sábado, 27 de fevereiro de 2021

Memórias do Cárcere


“Então falou o copeiro-mor a Faraó, dizendo: Das minhas ofensas me lembro hoje” Gn 41;9

Havia uma crise na corte; Faraó sonhara algo que o estava inquietando pela interpretação; “sábio” nenhum conseguia.

Então, o copeiro-mor que estivera preso junto com José, o jovem hebreu que interpretara dois sonhos, dele e do padeiro que, segundo a mesma interpretação acabou enforcado, lembrou-se disso. José pedira a ele que falasse benignamente a seu favor, uma vez livre; pois, estava preso inocente.

Por isso, invés de lembrar de uma solução ao dilema real, estritamente, disse ao lembrar de José que se lembrava das suas ofensas. Bons tempos aqueles onde prometer algo e não cumprir era equacionado como ofensa, à honra, ao caráter, ou mesmo, a uma divindade interessada em idoneidade.

O lado bom das nossas crises, certamente é esse exame de consciência, onde, vidas fúteis de quando vai tudo bem, cogitam nas razões pelas quais as coisas passam a ir mal. Não raro, o sítio arqueológico da memória costuma expor ossos pretéritos que, devidamente ajuntados moldam o arcabouço de pendências espirituais.

Como disse certo poeta: “Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais.”

No salmo 50 O Senhor denunciou um que, precisava duma “crise” uma vez que estava seguro no erro; “Que fazes tu em recitar Meus Estatutos e tomar Minha Aliança na tua boca? Visto que odeias a correção, lanças Minhas Palavras para detrás de ti. Quando vês o ladrão, consentes com ele, tens a tua parte com adúlteros. Soltas tua boca para o mal; a tua língua compõe engano. Assentas-te a falar contra teu irmão; falas mal contra o filho de tua mãe. Estas coisas tens feito, e calei; pensavas que era tal como tu, mas te arguirei, as porei por ordem diante dos teus olhos.” Sal 50;16 a 21

Pedro enfrentou sua crise também; bravateara que iria à morte com Cristo, se necessário; O Senhor asseverou que antes que o galo cantasse ele o negaria três vezes. Então, quando o penoso trinou após a terceira manquitolada dele, presto a memória acordou; e entristecido “chorou amargamente”.

Temos “acessórios” à memória. Por isso O Senhor ordenou a Ceia; “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha.” I Cor 11;26

Periodicamente sofremos uma “crise” forçada, onde somos instados a discernir o “Corpo do Senhor” numa autoanálise.

Podemos usar máscaras convenientes fingindo sofrer de Alzheimer espiritual; mas, seria uma maneira de trairmos a nós mesmos.

Toda a vez que A Palavra de Deus é pregada retamente, devemos perguntar como Pilatos: “Que farei de Jesus chamado O Cristo?” A mensagem idônea evoca nossos maus passos pretéritos desafiando-nos a lidarmos com isso segundo os termos Divinos.

Se lembrar, no caso do Copeiro ensejava recordar de um preso inocente, no nosso caso, é forçoso que lembremos que Um Inocente morreu por nossas ofensas. Se algo tão grave assim não bastar para nos levar ao arrependimento, nada bastará; somos então, um caso perdido.

José foi guindado do cárcere ao trono; a Inocência de Cristo legada aos que se arrependem também, pega aos que mereciam a morte e exalta-os, com o gracioso dom da vida eterna.

A mensagem evangélica traz crise no império do ego, para que toda a segurança falsa e justiça própria despareçam, ao assomarem as memórias das nossas ofensas.

O sonho do Faraó apontava para dois tempos distintos, sete anos de fartura, outros sete de miséria; na nossa crise vemos a miséria das nossas faltas compensada com a fartura dos celeiros da Graça. “Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de Um muitos serão feitos justos. Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça;” Rom 5;19 e 20

Soando verídica a interpretação de José aos ouvidos do rei, esse boquiaberto disse: “... Acharíamos um homem como este em quem haja O Espírito de Deus?” Gn 41;38

O copeiro esquecera do pedido de “Habeas Corpus” do jovem hebreu, sua postura de retidão e temor a Deus atraíra ao Espírito Santo para ele. A angústia pontual de Faraó serviu como meio de remover a duradoura, de José.

Na sua exaltação ele teve um filho que chamou Manassés, que significa, “Deus faz esquecer”; todavia nas almas dos seus irmãos que o venderam ainda restava algo que Deus faria lembrar. 

O perdão Divino está acessível a todos, mediante arrependimento, não vistas grossas.

Nossas ofensas são tratadas em misericórdia quanto à sentença, em verdade quanto à justiça; pois, “O que encobre suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” Prov 28;13

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