sábado, 20 de julho de 2024

Escravos


“E chegou-se a um dos cidadãos daquela terra, o qual o mandou para seus campos, apascentar porcos.” Luc 15;15

O filho pródigo, depois de desperdiçar todos os seus bens em busca de prazeres, acabou sem nada, carecendo de meios para sobrevivência. Buscou por trabalho; o que encontrou foi ser cuidador de porcos. O empregador não quer saber se tenho sonhos, projetos, se venho de boa família, etc. Preciso trabalhar para comer; ele tem porcos pra apascentar, é pegar ou largar. Ele pegou.

Há uma diferença entre o momento em que podemos escolher o que melhor nos convém, e outro em que estranhos escolhem nos dar o que lhes parece melhor.

Quando, na casa do pai, certamente podia selecionar afazeres que mais se alinhavam às suas habilidades, predileções até; uma vez que, tinham muitos servos; poderia delegar as tarefas que lhes não apetecesse.

Geralmente as consequências de uma opção infeliz, nos lançam nos desertos, onde deixamos de ter escolha; outros, acabam fazendo-as por nós. O mau uso da liberdade termina em escravidão.

Que o digam tantos que, deixando a sobriedade da vida com seu peso, enveredaram pelo caminho fácil da drogadição. Isso os fez escravos dos vícios, de maneira tal, que se dispõem a fazer o que “for preciso” para mantê-los alimentados. O que um estranho demandar que se faça, em troca de drogas, o viciado na fissura por mais do mesmo, fará; abdicou da sua liberdade, e refém, permite que estranhos façam escolhas por si, quanto aos meios de se drogar; pois, ser livre dessas não está ao alcance do preso infeliz que, avesso ao “caminho estreito” rumo à vida, quando ainda podia, acabou noutro mais estreito ainda, sem nenhuma luz no fundo do túnel.

Oportuna, a frase de Rabelais: “Conheço muitos que não puderam quando queriam, porque não quiseram, quando podiam.”

A perdição nos vícios é mais ampla que drogas e álcool. Tudo aquilo que for oposto à virtude, embora suas peculiaridades inerentes, é um vício. Maledicência, promiscuidade, pornografia, adultério, inveja... Viver nessas águas poluídas, acostuma; de tal modo que a pessoa se ofenderá, se lhe for oferecida a liberdade, uma vez que, não divisa os grilhões que a aprisionam.

Quando O Salvador falou disso aos Seus coevos, eles reagiram como presos sem noção das próprias cadeias. “... Somos descendência de Abraão, nunca servimos a ninguém; como dizes Tu: Sereis livres?” Jo 8;33

Ora, naqueles dias, quem governava sobre os judeus eram os romanos. Permitiam liberdade religiosa, mas, cobravam pesados impostos dos judeus; logo, a expressão, “nunca servimos ninguém”, era desprovida de verdade. Sem contar que, espiritualmente, serviam ao inimigo, e à carne do pecado.

Tinham aos romanos e a Satanás como feitores, além do ego, usurpando Deus. Três senhores concomitantes, e se presumiam livres.

Por isso, a afirmação do Salvador. “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” V 36 Era falsa a noção de liberdade deles.

Eventualmente O Pai permite que apascentemos porcos; digo, colhamos as nefastas consequências das atabalhoadas e inconsequentes escolhas, para que, sofrendo o peso das mesmas, repensemos sobre o vero valor dos bens que desprezamos.

O pródigo ao cotejar sua malcheirosa ocupação com a rotina da casa paterna repensou: “Tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.” Luc 15;17 a 19

Quem achara indesejável ser administrador na casa do Pai, descera tanto, comera do ruim de tal forma, que se dispunha a ser como mero empregado.

Felizes aqueles que, tendo chegado ao fundo do poço, percebem inda que tardiamente, que a única saída é para cima, invés de tentar escavar para afundar mais.

A liberdade de Cristo ainda nos faz servos; agora, de Deus. Nada de apascentar porcos. Antes, lutamos contra nossas próprias inclinações acostumadas ao mal, para crucificá-las, em obediência ao Senhor. Cada um é capacitado pelo Espírito Santo, a uma determinada função útil à Obra.

Um serviço com alento, sem feitores tiranos a exigir resultados em labores inglórios; a relação com O Senhor é filial, e pelo Pai somos agraciados com O Espírito Santo, para aquilo que é bom aos Olhos Dele.

Em Cristo, tanto a porta, quanto, o caminho, são estreitos. Mas, a obediência espiritual como modo de vida, aos poucos faz natural, aquilo que inicialmente soou doloroso, a cruz. O exercício na piedade, paulatinamente, amplia nosso espaço para a caminhada; Pedro ensina: “Porque assim vos será amplamente concedida entrada no Reino Eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” II Ped 1;11

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