sábado, 6 de março de 2021

Deus aparece


“Disse Deus: Façamos o homem à Nossa Imagem, conforme Nossa Semelhança...” Gen 1;26

“... Os meus deuses, que eu fiz, me tomastes...” Jz 18;24

Duas situações distintas; Deus planejando fazer o homem e um homem afirmando ter feito deuses.

Um fragmento do Gênesis, onde O Criador expõe nuances de como deveria ser o homem; Imagem e Semelhança do Divino; no segundo, um pleito de Mica contra a tribo de Dã, pela posse de certas imagens que ele chamava deuses.

Quando se diz que o homem criado era à Imagem Divina, entenda-se primeiramente que Deus É Espírito; a semelhança é espiritual. As formas que pareceu bem ao Criador moldar do barro são Sua Arte.

Se O Senhor, ou mesmo Seus anjos apareceram em formas humanas, não significa que isso abarca a Plenitude do Seu Ser; apenas que, por razões da Sua Sabedoria decidiu mostrar-se assim.

Há um dito consagrado que a necessidade é mãe das invenções. Ninguém empreenderia a criação de algo, do qual não sentisse nenhuma necessidade. Seria perda de tempo, esforço vão.

Assim, os homens que forjam deuses, de certo modo confessam sua alienação de Deus e consequente vazio espiritual, a clamar por complemento.

O homem que forja deuses os faz segundo sua imaginação. Devaneia com o que desconhece; em cima desses devaneios plasma algo palpável, um ídolo.

Seu autoengano atribui essência à forma; como se, algo bem torneado, acabado teria algum poder por isso.

Isaías denuncia um que faz fogo com parte de uma árvore, e da outra faz um deus para sua devoção. Tão cinza quanto a parte que se queimou é essa diante da qual ele se prostra. “Nenhum deles cai em si, já não têm conhecimento nem entendimento para dizer: Metade queimei no fogo, cozi pão sobre as suas brasas, assei sobre elas carne, e comi; faria eu do resto uma abominação? Ajoelhar-me-ei ao que saiu de uma árvore? Apascenta-se de cinza; seu coração enganado o desviou...” Is 44;19 e 20

“Apascenta-se;” isto é; se faz pastor de si mesmo segundo o próprio coração. Como, o si mesmo no comando foi uma invenção do canhoto, todo o idólatra, direta ou indiretamente é um seguidor dele.

Não forçou barra nenhuma, Paulo, quando disse que os que ofertam sacrifícios às imagens o fazem aos demônios. “Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios.” I Cor 10;19 e 20

Por isso, o primeiro passo rumo ao Único Pastor, Jesus Cristo, demanda a ruptura com esse intruso; “Negue a si mesmo!” De todos os ídolos esse é o pior. O homem cheio de si é intratável até entre outros pecadores; que dizer, diante de Deus?

Nós, pela constituição física sempre lidamos melhor com o imanente que com o transcendente; uma pretensa compreensão das coisas visíveis, sem entender as que não são assim.

Mesmo diante do Salvador, o apelo por Deus era antes, visual, que espiritual; daí o dito de Filipe: “Mostra-nos O Pai”. “Não me conheces, Filipe? Eu e O Pai Somos Um.”

O nascer de novo proposto a Nicodemos; invés de entender espiritualmente ele cogitou biologicamente; em seu lugar faríamos o mesmo.

Se Cristo e O Pai São UM, Olhando para Ele vemos Nele também O Pai; “... o resplendor da Sua Glória, Expressa Imagem da Sua Pessoa...” Heb 1;3 

Então, o desafio aos que sentem necessidade de Deus é que abandonem a inócua confiança em si, e se deixem em Cristo, regenerar;
Ele foi categórico; “Sem mim, nada podeis fazer.”

Nele, com Ele, somos ensinados à renúncia das inclinações particulares em prol da Vontade do Pai; invés de contemplarmos Deus de uma forma visível, nossa atuação Nele fará visível a outros, que Ele está em nós; “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai, que está nos Céus.” Mat 5;16

Davi no salmo 19 patenteou que “via” Deus nas obras da criação; um pouco antes, no 17 dissera que esperava contemplar a Face Divina nos valores que Ele esposa, nos quais desejava assemelhar-se, não em algo visível. “Quanto a mim, contemplarei Tua Face na justiça; me satisfarei da Tua semelhança quando acordar.” Sal 17;15

“Os limpos de coração verão a Deus”
, porque essa limpeza que O Espírito Santo Obra, a santificação, remove escamas, acende os olhos da fé; “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá O Senhor;” Heb 12;14

Queres ver Deus? Deixe Ele regenerá-lo à Sua Imagem e O verás bem de perto.

sexta-feira, 5 de março de 2021

O homem interior é capital


“Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo...” Ef 3;14

Paulo escrevendo aos efésios afirmou orar por eles; adiante anexou o motivo das orações; “Para que, segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior;” v 16

Corroborados com poder; ou, confirmados num viver vitorioso segundo Seu propósito. Diferente de muito do que grassa no “cristianismo” atual, ele se punha de joelhos pelas borboletas, não pelo casulo. Pelo fortalecimento do “homem interior” (espiritual) não pelos cuidados materiais como tanto se ensina.

Noutra parte foi mais explícito na distinção, entre o que é eterno, precioso e o temporal, corruptível; disse: “Por isso não desfalecemos; ainda que nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” II Cor 4;16 “Temos, porém este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, não nossa.” II Cor 4;7

Formas alternativas de reiterar o que O Senhor dissera; que O Reino de Deus e Sua Justiça devem ser prioritários, não as coisas temporais.

A fraude da idolatria encontrável ao longo de toda a saga humana, nada mais é que um clamor por Deus do homem interior que está morto, (separado); o homem natural auto engana-se com criação de imagens e ritos, como se, fome espiritual se pudesse saciar com meios naturais.

Por isso, os que recebem a adoção mediante Cristo, como primeira dádiva fruem poder, não para fazer milagres; mas, para receber o milagre da regeneração; sendo feitos então, filhos. “A todos quantos O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no Seu Nome; os quais não nasceram do sangue, da carne, nem do homem, mas de Deus.” Jo 1;12 e 13

Se, o ajoelhar-se em oração de Paulo pedia pelo fortalecimento do homem interior, a graça de Cristo propiciou o “Novo Nascimento” ou, o surgimento desse homem.

Em dado momento Pedro tipificou os salvos como “pedras vivas”; noutro admoestou-os como meninos; “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo;” I Ped 2;2

O homem natural, aquele que se corrompe deve ser mortificado, crucificado. Cristo que, em dias ulteriores tomaria literalmente Sua cruz desafiou quem lhe ouvia a algo semelhante, figurado; “... tomai sobre vós o Meu jugo...

Escrevendo aos Coríntios Paulo detalhou como se processava consigo isso de estar sob jugo; “Todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira ficar reprovado.” I Cor 9;25 a 27

Sendo a cruz do Senhor literal, levou-o à morte em nosso lugar; a nossa por ser mera figura das renúncias necessárias, demanda um sacrifício que não morre, mortifica-se; “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Rom 12;1

Todo o salvo deveria evidenciar como Paulo essa sina de parede e meia entre morte e vida; “Já estou crucificado com Cristo e vivo...” Gál 2;20 

A ideia é que o homem natural não arbitra mais; seus desejos doentios já não comandam nosso viver; antes, O Espírito Santo nos instrui, fortalecendo e disciplinado mediante o homem interior.

O Apóstolo pontuou que orava de joelhos; havia e ainda há quem o faça prostrado, em pé, assentado, deitado até... A Palavra é omissa sobre a posição ideal para isso;

porém, é explícita quanto a um teor virtuoso; “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para gastardes em vossos deleites.” Tg 4;3

Um modo de buscar que seja profundo, veraz; “Buscar-me-eis e achareis, quando me buscardes com todo vosso coração.” Jr 29;13

Afinal, “... verdadeiros adoradores adorarão O Pai em espírito e verdade; porque O Pai procura tais que assim O adorem. Deus é Espírito; importa que os que O adoram o façam em espírito e verdade.” Jo 4;23 e 24

Se, os alienados da vida tentam saciar a alma com simulacros, imagens, como vimos, os regenerados em Cristo são por Ele moldados paulatinamente até serem feitos outra vez, Imagens de Deus.

Sendo a única adoração aceitável ao Santo em Espírito e verdade ainda falta o homem interior, naqueles que enfileiram-se pelas ruas, atrás dos moldes materiais da mentira.

“... nada sabem os que conduzem em procissão suas imagens de escultura, feitas de madeira; rogam a um deus que não pode salvar.” Is 45;20

domingo, 28 de fevereiro de 2021

A Liberdade Possível


“... Se vós permanecerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Jo 8;31 e 32

Valores caros; o conhecimento de uma é posto como patrocinador do usufruto da outra. Conhecer à verdade para, por ela, ser livre.

Algumas coisas são necessárias nessa dualidade em que eferve o mundo; luz e trevas, vida e morte, verdade e mentira. Se, prefiro o calor, naturalmente tenho algumas objeções ao frio; tendo afinidade maior com a luz, por certo trago algumas restrições às trevas; se, a verdade liberta, necessária a conclusão que é a mentira que aprisiona.

Embora alguns advoguem que o conhecimento em si nos faz livres, isso é só meia verdade. Liberta da ignorância intelectual; contudo, há outro viés, sabedoria, que demanda o concurso da vontade humana alinhada à Divina; isso só Cristo propicia.

Um gênio da física como Stephen Howkins por exemplo, era ateu; vemos que, mesmo sua mente tendo galgado alturas, sua alma seguia em trevas; Foi ele que disse: “A fé é um brinquedo de crianças com medo do escuro.” Ao que, certo pregador respondeu: “O ateísmo é um brinquedo de adultos com medo da luz.”

Oportuno lembrar Platão: “É natural as crianças terem medo do escuro; trágico é quando os adultos têm medo da luz.”

Paulo fez a necessária distinção entre o conhecimento, a sabedoria do mundo, e a Sabedoria, por excelência: “Mas falamos a Sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da Glória.” I Cor 2;7 e 8

Se, para conhecermos à verdade devemos permanecer na Palavra de Cristo, Ele desafiou: “Negue a si mesmo”; a primeira nuance da verdade que assoma é que o ego, o si mesmo autônomo é uma fraude, uma mentira; não tem espaço nos domínios da verdade.

Foi a serpente no Éden quem disse que os humanos não precisavam seguir à Vontade Divina; poderiam eleger valores como bem e mal, por si mesmos; seriam como Deus.

Cristo veio desfazer também a essa obra do Diabo; a liberdade que esse conhecimento enseja nos coloca de novo, submissos, “... tome a cada dia sua cruz ...”; então, o vulgo fazer o que quiser, que alguns equacionam com liberdade não é bem assim. 

Parece que a liberdade possível, desejável, é cada ser, funcionar segundo o propósito para o qual foi criado. Não mais.

A liberdade proposta visa nos separar do jeito mundano de pensar e agir, para volvermos, à Boa Vontade Divina; “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável e perfeita Vontade de Deus.” Rom 12;2

Dado que somos arbitrários, todos podemos fazer o que quisermos. “Anda pela vista dos teus olhos...” Por quê os pleitos por liberdade ainda? 

Porque, no fundo, as pessoas não apenas querem fazer o que der na telha, como também, que tais feitos sejam inconsequentes; não é assim. “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; tudo o que o homem semear, isso ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará vida eterna.” Gál 6;7 e 8

O conhecimento pode ensejar ateus letrados; a Sabedoria necessariamente reconduz a Deus como disse Blaise Pascal: “Um pouco de ciência afasta ao homem de Deus; um muito, aproxima.”

Se, Paulo diferira uma sabedoria e outra, como vimos, também o fez em relação à ciência; “Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado, tendo horror aos clamores vãos e profanos, oposições da falsamente chamada ciência, a qual, professando-a alguns, se desviaram da fé...” I Tim 6;20 e 21

Uma “ciência” que desvia da fé, necessariamente se opõe a Deus; “Não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho contra O Senhor.” Prov 21;30

Fomos criados para “funcionar” segundo Deus e Sua Vontade; sempre que nosso agir destoa Daquela, nossa consciência acende uma luzinha vermelha denunciando que um naco da liberdade original se perdeu.

Por isso, a Liberdade que Cristo oferece, primeiro purifica, apaga nossa “lousa” cheia de impropérios; depois capacita a uma escrita seletiva, segundo O Criador; “...o Sangue de Cristo, que pelo Espírito Eterno ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo...”

Então, quando Paulo afirma que os salvos têm a “Mente de Cristo”, supõe que aqueles permanecem na Palavra Dele.

O Pai de mentira esboça “reinicializar o mundo” agora livre de Deus, dos “discursos do ódio”. Sabem os que conhecem a verdade, o que subjaz a essa camuflagem “amorosa”; escravidão sob jugo do erro.

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Memórias do Cárcere


“Então falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Das minhas ofensas me lembro hoje” Gn 41;9

Havia uma crise na corte; Faraó sonhara algo que o estava inquietando pela interpretação; “sábio” nenhum conseguia.

Então, o copeiro-mor que estivera preso junto com José, o jovem hebreu que interpretara dois sonhos, dele e do padeiro que, segundo a mesma interpretação acabou enforcado, lembrou-se disso. José pedira a ele que falasse benignamente a seu favor, uma vez livre; pois, estava preso inocente.

Por isso, invés de lembrar de uma solução ao dilema real, estritamente, disse ao lembrar de José que se lembrava das suas ofensas. Bons tempos aqueles onde prometer algo e não cumprir era equacionado como ofensa, à honra, ao caráter, ou mesmo, a uma divindade interessada em idoneidade.

O lado bom das nossas crises, certamente é esse exame de consciência, onde, vidas fúteis de quando vai tudo bem, cogitam nas razões pelas quais as coisas passam a ir mal. Não raro, o sítio arqueológico da memória costuma expor ossos pretéritos que, devidamente ajuntados moldam o arcabouço de pendências espirituais.

Como disse certo poeta: “Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais.”

No salmo 50 O Senhor denunciou um que, precisava duma “crise” uma vez que estava seguro no erro; “Que fazes tu em recitar Meus Estatutos e tomar Minha Aliança na tua boca? Visto que odeias a correção, lanças Minhas Palavras para detrás de ti. Quando vês o ladrão, consentes com ele, tens a tua parte com adúlteros. Soltas tua boca para o mal; a tua língua compõe engano. Assentas-te a falar contra teu irmão; falas mal contra o filho de tua mãe. Estas coisas tens feito, e calei; pensavas que era tal como tu, mas te arguirei, as porei por ordem diante dos teus olhos.” Sal 50;16 a 21

Pedro enfrentou sua crise também; bravateara que iria à morte com Cristo, se necessário; O Senhor asseverou que antes que o galo cantasse ele o negaria três vezes. Então, quando o penoso trinou após a terceira manquitolada dele, presto a memória acordou; e entristecido “chorou amargamente”.

Temos “acessórios” à memória. Por isso O Senhor ordenou a Ceia; “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha.” I Cor 11;26

Periodicamente sofremos uma “crise” forçada, onde somos instados a discernir o “Corpo do Senhor” numa autoanálise.

Podemos usar máscaras convenientes fingindo sofrer de Alzheimer espiritual; mas, seria uma maneira de trairmos a nós mesmos.

Toda a vez que A Palavra de Deus é pregada retamente, devemos perguntar como Pilatos: “Que farei de Jesus chamado O Cristo?” A mensagem idônea evoca nossos maus passos pretéritos desafiando-nos a lidarmos com isso segundo os termos Divinos.

Se lembrar, no caso do Copeiro ensejava recordar de um preso inocente, no nosso caso, é forçoso que lembremos que Um Inocente morreu por nossas ofensas. Se algo tão grave assim não bastar para nos levar ao arrependimento, nada bastará; somos então, um caso perdido.

José foi guindado do cárcere ao trono; a Inocência de Cristo legada aos que se arrependem também, pega aos que mereciam a morte e exalta-os, com o gracioso dom da vida eterna.

A mensagem evangélica traz crise no império do ego, para que toda a segurança falsa e justiça própria despareçam, ao assomarem as memórias das nossas ofensas.

O sonho do Faraó apontava para dois tempos distintos, sete anos de fartura, outros sete de miséria; na nossa crise vemos a miséria das nossas faltas compensada com a fartura dos celeiros da Graça. “Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de Um muitos serão feitos justos. Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça;” Rom 5;19 e 20

Soando verídica a interpretação de José aos ouvidos do rei, esse boquiaberto disse: “... Acharíamos um homem como este em quem haja O Espírito de Deus?” Gn 41;38

O copeiro esquecera do pedido de “Habeas Corpus” do jovem hebreu, sua postura de retidão e temor a Deus atraíra ao Espírito Santo para ele. A angústia pontual de Faraó serviu como meio de remover a duradoura, de José.

Na sua exaltação ele teve um filho que chamou Manassés, que significa, “Deus faz esquecer”; todavia nas almas dos seus irmãos que o venderam ainda restava algo que Deus faria lembrar. 

O perdão Divino está acessível a todos, mediante arrependimento, não vistas grossas.

Nossas ofensas são tratadas em misericórdia quanto à sentença, em verdade quanto à justiça; pois, “O que encobre suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” Prov 28;13

Amplitude do Caminho


“Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no Reino Eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” II Ped 1;11

Ampla a entrada, isso parece contradizer um ensino do Senhor, de que, estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida. São contextos distintos, porém. Nem sempre uma contradição verbal é uma contradição real.

O Salvador falava em público lançando sementes sobre todos os tipos de solo, acentuando a coisa indispensável para salvação: “Negue a si mesmo...” Um estreitamento difícil demais, ao homem natural. Pedro escrevia aos salvos, “... aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa...” Cap 1;1

Não acenou com uma entrada ampla a quem estivesse na igreja, simplesmente; antes, a quem desenvolvesse as qualidades esperáveis em Cristo; fé, virtude, ciência, temperança, paciência, piedade, amor fraternal, caridade.

“Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois, aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados.” Vs 8 e 9

A purificação dos pecados visa que, não somente deixemos o modo de viver de antes, mas que desenvolvamos, doravante, outro, segundo O Mestre. Ele “Limpa” as varas da videira, para que frutifiquem.

Assim, se O Salvador pontuou de quê, separar-se para pertencer-lhe, o ego; Pedro enfatizou quais caminhos seguir para imitar a Cristo.

O que “patrocina” a existência de mártires, mesmo em nossos dias, senão, a força de um fé tão robusta que, nem mesmo a ameaça de morte pode tolher?

Os que logram tal proeza já estão, pelo hábito, no caminho amplo; exercitaram-se no carregar a cruz de tal modo, que desenvolveram uma fibra espiritual que transcende às ameaças possíveis “debaixo do sol”, uma vez que têm sua “despensa” acima disso; “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.” Col 3;1

A limitação das coisas na esfera dessa vida, como disse Paulo, atesta nossa pobreza; falta dos bens eternos; “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19

A abordagem inicial aos pecadores é para que “morram”, mortifiquem más inclinações, neguem-se; a exortação aos salvos fala com os que já “voltaram da morte” redivivos em Cristo, com Sua Mente; “... já ressuscitastes com Cristo...” Esses já fazem parte dum Reino que, por agora, não é desse mundo.

Invés de calcularem os riscos de deixar seus prazeres diletos ousando andar no caminho apertado, podem como Paulo falar de modo vitorioso; “Porque para mim viver é Cristo, e morrer é ganho.” Fp 1;21

Esse estágio não é uma conquista imediata! A maturidade espiritual demanda alimentar-se de Deus e Sua Palavra; como o ditoso do Salmo primeiro que, não apenas separa-se das más companhias, conselhos, influências, mas “na Sua Lei medita de dia e de noite...” Muitos ouvem-na com preguiça tolhendo a si mesmos do desejável crescimento; “Devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os primeiros rudimentos das Palavras de Deus; vos haveis feito tais que necessitais de leite, não de sólido mantimento.” Heb 5;12

Essa triste conclusão, “vos haveis feito tais...” é uma denúncia de que eles não buscaram as virtudes aquelas, arroladas por Pedro. Se mostraram “ociosos e estéreis”.

De certo modo se fizeram resultado do que não fizeram; como disse alguém: “Primeiro você faz escolhas; depois, as escolhas fazem você.”

Para muitos o Reino dos Céus é mero devaneio terreno, algo pelo qual se atrevem alguns passos enquanto as coisas “derem certo”; ora, se o ingresso é “negue-se”, as aspirações meramente humanas naturais devem dar muito erradas, se queremos Salvação. “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, pode ser.” Rom 8;7

Como bem disse Watchmann Nee, “Há muitos ensinando a viver melhor, quando deveriam ensinar a morrer melhor.”

Nossa cruz deve ser tomada todos os dias, pois, nossa morte não é de uma vez por todas como foi a do Senhor; somos desafiados a mortificar as más inclinações. As virtudes aquelas alistadas por Pedro devem permear nossa caminhada, se, de fato ressuscitamos com Cristo.

Assim como as águas paradas que se corrompem, um convertido ocioso, estéril na seara do Senhor. Como beber da Água da Vida fazendo-se fonte corrupta?

A menos que saibamos como esconder uma cidade edificada sobre um monte, Cristo em nós há de fulgir, de modo que todos vejam; “Resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos Céus.” Mat 5;16

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Almas cegas


“Sobrevieram porém, uns judeus...” Atos 14;19

Paulo e Barnabé em Listra, depararam com um homem coxo que, pela intervenção de Paulo foi curado; o supersticioso povo da região, adoradores de deuses pagãos como Mercúrio e Júpiter, queriam oferecer sacrifícios em honra aos apóstolos, pois, segundo pensavam, os deuses de seu credo se tinham feito humanos e passeavam entre eles.

Com muito esforço Paulo conseguiu dissuadi-los, demonstrando que eles também eram meros homens; que o milagre operado se devia ao Senhor Jesus.

Enfim, aos poucos as coisas estavam indo aos seus lugares, até que chegaram os judeus.

Que esses eram invejosos seguindo os passos de Paulo com maus intentos sabemos; mas, o fato novo naquele cenário é a mudança brusca daquele povo.

Se, ante um milagre estrepitoso queriam honrar a Paulo e Barnabé como se, dois deuses, ouvindo meia dúzia de falas dos judeus perseguidores, os mesmos que estavam dispostos a oferecer honrarias e sacrifícios viraram algozes. “Sobrevieram, porém, uns judeus de Antioquia e de Icônio que, tendo convencido a multidão, apedrejaram Paulo e o arrastaram para fora da cidade, pensando que estava morto.”

Triste sina! Entre estranhos, foram bem recebidos, quase honrados, exaltados; não o foram por não permitir, sabendo-se indignos de honrarias que pertencem ao Senhor. Todavia, entre os irmãos de sangue, Paulo encontrara oposição tão violenta que só o deixaram por pensarem que estava morto.

Ecos de sentenças do Senhor, que um profeta não é bem-vindo na sua terra; ou, que os inimigos do homem serão os da sua própria casa.

Normalmente uma mãe aconselha uma série de cuidados quando alguém sai peregrinar entre estranhos; mas não poucas vezes o perigo está dentro de casa, mais que nos desconhecidos.

Foi o irmão de Abel que o matou; os irmãos de José que o venderam; Adonias, irmão de Salomão lhe quis usurpar o reino; os irmãos de Jesus O quiseram prender dizendo que Ele estava fora da casinha; “Quando os seus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si.” Mc 3;21

Vistos esses exemplos e outros tantos que há, talvez se deva aconselhar cuidado quando alguém volta para casa, mais do que, quando sai às ruas. Como disse Voltaire: “Deus me livre dos meus amigos, que dos inimigos eu me cuido.”

A inveja, essa doença da alma costuma pegar em alvos bem de perto, dada sua natureza; sua origem latina invidia, de “invidere” traz a ideia de algo que outrem não quer ver, recusa-se a isso; seja um talento, um bem, uma posição.

Ora, só pode não querer ver algo que possuímos, um que está próximo, em condições de ver; embora até possamos invejar gente distante que ocupa lugares altos, é quando algum de perto é elevado que somos mais fortemente tentados à inveja.

Se voltarmos ao incidente acima veremos que Barnabé nada sofreu; era com Paulo expressamente, a bronca dos invejosos.

O homem que ama à justiça o faz em todo o tempo, mesmo quando, eventualmente essa se volta contra ele; o invejoso acha “injusto” determinados bens não serem dele;
sentencia seu alvo e sai em busca de um “crime”; na verdade um pretexto, para fazer parecer que sua inveja traja roupas limpas; mas, ele sabe que não é assim, como sabiam também os algozes do Senhor e o próprio Pilatos. “Porque ele bem sabia que por inveja os principais dos sacerdotes o tinham entregado.” Mc 15;10

Quem nasce de novo mediante Cristo é liberto desses males todos, caso viva a Doutrina do Senhor; de um antigo horizonte embaçado, onde sequer conseguia ver o que estava perto, agora é guindado à dimensão da fé, onde consegue “ver” mesmo o que está distante. “A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam; a prova das coisas que se não veem.” Heb 11;1

Aqueles pararam de apedrejar quando pensaram que Paulo morrera; Deus guardou Seu servo ainda vivo, debaixo dos olhos dos que, cegados pela inveja e pelo ódio nem conseguiam ver.

Cegar é o trabalho do pai dos invejosos; “... o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da Glória de Cristo, que é a Imagem de Deus.” II Cor 4;4

Porém, os feitos do Pai, em sempre são apreciados apenas pelos invejosos; alguns de boa índole vendo-os aprendem temer; descobrem quão confiável Ele É.

Vendo-nos receber o que não merecemos entendem a Graça; por ela são atraídos também; “Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs meus pés sobre uma rocha, firmou meus passos. Pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, temerão e confiarão no Senhor.” Sal 40;2 e 3

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

"Palmas pra Jesus"


“O caminho para a vida é daquele que guarda a instrução; mas, o que deixa a repreensão comete erro.” Pv 10;17

O paralelismo sinonímico da poesia hebraica aqui coloca instrução e repreensão lado a lado, fundindo conhecimento e educação como duas faces de uma mesma moeda.

Bons tempos aqueles em que os pedagogos tinham autoridade como de um pai ou mãe, para repreender aprendizes, quando oportuno. Hoje, o que podem é dividir conhecimento em ambientes às vezes hostis, de filhos mal-educados que desafiam seus mestres, pois se sentem seguros, protegidos pela lei. Restos mortais do método Paulo Freire. Não são discípulos, são “oprimidos”. Se soubessem quanto a ignorância é opressora, nesse escopo a coisa faria sentido.

Pois, a brandura “civilizada” dos mestres atingiu também aos mensageiros do Evangelho que, em sua maioria, laboram com fim de trazer satisfação à plateia, para que as pessoas satisfeitas, com as doses usuais de drogas religiosas, aplaudam “a Jesus”.

O hábito de aplaudir remonta ao teatro grego da antiguidade, onde, as pessoas evocavam aos deuses das artes para que esses ajudassem aos atores em seus desempenhos. Hoje, significa aprovação de uma atuação, concordância com um postulado qualquer, identificação; ou ainda, incentivo.

É comum em cultos atuais, o “animador” evocar as “palmas pra Jesus”; ou, durante uma mensagem as pessoas aplaudirem um tirada qualquer do pregador. 

Não estou preocupado com o hábito de aplaudir na igreja, que, de per si, não infrói nem diminói; mas, constatando um viés preocupante no prisma da sã doutrina, subjacente à essa “civilização” dos mensageiros.

Joseph Aleine, é citado no livro os puritanos e a conversão, pois durante um sermão dominical teria dito, à sua plateia londrina: “Não porei em meu anzol a isca da retórica; pois, não estou pescando o vosso aplauso; se fosse isso, eu cantaria outra canção; minha missão é compungi-los para a salvação, não agradá-los; e se eu falhar estareis perdidos; sem conversão não há salvação”.

Que diferença entre uma abordagem sóbria e veraz assim, e os pregadores da mídia atual! A maioria parece fazer seus cursinhos sobre “como fazer amigos e influenciar pessoas” antes de se aprofundar na Fonte da Água da Vida, para, servindo dela, levar os pecadores a Cristo.

Essa mentalidade empresarial que invadiu domínios antes da verdade, agora dita regras mercantis em busca da quantidade, alheias à qualidade. Pouco importa se são bodes ou ovelhas, desde que os templos se encham.

Jesus deve ter “melhorado” muito com a civilização; pois, em Seus dias, o máximo que conseguiu foi aquecer uns corações oportunistas que o receberam em triunfo pensando que viera a Jerusalém para derrotar os romanos, reinar e multiplicar pães e peixes aos Seus súditos. Fora desse frissom de auto engano, jamais foi aplaudido. Entretanto, hoje, “Ele” está arrasando.

Parece que tememos mais a ditadura do politicamente correto, que falsear a interpretação das Escrituras. Honramos mais aos homens pecadores e mortais como nós, que a Deus.

Sempre que levantamos pela manhã, o espelho nos dá más notícias; estamos de cara amassada, despenteados; e ele, fiel, nos lança "em rosto", o rosto como está. Isso possibilita que demos uma ajeitada no visual para sairmos à luta de cada dia.

A Palavra de Deus é o espelho da alma; ela deve ser usada com a mesma fidelidade, mostrando os desarranjos interiores, para que os que se deixarem convencer por ela melhorem suas “aparências”, ante O Espírito Santo de Deus.

Mas não queremos incomodar, seríamos tachados de dinossauros espirituais... Nada mais incômodo que um despertador quando o sono tá gostoso; mas, esse “incômodo” salva empregos, relacionamentos, vidas; figura aliás, que Paulo usa em sua pregação: “...Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo te esclarecerá.” Ef 5;14

Nossa tarefa não é produzir satisfação nem gerar aplausos; aliás, quanto mais mal na foto os pecadores ficarem, diante da Palavra, mais chance de ousarem confessar seus erros e abandoná-los.

Deixemos os pecadores sem chão e reduzamos a pó, qualquer pedregulho de segurança carnal e enganosa, mesmo que eles fiquem abalados; porque assim, pode ser que sintam o quanto carecem da graça de Deus, como acontecia no começo da igreja; “Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, homens irmãos?” Atos 2;37 Pois, quem fica assim a perguntar por um rumo, nada tem pra aplaudir.

E, devemos dar a Jesus bem mais que alguns tapas, como ensina o Mesmo Paulo; “...apresenteis vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Rom 12;1

“Os aduladores são como as plantas parasitas que abraçam o tronco e os ramos duma árvore para melhor se aproveitar e consumir.” Marquês de Maricá