domingo, 1 de setembro de 2024

Morte e vida


“Porque aquele que está morto está justificado do pecado.” Rom 6;7

Isso, se lido de modo superficial pode dar azo a interpretações espúrias, distantes da intenção do autor. Já há no imaginário popular, uma espécie de sagração da morte, como se ela apagasse tudo de ruim que fazemos, e nas suas asas, todos seriam salvos, passariam a um estado de ventura.

Quando morre alguém, sobretudo, famoso, não importa quais escolhas tenha feito aqui, no escopo espiritual, dizem que “Passou pro andar de cima”, “tornou-se uma estrela no firmamento”, quiçá, um guardião que velará pelos que lhe eram queridos.

Não raro, estendem o modo de vida que o finado levava na terra, como se lá fosse mera continuação das mesmas coisas. Se era cantor, passará a “cantar para Deus”; era um jogador de futebol, “desfilará nos campos celestes”; etc. O artifício e a humana imaginação, não são nada além disso.

Será que as coisas são mesmo assim? Que, não importa quais atos pratiquemos, no final, com a morte tudo será esquecido, todos seremos salvos? Não seria essa a ideia do verso em apreço, “Aquele que está morto, está justificado do pecado?” O simples fato de ter morrido zerou suas dívidas, aparecerá justo diante de Deus?

Justificar, aqui, não significa inocentar, antes, dar o pagamento justo, o que merecem os atos do sujeito. No mesmo contexto encontramos: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” Rom 6;23

Restaria a ideia da inexistência dos que morrem em pecado, e a vida eterna apenas aos salvos. Mas, não é isso que A Palavra de Deus ensina. Nesse caso as pessoas apostariam suas fichas todas nos prazeres pecaminosos daqui, finda a vida, nada a temer.

O Salvador ensinou diferente: “Eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei Aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a Esse temei.” Luc 12;5 Após a morte inda restam contas em aberto.

No caso de tudo findar na morte, poderiam escarnecer de Deus, o que muitos fazem, infelizmente, sem consequências, sem ceifar o devido juízo. “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso ceifará. Porque o que semeia na carne, da carne ceifará corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará vida eterna.” Gál 6;7 e 8

A corrupção da carne não significa inexistência; “Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, outros para vergonha e desprezo eterno.” Dn 12;2

Logo, a morte física é o fim apenas do tempo que nos foi dado para reencontrarmos o rumo de casa; recebemos certo limite de espaço e tempo, “Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós;” Atos 17;27 Isaías sinaliza a urgência com que devemos cuidar disso: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.” Is 55;6 Esse “enquanto se pode achar” subentende a vinda de um tempo em que não será mais possível.

A ideia da conversão esposada por Paulo, é anteciparmos nossa "morte", por uma mudança de mentalidade e atitudes tal, que seria como se, morrêssemos juntamente com Cristo; “Negue a si mesmo” dissera Ele; não por deixar de existir, mas por levar a vontade do Pai às últimas consequências, para que essa identificação na morte, satisfaça à Justiça Divina de modo a nos legar o dom da vida.

“Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela Glória do Pai, assim andemos também em novidade de vida.” Rom 6;3 e 4

Tal morte, Paulo explica, requer um não conformismo com o jeito mundano de ser, o sacrifício dos nossos desejos pecaminosos, para que possamos andar segundo a vontade de Deus; “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rm 12;1 e 2

Assim, “Aquele que está morto está justificado do seu pecado”. Pois, que “morreu” em Cristo, vive Nele, com Ele, para Ele. A justiça do Salvador é atribuída ao Seu servo, que mesmo nessa vida, espiritualmente, ingressa na vida eterna, como aconselhou o apóstolo: “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para qual também foste chamado...” I Tim 6;12

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