quarta-feira, 3 de julho de 2024

O amor


“... Amarás teu próximo como a ti mesmo.” Mat 22;39

Vi o anúncio de uma palestra: “Aprendendo a se amar.” Então, surgiu a questão: O ser humano não se ama, carece que alguém o ensine?
Forçosa seria a conclusão que o preceito de Cristo é falho. Como eu poderia amar meu próximo como a mim, se, sequer, me amo? Do jeito que falou, subentende-se que o amor próprio é inato; trazemos no DNA, sem que careçamos nenhuma didática para que aprendamos.

O modo como desejamos que as coisas sejam para conosco, serve de parâmetro para que as queiramos, em favor do próximo. “Como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira lhes fazei, também.” Luc 6;31

Alguns se deprimem, outros que se suicidam; não seriam exemplos de gente que odeia a si mesmo? Em geral, invés de um sentimento mesclado à temperança, que reconhece os próprios erros e eventuais méritos alheios, as pessoas são egoístas, invejosas; padecem por excesso de amor próprio. Ninguém merece ventura alguma, senão, elas.

Daí, um desvio de foco; invés de aproveitar as vicissitudes da vida para se tornarem melhores, os egoístas gastam suas munições, desfazendo das alheias conquistas; “consertam” um erro com outro.

Não se tornam amargas porque não se amam; antes, porque se amam desequilibradamente, fantasiando para si, muito mais que necessitam.

Peregrinos que fizeram a famosa peregrinação de Santiago de Compostela, usando a travessia para meditar, descobriram que precisavam descartar muitas coisas, levando apenas o indispensável; o supérfluo se tornava apenas um peso a dificultar a caminhada.

Na vida é assim. Ombreamos muitos pesos desnecessários, permitindo que a febre das vaidades desequilibre nossas almas, que poderiam ser mais leves, sóbrias, menos fúteis.

Quando alguém, no ápice da dor apela ao suicídio, não o faz por achar que a vida não valha a pena; se ama tão desmedidamente, que acha que não vale apena seguir vivendo daquela maneira que se encontra.

Schopenhauer, em seu excelente “O Livre Arbítrio” diz: “Não pode alguém que possua um revólver, dizer: tenho poder para me matar. Na verdade, o tal possui apenas os meios. Para poder fazer isso, careceria de algo que fosse maior que o amor pela vida, e o medo da morte.”

Talvez a ilusão que uma grande angústia se finde, findando o viver, seja esse “algo” que patrocina a extrema tentativa de fuga, desses que, se amam tanto, que não se permitem não ser belos, ricos, famosos, ou felizes, como acreditam que merecem.

Alguém disse que, a depressão é excesso de passado, e a ansiedade, de futuro. Se, um carece fugir tanto do presente, de modo a nunca estar nele é porque, em algum momento foi convencido que, fugir é o melhor que faz. Caso, se odiasse, invés de fugir de uma situação incômoda, folgaria nela, vendo se danar àquele que odiaria. Assim, não é se amar que as pessoas precisam aprender.

Talvez, direcionar ao próximo a porção que cabe a ele. Uma frase que aprecio sobre posses, “Rico não é aquele que possui mais; antes, o que precisa de menos para viver.”

Acho que essa capacidade de dosar as coisas nas justas medidas, também faz a riqueza das nossas almas, por permitir ver que, quando as coisas não dão muito certas para nós, mesmo assim, podemos amar e fazer que deem para outros, como diz O profeta Jeremias, sobre um que confia no Senhor: “ Será como a árvore plantada junto às águas, que estende suas raízes para o ribeiro; não receia quando vem o calor, mas sua folha fica verde; no ano de sequidão não se afadiga, nem deixa de dar fruto.” Jr 17;8

O excesso de amor própria o levaria alguém a resmungar pela falta de águas abundantes. O amor facultado pelo Senhor, nos faz frutificar, em atenção às necessidades do próximo. “... Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber.” Atos 20;35

A arte tentou sublimar o “morrer por amor;” desde dias idos. Píramo e Tisbe, que acabou parafraseado em Romeu e Julieta, é exemplo do amor egoísta, desmedido. A bem da verdade, a Única morte por amor, deveras, foi a de Jesus Cristo. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu Seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Jo 3;16

Antes de chamarmos amor, às nossas inclinações egoístas, meditemos nisso: “O amor é sofredor, benigno; não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com injustiça, mas com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” I Cor 13;4 a 7

segunda-feira, 1 de julho de 2024

O mal pela raiz


“... certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha; foi procurar nela fruto, não o achando, disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente? Respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e esterque; se der fruto, ficará, se não, depois mandarás cortar.” Luc 13;6 a 9

O Salvador ensinou nossa responsabilidade, como ramos na Videira Verdadeira, frutificar, para que, quando demandarmos algo do Senhor, também sejamos ouvidos. “... Eu vos escolhi e nomeei, para que vades e deis fruto, e vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em Meu Nome pedirdes ao Pai Ele vos conceda.” Jo 15;16

A figueira tipifica gente que está na “vinha” do Senhor, a Igreja, sem ter sido transformada como O Senhor deseja.

Depois de três anos sem nenhum resultado, tinha sobejas razões, o dono da vinha, para mandar cortar a inútil planta. Mas, o vinhateiro interferiu pedindo uma oportunidade, para escavar e tratar das raízes.

Estava tudo bem com o caule, os ramos, e as folhas da referida planta; o problema que a impedia de frutificar, deveria estar nas raízes. Quando de nós ousam expor deveras seus problemas? Sem isso, a cura não virá.

Muitos, malgrado, frequentem ambientes espirituais, amam ao dinheiro, às coisas materiais; têm uma raiz problemática, que invés de frutos para Deus, produz amarguras para si. “Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas; segue a justiça, piedade, fé, amor, paciência, mansidão.” I Tim 6;10 e 11

A rejeição de Israel, no Antigo Testamente se deu, precisamente porque se negarem a produzir os frutos anelados pelo Criador; “Porque a vinha do Senhor dos Exércitos é a casa de Israel, os homens de Judá são a planta das Suas delícias; esperou que exercesse juízo, eis aqui opressão; justiça, eis aqui clamor.” Is 5;7

Tendemos a apreciar as consequências das nossas ações errôneas; O Senhor da Vinha, costuma buscar as causas. É necessário ir à raiz do problema, para que a “árvore” possa frutificar.

Noutros casos, há pecados envelhecidos sem ter sido tratados. A pessoa os cometeu e fingiu que nada tinha acontecido; e leu erroneamente, o silêncio Divino, como se fosse permissão.

O Senhor denunciou um caso assim: “Estas coisas tens feito, e Me calei; pensavas que era tal como tu, mas Eu te arguirei, e as porei por ordem diante dos teus olhos.” Is 50;21 Quando O Pai silencia, oferece uma oportunidade para que atuemos em maturidade espiritual, tratando às coisas como Sua Palavra ensina; senão, a disciplina, no devido tempo virá. “Porque o Senhor corrige ao que ama, açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija?” Heb 12; 6 e 7

Felizes daqueles que, uma vez identificados como infrutíferos, ainda têm uma oportunidade onde o Guardião da Vinha, O Espírito Santo, intercede por eles, pedindo uma nova chance; pois, sem isso, a alternativa seria cortar a planta inútil.

Para alguns, parece que A Palavra de Deus é apenas palavras. Não, Palavras poderosas, com um componente espiritual anexo, que opera grandes coisas nos que se deixam conduzir por elas, sendo bons ouvintes. As transformações efetuadas, testificariam da eficácia da Palavra do Senhor. “... o testemunho de Jesus é o espírito de profecia.” Apoc 19;10

O Salmo primeiro apresenta um ditoso que come À Palavra; nela medita dia e noite; invés de mero loquaz, o tal, se torna frutífero. “Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá seu fruto no seu tempo; suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.” Sal 1;3

Para descuidados, nos quais, A Palavra não logra incutir seu espírito, seus ouvidos rebeldes, corações endurecidos, são a terra ruim, que tolhe que esses produzam os necessários frutos de arrependimento, para depois, produzirem também, os da santificação.

Ouvem pregações sobre santidade e não se santificam; sobre a necessidade de transformação no caráter, e não se deixam transformar, frequentam locais onde Cristo é apresentado, mas recusam-se a deixar O Senhor entrar em seus corações. Como a figueira aquela, ocupam à terra inutilmente.

Mais que enxadões, adubo, carecem ouvidos, se desejaram tratar o mal pela raiz. Então, serão tornados frutíferos por longos dias. “Os que estão plantados na casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e vigorosos...” Sal 92;13 e 14