sábado, 12 de julho de 2025

Desiguais demais


“Com boi e com jumento não lavrarás juntamente”. Deut 22;10

Seria injusto com ambos os animais, emparelhá-los com tamanha desproporção.

Essa ideia apreciada no escopo filosófico, amplia exponencialmente a possibilidade de animais díspares; tem desdobramentos diversos. Aristóteles dizia: “A pior forma de desigualdade é considerar iguais, às coisas diferentes”.

Às vezes cometemos esse erro, dando a eventuais interlocutores, numa disputa, o status de litigantes honestos, que merecem ouvir nuances minuciosas das nossas razões; quiçá, conhecendo-as melhor, revejam suas posturas; ou, que sejam capazes de expor as suas de modo tão convincente, que nos convençam a rever as nossas.

A maioria das pessoas com as quais interagimos parece ser obras acabadas, das quais, só pode verter algo; nada mais, luz,
informação, entendimento, saber, precisa nem pode adentrar.

A Palavra de Deus, malgrado plena de sabedoria, não é um livro filosófico; antes, uma carta de amor, trazendo revelação das Obras, afeto e dos meios, para nos relacionarmos com O Eterno. Ela ensina diretrizes mui sábias que faremos bem em adotar.

Aconselha que não nos igualemos, não aos diferentes, não no aspecto intelectual; antes, aos adversos moral e espiritualmente. “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem, justiça com injustiça? Que comunhão tem a luz com as trevas? Que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel? Que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?” II Cor 6;14 a 16

Qualquer um tem direito a ser cético, duvidar. Sobretudo, se souber fundamentar sua posição. Porém, quando se opõe à luz meramente por escolha derivada do paladar moral, de quem não se importa com a verdade, antes, basta-se com suas insanas escolhas, temos um jumento que deveria juntar, apenas, com outro igual.

O tal, é do tipo que defende suas opiniões porque são suas, não porque sejam convincentes, ou baseadas em evidências verazes; então, grassará o recrudescimento no fanatismo, invés da saudável busca pela verdade; isso é um bom motivo para se evitar a “parelha”.

Paulo foi categórico: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado”. Tt 3;10 e 11 Salomão foi incisivo também: “Tens visto o homem que é sábio aos próprios olhos? Pode-se esperar mais do tolo que dele”. Prov 26;12

A indiferença necessária é uma arte que demoramos muito, até aprender. Decepções, vergonha alheia, irritação contra a desonestidade intelectual, a estupidez de cavar “buracos n’água”, e outras insipiências do tipo, reiteram muito, ferindo nossas almas, até que entendamos que não devemos atrelar nosso “bicho” com certos animais.

Não se trata de arrogância, presunção, pretensão de superioridade ou, outros vícios assim; antes, de evitar um pleito inútil que teria ambos os lados como perdedores.

É muito fácil, nos botecos da vida, entre um trago e outro, filosofar: “Se um cão te morder, não o mordas de volta”. Porém, no ápice da dor da “mordida”, manter o domínio próprio, a postura, sem revidar à “altura” aos rasteiros golpes recebidos, só depois que a geada do tempo nos cobre os pelos, se, passamos pelos caminhos, atentos às lições.

Todos começamos a caminhada espiritual no escuro; mesmo assim, isso não nos torna jumentos, necessariamente; quem tem índole aprendiz e reconhece sua necessidade de luz, se esforça em demanda por essa, é honrado pelo Senhor, que pouco a pouco lhe amplia a visão; “A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito”. Prov 4;18

Quem “se converte” mas preserva o orgulho, passou ao largo do “negue a si mesmo” necessário. O “cristão” que inda se escuda no individualismo intocável, onde, qualquer ensino soa a presunção, e a mínima correção, a intromissão, ainda desfila como um césar no império da carne, com sua coroa de latão enferrujado, demandando em seu imaginário reino, o suprimento das suas paixões adoecidas.

A palavra ensina que somos membros uns dos outros, que devemos confessar e orar entre irmãos, interagir com as cargas alheias. Como fazer isso, quando, o outro segue jumento, e não se abaixa à estatura de ovelha para possibilitar o jugo comum?

O Salvador nos chama a nos igualarmos Nele, sob o mesmo jugo; “Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; encontrareis descanso para vossas almas”. Mat 11;29

Ter convicção daquilo em que se crê, é necessário. Entretanto, a convicção não é refratária a uma eventual luz maior. Agora, porfiar pelo prazer de defender algo, mesmo errado, aí é doentio, maligno, estúpido. “A porfia é a perseverança do lado avesso; a longanimidade do Diabo”. Zeferino Rossa.

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