sexta-feira, 5 de julho de 2024

Contratempo

 “Porquanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para fazer o mal.” Ecl 8;11

Nem o juízo, nem recompensa são imediatos. Se assim não fosse, atitudes seriam poluídas pelos interesses, invés de derivarem da essência de quem atua. Por exemplo, um que se inclinasse a roubar, porém, não o fizesse, apenas porque saberia que sua punição seria imediata. Sua “honestidade” seria exterior apenas, com o coração impuro;
outro que, não se importasse com as necessidades alheias, mas, socorresse, eventualmente, a um carente, pela certeza de uma recompensa imediata. Esse “altruísmo”, também seria um verniz falso a pintar como bom, um coração ruim. Tanto, para o bem, quanto, para o mal, as ações sofreriam a interferência casuística dos interesses, invés de serem derivadas do ser, de cada agente.

Platão, achava oportuno, evitar aos casuísmos, para se cultivar valores superiores. Disse, mais ou menos o que segue: “Quando alguém for considerado justo, lhe caberão por isso, aplausos, louvores; e ficaremos sem saber se o tal é justo, por amor à justiça, ou, aos louvores que recebe. Convém colocá-lo, numa situação em que seja privado de todas essas coisas; se ainda assim, permanecer justo, certamente o é, por causa da justiça.”

As aflições, além de possibilitar que atuemos em consórcio com valores, mais que, com interesses, também têm um aspecto didático; se recebidas no espírito certo, confiantes no Senhor que está acima delas, obram nosso aperfeiçoamento. “Eis que já te purifiquei, mas não como a prata; escolhi-te na fornalha da aflição.” Is 48;10
Como ouro e prata são derretidos para que sejam removidas suas escórias, também, o coração humano carece o concurso das dores, como agentes depuradores.

Anunciando Cristo, Malaquias advertiu: “Mas quem suportará o dia da Sua vinda? Quem subsistirá, quando Ele aparecer? Porque Ele será como fogo do ourives, como o sabão dos lavandeiros. Assentar-se-á como fundidor e purificador de prata; purificará os filhos de Levi, os refinará como ouro e prata; então ao Senhor trarão oferta em justiça.” Ml 3;2 e 3

Há um “juízo” imediato sobre as ações, no tribunal das nossas consciências; tanto silenciam quando as pretendidas atitudes forem meritórias, quanto, acusam quando forem viciosas. Aquele que, pelo Espírito Santo, apurar essa sensibilidade acerca da aprovação ou, rejeição Divina, tem mais chances de errar menos, pois, o exercício nos aperfeiçoa espiritual e moralmente, trazendo de lambuja, o discernimento. “Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5;14

No Êxodo, O Eterno permitiu privações ao povo, desejando que ele fosse fiel, mesmo em meio a elas. Infelizmente, a fidelidade não era um valor muito encontrável, então. “Te humilhou, te deixou ter fome, te sustentou com o maná que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram; para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas de tudo o que sai da Boca do Senhor viverá o homem.” Deut 8;3

O que é o desafio a andarmos por fé, senão, um convite a “apostarmos nossas fichas”, numa recompensa no porvir? A fé genuína, não depende de circunstâncias, indícios, sinais. Descansa na Integridade Daquele, no qual crê. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor, firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10

Nos seus dias, Moisés agiu assim: “Pela fé deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível.” Heb 11;27

No exercício que nos faculta, na firmeza que enseja mesmo em momentos de grande adversidade é que está a beleza da fé. Pois, “... é o firme fundamento das coisas que se espera, e a prova das coisas que se não vê.” Heb 11;1

Diferente de um devaneio com algo que supomos que nos pode acontecer no devir, a fé forja o modo de viver, dos que creem deveras; “Porque ainda um pouquinho de tempo, o que há de vir virá, não tardará. Mas o justo viverá pela fé; e, se ele recuar, Minha alma não tem prazer nele. Nós, porém, não somos daqueles que se retiram para a perdição, mas daqueles que creem para conservação da alma.” Heb 10;37 a 39

Não pautemos nosso viver pelo imediatismo, pois; afinal, “Tudo tem seu tempo determinado, há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer e de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;” Ecl 3;1 e 2
“...aquele que crer não se apresse.” Is 28;16

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