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sábado, 23 de novembro de 2019

Gugu Liberato; a morte fora da casinha

A morte está mais viva do que nunca. E, a cada dia morre em série, se esforçando em demanda pela nossa atenção, mas seguimos alheios, nos fazendo de mortos.

Aí ela amplifica seu grito e ceifa gente famosa como Paul Walker, Tony Palmer, Walmor Chagas, Robin Willians, Ricardo Boechat, e agora seu grito mais recente, Gugu Liberato.

Nos movemos por um pouco em nossos assentos, não o bastante para desgrudar as bundas, ou despertar os cérebros; e via de regra, cada um tem uma "receita" nas prateleiras da preguiça mental, à qual recorre para abafar tais gritos.

O fatalista conclui: "Chegou a hora"! O "lógico" reclama: "Tanta gente ruim e morrem os bons!" O filósofo de botecos "filosofa": "Pra morrer basta estar vivo". O espírita: "Cumpriu seus karmas"; Uns têm as frases feitas para as perdas menores; "Vão-se os anéis ficam os dedos"; daí quando vão-se os dedos quedam incrédulos.

Tendemos em nossa lógica inconsequente e desavisada a "arquivar" vidas como se fosse um fichário; ordenadas pela data e índice alfabético, à luz do qual a dama de preto deveria ceifar primeiro às fichas mais antigas. Vá saber se a morte conhece lógica, bebe, consome drogas, ou afins, mas tem feito um monte de trapalhadas cronológicas, de modo que me atrevo a dizer que ela está fora da casinha.

Levou à Amy Winehouse antes do Mick Jaegger; Paul Walker antes do Stallone; Artur antes do Lula; agora, Gugu antes do Silvio Santos. Lógica não é com ela, pois.

Admiro gente que consegue tratar de algo tão sério de modo doce, como os poetas, por exemplo; "Eu estava dormindo e me acordaram, e me encontrei assim, num mundo estranho e louco... e quando comecei a compreendê-lo um pouco, já eram horas de dormir de novo"

Porque o tempo é uma invenção da morte,
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia,
para nos dar a eternidade inteira"
Mário Quintana

"Fiz um acordo de coexistência pacífica com a morte; eu prometo não temê-la, nem ela me assustar; um dia a gente se encontra". Mário Lago

Por minha parte com recursos pífios comparado aos grandes Mários, escrevi um poema esposando a ideia que a morte mais assusta a quem pensa ter mais vida;

"Ao jovem a morte parece um precipício; o desperdício de tudo o que pensa ter para viver; ao adulto parece um monte; horizonte extático onde mais dia, menos dia fará a subida; o velho andeja com ela pela campina; traquina criança festejando a absolvição de sua sentença de vida."

A Bíblia valora como mais proveitosos os ambientes fúnebres que os festivos, dado esperar que tais nos ensinem algo; "Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens; os vivos o aplicam ao seu coração." Ecl 7;2

Tiago apresentou a "robustez" das nossas vidas como uma coisa tênue, pífia; "Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece." Tg 4;14

Por isso, longe de ser uma opção a se fazer nos dias da velhice, a salvação sempre nos é apresentada como uma decisão que requer urgência; "... Eis aqui agora o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação..." II Cor 6;2 "Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes sua voz, (de Deus) não endureçais vossos corações, como na provocação." Heb 3;15

Dado que a conversão que nos livra do medo da morte demanda mortificação dos desejos naturais em prol da realização da Vontade Divina, bem observou Watchmann Nee: "Muitos gastam tempo ensinando aos cristãos a viver melhor, quando, deveriam ensinar a morrer melhor."

Nossa abstração se verifica à medida que, só mortes mui próximas nos movem, ou de famosos, como alguém observou: "Uma morte é uma tragédia; milhares de mortes, apenas um número, uma estatística."

Então, apesar de certa leveza no texto, tanto quanto possível, não entendam que trato a coisa de modo pueril, superficial. Meus respeitos e solidariedade à família enlutada, anexo o desejo que o Espírito Santo conforte e console aos corações feridos.

Quanto à nós outros que contemplamos de longe, sempre acontece uma partida de gente bem próxima; a menos que tenhamos um "plano B" para salvação sem Cristo, deveríamos usar nosso tempo para reconciliação com Deus, para que a sombra da morte não assuste mais.

O Eterno desconhece alternativas e propõe em nosso nome a questão: "Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando sendo anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram?" Heb 2;3

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A Morte anda muito viva

Segundo o Ministério da saúde, no ano de 2016 morreram por homicídio 62.517 pessoas, no Brasil. Some-se acidentes de trânsito, mortes por enfermidade e causas naturais e beiraremos as 200 mil mortes por ano.

Por ser assim tão corriqueira a morte nem deveria nos assustar; mas, quando se pavoneia como agora assusta.

Tivemos há poucos dias a tragédia de Brumadinho, Minas Gerais com centenas de mortos; um incêndio no centro de treinamento do Flamengo; mais dez; agora a notícia que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto de um helicóptero morreram num acidente em São Paulo.

Três casos de exibicionismo da morte. No primeiro, se, a maioria atingida era de pessoas simples, trabalhadores anônimos, o incidente que as vitimou foi de repercussão global; no segundo caso, atletas de base e funcionários do clube de maior torcida no país; por fim, um jornalista de renome nacional.

É como se a morte de repente quisesse chamar a atenção de nós outros, reles mortais.

Para minha vergonha alheia deparei com postagens comemorando o acontecido em Brumadinho, pois, a cidade teria votado majoritariamente em Bolsonaro; falando nele, aliás, quando a cirurgia pela qual passou apresentou complicações, não poucos postaram também suas “orações” pedindo sua morte. Ontem deparei com um sujeito que não gosta do flamengo motejando em memes da morte dos garotos no incêndio; um negócio medonho que nossa pós-humanidade tem mostrado.

Não concordo com muitas opiniões defendidas pelo Boechat; não é porque ele morreu que vou fingir que era meu ídolo. Mas, minhas diferenças com ele eram no campo das ideias apenas; nada que me fizesse desejar-lhe mal. No entanto, também morreu junto com o piloto, infelizmente.

Normalmente as pessoas partilham uma frase motivacional que tem a morte como pano de fundo; “Viva cada dia como se fosse o último!” Encorajam.

Porém, o que significa esse viver intensamente? Entrevistado pela jornalista Leda Nagle o famigerado Jean Willis perguntado sobre o que faria se sua vida estivesse acabando, digo, se o mundo tivesse data marcada para acabar e fosse breve. “Pediria perdão a todos que feri; usaria todas as drogas ilícitas que não usei e treparia muito, com quem quisesse;” foi a resposta do bravo deputado.

Ora, se ia rolar no lixo qual uma porca na lama, nem vejo qual o sentido de pedir perdão às pessoas que feriu; drogado feriria de novo sem perceber; dando-se à promiscuidade desmedida também correria o risco de abrir novas feridas. Eis a ideia de alguns sobre “viver intensamente.”

Lembra um meme mui engraçado onde um caminhão de porcos vai ao matadouro em plena reta final um deles está cobrindo uma fêmea; aí a famosa frase aquela. Se, é para terminar como porcos, “vá bene!”

A vida não é uma corrida contra o tempo na qual devemos fruir ao máximo os prazeres, mesmo doentios, antes que acabe. Quando se fala em qualidade de vida geralmente o que se pretende dizer é: Vida confortável, apenas.
Não se considera devidamente predicados morais, espirituais, relacionais, estéticos como ingredientes a qualificar nossas vidas.

Demócrito um pensador pré-socrático dizia: “Viver mal, não refletida, justa e piedosamente, não é viver mal; é ir morrendo por muito tempo.”

Jesus contou de um abastado agricultor no auge de uma super-safra; farei novos celeiros, abarrotá-los-ei e direi à minha alma: Descansa e folga. Mas, O Senhor lhe falou: “Louco! Esta noite será pedida tua alma; e o que tens preparado para quem será?” Era seu último dia e ele não sabia. Achava que estava com tudo; não tinha nada nessa vida nem no porvir; miserável homem!

Todos nós estamos no mesmo barco. Digo, qualquer dia pode ser o nosso último e não sabemos.

Quer dizer que, os do, “viva a cada dia como se fosse o último” estão certos? Sim e não.

Considerar a possibilidade da morte nos esperar na próxima esquina é sábio; estar preparado espiritualmente para possível encontro com O Juiz dos vivos e dos mortos, mais ainda; agora, agir como se a vida fosse uma pocilga e sujar-se ao cubo em nome da intensidade é só estupidez usando o assento que deveria ser da prudência.

Segundo Salomão, ambientes fúnebres tendem a infundir algumas gotículas de prudência nos nossos corações; “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens; os vivos aplicam ao seu coração.” Ecl 7;2

Depois que se põe o sol inda ilumina por mais de uma hora a superfície terrestre; um homem que vive bem, depois de morto ainda vive no legado que o segue. Sejamos como Abel, do qual, dando “Deus testemunho dos seus dons... depois de morto, ainda fala.” Heb 11;4