sábado, 24 de fevereiro de 2024

Nossas mortes


“Porque já estais mortos, e vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” Col 3:3

Estar morto tendo a vida escondida soa meio contraditório. Normalmente, pensamos que estar morto é estar privado da vida, não, escondendo-a.

Confesso que muitas “contradições” verbais, deram nó em meus neurônios no início da caminhada. Tipo: “Quem achar sua vida perdê-la-á; quem perder sua vida, por amor de Mim, achá-la-á.” Mat 10:39

Há quatro tipos de morte que precisamos entender. Um, atinente ao corpo e suas funções; cessação da existência, que todos conhecem. Outro, relativo ao espírito e seu relacionamento com o Criador. Alienação do homem em relação a Ele equivale à morte, pois, cortado o liame que liga à Fonte da Vida, o espírito “vegeta;” sabe a diferença entre bem e mal, porém, incapaz para fazer as escolhas certas.

“Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na Lei de Deus; mas, vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento; me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros.” Rom 7:22 e 23 Dilema do pecador com espírito “morto”, ainda aprovando às coisas certas, porém, mercê d’alma que age em consórcio com o corpo e suas misérias; escravo.

A morte do espírito é, antes que morte, uma ruptura de relacionamento. O que O Salvador figurou como “novo nascimento” a rigor, é uma reconciliação; “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando Consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” II Cor 5:19 Assim foi a morte de Adão, quando pecou e teve medo de Deus; viveu muitos anos ainda; porém, fora da comunhão com O Criador.

A terceira “morte” é relativa à alma; renúncias às quais ela é chamada para que possamos ser salvos. O “negue a si mesmo” é uma “morte voluntária;” na verdade, mortificação. Todos os apelos pecaminosos dela e do corpo devem ser “crucificados”; esse é o sentido de tomarmos nossas cruzes para seguirmos a Cristo. Tal crucificação não mata, literalmente, mortifica, trata aos maus desejos como mortos, preservando nossa vida.

“Já estou crucificado com Cristo; vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim...” Gál 2:20
À medida que O obedecemos integralmente, é como se Cristo vivesse em nós; de novo, o Verbo se faz carne, em nossa carne, dessa vez; desde que, vivamos em obediência tal, que possamos dizer como Paulo: “Cristo vive em mim.”

Como O Salvador colocou a Vontade do Pai antes da Sua, obediente até à morte, somos chamados a nos identificarmos Nele, em plena obediência, às últimas consequências. “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte?” Rom 6:3

Por isso o ensino: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus... (que) esvaziou a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; achado na forma humana, humilhou a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” Fp 2:5, 7 e 8 Eis o sentido do “ser batizado na Sua morte!”

Por fim, a quarta morte que a Bíblia chama de “segunda morte”; o banimento final, quando não haverá mais possibilidade de voltar a Deus.

“Quem tem ouvidos, ouça o que O Espírito diz às igrejas: O que vencer não receberá o dano da segunda morte.” Apoc 2:11

Quando Paulo fala que estamos mortos e nossa vida está escondida em Deus, refere-se ao “velho homem”, que vivia à sua maneira, alheia ao Criador.

Noutra parte amplia a ideia: “Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; vos renoveis no espírito da vossa mente; vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” Ef 4:22 a 24

Enfim, o fato de estarmos “mortos” faculta que pertençamos a Cristo sem necessidade de cumprimos à Lei de Moisés; como uma viúva pode casar outra vez, pois está livre do antigo compromisso, que foi “anulado” pela morte. “... morto o marido, livre está da lei; logo, não será adúltera, se for de outro marido. Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a Lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de darmos fruto para Deus.” Rom 7:3 e 4

Então, voltando ao ponto de partida encontramos: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, beber, por causa dos dias de festa, da lua nova ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” Col 2:16 e 17

Se as pessoas soubessem quanta vida há em nossas mortes, tomariam a santa cruz, também.

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