domingo, 15 de setembro de 2024

O que ler?


“Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá.” I Tim 4;13

Recebi de um amigo que me honra lendo meus textos, o pedido de indicação de leituras relevantes.

Pensei um pouco, mais um pouco, algumas dezenas de títulos se deixaram fotografar na parede da memória. Mesmo assim, não me atrevi a recomendar nenhum. Uma série de “efeitos colaterais” me assustaram.

Já aconteceu de alguém me indicar algo “imperdível;” eu ler sem ter me empolgado. Certamente, coisas que indiquei também passaram pelo mesmo crivo, decepção.

Por que isso acontece? Porque temos necessidades e paladares diferentes, e estamos em estágios distintos em nossa escalada de aprendizado. Assim, nem sempre o que soa aprazível a um, tem o mesmo resultado a outro.

Podemos ainda, diferir sobre o que buscamos, quando lemos. Em se tratando de teor espiritual, nenhum cristão colocará nada no lugar da Palavra de Deus. Além da teologia, para a devida interpretação, bons autores, como Charles H. Mackintosh, Charles Spurgeon, Don Richardson que seu espetacular “O Fator Melquisedeque”, algo sobre os puritanos, Dave Hant, com “A sedução do Cristianismo” e “Escapando da Sedução”, foram leituras que me fizeram bem.

A Palavra coloca um conselho sobre a busca da sabedoria: “Examinai tudo. Retende o bem.” I Tess 5;21

Assim, o fato de alguém ser Arminiano, não deve tolher que leia bons autores Calvinistas, e vice-versa. Eu sou cristão, entretanto, li o “Alcorão” mais de uma vez; “o Livro de Mórmon”, “O Grande Conflito”, alguns títulos espíritas, livros de psicologia, e muitos de filosofia. Qual o proveito? Não sei. Mas, na pior das hipóteses, um livro com teor que descremos, enriquece nosso vocabulário, permite conhecer os motivos de quem crê diferente, nos qualificando a argumentar com conhecimento, quando falarmos com um desses.

Quem gosta de sensibilidade apurada e linguagem poética, Antoine de Saint Exupèry, com a “Terra dos Homens” e “O pequeno Príncipe”, embora não tenham teor espiritual, mostram profunda habilidade na leitura da alma humana, e grande riqueza poética no modo como isso é expresso.

Se outrem desejar aprender com certo humor, “O Elogio da Loucura” de Erasmo de Roterdã é um achado. Na filosofia, “O Livre Arbítrio” de Artur Schopenhauer me ajudou. Os diálogos de Platão, Górgias, Teeteto, A República, Sofista, Fédon etc. também têm seu valor. Não significa que concordo, necessariamente, com tudo que está exposto lá. Na receita aquela do “examinai tudo e retende o bem”, devemos ser cuidadosos. Se, no método argumentativo a dialética é admirável, no teor, nem sempre o que se lê nos soa digno, probo.

Li “O Mundo de Sofia” de Jostein Garden; é uma espécie de sumário da história da Filosofia, desde os pré-socráticos, até meados do século XX. O autor não esposa nenhuma visão, apenas, menciona cada uma expondo o que essa defendia, em linhas gerais.

A busca da sabedoria deve ter a avidez de um garimpo, segundo o mais sábio entre os homens, Salomão. “Se clamares por conhecimento, por inteligência alçares tua voz, se como a prata a buscares, como a tesouros escondidos a procurares, então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus. Porque o Senhor dá sabedoria; da Sua Boca é que vem o conhecimento e entendimento.” Prov 2;3 a 6

Já ouvi pregadores com sua exagerada ênfase no “poder”, baixando a lenha em outros que citam filósofos em suas mensagens. Ora, quando a citação serve para enfatizar uma verdade bíblica, como a aversão à luz ensinada por Cristo em João Cap 3; 19 a 21 Foi Platão que disse: “Trágico não é a criança com medo do escuro; antes, os adultos com medo da luz.” Qual problema citar algo assim?

Paulo menciona o cretense Epimênides na carta a Tito. Tt 1;12 Pediu certa vez: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo e os livros, principalmente, os pergaminhos.” II Tim 4;13

Portanto, querido irmão, perdoe-me se não me atrevo a prescrever esse ou aquele livro. Talvez, o maior trunfo de um autodidata, (Um idiota por conta própria, como definiu o Quintana) seja ele não receber “nada” em troca de seus estudos.

Difere de quem busca se formar por um diploma, e um labor naquilo que se habilitou que permita ganhar a vida; natural e honesto, isso. Quem busca ao conhecimento “apenas” por ele mesmo, tem melhores chances de apreciá-lo em seu real valor.

Se, por um lado, tudo recebemos do Senhor; Ele nos capacita ao aprendizado; por outro, nossas escolhas terão consequências. Foi a um que desde criança estudava, que foi dito: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da Verdade.” II Tim 2;15

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