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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A Morte anda muito viva

Segundo o Ministério da saúde, no ano de 2016 morreram por homicídio 62.517 pessoas, no Brasil. Some-se acidentes de trânsito, mortes por enfermidade e causas naturais e beiraremos as 200 mil mortes por ano.

Por ser assim tão corriqueira a morte nem deveria nos assustar; mas, quando se pavoneia como agora assusta.

Tivemos há poucos dias a tragédia de Brumadinho, Minas Gerais com centenas de mortos; um incêndio no centro de treinamento do Flamengo; mais dez; agora a notícia que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto de um helicóptero morreram num acidente em São Paulo.

Três casos de exibicionismo da morte. No primeiro, se, a maioria atingida era de pessoas simples, trabalhadores anônimos, o incidente que as vitimou foi de repercussão global; no segundo caso, atletas de base e funcionários do clube de maior torcida no país; por fim, um jornalista de renome nacional.

É como se a morte de repente quisesse chamar a atenção de nós outros, reles mortais.

Para minha vergonha alheia deparei com postagens comemorando o acontecido em Brumadinho, pois, a cidade teria votado majoritariamente em Bolsonaro; falando nele, aliás, quando a cirurgia pela qual passou apresentou complicações, não poucos postaram também suas “orações” pedindo sua morte. Ontem deparei com um sujeito que não gosta do flamengo motejando em memes da morte dos garotos no incêndio; um negócio medonho que nossa pós-humanidade tem mostrado.

Não concordo com muitas opiniões defendidas pelo Boechat; não é porque ele morreu que vou fingir que era meu ídolo. Mas, minhas diferenças com ele eram no campo das ideias apenas; nada que me fizesse desejar-lhe mal. No entanto, também morreu junto com o piloto, infelizmente.

Normalmente as pessoas partilham uma frase motivacional que tem a morte como pano de fundo; “Viva cada dia como se fosse o último!” Encorajam.

Porém, o que significa esse viver intensamente? Entrevistado pela jornalista Leda Nagle o famigerado Jean Willis perguntado sobre o que faria se sua vida estivesse acabando, digo, se o mundo tivesse data marcada para acabar e fosse breve. “Pediria perdão a todos que feri; usaria todas as drogas ilícitas que não usei e treparia muito, com quem quisesse;” foi a resposta do bravo deputado.

Ora, se ia rolar no lixo qual uma porca na lama, nem vejo qual o sentido de pedir perdão às pessoas que feriu; drogado feriria de novo sem perceber; dando-se à promiscuidade desmedida também correria o risco de abrir novas feridas. Eis a ideia de alguns sobre “viver intensamente.”

Lembra um meme mui engraçado onde um caminhão de porcos vai ao matadouro em plena reta final um deles está cobrindo uma fêmea; aí a famosa frase aquela. Se, é para terminar como porcos, “vá bene!”

A vida não é uma corrida contra o tempo na qual devemos fruir ao máximo os prazeres, mesmo doentios, antes que acabe. Quando se fala em qualidade de vida geralmente o que se pretende dizer é: Vida confortável, apenas.
Não se considera devidamente predicados morais, espirituais, relacionais, estéticos como ingredientes a qualificar nossas vidas.

Demócrito um pensador pré-socrático dizia: “Viver mal, não refletida, justa e piedosamente, não é viver mal; é ir morrendo por muito tempo.”

Jesus contou de um abastado agricultor no auge de uma super-safra; farei novos celeiros, abarrotá-los-ei e direi à minha alma: Descansa e folga. Mas, O Senhor lhe falou: “Louco! Esta noite será pedida tua alma; e o que tens preparado para quem será?” Era seu último dia e ele não sabia. Achava que estava com tudo; não tinha nada nessa vida nem no porvir; miserável homem!

Todos nós estamos no mesmo barco. Digo, qualquer dia pode ser o nosso último e não sabemos.

Quer dizer que, os do, “viva a cada dia como se fosse o último” estão certos? Sim e não.

Considerar a possibilidade da morte nos esperar na próxima esquina é sábio; estar preparado espiritualmente para possível encontro com O Juiz dos vivos e dos mortos, mais ainda; agora, agir como se a vida fosse uma pocilga e sujar-se ao cubo em nome da intensidade é só estupidez usando o assento que deveria ser da prudência.

Segundo Salomão, ambientes fúnebres tendem a infundir algumas gotículas de prudência nos nossos corações; “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens; os vivos aplicam ao seu coração.” Ecl 7;2

Depois que se põe o sol inda ilumina por mais de uma hora a superfície terrestre; um homem que vive bem, depois de morto ainda vive no legado que o segue. Sejamos como Abel, do qual, dando “Deus testemunho dos seus dons... depois de morto, ainda fala.” Heb 11;4