quarta-feira, 24 de julho de 2024

O saber atrapalha?


“Sem parábolas nunca lhes falava; porém, tudo declarava em particular aos Seus discípulos.” Mc 4;34

Por que O Senhor apresentava Sua Doutrina, sob a “película” das parábolas? Diria alguém, que as parábolas servem para facilitar o entendimento; O Mestre usava-as, para esse fim. Há um quê de verdade nisso, mas, não explica devidamente.

Com o avanço civilizatório, meios requintados ao alcance de todos os que desejarem conhecimento, o apreço muda. Naqueles dias, de cultura pouco desenvolvida entre o povo comum, as parábolas “escureciam” o entendimento; tanto é assim, que depois de contá-las em público, carecia, O Salvador, explicá-las em particular aos discípulos.

Esses, malgrado a ignorância, criam no Senhor, na Sua Pessoa; achavam-no, digno de confiança, de tal modo, que mesmo não compreendendo o que Ele dizia, entendiam que Ele era verdadeiro, confiável.

Primeiro a fé, depois o entendimento. A Ordem que O Próprio Senhor estabeleceu. “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não O conheceu pela Sua Sabedoria, aprouve a Ele salvar os crentes pela loucura da pregação.” I Cor 1;21

Mera adesão intelectual, sem honrar ao Senhor, demonstrando fé, não interessa ao Salvador. Por isso, “dificulta” ao intelecto, para ser, primeiro, recebido pelo coração. “A vós é dado saber os mistérios do Reino de Deus, mas aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por parábolas, para que, vendo, vejam, e não percebam; ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados.” Mc 4;11 e 12

Quer dizer que existe uns que Deus não quer perdoar e salvar? Não. Existe um método que escolheu para salvar e por esse, a fé, busca a todos. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, (nem do intelecto) para que ninguém se glorie;” Ef 2;8 e 9

Assim, “as coisas loucas” em sua simplicidade levam vantagem às sábias. “Porque, vede, irmãos, vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, ou, nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir às fortes; escolheu as coisas vis deste mundo, as desprezíveis, as que não são para aniquilar as que são;” I Cor 1;26 a 28

Não significa que, os de intelecto privilegiado estejam fora do Divino propósito. Basta que desçam do pedestal de pretensão, e abracem à loucura de crer entre os humildes; serão festivamente aceitos como os demais o foram. “Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o Poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, aniquilarei a inteligência dos inteligentes.” I Cor 17 a 19

Não se conclua, contudo, que O Criador É refratário ao conhecimento. Nos capacitou para esse e deseja que o adquiramos. Apenas, condicionou-o, a estar sob a cruz, vista como é; O Poder de Deus para salvar, não como loucura pela “resistência filosófica” à violência, dos que não se importam de fazer violência à verdade.

Há duas nuances distintas de saber; uma, segundo o mundo que se opõe ao Eterno; outra, que mesmo sem muitas letras, enxerga as veredas da vida e abraça-as. “... falamos Sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da Glória.” I Cor 2;7 e 8

Os simplórios seguiam ao Salvador, mesmo sem entender cabalmente Seus ensinos; mas, inquirindo-o Ele explicava em particular. Igualmente, devemos desejar e buscar entendimento das coisas que Deus preparou para nós. Não por um diploma, um título, algo fútil a ser emoldurado numa parede; antes, porque nossa vida espiritual depende disso. “A vida eterna é esta: que conheçam, a Ti só, por Único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” Jo 17;3

O perigo de alguém se tornar intelectualmente brilhante, sem o concurso de uma fé sadia, é afogar-se na própria suficiência, como Narciso fascinado com seu reflexo.

O Mais sábio de todos os homens foi Salomão. Entretanto, cometeu uma série de erros, que um cristão mediano não cometeria. Ele versou sobre a futilidade do saber, divorciado de Deus. “Porque na muita sabedoria há muito enfado; o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.” Ecl 1;18

Busquemos conhecimento; mas, do tipo que alimenta nossas almas. “Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão...” Is 55;2

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