“Porque lhes dou testemunho que têm zelo de Deus, mas não com entendimento.” Rom 10;2
Zelo é derivado emocional; um cuidado extremo com algo ou alguém, por veias afetivas. O entendimento é uma faculdade intelectual; uma propriedade derivada da razão, da capacidade de discernir às coisas. Os que são espirituais, renascidos em Cristo, podem receber entendimento, também pela revelação. O Espírito de Deus tem razões que a nossa razão não entende. “O que é espiritual discerne bem a tudo e de ninguém é discernido.” I Cor 2;15
São coisas complementares; a presença duma apenas, não forjaria o equilíbrio das nossas almas; como um corpo com uma perna só, que careceria apoio, e seu andar seria moroso.
Tendo entendimento de algo, cujo valor demanda que seja zelado, se não fizermos isso, será desleixo; indiferença perdulária; porém, apenas zelo ardente, no escuro, ensejando uma defesa apaixonada, acaba em fanatismo; um estranho fogo que arde, produzindo calor, mas privado de luz.
Paulo poderia falar sobre isso, como o fazia, a respeito dos judeus, pois, cometera, antes do encontro com O Salvador, o mesmo erro. Sua ignorância sobre a Obra de Cristo, o levava a vê-la como nefasta, prejudicial, uma ameaça; seu zelo do judaísmo, o instigava a cometer toda sorte de violências contra os seguidores de Cristo, como se, tais atitudes fossem parte de uma assepsia espiritual, quando, eram pecados, crimes até. Zeloso no escuro, acreditava fazer a Obra de Deus, quando faia precisamente o contrário. Eis o risco do zelo sem entendimento!
Tendo sido iluminado de modo traumático, pela intervenção direta do Próprio Salvador, se viu forçado a guardar por um pouco, a espada do zelo e matricular-se na escola do Espírito Santo, em demanda do entendimento que lhe faltava. Depois de três dias no escuro, durante os quais algumas “escamas” dos olhos da fé foram removidas, a visão física lhe foi devolvida, e tornou com entendimento renovado.
Ainda hoje há muitos que claudicam pela falta de equilíbrio entre essas duas coisas. Uns têm primoroso entendimento, e certa frieza espiritual; sua luz mostra caminhos, mas não instiga a caminhar; outros, são fervorosos, ardentes, zelosos, com limitações de luz, do necessário discernimento; e muitas vezes, como Paulo na cegueira espiritual, erram na escolha dos alvos. Têm zelo de Deus, mas não com entendimento.
Um aspecto que atrofia o aprendizado, no prisma espiritual, é a negligência diante da Palavra de Deus. Muitos vãos aos ambientes onde ela é anunciada, como se o pregador fosse um artista cuja performance devesse ser analisada; não. O ministro idôneo é um diagnóstico Divino, mediante o qual nossas vidas são analisadas. Se colocarmos por obra aquilo que entendemos quando ouvimos, nosso entendimento e zelo estarão agindo em consórcio, para a salvação, edificação.
A negligência nisso atrofia nossas almas, sonegando o necessário crescimento. Se, nos dispusermos a ouvir À Palavra de Deus, é necessário que a tratemos como tal; levemos com a devida seriedade. O entendimento pega o quê, devemos fazer; o zelo, nos instiga que façamos, aquilo que entendemos.
Os que assim não agiram, entre os cristãos hebreus, foram censurados e diagnosticados como meninos velhos; “Porque já devendo ser mestres pelo tempo, ainda necessitais que se vos torne a ensinar, os primeiros rudimentos das Palavras de Deus; vos haveis feito tais, que necessitais de leite, não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na Palavra da Justiça, porque é menino; mas o alimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem, quanto o mal.” Heb 5;12 a 14
A concepção sadia de zelo, pois, é mais que a defesa apaixonada daquilo em que cremos; antes, enseja nossa diligência ciosa, para colocar por obra aquilo que entendemos ser a Divina vontade no tocante às nossas vidas.
Tiago ensina sobre a falta de cumprir o aprendido: “Porque se alguém é ouvinte da Palavra e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla no espelho o seu rosto natural; pois contempla-se e vai; logo esquece como era.” Tg 1;23 e 24
Ora, o que é o necessário consórcio entre fé e obras, ensinado pelo mesmo Tiago, senão, um desdobramento do zelo com entendimento? Fé possibilita que eu entenda; as obras, deixam patente meu apreço pelo que entendi.
Enfim, a luz espiritual não é dada para decorar fachadas, com as usadas no Natal; ela fulge para nos mostrar o caminho; o qual, só fará sentido ver, se andarmos nele. “Se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros; e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” I Jo 1;7