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terça-feira, 16 de junho de 2020

Reprovados por média


Ninguém é obrigado a ser excepcional. Em linhas gerais somos medíocres, não num sentido pejorativo; mas, de nos atermos ou esperarmos determinados comportamentos à partir de uma “média” que, tacitamente estabelecemos; se, as coisas acontecerem dentro dela, estarão nos “devidos lugares.”

Me agradam almas filosóficas, estetas, que não se amoldam confortáveis ao lugar comum, o chavão, o clichê.

Uma definição magistral de Plutarco diz: “A mente não é um vaso para ser cheio; antes, um fogo a ser aceso.” Invés de decorar um amontoado de sentenças que não ruminou, ou sair gritando coisas que ignora, cada um se ocuparia em aprender primeiro aquilo que esposaria depois, como conhecimento a ser partilhado.

Alguém definiu muito bem, que as pessoas são como livros; uns enganam pela capa, outros surpreendem pelo conteúdo. Forma mais requintada de dizer que as aparências enganam. Aliás, também isso, dizer o comum com uma linguagem melhor é já uma fuga da mediocridade, atraente.

O que é a poesia, arte da qual gosto, senão, o comum vertido numa linguagem peculiar, o “Esperanto da poesia” como definiu Mário Quintana; enriquecido, às vezes, com recursos como rimas e métrica?

Não há como fugir do medíocre, pois, se numa Divina intervenção, ou um feliz acidente qualquer, todos conseguissem a excelência, se destacassem em alguma coisa, esse alto e ditoso padrão seria a nova “mediocridade”; digo, a nova média, então. Só um fora do comum, um gênio extrapolaria a isso.

O que quero enfatizar é o prazer da surpresa, quando algo aparenta ter tudo para ser mais do mesmo, e não é; assim, um “acidente” como Paul Potts, Susan Boyle ou assemelhados, assoma contra toda a expectativa; um grande que ainda hibernava na toca do anonimato, até que a primavera da oportunidade derreteu, enfim, a neve da insignificância, e o sol do talento fulgiu com majestosos raios.

Pois, infelizmente, também o apreço artístico padece dessa doença; nulidades como Anitta, Pablo Vittar, Naldo, MC isso ou aquilo, fazem sucesso não porque tenham talento; pois, nem sempre esse lorde, o sucesso é um aferidor de talentos; em muitos casos é apenas a denúncia de paladares estragados. A veia que descobre os cantos de ninar que adormecem anencéfalos.

Pesquisemos na atual geração, para sabermos se, preferem ouvir uma Amira willighagen, um André Rieu, ou Anitta? Essa que “canta” para os olhos com as “coxas vocais” terá a preferência da maioria. Os paladares estragados farão a festa da mediocridade.

E a arte visual então; quem lembra da famigerada exposição “Queer Museu”? Abstraídas as blasfêmias, pornografia e agressões religiosas gratuitas, o que tinha de arte naquilo? Nada. Apenas lixo em ambientes de luxo.

Quando a arte abdica do seu fim primordial, a exposição do belo, a criatividade buscando ensejar o enlevo, e desce ao rés do chão movida por interesses ideológicos mesquinhos, porta-se como uma princesa destinada a ornamentar castelos que, rebelde fugiu da nobre origem e preferiu se tornar prostituta.

A música sertaneja, tão rica outrora, quando bastava ouvir uma palavra cantada para identificar quem cantava; agora é uma gosma insossa, de letras em grande parte rasas, pobres de poesia, muitas pornográficas, arranjos mecânicos, e pouco importa quem está cantando; já não faz a menor diferença.

Em outros gêneros se dá o mesmo, salvas algumas honrosas exceções, nossa cultura é um gigantesco rabo de cavalo, quanto mais cresce mais raso fica.

Saint Exupérry, em “A Terra dos Homens” denunciou algo parecido: “… ninguém fez com que te evadisses, e não és responsável por isso. Construíste tua paz tapando com cimento, como fazem as térmitas, todas as saídas para a luz. Ficaste enroscado em tua segurança burguesa, em tuas rotinas, nos ritos sufocantes de tua vida provinciana; ergueste essa humilde proteção contra os ventos, as marés e as estrelas.
Não queres te inquietar com grandes problemas; fizestes um grande esforço para esquecer tua condição de homem. Não és habitante de um planeta errante, não lanças perguntas sem solução: és um pequeno-burguês de Toulouse.
Ninguém te sacudiu pelos ombros quando ainda era tempo. Agora, a argila de que és feito já secou, endureceu; nada mais poderá despertar em ti, o músico adormecido, o poeta, ou astrônomo que, talvez te habitassem…
Há muitos homens assim, dormindo sem que ninguém os desperte. Hoje, apenas uma máquina de cavar e martelar. O mistério está nisso: eles se terem tornado esses montes de barro. Por que terrível molde terão passado, por, que estranha máquina de entortar homens?”

A cultura inútil tolhe o lugar da que enriquece; a “máquina de entortar homens" trabalhou tão “bem”, que hoje os retos estão fora do lugar.

“A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre.” Oscar Wilde

sábado, 23 de novembro de 2019

Gugu Liberato; a morte fora da casinha

A morte está mais viva do que nunca. E, a cada dia morre em série, se esforçando em demanda pela nossa atenção, mas seguimos alheios, nos fazendo de mortos.

Aí ela amplifica seu grito e ceifa gente famosa como Paul Walker, Tony Palmer, Walmor Chagas, Robin Willians, Ricardo Boechat, e agora seu grito mais recente, Gugu Liberato.

Nos movemos por um pouco em nossos assentos, não o bastante para desgrudar as bundas, ou despertar os cérebros; e via de regra, cada um tem uma "receita" nas prateleiras da preguiça mental, à qual recorre para abafar tais gritos.

O fatalista conclui: "Chegou a hora"! O "lógico" reclama: "Tanta gente ruim e morrem os bons!" O filósofo de botecos "filosofa": "Pra morrer basta estar vivo". O espírita: "Cumpriu seus karmas"; Uns têm as frases feitas para as perdas menores; "Vão-se os anéis ficam os dedos"; daí quando vão-se os dedos quedam incrédulos.

Tendemos em nossa lógica inconsequente e desavisada a "arquivar" vidas como se fosse um fichário; ordenadas pela data e índice alfabético, à luz do qual a dama de preto deveria ceifar primeiro às fichas mais antigas. Vá saber se a morte conhece lógica, bebe, consome drogas, ou afins, mas tem feito um monte de trapalhadas cronológicas, de modo que me atrevo a dizer que ela está fora da casinha.

Levou à Amy Winehouse antes do Mick Jaegger; Paul Walker antes do Stallone; Artur antes do Lula; agora, Gugu antes do Silvio Santos. Lógica não é com ela, pois.

Admiro gente que consegue tratar de algo tão sério de modo doce, como os poetas, por exemplo; "Eu estava dormindo e me acordaram, e me encontrei assim, num mundo estranho e louco... e quando comecei a compreendê-lo um pouco, já eram horas de dormir de novo"

Porque o tempo é uma invenção da morte,
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia,
para nos dar a eternidade inteira"
Mário Quintana

"Fiz um acordo de coexistência pacífica com a morte; eu prometo não temê-la, nem ela me assustar; um dia a gente se encontra". Mário Lago

Por minha parte com recursos pífios comparado aos grandes Mários, escrevi um poema esposando a ideia que a morte mais assusta a quem pensa ter mais vida;

"Ao jovem a morte parece um precipício; o desperdício de tudo o que pensa ter para viver; ao adulto parece um monte; horizonte extático onde mais dia, menos dia fará a subida; o velho andeja com ela pela campina; traquina criança festejando a absolvição de sua sentença de vida."

A Bíblia valora como mais proveitosos os ambientes fúnebres que os festivos, dado esperar que tais nos ensinem algo; "Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens; os vivos o aplicam ao seu coração." Ecl 7;2

Tiago apresentou a "robustez" das nossas vidas como uma coisa tênue, pífia; "Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece." Tg 4;14

Por isso, longe de ser uma opção a se fazer nos dias da velhice, a salvação sempre nos é apresentada como uma decisão que requer urgência; "... Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação..." II Cor 6;2 "Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes sua voz, (de Deus) não endureçais vossos corações, como na provocação." Heb 3;15

Dado que a conversão que nos livra do medo da morte demanda mortificação dos desejos naturais em prol da realização da Vontade Divina, bem observou Watchmann Nee: "Muitos gastam tempo ensinando aos cristãos a viver melhor, quando, deveriam ensinar a morrer melhor."

Nossa abstração se verifica à medida que, só mortes mui próximas nos movem, ou de famosos, como alguém observou: "Uma morte é uma tragédia; milhares de mortes, apenas um número, uma estatística."

Então, apesar de certa leveza no texto, tanto quanto possível, não entendam que trato a coisa de modo pueril, superficial. Meus respeitos e solidariedade à família enlutada, anexo o desejo que o Espírito Santo conforte e console aos corações feridos.

Quanto à nós outros que contemplamos de longe, sempre acontece uma partida de gente bem próxima; a menos que tenhamos um "plano B" para salvação sem Cristo, deveríamos usar nosso tempo para reconciliação com Deus, para que a sombra da morte não assuste mais.

O Eterno desconhece alternativas e propõe em nosso nome a questão: "Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando sendo anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram?" Heb 2;3

quarta-feira, 27 de junho de 2018

A Aldeia e as Tribos

Outro dia, após um toró que caiu resolvi aproveitar parte do dia trabalhando um pouco, ainda que estivesse bastante embarrado. Estava fazendo a base de um muro que circunda a casa onde vivo.

De repente passou um sujeito, visivelmente alterado em suas faculdades, possivelmente, efeito de crack, e, resolveu me incentivar. “Isso aí, meta sal; manda ver, perverso!”

Meu instinto de defesa da honra produziu na hora o clássico revide; - Perversa é a mãe – mas, me contive, olhei o tipo virando a esquina e pensei; Deixa pra lá; do seu jeito, o cara me incentivou, elogiou.

Depois, à noite, me ocorreu de pensar novamente sobre o incidente; Eis um dilema filosófico, espiritual, com o qual têm que lidar os que pretendem transmitir valores absolutos através dos signos relativos da comunicação. A contextualização.

Quem estuda Teologia, por exemplo, na disciplina, hermenêutica, aprende o valor do contexto para identificar o sentido de uma mensagem qualquer. Não se atém às palavras em si, mas, ao significado em seu tempo e lugar, buscando a intenção do autor, e o sentido histórico; antes, que o significado para si. Se isso fosse verificado amiúde, as seitas pseudo-cristãs, que se “baseiam” na Bíblia, cairiam por terra, ao escrutínio hábil de suas crenças.

Interessante arte, a comunicação! Muitos que podem, estudam um ou mais idiomas, pois, isso amplia horizontes profissionais, abre portas, além de facilitar a compreensão da vida, nessa aldeia global que nos tornamos. Em suma, o domínio da língua nos faz world citizens. (Cidadãos do mundo)

Todavia, é comum encontrarmos “tribos” seja de surfistas, nerds, de drogados, etc, com gírias peculiares, tais, que só podem ser entendidas pelos tribais. Nesse caso, a comunicação é usada para construir cercas, antes que rompê-las. O domínio de vários idiomas nos dá o mundo, a habilidade em gírias específicas, pode nos ilhar dentro dele.

A poesia tem seu “Esperanto” como disse o Mário Quintana, sua linguagem própria, que, demanda que seus leitores sejam, de certa forma, poetas também; pois, só assim, lograrão entender plenamente a mensagem.

Mas, voltando ao “elogio”, o cara me chamou de perverso, que, possivelmente, na tribo dele, seja um sujeito hábil, jeitoso, malandro... todavia, seu significado original é bem diferente disso. É, em latim, uma aglutinação de “Permutare” mudar completamente, e “vertio” versão. Ou seja, alguém que deturpa um conceito, ensino, comportamento ou, versão; é um perverso.

Interessante que a exortação bíblica é à conversão, que traz a ideia de acompanhar uma versão confiável, ao invés de perverter, produzir uma própria. No caso de quem deixou a versão idônea e rumou pela perversão, isso demanda uma mudança radical de caminho.

Ouçamos Isaías: “Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos; se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos, nem, os vossos caminhos os meus, diz o Senhor.” Is 55; 7 e 8

Acho que demorei a captar a profundidade filosófica das palavras de meu desconhecido incentivador; Se, estou fazendo um muro, de certa forma me alieno do todo, do absoluto, que é um tipo de perversão. Outra coisa que ele disse: “Meta sal”. Lá no seu idioma, em Crackópolis, deve significar algo, como, manda ver! Força!

O sal é um elemento bastante presente nas Escrituras Sagradas, tanto que, no Velho Testamento era obrigatório nas ofertas de alimento. “Todas as tuas ofertas dos teus alimentos temperarás com sal; não deixarás faltar à tua oferta de alimentos o sal da aliança do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal.” Lev 2; 13.

Já na Nova Aliança, o Senhor chama aos discípulos de “sal da terra” e Paulo usa a figura como símbolo de uma linguagem sóbria; “Vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um.” Col 4; 6 E pensar que eu quase respondi ao tipo com um palavrão...

Então, se, vista a moeda pelo meu lado eu poderia afirmar que o transeunte é catedrático em filosofia e hábil nas Escrituras; mas, a única coisa que ele fez, foi dizer: Manda ver, é isso aí!

Mas, como estamos acostumados a interpretar palavras, não, intenções, tanto apedrejamos nossos benfeitores, quanto, elegemos nossos roubadores.

O Mesmo Paulo, aliás, quando disciplinava a Igreja sobre o uso dos dons disse: “Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará para a batalha? Assim também vós, se com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o que se diz?” I Cor 14;8 e 9

Antes de partilhar informações precisamos adequação de linguagem.

“Falar é uma necessidade, escutar é uma arte”. Goethe