fazermos até mesmo, o que não recebemos e “corrermos o risco” de jamais receber. “... Amai aos vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que Seu sol se levante sobre maus e bons, a chuva desça sobre justos e injustos. Se amardes aos que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos o mesmo? Se saudardes unicamente, aos vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.” Mat 5:44-48

O “toma-lá-dá-cá tem a ver com reles negócios; o “negócio” de Deus é o amor.

Paulo ampliou a ideia: “... Se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre sua cabeça. Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” Rom 12:20,21

A ideia de vencer o mal patenteada pelos mercenários da praça é remover adversidades; no prisma sadio, é vencer às inclinações que nos afastam de Deus.

Não que as ações não terão as devidas recompensas, oportunamente. Mas, isso pertence ao Eterno; “... Minha é a vingança; Eu recompensarei, diz o Senhor.” Rom 12:19

Ele deseja perdoar, em Sua Longanimidade; fará isso, sempre que houver arrependimento e mudança de atitudes; “... não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva.” Ez 33:11

Senão, quem melhor que Ele, sabe qual “moeda” é correspondente a determinada dívida? Não raro, os melindres humanos nos fazem cometer erros crassos na “casa de câmbio”, como se, a Libra Esterlina e Peso tivessem o mesmo valor. Nossas “justiças” por causa das paixões, podem abrir novos lapsos, invés de os corrigir.

Enfim, a ideia de que posso ser mau, porque outros foram maus comigo, cria um círculo vicioso infinito; como os “Carmas” do espiritismo; o que, anularia o sentido do perdão, e vilipendiaria ao inefável Sacrifício de Cristo. Não havia nada pelo quê pagar, se, abstraídas as razões do amor. “Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5:8

Portanto, identifico-me melhor, com a segunda frase: “cuide do jardim da sua mente; o pensamento que você rega, cresce.”

Sobre os pensamentos, Paulo aconselhou: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo que é honesto, tudo que é justo, tudo que é puro, tudo que é amável, tudo que é de boa fama, se há alguma virtude, se há algum louvor, nisso pensai.” Fp 4:8

Demócrito, um antigo pensador defendia que a bondade se aprende. Senão, qual o sentido de todos os ensinos que apontam para a virtude?

Assim como, a vivência nos domínios do mal forja a maldade, “Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.” Jr 13:23 De igual modo, o ensino na senda do dever molda caracteres bons; “Educa a criança no caminho em que deve andar; até quando envelhecer não se desviará dele.” Prov 22:6

Mais que flores que se cheirem, a Virtude de Cristo aprendida e vivida, deixará frutos ao longo dos nossos caminhos.

A boa escolha


“... estava ali certo discípulo por nome Timóteo, filho de uma judia que era crente, mas de pai grego; do qual davam bom testemunho os irmãos que estavam em Listra e Icônio. Paulo quis que este fosse com ele. Tomando-o, o circuncidou, por causa dos judeus que estavam naqueles lugares; porque todos sabiam que seu pai era grego.” Atos 16:1-3

A oposição que Paulo enfrentou em seu ministério veio dos judaístas que o perseguiam, por duas razões principais; uma: o judaísmo se pretendia ser o único caminho para Deus. Por verem ao Salvador como ameaça, o mataram. “Convém que um homem apenas, pereça, não toda a nação”, decidiram.

Outra: Paulo fora um dos principais expoentes deles, antes de se render a Cristo; “Na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais.” Gál 1:14 Confessou. Um de nós se tornar “eles” é sempre motivo de revolta nos meandros humanas.

Tendo sido salvo, pouco a pouco, foi também iluminado; de modo que passou a relativizar às coisas que não tinham relevância para a salvação, entre as quais, rituais judaicos.

Eram ciosos da Lei, não tendo entendido o objetivo pelo qual ela fora dada. O “ministério da condenação” como definiu Paulo, era visto por eles como meio de salvação; o apóstolo expressou a função transitória da Lei: “... a Lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.” Gál 3:24

Se ela fosse colocada em lugar indevido, divorciaria seus proponentes de Cristo. “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela Lei; da graça tendes caído.” Gál 5:4

“Porque em Cristo Jesus nem circuncisão, nem incircuncisão têm virtude alguma, antes, o ser uma nova criatura.” Gál 6:15
Escrevendo aos Romanos disse: “É judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens.” 2:29

Então, por quê Paulo circuncidou a Timóteo, sendo a circuncisão um rito observável segundo o judaísmo, irrelevante, desnecessário para salvação?

O mesmo apóstolo explicou: “Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais. Fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da Lei, como se estivesse debaixo da Lei, para ganhar os que estão debaixo da Lei. Para os que estão sem Lei, como se estivesse sem Lei (não estando sem Lei para com Deus, mas debaixo da Lei de Cristo), para ganhar os que estão sem Lei.” I Cor 9:19-21

Ele “engolia sapos” tendo em vista o objetivo maior, conduzir a Cristo. Fazia até o que sabia ser desnecessário, para que o essencial não sofresse obstáculos. Numa mescla de amor e estratégia, passava ao largo pelos melindres periféricos, visando o alvo excelente.

O “negue a si mesmo” supõe que, fazendo isso, daremos a primazia das nossas vidas a Cristo. Se, “nego-me” para que os outros vejam quanto sou capaz de ser um “asceta”, no fundo, não renunciei nada; apenas mudei a roupagem pela qual desejo ser aplaudido. O ego que deveria ter sido mortificado segue reinando.

Pessoas melindrosas, zelosas de ninharias, para as quais, ou, as coisas são do jeito delas, ou não são, ainda não chegaram nem perto da cruz. Se, como vimos no exemplo de Paulo, ele fazia até o desnecessário, para que o vital não fosse impedido, esses perdem-se em frescuras desnecessárias, presumindo que a vida pulsa nas suas predileções.

Nossa fé está sendo atacada, de forma ostensiva. A exclusividade de Cristo é blasfemada; a pureza sexual, relativizada, escarnecida, nossos fundamentos doutrinários têm sido atacados diuturnamente; não apenas, um camelo, mas, verdadeira cáfila tem adentrado em nossos acampamentos; muitos tolos gastam energias e espaços coando moscas, alheios a essa invasão.

Com fim perverso, muitos, a pretexto de contextualizar o Evangelho têm-no deturpado. Contextualizar é apresentar ao que é eterno, numa linguagem atual, compreensível; não, perverter à mensagem pura, para que essa soe palatável aos ímpios anseios, avessos à necessária santificação.

Coisas que há vinte anos nos fariam corar se dissessem que aconteceriam, hoje acontecem “naturalmente” no seio “cristão”, e pior: Sempre tem um ministro “liberal” para emprestar sua erística treinada, para defesa do indefensável.

Paulo fez um ritual judaico em Timóteo, para silenciar a oposição, pois, viu nele um potencial ministro da Palavra. As coisas mais importantes devem ser tratadas como tais. “Melhor é a sabedoria que as armas de guerra...” Ecl 9;18

Durante sua viagem a Roma, tiveram que lançar ao mar toda uma carga de trigo, para que, 276 vidas do navio fossem salvas. Todavia, passados dois milênios da lição, muitos inda morrem agarrados ao trigo.