quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Os falsos


“Muitos seguirão suas dissoluções, pelos quais será blasfemado o caminho da verdade.” II Ped 2;2

O ofício dos falsos profetas e mestres obraria isso, segundo Pedro.

“Muitos seguirão...” embora, para efeito de exibicionismo intelectual se diga que vale mais a qualidade do que a quantidade, a geração atual costuma valorar as coisas pelos números; de visualizações, seguidores, curtidas... para algo soar bom, causar, basta que “viralize”.

Os gregos antigos não tinham lá tanto apreço pelos ajuntamentos. Consideravam a multidão, uma “besta acéfala”, (um monstro sem cabeça) aglomerado de insipientes; “Um homem ajuizado teme mais ser analisado por meia dúzia de sábios, que representar ante uma turba de ignorantes”, disse um deles no “Banquete.”

Nas coisas espirituais, o aplauso de muitos, invés de aferidor de qualidade, costuma ser o contrário. As coisas sérias, probas, honestas, são palatáveis para poucos, enquanto os erros, profanações, apostasias, falsidades contam com a adesão de muitos. Por quê?

Porque, como diz um adágio popular, “ladeira abaixo todo o santo ajuda.” Isso, importada a figura para as inclinações psicológicas, andar segundo a natureza caída é o mais fácil; “Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne...” Rom 8;5 embora, algumas coisas até possam usar rótulos espirituais, profanam ao Nome Santo; invés da Palavra de Deus alinham às humanas predileções, são derivadas da carne, não do espírito. Deus nos desafia a buscarmos as coisas de cima; esses oferecem em Nome Dele, as terrenas.

Profetizadores de facilidades incondicionais grassam, atirando suas falsidades ao vento, para quem crer. Pelos números de reações favoráveis, fácil perceber que muitos os seguem. Às vezes um pilantra encena sacando um maço de verdinhas num terminal eletrônico, para mostrar o que “Deus vai fazer” com quem crer naquilo. Santa paciência!!

Elias teve um embate contra 850 falsos profetas no Carmelo; daí, fácil a conclusão que, o zelo pela verdade é de poucos, enquanto o erro atrai matilhas.

É da nossa natureza nos frustrarmos, quando poucos nos dão ouvidos, mesmo estando certos de que falamos segundo Deus. Entretanto, fomos chamados para andar segundo O Espírito Dele, não segundo a natureza.

Por Amar justiça e verdade mais que aplausos, certa vez O Eterno mandou um profeta “falar às paredes”; “... a casa de Israel não te quererá dar ouvidos, porque não querem dar ouvidos a Mim... vai aos do cativeiro, aos filhos do teu povo; lhes falarás e dirás: Assim diz O Senhor Deus, quer ouçam quer deixem de ouvir.” Ez 3;7 e 11
Como vemos, o “sucesso” não é aferidor espiritual.

“... suas dissoluções...” embora a palavra aqui seja uma figura, dissolução em química significa dissolver, decompor. Isso fazem os farsantes com a sã doutrina. Invés da preservação, trazem modernismos, liberalismos. Aplauso humano conta mais, para esses, que a Divina aprovação. Cristo advertiu do risco de brilharmos nos palcos terrenos; “... Deus conhece vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação.” Luc 16;15

“... será blasfemado o caminho da verdade.”
Por ser A Verdade, cabal, absoluta, não comporta paralelismos, concurso de coisas parecidas apenas. Ela é radical. Algo é verdadeiro, ou falso. O âmbito espiritual não aceita gambiarras, arranjos que “funcionam” eventualmente.

Não se podendo “pegar uma carona” com ela, a falsidade precisa descartá-la como mentira. Se, não faz isso diretamente, mera rejeição que a crença na mentira propicia, implica em descartá-la. Aliás, apenas duvidar dela, já significa ter por mentirosa Sua Fonte; “... quem a Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu.” I Jo 5;10

Então, embora os falsários possam usar uma série de rótulos vistosos, a rigor, são gente que se opõe a Deus, aos valores perenes da Sua Palavra; “A Lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma; o Testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices; os Preceitos do Senhor são retos e alegram o coração; o Mandamento do Senhor é puro e ilumina os olhos."

Se, a Palavra refrigera, dá sabedoria, alegra o coração e ilumina os olhos, por que as pessoas fogem dela? Porque ela chama à renúncia, ao caminho estreito, o que a carne jamais aceitará.

O sonho de consumo dos falsários e sequazes é seguirem dando vazão a todos os desejos que afastam do Criador, e posarem de salvos, pertencentes a Ele.

Onde O Salvador Ordenou: “Negue a si mesmo”, esses leem: Traia a si mesmo. “Portanto comerão do fruto do seu caminho, fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o erro dos simples os matará, o desvario dos insensatos os destruirá. Mas, o que Me der ouvidos habitará em segurança e estará livre do temor do mal.” Prov 1;31 a 33

terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Disfarce da morte


“A vida má, sem moderação, desprovida de entendimento e de respeito pelo sagrado não é uma vida má, mas um morrer lentamente.” Demócrito

Diria um incauto: Tanto faz, como nos portamos no prisma moral, pois, todos rumamos à morte na mesma velocidade. À luz estrita do tempo, sim.

Contudo, não era o tempo o escopo do pensador; antes, o sentido. Sem a revelação bíblica que considera “mortos” os inimigos de Deus, a despeito de, por quanto tempo respirem, ele tateou muto bem. Considerou a vida, alienada da virtude, do sagrado, refém dos vícios, mera morte lenta.

Suas considerações não miravam uma vida eterna, no porvir, como prometida por Cristo; atinavam às vantagens presentes na existência terrena; “A moderação aumenta o gozo e acresce o prazer. Sábio é quem não se aflige com o que lhe falta e se alegra com o que possui.” disse ainda.

A Palavra apresenta dois tipos, que, com os mesmos meios, caminham a fins diferentes; “Um homem a quem Deus deu riquezas, bens e honra, nada lhe falta de tudo quanto sua alma deseja; e Deus não lhe dá poder para daí comer, antes o estranho come...” Ecl 6;2 Possui tudo e vive infeliz, como tendo pouco, ou nada.

A vida requer algumas “posses” de outra natureza, não apenas materiais; “Todo homem, a quem Deus deu riquezas, bens, e lhe deu poder para delas comer e tomar sua porção, gozar do seu trabalho, isto é dom de Deus.” Ecl 5;19 Assim, o que é abençoado material e espiritualmente usufrui da vida, a preserva para o além.

Entretanto, a fartura de bens não é sinônimo de um viver aceitável. O ouro que muitos abastados humanos ostentam verte das minas do lixo moral. Quando estiverem às portas da morte comprarão o quê, com ele?

Tampouco, privações materiais são, necessariamente, denúncias de um mau viver. Paulo andou nos dois lados; “... aprendi contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e também ter abundância; em toda maneira, em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, quanto, ter fome; tanto a ter abundância, quanto, padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” Fp 4;11 a 13

Mencionar O Nome Santo como nosso Senhor, requer um compromisso de lealdade, independente das circunstâncias. “O fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor Conhece os que são Seus; qualquer que profere o Nome de Cristo aparte-se da iniquidade.” II Tim 2;19

Ele mesmo disse que “não conhecerá” os que O profanam sem compromisso; “Então lhes Direi abertamente: Nunca vos Conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade.” Mat 7;23

Devemos nos apartar da iniquidade para pertencer a Cristo; senão, ele nos dirá: “Apartai-vos de mim.” Simples é grave assim.

O que qualifica nossa vida, como pensava corretamente Demócrito, é seu sentido, não os meios que, nela usufruímos. Esse, trazido pela morte redentora de Cristo, inicialmente é a reconciliação com Deus; “Isto é, Deus estava em Cristo Reconciliando Consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; pôs em nós a Palavra da reconciliação.” II Cor 5;19

A isto figurou como, deixar de “morrer lentamente” e começar a viver; “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve Minha Palavra, e crê Naquele que Me enviou, tem a vida eterna; não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” Jo 5;24

Alcançada a mesma, somos desafiados à edificação; ao conhecimento de Deus através do revelado em Sua Palavra; “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam Nele: Se vós permanecerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sereis Meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Jo 8;31 e 32

Esse conhecimento não se fará simples “bagagem” mera posse; antes, nos desafiará a deixarmos nossa vã maneira de viver para adotarmos doravante, o que aprendemos Dele; mais que um acréscimo, uma mudança. “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se Compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque Grandioso É em perdoar. Porque meus pensamentos não são os vossos, nem os vossos caminhos os Meus, diz o Senhor.” Is 55;7 e 8

A nova ética aprendida depois de Cristo, fatalmente nos indisporá conosco mesmo, nossa natureza perversa que deverá ser sacrificada, e com o mundo ao redor, que respira morto, avesso ao Criador; “... apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável e perfeita Vontade de Deus.” Rom 12;1 e 2

Nada mudará nossa velocidade; seguiremos lentamente, “no passo do gado”, porém, agora vivos.

Enquanto podes


“Poder havia em minha mão para vos fazer mal, mas O Deus de vosso pai me falou ontem à noite, dizendo: Guarda-te, que não fales com Jacó nem bem nem mal.” Gn 31;29

Labão perseguidor de Jacó, quando o alcançou disse essas coisas. Em tinha poder, (e intenção) para fazer mal. Mas, Deus o impediu.

Como podemos saber que ele tinha intenções más contra seu genro? Se assim não fosse, não seria necessário o Eterno colocar freios nele.

Ideal que fosse assim, sempre; o que A Palavra de Deus veta, tido como cerca intransponível. Porém, a humanidade é pós graduada em pular cercas. A obediência deveria ser a norma, mas é exceção. Por isso, parte da oração ensinada pelo Mestre traz esse desejo, de que aprendamos obedecer; “seja feita Tua Vontade, assim na Terra, como no Céu.”

Os anjos que seguem fiéis, não têm dificuldade em obedecer ao Senhor; geralmente o fazem, atuando em nosso favor. “Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” Heb 1;14 A inclinação ao serviço facilmente se coaduna com obediência; enquanto, a índole egoísta tenda à ruptura, autonomia.

Como seria então, se Labão tivesse desobedecido? Desobediência à Palavra de Deus é o que mais acontece, infelizmente. Só que, no caso dele, seria a rejeição à Palavra escutada diretamente, invés da escrita como temos. Isso daria azo a uma punição imediata, como aconteceu com Balaão, quando teve que ouvir uma jumenta falar para ser desviado da morte. O último naco de misericórdia, casado com a Ironia Divina. Não ouves Minha Voz? Quiçá, a de uma jumenta?

Rejeição à Palavra Escrita também é grave; a diferença é que concorre certa vigência de tempo, ocasionando possibilidades de arrependimento e mudanças, antes do juízo. Senão, ao seu tempo a consequência virá. “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo que o homem semear, isso ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará vida eterna.” Gál 6;7 e 8

Todo poder humano, se, não delegado, é permitido pelos Céus. Pilatos gabou-se ante O Salvador, de ter poder para fazer o que quisesse: “Disse-lhe, pois, Pilatos: Não Falas a mim? Não sabes Tu que tenho poder para Te crucificar e tenho poder para Te soltar? Respondeu Jesus: Nenhum poder terias contra Mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que Me entregou a ti maior pecado tem.” Jo 19;10 e 11

O Senhor não disse que ele não tinha poder; mas, que recebera do Alto; naquele momento estava usando sua autoridade para pecar, sendo conivente com desejos pecaminosos de outros; esses, por serem a causa, eram pecadores maiores que ele. “aquele que me entregou a ti, maior pecado tem.”

Antes de nos jactarmos do que podemos, pois, bem faremos em considerar o que devemos. “... pois quem está altamente colocado tem superior que o vigia; há mais altos do que eles.” Ecl 5;8

Embora no meio cristão se ouça muitos incautos falando em “buscar poder”, o que necessitamos para agir conforme Deseja nosso Pai recebemos desde a conversão; “A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome;” Jo 1;12

O poder para atuar como filhos de Deus num mundo que se fez filho do maligno, anda em consórcio com o dever; “Aquele que diz que está Nele, deve andar como Ele andou.” I Jo 2;6

“Pisar serpentes e escorpiões”
não significa sair por aí manietando espírito maus; antes, não se dobrando à influência desses. Quando o homem perde a condição de influenciar à sociedade pela apostasia se diz que se tornou sal degenerado, que só serve para ser pisado pelos homens, desprezado. Assim, devemos “pisar” nas influências malignas; desprezando suas seduções, vencendo-as pela Palavra de Deus. “Pelos teus mandamentos alcancei entendimento; por isso odeio todo falso caminho.” Sal 119;104

A punição pela desobediência por não ser imediata, pode criar um hábito mortal; “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8;11

Essa temeridade aos poucos vai impregnando em quem se dá a ela, até que, acaba se tornando parte das suas almas; “Porventura pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal.” Jr 13;23
A desobediência contumaz se faz um “poder” que aprisiona, nas vidas daqueles que, desprezam ao Poder que liberta; A Palavra de Deus.

“Conheço muitos que não puderam quando queriam, porque não quiseram, quando podiam.” Rabelais

segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Os escolhidos


“Até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, homem perfeito, à medida da Estatura Completa de Cristo.” Ef 4;3

A necessária edificação tem como parâmetro, alvo a se atingir, a “Estatura de Cristo”. Não sei se algum convertido em toda a história da igreja atingiu isso. Todavia, segundo as Palavras Dele mesmo, o feito é possível. “O discípulo não é superior ao seu mestre, mas todo o que for perfeito, será como seu mestre.” Luc 6;40

A “perfeição” possível ao homem tem a ver com atingir maturidade espiritual, conhecimento, discernimento das coisas como são; “o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5;14

A “perfeição” humana seria o cume de uma escalada no monte da santificação. Porém, a do Senhor É Seu cotidiano; a natureza do Seu Excelso Ser; “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, Santo, Inocente, Imaculado, Separado dos pecadores, e feito mais Sublime que os Céus;” Heb 7;26

Como Cristo; ponto mais alto ao qual um humano poderia chegar. A estatura humana, o nível ao qual Jesus Ousou descer. “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; achado na forma humana, humilhou-se, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” Fp 2;6 a 8

O crescimento espiritual rumo ao aperfeiçoamento, invés de uma riqueza mística, habilidade retórica, destreza filosófica, aptidão para malabarismos intelectuais, nos desafia à simplicidade.

Assim como, no Seu Esvaziamento Veio à luz numa manjedoura, demanda que nos façamos como crianças também, dispostos a aprender Dele, e permanecer; “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com sua astúcia, sejam de alguma sorte corrompidos vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo.” II Cor 11;3

Se, o “homem perfeito” tem os sentidos exercitados no discernir, os que deixam a simplicidade têm os mesmos corrompidos.

Tornou-se clichê no meio cristão dizer que, muitos são chamados, e poucos escolhidos. A chamada deve ser feita “A toda criatura.” Não há entre os humanos, uns mais salváveis, outros, menos. A todos deve ser exposto O Evangelho; cada um deve reagir como lhe convier.

Quais serão os escolhidos? O calvinismo, devido a uma interpretação questionável da palavra “eleitos” advoga que há uma pré-escolha, cuja pregação da Palavra se ocuparia de deixar patente. Dentre os muitos chamados, sobressairiam esses, os eleitos.

Bem, A Palavra de Deus atrela a Divina escolha a predicados, não, a sujeitos. “Os Meus Olhos buscarão os fiéis da terra, para que se assentem Comigo; o que anda num caminho reto, esse Me servirá.” Sal 101;6 Embora o chamado seja expansivo, inclusivo, a escolha será seletiva.

Malgrado, a salvação não derive das obras, capacita aos salvos para as desejadas pelo Senhor. “Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus Preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10

Alguns podem impor suas preferências à inteligência, se dando a raciocínios circulares; porém, os retos não o são porque eram eleitos; antes, foram eleitos porque, chamados por Cristo e desafiados à retidão, escolheram obedecer. “Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim...” Mat 11;29

O Feito Redentor de Cristo só incide sobre os obedientes; “Se andarmos na luz, como Ele na luz Está, temos comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” I Jo 1;7

Esse “se” deixa patente a possibilidade de escolha, são essas que predicam aos sujeitos que O Senhor Escolherá.

Mesmo que não alcancemos à estatura desejada, ela segue lá, parâmetro excelso, para que jamais nos amoldemos à mediocridade e com ela nos conformemos. Se, podemos ser salvos ficando aquém da Estatura de Cristo, há coisas indispensáveis, qualquer que seja nosso crescimento: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá O Senhor;” Hem 12;14

Edificação requer esforço, perseverança; que as igrejas invistam no ministério do ensino. A falta disso não é apenas um descuido com o crescimento; é um desleixo com a vida; “Meu povo foi destruído, porque lhe faltou conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também te Rejeitarei...” Os 4;6

A santificação que permite ver na dimensão espiritual foi ensinada por Cristo; “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;” Mat 5;8

A Face do Senhor já pode ser vista aqui, nas escolhas que fazemos, para que a vejamos, finalmente, quando acordarmos na eternidade. “Quanto a mim, contemplarei Tua Face na justiça; me satisfarei da Tua semelhança quando acordar.” Sal 17;15

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Livra-nos do mal


“... Com quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Bem conheço tua presunção, a maldade do teu coração, que desceste para ver a peleja. Então disse Davi: Que fiz eu agora? Porventura não há razão para isso?” I Sam 17;28 e 29

Eliabe passando um corretivo no garoto, que fizera algumas perguntas sobre a peleja prestes a se desencadear. Ele “vira” presunção e maldade no coração do jovem, o que, o desenrolar dos fatos se ocupou de mostrar diferente.

Ao se dispor a pelejar contra o gigante Golias no zelo do Senhor, Davi mostrou fidelidade e coragem.

Desde a queda, onde a culpa fora transferida de um para outro, que a facilidade de ver erros no outro e não os encontrar em si, grassa no meio dos seres humanos. Quando oramos, “livra-nos do mal”, normalmente pensamos no que os outros nos possam fazer. O homem prudente deve buscar livramento contra o mal que ele pode fazer; aprender justiça, isonomia, empatia, são coisas úteis nesse caso. Não há melhor fonte que A Palavra de Deus: “Com minha alma te desejei de noite, com o meu espírito, que está dentro de mim, madrugarei a buscar-te; porque, havendo Teus Juízos na terra, os moradores do mundo aprendem justiça.” Is 26;9

Ao homem foi dada a mordomia da própria alma; ele descuida disso, enquanto, tenta usar suas “habilidades administrativas” para cuidar de outros. “... cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.” Rom 14;12 Não que não haja maldade nos outros, mas a que me diz respeito tenta florescer em mim. Além de não regar, se possível, devo erradicar.

Os que se “intrometem” nas vidas alheias, mediante ensino da Palavra do Senhor, são apenas instrumentos Dele, visando a edificação. “Ele mesmo deu uns para apóstolos, outros para profetas, evangelistas, pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus...” Ef 4;11 a 13

Então, aquele embate se arrastava por quarenta dias já, sem que nenhum soldado de Saul ousasse duelar contra o gigante. “Porventura não há razão para isso?” Perguntou Davi. Sendo Eliabe o primogênito, posar de covarde diante do irmão mais novo, certamente o incomodava. Invés de lidar com seus próprios incômodos, porém, preferiu colar alguns rótulos; presunçoso, maldoso!

O Agir Divino geralmente se dá assim: Deixa que se esgotem as possibilidades humanas, para que fique patente que foi O Eterno Quem Operou. Na iminência da morte de Lázaro, O Salvador esperou quatro dias, antes de “despertá-lo”.

Quando chamou Gideão, ante mais de trinta mil homens, mandou que fossem para casa os tímidos e covardes; alguns milhares de soldados a menos. Depois, os provou junto às águas e escolheu apenas trezentos, contra um exército inumerável de midianitas.

Se Deus desse a vitória com um exército razoável, ainda que muito menor que o adversário, eles folgariam em suas presunções e usurpariam a glória para si.

A presunção e a maldade geralmente habitam sítios diversos, do que pensara, Eliabe. O zelo e a ousadia de Davi eram já frutos do Espírito de Deus a impulsioná-lo na direção da Divina Vontade.

Assim, tomar um garoto, armado com uma funda apenas, contra um campeão de estatura gigantesca, era uma desproporcionalidade tal, que, em caso de vitória ficaria evidente a Mão do Senhor; como ficou.

Por isso lemos sobre essa “lógica” Divina: “Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; Escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; Escolheu as coisas vis deste mundo, as desprezíveis, as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante Ele.” I Cor 1;27 a 29

Isso era o que mais incomodava ao “filósofo” Nietzsche; invés dos sábios segundo o mundo, os pensadores como ele, Deus usava aos “fracos e falhados” como disse em seu livro, “O Anticristo”.

Eliabe vira presunção e maldade, onde O Espírito Santo atuava; a Ação de Deus escapa aos olhos míopes do homem caído. “Senhor, a tua mão está exaltada, mas nem por isso a veem...” Is 26;11 Pois, na dimensão espiritual, não contam córneas, retinas... “A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, a prova das coisas que se não veem.” Heb 11;1

Todos temos que tratar com certo gigante; a incredulidade. Crer não se trata duma escolha seletiva que concorda com as coisas boas que Deus disse. Essas mostram habilidades do Médico; as más a nosso respeito são Seu diagnóstico. Ninguém será curado sem antes admitir que está enfermo. “... Não necessitam de médico os sãos, mas, os doentes.” Mat 9;12

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

A morte do Pelé


“A morte não é nada para nós; pois, quando existimos, não existe a morte; e quando existe a morte, não existimos mais.” Epicuro

Segundo o filósofo hedonista, pois, nossa relação com a morte é impossível; pelo menos, com a nossa própria. Embora, possamos ter contato com muitas outras, alheias. 

A exceção, talvez, sejam os poetas; esses ETs que se antecipam à mão do tempo e podem decorar o devir, (ou, seria deir?) como fez Mário Quintana, despedindo-se antecipado, de si e da cidade que amava.

“Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso..."

Depois, com a mesma tinta de inspiração idealizou a morte “desejável”; “A morte deveria ser assim: um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...”

Embora essa indesejável visitante apague velas o tempo todo, eventualmente chama a alguém, cujo impacto é muito maior que costuma ser, nas senhas ordinárias, cotidianas.

O mundo se manifesta contrito, ante a partida do Rei do Futebol, Edson Arantes do Nascimento, o “Pelé.”

As pessoas que atingem a excelência em determinada arte, ou esporte, como ele, de certa forma se tornam duas; a personagem que a excelência forjou, e o ser humano, igual aos demais, que quase nem é visto, diante das nuances espetaculosas com as quais, a fama os reveste.

Pelé, estritamente, “morreu” e 1977 quando parou de jogar. Seus feitos ficaram na história, e seguiu o ser humano, com erros, acertos, virtudes, defeitos... grandes feitos não morrem; transcendem ao sono do autor e permanecem. Mas, o ser humano, Edson, era como nós, frágil, imperfeito, finito, mortal.

Teve seus dilemas familiares, relacionais, como os tem, qualquer pessoa.

Ouvindo relatos de alguns da imprensa esportiva, além dos inevitáveis encômios à trajetória brilhante que ele teve, afloraram muitas lágrimas. Osvaldo Pascoal disse: “Eu pensei que estava preparado para isso, mas não estava.”

Aflições que o atingiram, sua dura convalescença, eram de domínio público. Desconfio que a hora de se preocupar com ele, seus amigos, familiares, seria então; embora viver 82 anos atualmente, é um privilégio de poucos. Não deveria causar espanto nenhum, ser o trigo ceifado maduro.

De qualquer forma, na visão cristã não acredito que deva me preparar para a morte de ninguém, exceto, a minha. Será essa, que, quando a hora vier me guindará ao além, onde as escolhas feitas aqui, finalmente, frutificarão.

O ser humano é capaz de trair a si mesmo jurando fidelidade. Chorar pelos próprios medos, transferindo as causas para outros.

O discurso da morte possui uma eloquência única; ouvindo o tal, cada um é desafiado a repensar a própria vida. Isso é de importância imensa; Salomão chegou a considerar um funeral mais proveitoso do que uma festa. “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens; os vivos o aplicam ao seu coração.” Ecl 7;2

Embora, para efeito de “notícias do além” só “retornam” os famosos, (temos cartas “psicografadas” de Dercy Gonçalves, Raul Seixas, Cazuza, Cássia Eller, Getúlio Vargas etc. nenhuma de gente comum) para lá todo iremos, famosos e anônimos.

Benjamin Franklin dizia que devemos consertar o telhado quando o sol está brilhando, não, quando chove. Assim, convém nos prepararmos para o que será no porvir, enquanto desfrutamos vida e capacidade de escolha aqui. “Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, (de Deus) não endureçais os vossos corações, como na provocação.” Heb 3;15

Quando parte um famoso, como o Pelé, a imprensa repete à exaustão seus maiores feitos; mas, do outro lado, serão os feitos do Edson que contarão.

Igualmente nós; não nossos dons, mas os frutos produzidos serão apreciados. Pouco importa o que fizermos na esfera das realizações humanas.

Os melhores momentos de um que agrada a Deus, invés de levantarem à torcida, podem abaixar nossas cabeças, em sinal de arrependimento, confissão; quiçá, estaremos de joelhos dobrados orando por quem nos fez mal, quando os anjos assistirem ao “jornal” de lá, a mencionar nossa passagem.

Minha solidariedade aos familiares e amigos do Edson, e o desejo que Deus os conforte nessa hora, sempre difícil, da separação. No que tange a ele, sincera esperança de que tenha reconciliado com Deus antes de partir, e possa conhecer bem de perto e mui venturoso, ao Rei dos Reis, Jesus Cristo.

Se ele fez isso, acredito que tenha feito, fez um gol de placa, que a eternidade há de lembrar.

O que me trai


“A mão do que Me trai está Comigo à mesa.” Luc 22;21

Embora a traição aconteça em consórcio com o tempo, sua essência verte bem antes da ação. Pois, tendo o coração maquinado e aceito à mesma, ela já se deu, de certa forma.

Tiago apresenta o pecado ainda no “útero”. Eventual arrependimento poderia abortá-lo em tempo; senão, nasce e mata. “... havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; (à luz da consciência, entendimento) e o pecado sendo consumado, (praticado) gera a morte.” Tg 1;14

Judas ainda consumaria o que estava disposto a fazer e tinha acordado já; no entanto, O Salvador não disse: O que me trairá, está comigo, à mesa; antes, o que me trai; pois, a resolução do coração já coloca em andamento, o que, o teatro das atitudes descortinará.

Por isso, o conselho para que sejamos zelosos aí; “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” Prov 4;23

Embora o arrependimento costume apontar para trás, a própria estrutura da palavra sugere um pendor retroativo, no caso de acalentarmos desejos pecaminosos ainda não consumados, bem podemos nos “arrepender do futuro.” Digo, repensarmos o que pretendíamos fazer.

Uma má atitude aceita no íntimo é uma tentação transando com a concupiscência, para que engravidemos do pecado. Quem possui consciência regenerada no Espírito, sempre ouvirá uma “segunda opinião”, a voz do Espírito Santo que deixará claro o que Deus aprova, e o que não. “Teus ouvidos ouvirão a palavra do que está por detrás de ti, dizendo: Este é o caminho, andai nele, sem vos desviardes para a direita nem para a esquerda.” Is 30;21

Esse tipo de voz se escuta no silêncio; quando ousamos incursionar ao íntimo, onde as coisas são mensuradas por valores eternos, não por interesses efêmeros, rasos.

A Voz de Deus nos é apresentada como espantosa, no prisma do Seu Poder; “A voz do Senhor é poderosa; a voz do Senhor é cheia de majestade. A voz do Senhor quebra os cedros; sim, o Senhor quebra os cedros do Líbano. Ele os faz saltar como um bezerro; ao Líbano e Siriom, como filhotes de bois selvagens. A voz do Senhor separa labaredas do fogo...” Sal 29;4 a 7 Que tremam e temam, os Seus inimigos!

No entanto, com Seus Filhos Deus fala com amor; Seu Anelo não é mostrar poder, antes, Seu Cuidado amoroso; e o amor “Não folga com a injustiça, mas com a verdade;” I Cor 13;6

Assim, se nossa inclinação tiver algum parentesco com a injustiça, mentira, a Voz de Deus tentará nos dissuadir disso; nos iluminará sem forçar; a decisão sobre que caminho seguir será sempre nossa. “Se dissermos que temos comunhão com Ele, e andarmos em trevas, mentimos, não praticamos a verdade. Mas, se andarmos na luz, como Ele na luz Está, temos comunhão uns com os outros, e O Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” I Jo 1;6 e 7

Sempre que ousamos numa direção oposta ao Divino aponte, cometemos uma apropriação indébita do volante, (foi sugestão do inimigo que a direção seria nossa) contrário ao que nos foi dado mediante Jeremias: “Eu sei, ó Senhor, que não é do homem seu caminho; nem do homem que caminha o dirigir seus passos.” Jr 10;23

Embora a inclinação natural sempre se oponha ao Santo, “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à Lei de Deus, nem pode ser.” Rom 8;7 aos que recebem a Cristo, é dada outra, sobrenatural; “A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome;” Jo 1;12

Por isso, a necessidade do “Novo Nascimento”, para poder ver e entrar no Reino; “... aquele que não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus... aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus.” Jo 3;3 e 5

Notemos que, um renascido “pode” entrar; não significa que entrará necessariamente. Ainda concorrerá com sua salvação a inclinação natural, aquela avessa ao Santo, que deve ser mortificada na cruz; pois, agora, terá a Voz do Espírito consigo, tanto a advertir antes de pecar, quanto, iluminar para arrependimento, após eventuais falhas.

Traição é coisa de chegados, parentes, amigos. Os inimigos são fiéis, sempre nos querem mal.

Cada renascido pode dizer: “A mão do que me trai está comigo, à mesa.” Nossa natureza perversa nos trairá sempre que lhe dermos ouvidos, sonegando à Voz do Espírito.

“Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Rom 8;1