sábado, 25 de março de 2017

A Dracma e a luz

“Qual mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma, não acende a candeia, varre a casa, busca com diligência até achar?” Luc 15;8

Lucas registra em sequência três parábolas do Salvador: A ovelha perdida, a dracma perdida, e o Filho perdido, chamado, pródigo. Em comum, três perdas, porém, cada uma com suas peculiaridades.

Ovelha perde-se pelas asperezas do caminho, fragilidade do bicho; dracma, por desleixo da dona de casa, sujeira acumulada; o pródigo, pela independência, arroubos insubmissos da juventude.

A dona da casa da minha salvação é minha própria alma, que, por descuidar de sua mordomia, acostumar com sujeira, acaba se perdendo em ambiente impensável, pois, diverso dos predestinacionistas, somos exortados à perseverança na fé, para certeza de salvação, não herdamos sem participação. Ainda que, seja graça, daí, totalmente alheia ao mérito, vinculada apenas aos Méritos do Salvador, deriva da Soberania Divina, que, possamos escolher entre vida e morte, bênção e maldição.

Deixemos a ovelha, por ora, cotejemos a dracma com o Pródigo. Esse, malgrado sua rebeldia que o instigava a viver à sua maneira, tinha certos pruridos, que o enviaram para longe, para evitar constranger aos seus, se, vissem sua dissolução. A Dracma, contudo, tipifica o hipócrita, que, mesmo estando desviado, no coração, seu anelo pelo aplauso humano é tal, que não se furta à encenação, buscando parecer com um salvo, sabendo, no fundo, que não é.

Estar perdido, espiritualmente, sempre é trágico, quaisquer que sejam as circunstâncias; entretanto, vivendo no ambiente dos salvos, é uma patologia espiritual difícil de entender, explicar.

Quem tem uma consciência viva no Espírito, “varre a casa” todos os dias, e confessando as culpas cotidianas, abandonando-as paulatinamente, vai sendo limpo, a santificação. Na celebração da Ceia do Senhor, somos exortados a uma “varrição” solene, cerimonial antes de agirmos como membros. “Examine o homem a si mesmo, assim, coma do pão; pois, quem come indignamente, o faz para própria perdição, não discernindo O Corpo do Senhor.”

Se, adotamos o erro como modo de vida, de maneira tal, que, nem o exame de consciência diário, nem o cerimonial nos acusam mais, então, malgrado, toda nossa aparência espiritual, estamos mortos, perdidos, dentro da casa.

Uma coisa que o “Novo Nascimento” propicia, necessariamente, é a revitalização da consciência, antes, morta, cauterizada pelo pecado. Falando do Advento do Espírito, O Senhor disse que Ele nos convenceria do pecado, da justiça e do juízo. Ora, esse tríplice convencimento se dá em nossas consciências, que, antes dormiam na rede confortável da impureza, mas, uma vez despertas, cientes do que está em jogo, anseiam ser purificadas, coisa que só O Sangue de Cristo, consegue. “...o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo.” Heb 9;14

Embora sejamos atores comuns no teatro da vida, dentro de nosso ser há um combate espiritual, primeiro, no âmbito do entendimento da Vontade do Pai, depois, na disposição de cada um, ajudado pelo Espírito, passar a agir como pode, como, filho de Deus. “A todos que O receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus.” Jo 1;12

O inimigo atua para escurecer mentes; “...o deus deste século cegou entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” II Cor 4;4 Porém, O Espírito Santo reage em nós, fazendo discernir a Vontade Divina, e instando para que escolhamos obedecê-la; “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, poderosas em Deus para destruição das fortalezas; destruindo conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus; levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo;” II Cor 10;4 e 5

Aqui cai por terra a ideia vulgar que liberdade seja o direito de fazer o que queremos. Não. A libertação propiciada por Cristo nos dá a possibilidade de fazer o que devemos. A diferença é que, antes Dele, nem que eu quisesse agradar a Deus, poderia, pois, estava morto em delitos e pecados. Agora, sou livre, à medida que, desfrutando vida espiritual, e, auxílio do Espírito Santo, posso obedecer, porém, não sou forçado a fazê-lo. Serão compulsórias apenas as consequências, escolhas são livres.

Como saberei, se, como a dracma, estou perdido dentro de casa? Basta fazer a prova da luz. Tens ainda coisas a esconder? Ousas a exposição, mesmo com algumas falhas? “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas, quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que, suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;20 e 21

quarta-feira, 22 de março de 2017

De volta pra casa

“Fez Deus as feras da terra conforme sua espécie, gado conforme sua espécie, todo réptil da terra conforme sua espécie; e viu Deus que era bom. Disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança;...” Gên 1;25 e 26

Vemos o divórcio entre criacionistas e evolucionistas. A Bíblia insiste em ser categórica na exposição da Criação. Invés de apresentar a natureza evoluindo; a põe como obra acabada, “presa” ao determinismo biológico, onde, cada ser criado está fadado reproduzir-se, não, evoluir.

A sentença, “conforme sua espécie” limita-os ao que são, invés de se transformarem. Afinal, como foram criados, “Viu Deus que era bom.”

Entretanto, do ser humano foi dito: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança...” Diferente dos demais seres, acabados em si, o homem foi feito “espelho” para reflexo de Deus.

Nos soa normal, natural, vermos as demais espécies da criação, comportando-se segundo suas características próprias. Estranharíamos se fosse de outro modo. Como seria se de repente os porcos voassem? Aves se comportarem como roedores, peixes saíssem da água, etc.? Seria mui estranho, impensável, uma vez que, exibiriam qualidades alheias à espécie.

Entretanto, o homem, após a queda que o privou da comunhão com Deus, tem agido completamente alheio ao propósito original, e, pior, nem se dá conta, na maioria das vezes, que está fora do lugar.

Muitos engenhos da tecnologia podem ser adaptados para funcionarem em coisas diversas do propósito primeiro, para o qual foram criados. Porém, tais adaptações serão meras “gambiarras” de funcionamento inferior, durabilidade, também.

De igual modo, o homem, despido da Imagem Divina, ainda “funciona” por breve tempo, porém, com escala de valores muito inferior; o produto do seu agir muito aquém das possibilidades do “Modelo Original” forjado pelo Criador.

Embora, a morte espiritual não equivalha à não existência, para Deus, a perfeição que criara à Sua Imagem, deixou de existir desde a queda. Ao longo do tempo, os melhores homens que viveram, ainda foram distantes de beleza espiritual e moral legada pelo Senhor. Quando viu alguns de nobre caráter, como Samuel, Jó, por exemplo, O Criador poderia pensar: Parece um pouco, com o filho que criei, mas, está longe de exibir a face do Pai.

A nostalgia Divina em ver o filho amado na pureza que formou, durou uns quatro milênios, até que, Ele mesmo, que criara com Suas Mãos e soprara O Espírito, serviu-se do molde de barro que seguiu reproduzindo conforme a espécie, soprou outra vez Seu Espírito, para regeneração da vida perdida, e ao ver o resultado da Nova Criação, matou, enfim, a saudade. “Sendo Jesus batizado, saiu logo da água, eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E, uma voz dos céus dizia: Este é O Meu Filho Amado, em quem me comprazo.” Mat 3;16 e 17

Foi como se dissesse: Os melhores homens que viveram até agora, são meros simulacros do que criei; arremedos pobres que não fazem jus à Minha Obra; Esse sim, é Meu Filho. Paulo O chamou de Segundo Adão, atentando ao Seu aspecto funcional, não, O querendo reduzir a mera criatura, pois, disse: “Porque, assim como todos morrem em Adão, também, todos serão vivificados em Cristo.” I Cor 15;22

Esse “todos” porém, é condicional, todos que O receberem como Senhor. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que, todo aquele que nele crê não pereça, mas, tenha a vida eterna.”Jo 3;16

Assim, a “nova criação” precisa se dar com cada um, individualmente, pois, foi a vontade humana que separou Adão do Criador; a mesma vontade, é desafiada agora, a escolher O Salvador como Senhor, não mais certa cobra profeta, para, mediante novo nascimento, recebermos junto, novo espírito, e por ele, sermos transformados paulatinamente, à Imagem que O Senhor deseja. “...aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Jo 3;3

Na Cruz de Cristo é desfeita a gambiarra do inimigo, e cada um que se converte volta a funcionar pouco a pouco, segundo o “Manual do Fabricante”.

Óbvio que, pelo hábito, estamos treinados nas coisas do mundo, e precisamos reaprender as de Deus, mortificando nossa natureza, para vivermos em Espírito, e refletirmos outra vez, o Caráter do Criador. “...apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12; 1 e 2

Quem faz isso, não evolui, mas, como o pródigo, sai do lixo e retorna ao Pai.

terça-feira, 21 de março de 2017

A ameaçadora verdade

“Muitos iam ter com ele, e diziam: Na verdade João não fez sinal algum, mas, tudo quanto disse, deste, era verdade.” Jo 10;41

Se tivermos que escolher entre o milagreiro e o verdadeiro, o último perderá extraviado, infelizmente. Mesmo a Bíblia alertando contra os “Prodígios da mentira” fartos nos últimos dias, as pessoas tendem a render-se ao sobrenatural, mentiroso, invés da hígida verdade, natural.

No fundo, um sintoma de nosso doentio comodismo. Afinal, o milagre seria um esforço “de Deus” para aparecer ante nós; verdade, requereria um desnudar nosso, para que aparecêssemos como somos; cientes de nossa feiura espiritual, não queremos.

Nos meandros da política, sobretudo, a mentira tem sido mais pujante. Determinado delator assume que doou por interesses escusos, alguns milhões a certa agremiação; presto, um dirigente da mesma publica uma nota onde afirma que tudo o que o partido recebeu foi estritamente dentro da Lei, devidamente declarado. Concomitante, aquele e os demais partidos esforçam-se em conjunto, pela anistia do caixa dois, o que é uma confissão coletiva, de que, todos são mentirosos.

O Fato de parecer, eventualmente, que a verdade nos prejudica, ou, que dela não carecemos, nos leva a avaliarmos como de pouca, ou, nenhuma importância, mas, é vital.

Suponhamos que, alguém esteja preso graças a uma acusação infundada; embora certos indícios pareçam apontar um crime relacionado ao tal, ele é inocente. Está preso de forma indevida, malgrado, não possa demonstrar. O que daria alguém assim, pela luz da verdade? Agora, a verdade seria devidamente aquilatada, pois, ao obrar livramento, salvação, perceberiam, enfim, o quão medicinal, é.

Ao considerarmos a vida meramente no teatro do humano, o verossímil basta; digo, parecermos verdadeiros soa suficiente. Entretanto, mesmo ao optarem pelo milagreiro em detrimento do verdadeiro, como afirmei acima, até dessa forma doentia, antropocêntrica, demonstram crer na existência de Deus. Isso não equivale, infelizmente, a crer em Sua Palavra, obedecer.

Num cenário de mentiras, enganos, a verdade soa como intrusa, a “Kriptonita” do espaço que pode matar ao “Super-homem”. Tanto é assim, que O Salvador denunciou: “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz; não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas, quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;19 a 21

A ética utilitarista a serviço da vida ímpia. Amaram mais as trevas porque suas obras eram más. Ou seja: Amaram a si mesmo, ao comodismo de se manterem no escuro. A insistência de Cristo em acender a Luz, O fez indesejável, pois, o que Ele é, necessariamente revela o que somos. Da samaritana revelou sua promiscuidade; ela disse: “Vejo que és profeta.”

Assim, a verdade incomoda, pois, ao recebermos a mesma, vasculha nossas casas, expõe trastes que tínhamos escondidos. Porém, como um médico que nos toma o pulso, ausculta, examina demais sintomas, diagnostica nosso mal, prescreve a cura.

Cada vez que deparamos com um feixe dessa luz, somos desafiados a uma escolha simples entre o conforto de morrermos como estamos, e o confronto de mudarmos para sermos salvos. Infelizmente, a imensa maioria de nossa geração padece a “Síndrome de Estocolmo”, onde, os sequestrados desenvolvem simpatia pelo sequestrador. Os que estão aprisionados pela mentira, defendem-na, malgrado, essa seja obreira de seu cárcere, e no final, condenará à morte.

É fácil até, citarmos o clássico: “A verdade vos libertará”; mas, o vos, foi dito pelo Senhor. Devemos dizer, antes, “nos libertará”. Pois, se não reconhecermos nossa prisão em seus domínios, nunca apelaremos ao Senhor que liberta.

Por fim, os que preferem prodígios invés da verdade, os terão em fartura, como o juízo dos que pediram carne desprezando ao Maná. Recusam sistematicamente a verdade, aliada de Deus, receberão então, o enviado do pai da mentira. “Esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, sinais e prodígios de mentira, com todo engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem.” II Tess 2;9 e 10

A mais de dois milênios a Verdade tem sido pregada, a custo de sangue, mortes, perseguições; chegará a hora, breve vem, que a Santa Paciência Divina esgotará, e dará aos homens o produto de suas escolhas.

Afinal, se, traz certo desconforto à natureza, o advento da verdade, uma vez que rasga-nos as vestes. Mas, aos convertidos que a confessam, O Eterno reveste de Cristo. Os que se contentam com engano, infelizmente associam sua sorte à do enganador, pois, “...de fora ficarão os mentirosos...”

domingo, 19 de março de 2017

O segundo batismo

“Vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo.” I Tess 1;6

O concurso de tribulação e gozo é natural, sendo a Palavra de Deus, o que é; Espada do Espírito, e, atuando num cenário adverso.

Necessariamente, a pregação idônea será desafiadora, ameaçadora, dependendo do ponto de vista. Aos pecadores perdidos, sua mensagem será um desafio à mudança, da morte para a vida, das trevas para a luz; no aspecto espiritual, ameaça de resgate, pelo Reino dos Céus, de bens usurpados, agora, presos em mãos indignas.

A reação das forças opostas, ensejará tribulação, pois, não entregarão fácil, suas presas; os ditosos que, ouvindo a Palavra se renderem, sendo libertos, conhecerão gozo espiritual único, um refrigério pelo perdão como recebeu o pródigo, uma paz que, só a conversão propicia.

A Parábola do Semeador registra o concurso das “aves dos céus” que comem a semente; (espíritos malignos que cegam a compreensão) das “pedras” que impedem o crescimento da planta; (ignorância quanto ao custo da salvação, a cruz ) dos espinhos; ( uma fé imperfeita que invés de se entregar totalmente ao Salvador, acrescenta cuidados humanos, temporais ) por fim, a boa terra, que produz com fartura; os que ouvem, creem e obedecem.

Infelizmente, graças a ministros mercenários, a Palavra da Vida tem sido equacionada a coisas, com quais, não têm relação; facilidades tecnológicas que trazem tudo instantâneo, nos acostumaram a uma velocidade que não se verifica na vereda da salvação; a ênfase no fato que Deus é bom, tem levado muitos a buscar essa bondade no tempo, não, no modo, que cuida dos que ama. Aí, prometem coisas, aprazam, sete sextas-feiras, doze cultos, disso ou daquilo, e, o “fiel”, cumprindo tais agendas, terá feito sua parte; desde então, a contrapartida se torna uma “dívida” de Deus.

Ora, o livramento é bem, imediato, o gozo da salvação, a libertação dos poderes espirituais da maldade que aprisionam; ouvindo alguém, e crendo na Palavra, a bênção se verifica na hora, mediante o gozo espiritual que propicia.

Entretanto, o Governo do Eterno não é como governos humanos, onde, leis são imperfeitas, muitas vezes, casuísticas, e podem ser mudadas a toque de caixa, como nas atuais manifestações contra a reforma da previdência, por exemplo. Cidadania Celeste, posição dos convertidos, insere num Reino, não, numa república; quem Governa é O Rei dos Reis, Senhor do Universo, pleno de bondade e sabedoria. Suas leis não precisam ser emendadas, tampouco, cede ao casuísmo do tempo, pois, mesmo esse, obedece ao Nosso Rei, que é Pai da Eternidade.

Após a bênção da salvação, temos um “segundo batismo” tão mal entendido, sobretudo, no meio pentecostal. Esses, não todos, é certo, equacionam o batismo com fogo, como se fosse o mesmo do Espírito Santo. Não. João Batista os apresentou como coisas distintas, quando disse que, O Messias batizaria com O Espírito Santo, e, com fogo.

O primeiro é um revestimento espiritual que nos capacita a agirmos, agora, como filhos de Deus. “A todos que O receberam, deu-lhes ( O Espírito Santo ) o poder de serem feitos filhos de Deus.” Jo 1;12 O segundo, com fogo, é o concurso das aflições, seja pela ação das “aves dos céus” que não desistem, seja, pelos maus hábitos da nossa natureza caída, que estava treinada na larga avenida dos pecados, e agora, precisa aprender a senda estreita da santificação.

O próprio Senhor usou essa figura: “Vim lançar fogo na terra; que mais quero, se está aceso? Cuidais vós que vim trazer paz à terra? Não, vos digo, antes, dissensão; porque daqui em diante estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, dois contra três. O pai estará dividido contra o filho, o filho contra o pai; a mãe contra a filha, a filha contra a mãe; a sogra contra a nora, a nora contra a sogra.” Luc 12; 49, 51, 52 e 53

Conversão não é upgrade, é mudança radical, de um senhor a Outro, da maligno ao Santo. Necessariamente, pois, dado o contexto em que ocorre, enseja o concurso de tribulações e gozo. Esse gozo espiritual é tão superior ao natural, que das perseguições e oposições faz combustível para ser inda mais ousado no Senhor, como foi Paulo, após ter sido açoitado em Filipos. “...depois de termos antes padecido, sido agravados em Filipos, como sabeis, tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o evangelho de Deus com grande combate.” I Tess 2;2
Mesmo assim, vale muito à pena, como ensinou o mesmo Paulo: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” Rom 8;18

segunda-feira, 13 de março de 2017

O censo e os insensatos

“... pelo número dos nomes dos de vinte anos para cima, todos os que podiam sair à guerra, foram contados deles, da tribo de Judá, setenta e quatro mil e seiscentos.” Núm 1;26 e 27

Números, o Livro dos censos de Israel, e uma nuance de como era contado o povo. Apenas, homens, de vinte anos para cima, que poderiam ir para guerra. Não se trata de menosprezo às mulheres, adolescentes, ou, crianças, mas, de uma postura prática em relação ao contexto de então.

Em caso de ameaça externa, deveriam saber, com qual montante contavam, para, a partir daí, planejarem sua estratégia. Jesus mencionou isso, de passagem; “Qual é o rei que, indo à guerra pelejar contra outro, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se, com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil? De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, pede condições de paz.” Luc 14;31 e 32

Entretanto, O Salvador usou esse incidente como símile de algo novo que propunha; Como um rei dos antigos calculava seu exército e do inimigo, antes de dar um passo decisivo, deveriam, os candidatos a discípulos, medirem os custos e benefícios, antes da ousada empresa. “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” V 33

O “exército inimigo” a carne, vem sempre com um pelotão de elite de maus desejos, aos quais, está habituada; nossas fraquezas prediletas são nossos “boinas verdes”, duros de matar.

O Salvador nos garante a vitória se, entregarmos a Ele o comando e usarmos na peleja, Sua arma poderosa, a cruz. Nela, cada mau instinto deve ser mortificado, pois, quando A Palavra diz que não devemos lutar contra carne e sangue, refere-se à perseverança do salvo, que já deu o passo em direção a Cristo, e será atacado por forças espirituais opostas; contudo, essas, têm no combate, sua “cabeça de ponte” em linguagem militar, o ponto de acesso, nas más inclinações de nossa natureza.

Agora, não há distinção de idade, nem, sexo; todo convertido é combatente nas fileiras de Jesus. “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” Gál 3;27 e 28

Sermos Um em Cristo seria nossa vitória. Contudo, muitas vezes nos desgarramos do Senhor, acossados por anseios naturais inda não crucificados, invés de priorizarmos as coisas de cima, o “Tesouro no Céu,” como Ele ensinou, ainda nos pesam os cuidados dessa vida como prioritários. Na parábola do Semeador o Senhor ilustrou essa postura como a semente que caíra entre espinhos; não frutificara com perfeição.

Paulo, por sua vez, também usou uma metáfora marcial para exortar-nos a uma postura que agrade Nosso Senhor: “Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo. Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra. Se alguém milita, não é coroado se não militar legitimamente.” II Tim 2;3 a 5

Infelizmente, grande parte da dita igreja atual, ensina recrutas a calcularem os despojos, os lucros, não os riscos do embate. Se a coisa não se der nos termos do Senhor será ilegítima, portanto, nula, qualquer pretensa vitória.

O Senhor não se impressiona com multidão, barulho, ativismo e tolices afins. No dia da invasão midianita chamou a Gideão, esse, tocou as trombetas e reuniu mais de 32 mil soldados. O Eterno os testou em dois quesitos: Coragem e prudência; restaram apenas trezentos. Com esses, Ele deu a vitória.

Não é diferente a coisa em nossos dias. As trombetas do “gospelismo” moderno, uma vez tocadas, aglomeram multidões. Temos vistosas “Marchas pra Jesus”, Carnaval gospel, Funk gospel, prosperidade material, idolatria de ministros e artistas etc. Mas, teste-se os tais, na coragem de tomar a cruz, na prudência de obedecer a Palavra, e outra vez, O Senhor terá que contar com mui poucos.

Se, nos censos pretéritos apenas os aptos a irem para a guerra contavam, ainda é assim. O Exército de Deus não tem pelotão de elite; é todo de elite. Gente corajosa e prudente que marcha após o Poderoso General, rumo à Nova Jerusalém.

E, por um lado, a salvação é de graça, acessível a “toda criatura”, por outro, não existe bolsa indulgência, bolsa resgate, etc. para gente omissa, preguiçosa espiritual a devanear que, uma vez que Cristo tomou a cruz por nós, está tudo feito. Não. Está feito o que não poderíamos, nem merecíamos; o que podemos, devemos, senão, o Censo do Céu, nos deixará de fora da conta.

domingo, 12 de março de 2017

Digitais da fé

“Quando o Senhor edificar a Sião, aparecerá na sua glória.” Sal 102;16

O aparente conflito entre fé e vista se estabelece quando, incorremos nalguma confusão contextual. Quando a Palavra diz que, “não andamos por vista, mas, por fé”, equivale a afirmarmos: Mesmo que as circunstâncias apontem em rumo diverso do que creio, não me deixarei dissuadir por elas.

Isso não significa que coisas visíveis não valham nada; apenas, como diz o adágio, aparências enganam, por outro lado, “Quem crer não será confundido”. Se, a fé, em parte despreza à vista, seu produto salta aos olhos, uma vez que, mudando o ser, necessariamente muda o agir; esse, se dá no plano visível. “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5;16

Infelizmente, a faculdade que deveria ser aio para conduzir muitos à salvação, a visão, tem obrado em sentido oposto, dado sofrer a febre da vontade. Vendo pessoas de pretérito sujo, congregando entre os salvos vivendo nova vida, muitos depreciam apontando para trás, como se, para ser salvo alguém devesse ter alguma credencial a mais, que, estar perdido.

Ora, ser tirado da lama e vertido em adorador é ensino bíblico, deveria saltar aos olhos ensejar emulação salvadora, invés de crítica barata, superficial. Ouçamos Davi: “Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs meus pés sobre uma rocha, firmou meus passos. Pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos, verão, temerão, e confiarão no Senhor.” Sal 40;2 e 3

À mudança da lama para a Rocha, deveriam aprender a confiar no Senhor, mas, a vontade costume ver o que quer, aí, é ela que engana, não, a aparência.

Quando perguntado sobre tempos, sinais, da Sua Vinda, a primeira coisa que O Salvador disse foi: “Vede que ninguém vos engane.” E, nada mais enganável que a visão, filão que faz a fortuna dos ilusionistas profissionais.

O fato de mecanismos de vídeo terem se tornado acessíveis, comuns, tem nos tornado também, superficiais, pueris, incapazes de uma análise crítica da vida, das escolhas. Um texto como esse demandaria de cinco a sete minutos de leitura, dependendo do ritmo de cada um, ora, isso é uma “eternidade”. Daria para rir, apreciar ou depreciar umas dezenas de vídeos, invés de perder tempo numa introspecção assim, tão carrancuda.

Os cérebros que usam todo o potencial que conhecem, inda são limitados; que dizer dos que “navegam” como se, comendo peixe; onde, fazem das reflexões, espinhos, e das tolices, alimento? Não é de se admirar que a presente geração cultue como ídolos uma leva de imbecis tatuados, cujo talento é saber apertar botões, e sua “poesia” traz pérolas tipo: “Meu p.. te ama”.

Reflexão é paladar adquirido, não nasce fortuita, requer certo esforço. Esse “positivismo” filosófico, onde, nos interessa apenas, o “como”, não, o porquê, tem nos tornado destros em cultura inútil, e alienados da Fonte da Vida, Deus.

Sua Palavra tem sido ignorada, e perfeição da Sua Obra, desviada, tributada ao acaso. Invés da inverossímil Teoria da Evolução, a natureza grita louvores ao Criador, mas, além de cegos, estamos surdos. “Porque, suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto, seu eterno poder, quanto, sua divindade, se entendem, claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes, em seus discursos se desvaneceram, seu coração insensato se obscureceu.” Rom 1;20 e 21

Assim, se a fé não anda por vista, o que está visível corrobora a revelação, na qual, ela se firma. De Moisés se diz que deixou o Egito, “Firme como quem vê o invisível”. Isso é confiança irrestrita no Senhor, que, tendo criado tudo que vemos, bem pode criar algo novo, se quiser, em atenção aos que Nele confiam, como fez no deserto, aliás, fazendo cair Maná.

O que vejo convence minha lógica, e, se me firmo nisso, apenas, anulo Deus e Suas possibilidades, nego a fé. Isso foi a queda. O homem em si, alienado de Deus. A fé dá um pé na bunda de si, o intruso, “Negue a si mesmo” e recoloca O Senhor no Trono.

Fazer isso requer uma cruz, na qual, as más inclinações devem ser pregadas todo dia. Pois, pecar não é paladar adquirido; após a queda, é nossa inclinação natural.

Todavia, os que se arrependem, mudam, paulatinamente começam a conhecer o prazer de ser livres, a leveza de uma consciência em paz. Creram de ouvir, no que não viram. Porém, se fazem pacientes de uma transformação tal, que suas vidas se tornam, como a criação, eloquentes anunciantes do Criador.

sábado, 11 de março de 2017

Esperança e fé

“Mas, o justo viverá da fé...” Heb 10;38 “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam...” Heb 11;1

Embora, em muitos casos apareçam amalgamadas, fé e esperança são coisas distintas. Esperança são meus anseios fixos em algo; fé, minha confiança firme em Alguém. O “algo” eu decido esperar; O “Alguém” é sábio para escolher o melhor para mim, capaz de ir “além do que pedimos, ou, pensamos.” A esperança nem sempre se realiza, contudo, a “fé não costuma faiá” como diz numa canção.

Tanto são coisas distintas, que Paulo as apresenta assim: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor...” I Cor 13;13

Nem sempre são as promessas que ensejam a esperança, antes, nossa interpretação equivocada das mesmas, que nos leva a esperarmos o que não se cumprirá. Quando uma promessa diz que, “todas as coisas contribuem juntamente para o bem dos que amam a Deus;” pensamos logo no bem, a arte-final, Divina, não, no layout, nas vicissitudes adversas de sofrermos “todas as coisas.” Malgrado, chamados à eternidade, somos imediatistas.

Paulo deu uma palhinha de como incidem sobre os santos, todas as coisas: “Sei estar abatido, também, ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, quanto, ter fome; tanto a ter abundância, quanto, padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece.” Fp 4;12 e 13

Inda que a esperança fixe sua lupa em alvos sadios, é a fé, que empresta a têmpera necessária para suportarmos o processo do aperfeiçoamento, segundo Deus.

Na galeria dos “Heróis da fé” temos lapsos de esperança. Triunfaram eles, na fé, mas, nem sempre, o que esperavam, se cumpriu. “Todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados.” Heb 11;39 e 40 Esperavam no seu tempo, a promessa, e descobriram que devem esperar por nós, para que alcancemos juntamente.

A imensa maioria do que se rotula fé, em nossos dias, é apenas esperança, quase sempre, malsã. A coisa gira em torno de conquistas efêmeras, chave disso, daquilo, facilidades ausentes na Palavra, cujo merecimento deriva de se escrever “amém” ou, compartilhar da mesma cobiça. A fé não depende da esperança, como mostrou Abraão: “O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que, tornou-se pai de muitas nações...” Rom 4;18
Contudo, a esperança é uma coisa boa, à medida que injeta certo ânimo em seu hospedeiro, e se revela firme, se, tal, apostar suas fichas estritamente no que foi prometido. “Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos firme consolação, nós, que pomos nosso refúgio em reter a esperança proposta.” Heb 6;18

Notemos que o autor usa o termo, “reter”, que traz a ideia de ter de novo. Sim, nossas ilusões e precipitações tendem a aprazar o tempo em que nossas esperanças se cumprirão; falhando tal prazo, sempre há o risco de a esperança murchar, perder-se. Por isso, é preciso reter, cientes do que nos foi prometido, devemos estar certos, também, que o dia para cumprir a promessa cabe a Deus. Seus “Cheques” não atinam ao tempo dessa vida, meramente, antes, extrapolam a ela, dispõem da eternidade para o “pagamento.” “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19

Claro que essas coisas todas fazem sentido para salvos, os demais, inda não se apropriaram do básico, mediante a fé, a salvação. Embora a Palavra testifique que “não há um justo sequer”, os que receberam ao Senhor, pela Sua Justiça são reputados justos; além de perdoados herdam a Justiça do Salvador. Esses devem viver pela fé. “O justo viverá da fé.” Não é um adendo abstrato, um, algo mais, sofisticando a senda de alguém, antes, um modo de vida.

Essa fé seletiva, que crê em todas promessas e ignora os ensinos, exortações, advertências, não passa de enfermidade, esperança doentia que não se cumprirá. Quem negocia porções da Palavra da Vida, para ser socialmente aceito, politicamente correto, mostra sua fé no aplauso humano. Quem crê em Deus, deveras, espere, além do cumprimento das promessas, no fim, uma caminhada árdua, de rejeição, tentações, rótulos depreciativos como, radical, retrógrado, fundamentalista, etc.

Sendo o mundo tal qual é, inimigo de Deus, tanto quanto, mais nos identificarmos com nosso Pai, menos aceitação social teremos. A Luz de Deus incomoda olhos acostumados às trevas.

Enfim, não há necessidade de esperança e fé se divorciarem; basta que esperemos segundo a Palavra, na qual, a fé nos ensinou a crer. Pois, “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam...”