sábado, 28 de setembro de 2024

Os paradoxos


“Um deles, seu próprio profeta, disse: Os cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos.” Tt 1;12

Segundo historiadores, quem teria dito essa frase citada por Paulo, Epimênides, era uma espécie de Sacerdote daquela ilha. Estaria por trás da nomeação do altar “Ao Deus Desconhecido” citado nos Atos dos Apóstolos. Consta no livro “O Fator Melquisedeque” de Don Richardson.

Algum pensador mais perspicaz, atentando à frase, e ao fato de seu autor ser também cretense, elaborou o chamado “Paradoxo de Epimênides”. Uma vez que, “todos os cretenses são mentirosos,” e o autor era de Creta, significava que, ‘se ele estivesse mentindo, falaria a verdade; se fosse verdadeiro, estaria mentindo.’ Num primeiro momento dá um nó; mas pensando melhor, entendemos o sentido. Na análise estrita da letra, seria essa a conclusão, necessária.

Contudo, o simples fato dele declarar sua aversão ao comportamento dos demais ilhéus, implica que reprovava tal postura; donde seria legítimo concluir que, ele não faria parte dos “todos” tencionados na frase.

Às vezes acho graça quando alguém me aconselha que não me meta na vida alheia. Penso: Eis aí um que não vive o que prega. Pois, ao me aconselhar como agir, está se metendo na minha, me prescrevendo a fazer o contrário. Seu modo de agir se insurge contra seu jeito de falar.

Igual contradição cometem os que alardeiam o valor do silêncio, em vistosas e provocativas postagens. Se gostam tanto do silêncio, apreciam deveras o valor dele, por que não calam a boca?

Como vemos, o referido paradoxo, tipo a brincadeira antiga da “gata amarela” onde “quem falar primeiro come, fora eu” é a “filosofia” de vida de muitos presumidos sábios da praça.

Óbvio que há direitos inalienáveis, particularidades que são de foro específico de cada um. O indivíduo, como a palavra sugere, é indivisível, ímpar; na condição de partícula do tecido social, tem seus direitos particulares. Desgraçadamente, na grande maioria dos casos, quem deveria fazer silêncio, pelo lapso de conteúdo, é quem costuma fazer mais barulho, pois o lapso atinge à noção também.

Quando alguém ensina algo que mexe com as almas, confrontando-as com os preceitos Divinos, facilmente enseja desconforto, abala o comodismo indolente daqueles que vivem às suas ímpias maneiras, e não querem ser incomodados. Quem é escolhido pelo Eterno, para expoente da Palavra, “se mete” nas vidas de todos que interagem consigo, uma vez que o Amor de Cristo o constrange.

O que herdou do Senhor o estimula a querer igual, para o semelhante; o que recebeu como incumbência, o desafia a ser porta-voz do Reino dos Céus.

O risco é o mesmo dos paradoxos e contradições vistas. Paulo disse o seguinte: “Todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois, assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira ficar reprovado.” I Cor 9;25 a 27

Na mesma carta a Tito citado ao princípio, o apóstolo mencionou uns que eram bons no reino das falas e inúteis onde imperam as ações; “Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, desobedientes e reprovados para toda a boa obra.” Cap 1;16

Embora o silêncio tenha lá seus méritos, ou, pelo menos a vantagem de não despertar problemas que hibernam sob a neve do esquecimento, tem também os hospedeiros mais indicados; “Até o tolo, quando se cala, é reputado por sábio; o que cerra os seus lábios é tido por entendido.” Prov 17;28

Quem foi incumbido de falar por Deus, da parte Dele, não pode se apegar a esses “méritos”. Num momento de grande fome em Samaria, a cidade cercada por inimigos, O Senhor criou um reboliço e os fez fugir abandonando tudo, inclusive os víveres; quatro leprosos que foram ao encontro dos inimigos, preferindo morrer pelas armas a morrer de fome, fartaram-se encontrando aquilo tudo.

Depois, a consciência os cobrou, para que fossem avisar daquela fartura na cidade também; “Então disseram uns para os outros: Não fazemos bem; este dia é dia de boas novas, e nos calamos; se esperarmos até à luz da manhã, algum mal nos sobrevirá; por isso agora vamos, e anunciaremos à casa do rei.” II Rs 7;9

Assim somos nós, ministros do Evangelho. Leprosos que foram curados e abençoados, sabem onde há fartura de alimento espiritual, pra socorro dos oprimidos pelo inimigo. Nesse caso, o mérito não está no silêncio; antes na proclamação a plenos pulmões, da boa notícia. “Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia boas novas...” Is 52;7

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