domingo, 19 de julho de 2020

A Fraqueza da Fé


“O teu Deus ordenou tua força; fortalece, ó Deus, o que já fizeste para nós.” Sal 68;28

A perspectiva Divina, que por ser Ele Eterno, parece viver sempre no presente, (O Senhor desnudou Seu Santo Braço... Is 52;10, 730 anos antes de acontecer) e a nossa, num crescente montante de passado, a cada segundo que vai, e infindo devir.

Para Deus as coisas estão prontas; “já fizeste para nós;” nós pedimos que aconteçam ainda. “fortalece...”

Assim, entendendo essa relação do “Pai da Eternidade” com o tempo, qualquer um pode ser, eventualmente, profeta; basta repetir o que Deus falou, respeitando contexto, propósito e alvo, e certamente o predito acontecerá. “Rugiu o leão, quem não temerá? Falou o Senhor Deus, quem não profetizará?” Am 2;8

Quando a Palavra diz que “a fé é o firme fundamento das coisas que se não veem, e a prova das que se esperam”, Heb 11;1 e nela se pode, como Moisés, ficar “firme como que, vendo o invisível”, é que em seus domínios somos guindados à perspectiva Divina; e podemos aí, “Chamar às coisas que não são, como se já fossem.”

Como não é necessário “chover no molhado” segundo o dito, nas coisas atinentes estritamente, ao Divino agir, nosso papel não é fazer, mas confiar em Quem Faz. “...no estarem quietos será sua força.” Is 30;7 “A Obra de Deus é esta: Que creiais naquele que Ele enviou.” Jo 6;29 Claro que um salvo é desafiado a agir como tal, nas coisas suas.

Logo, fé não é uma força que faz acontecer as coisas que desejamos, antes, uma dependência confiante Naquele que, segundo prometeu, já fez o necessário ao nosso favor, malgrado, ainda possa estar oculto, após a cortina do tempo.

Outro dia coloquei numa frase despretensiosa que a fé é fraqueza, não força; pois, ante um não! ridículo qualquer, precisamos repousar numa Integridade Majestosa do Tamanho de Deus.

Pensando bem, não é mero jogo de palavras; é isso mesmo.

Fé em si mesma é um atestado de dependência e confiança em Quem pode. “... A Minha graça te basta, porque Meu Poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o Poder de Cristo. Por isso sinto prazer nas fraquezas, injúrias, necessidades, perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.” II Cor 12;9 e 10

Quando estou fraco sou forte porque elimino a “concorrência” ao Divino agir; isto é: A confiança no braço humano onde só Deus poderia. “Assim diz o Senhor: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne seu braço, e aparta seu coração do Senhor!” Jr 17;5

A fé sadia une meu coração ao Senhor, além do componente necessário de confiança irrestrita tem também um “tempero” afetivo que leva a seguir ao Amado, mesmo que, eventualmente me conduza por caminhos inesperados ou, indesejáveis. “Amarás ao Senhor teu Deus de todo coração, alma e entendimento...”

A fé bastarda, filha da prostituta espiritual, da “teologia da Prosperidade” e adjacências, insinua-se como sendo uma força por meio da qual se pode conquistar o que se deseja “em Nome de Jesus”.

A bíblica enseja segurança mesmo na fraqueza e adversidade, pela entrega irrestrita ao Amor e Integridade de Quem nos conquistou.

Mais ou menos com versou Habacuque; “Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da manada sejam arrebatadas, nos currais não haja gado; todavia, me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação.” Hc 3;17 e 18

A fé genérica devaneia castelos no “terreno” das próprias cobiças e requer que O Eterno construa. A sadia caminha com Deus até pelas cavernas da terra, pois firma-se numa Pessoa, não num amontoado de coisas.

Quem se presume convertido, mas busca prioritariamente coisas, não Deus e Sua Justiça, quando na encruzilhada do Evangelho viu a seta que apontava para a cidade da Salvação mediante a vereda do “Negue a si mesmo” desviou-se por um atalho que presume paralelo mas, é oposto. Leva à perdição.

Infelizmente, a incredulidade suicida conseguiu ingresso em meio às facilidades do Paraíso; agora para regeneração, a fé carece ser testada e aprovada nas vicissitudes injustas de um mundo mau que “jaz no maligno”.

Quem associa a posse de uma fé vívida com facilidades, não passa de um estúpido que pensa que se vai ao front bélico para jogar damas invés de pelejar.

“Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios; esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo; como filhos obedientes...” I Ped 1;13 e 14

sábado, 18 de julho de 2020

Prevaricadores entendem como?


“O bom entendimento favorece, mas o caminho dos prevaricadores é áspero.” Prov 13;15

Provérbios antitéticos; os que cotejam antíteses; ou seja, que comparam coisas contrárias.

Por exemplo: Tolo com sábio, prudente com insensato, diligente com preguiçoso, etc. No verso acima temos o bom entendimento em oposição aos prevaricadores. Daí, resulta necessária a conclusão que, (se, as palavras escolhidas pelo tradutor estão adequadas) prevaricação é derivada do mau entendimento.

O que é prevaricar? Faltar ao cumprimento do dever por interesse ou má fé, cometer abusos de poder lesivos à sociedade ou a outrem...

O cristianismo bíblico é todo pautado em renúncia e serviço. Não contam meus interesses apenas, antes, “Levai as cargas uns dos outros...” Não somos devedores a uma estrita função para a qual comissionados; mas, devedores ao amor, de modo tal, que mera omissão é já prevaricação, dado que, “Aquele que sabe fazer o bem e não faz comete pecado.”

Não significa que tenha sido, assim entendido, desde o início; num momento de grave crise quando, O Salvador revelara que um dos doze O trairia, após breve inquietação para saber quem seria, volveram ao interesse dominante neles: “Quem era o maior”. Ver Lucas 22;21 a 24

“... Os reis dos gentios dominam sobre eles, os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes, o maior entre vós seja como o menor; quem governa como quem serve.” Vs 25 e 26

Se, a coisa indispensável é o “negue a si mesmo” onde residirem pretensões de grandeza carnal a cruz ainda não fez seu trabalho; o “convertido” não entendeu em quê, consiste a chamada à novidade de vida.

Informação sozinha sem devido entendimento se perde, pois, o enganador torce as coisas ao seu bel prazer; mesmo a natureza caída se encarrega de se inclinar à favor do vento, rumo ao mais fácil ou, prazeroso.

Por isso, na área do entendimento preciso das coisas o inimigo trabalha; “... o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo...” II Cor 4;4

Entendimento no âmbito espiritual vai muito além da mera compreensão; é adequação do agir ao entender. “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.” Jo 13;17

Na parábola dos dois fundamentos onde um edificara sobre areia, outro, sobre a rocha, o que fazia a diferença era o fato de um cumprir, o outro não, a doutrina que ambos conheciam.

Assim, entendimento que não me leva a agir conforme, malgrado seja uma luz que labora para me mostrar salvação, acaba sendo um atestado da minha resiliência no caminho da perdição.

Vindo para me dar vida, queda impotente ante à obstinação no pecado e deixa patente minha opção pela morte. “... a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;19 e 20

Quem assim age deriva escolhas de um mau entendimento; pois, considera mais proveitoso fruir toda sorte de prazeres pecaminosos, e como que cegado pela própria hipocrisia consegue acreditar que, no final, mesmo atuando assim achará um jeito de escapar, fiado no amor Divino ou, alguma esperteza de última hora.

A coisa não é tão simples assim, que nivelaria no mesmo âmbito aos fiéis de bom entendimento e os prevaricadores. “Rejeitastes todo o Meu Conselho, não quisestes Minha Repreensão, também de minha parte me rirei na vossa perdição; zombarei em vindo o vosso temor. Portanto comerão do fruto do seu caminho e fartar-se-ão dos seus próprios conselhos. Porque o erro dos simples os matará, e o desvario dos insensatos os destruirá. Mas o que me der ouvidos habitará em segurança, estará livre do temor do mal.” Prov 1;25 e 26 e 31 a 33

Não sem razão, pois, quando orava pelos crentes efésios Paulo disse que pedia que, “... Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em Seu conhecimento o espírito de sabedoria e revelação; tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação...” Ef 1;17 e 18

Vivemos, desgraçadamente, um cristianismo raso de entendimento que faz a fortuna dos falsos profetas e temos ainda ministérios inteiros de prevaricadores que usam as riquezas do Céu como pretexto para cavalgarem nas da Terra.

Esse fazem violência à verdade torcendo-a em prol de mesquinhos interesses, mas O Justo Juiz lhes dará, em tempo, a devida recompensa. “Do fruto da boca cada um comerá o bem, mas a alma dos prevaricadores comerá a violência.” Prov 13;2

domingo, 12 de julho de 2020

Liberdade dá Medo


“Se vós permanecerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sereis Meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Jo 8;31 e 32

Um pensador atento (mas não muito) acharia nesse breve texto uma contradição sobre liberdade.

Jesus condicionou seu surgimento à permanência em Sua Palavra (doutrina); mas, não é uma doutrina uma espécie de cercado, que restringe a ela, ações de quem a adota?

Como alguém poderia ser livre e restrito, ao mesmo tempo? Teria que pular a cerca?

Talvez tenhamos um conceito errôneo de liberdade; O que O Salvador tinha em mente não era segundo o prisma vulgar.

Mesmo que, libertação faça parte da proposta, o que Ele colocou em relevo foi o “conhecimento da verdade”, não a posse irrestrita da liberdade.

Embora, quando da atrevida proposta autonomista do Éden, “vós mesmos sabereis o bem e o mal”, pareça a um leitor desatento que o inimigo estaria facultando liberdade a um preso, na verdade, estava rompendo uma amizade pela mentira e escravizando uma espécie, pela falsidade. “O perverso instiga contenda, e o intrigante separa os maiores amigos.” Prov 16;28

Embora, em muitos contextos pontuais sejamos desafiados a fazer escolhas, em nenhum verso da Bíblia, o mais livre de nós é apresentado como desfrutando de liberdade sem limites, para fazer indefinidamente o que quiser.

Sempre um par de escolhas antagônicas; ambas, consequentes; “Céus e Terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto vida e morte, bênção e maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e tua descendência”. Deut 30;19

Ouso dizer que liberdade irrestrita nem O Todo Poderoso goza; uma vez que diz: “Eu velo sobre minha Palavra para a cumprir”; assim, Ele se faz “Refém” da Própria Integridade, “Servo” das Próprias Palavras empenhadas. “Deus não pode mentir...” “Se formos infiéis Ele permanece fiel, pois não pode negar a si mesmo.” Até o Altíssimo, pois, tem limites.

Mais ou menos como no jogo de xadrez, de acordo com a importância e função, cada peça desfruta a “liberdade” pra determinados movimentos; somos livres no âmbito de um propósito maior; para nos movermos dentro de determinados caminhos, conforme as regras do jogo.

Se, a liberdade deriva do conhecimento da verdade, necessária a conclusão que o que aprisiona aos seres humanos caídos é a mentira.

Quando O Salvador propõe a liberdade nesse contexto, apenas está como diz em Hebreus, “desfazendo as obras do Diabo”, pois, “... o deus deste século cegou entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a Imagem de Deus.” II Cor 4;4

Se, na autonomia proposta o inimigo libertou aos humanos da “Tirania” Divina, por quê ainda precisa ferir seus olhos de cegueira para que não entendam o chamado à reconciliação? Não deveriam se sentir confortáveis, finalmente, livres?

Na verdade nenhuma pessoa psicologicamente sadia escolherá seu mal; digo, sabendo que é mesmo estritamente, mal. Sempre precisará travestir suas escolhas, por doentias que sejam, com o matiz de algum bem; quem criou a “máquina” não a “formatou” para que escolhesse o mal. Ela não funciona assim.

Daí, os cegados pelo carcereiro mor transfigurado de libertador, aceitam novos rótulos segundo ele; mesmo cometendo as maiores atrocidades, sempre haverá um “bem” que as justifique.

Então os tiranos tiranizam em nome da “democracia”; os censores não nos querem tolher direito a opinar, mas “proteger”; os que não toleram o contraditório não são intolerantes mas, contra as “Fake News”. Onde será que já li algo assim?

“Ai dos que ao mal chamam bem, ao bem mal; que fazem das trevas luz, da luz trevas; fazem do amargo doce e do doce, amargo!” Is 5;20

Normalmente o bem, filosófico é sufocado pelos apelos do bom sensual; noutras palavras; os homens preferem o mais agradável, ao mais proveitoso; e ao sabor do momento de seres finitos, o mal pode fazer pose de bem, camuflando a condenação com as vestes da facilidade, ou de esconderijo à “agressão” da Luz. “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.” Jo 3;19

Notemos que no gládio entre trevas e luz os homens inda podiam fazer escolhas. Não poder escolher à Luz libertadora em vistas da afeição pelo mal prova que, invés de libertar prisioneiros o inimigo gerou viciados suicidas, apenas.

Qual preso vagabundo que prefere a “bóia” do presídio a trabalhar, assim, os pecadores preferem a prisão da mentira às renúncias de pecados para conhecer a verdade.

A cruz é uma “prisão” provisória aos que serão eternamente livres; os que preferem ser peões do rei das trevas sucumbirão com ele, quando do Xeque Mate.

A "Fé" dos Náufragos


“Agora, porém, completai o já começado, para que, assim como houve prontidão de vontade, haja também cumprimento...” II Co 8;11

Uma situação pontual em Corinto, de uns que começaram uma coleta em favor dos mais pobres e em dado momento arrefeceram e pararam antes de completá-la.

Deixando esse evento em particular, quero pensar um pouco sobre o vício humano de começar coisas e largar inacabadas.

Advertindo sobre a seriedade de segui-lo, Jesus ensinou que o homem prudente calcularia custos e posses antes de começar a edificar uma torre, para que não pesasse sobre ele a vergonha de ter começado sem conseguir acabar;

ou, de um rei, ante a batalha, que sabedor da superioridade do adversário, sequer começaria a mesma, desperdiçando vidas inutilmente; antes, evitaria isso e enviaria embaixadas buscando condições de paz.

Quanto ao custo do discipulado, avisou: “Assim, qualquer de vós, que não renuncia tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” Luc 14;33 Se, para salvação a palavra-chave é arrependei-vos, para o discipulado e perseverança na fé, desprendei-vos.

A Abraão, “Pai da fé” foi dito: “Sai da tua terra e dentre tua parentela para um lugar que te mostrarei”. Um apego qualquer ao lugar ou a alguma pessoa teria sido um óbice, na caminhada dele.

O que são os milhares de divórcios, mães solteiras, pais até, senão, projeções de sentimentos enganosos, planos de famílias começados e deixados por acabar?

O que são os milhares de desviados por aí, senão, gente que começou a obra e não a terminou?

Em muitos casos, na maioria deles, a culpa é dos pregadores que, invés de, como Jesus, advertirem da seriedade do que está em jogo, bem como dos custos, no seu afã carnal de encher templos mais que encomendar almas aos Céus, alargam as portas acenando com facilidades ausentes na Palavra de Deus. “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, espaçoso o caminho que conduz à perdição e muitos são, os que entram por ela;” Mat 7;13

Chamam incautos dourando a cruz e prometendo facilidades onde deveriam ensinar renúncias; como bem disse Watchman Nee, alguns se ocupam em ensinar “viver melhor” quando, deveriam ensinar a morrer melhor.

A esses festeiros adversários da Cruz Paulo combatia desde seus dias já; “Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas.” Fp 3;18 e 19

Entretanto, só pensar nas coisas materiais é um vício tão entranhado, que a maioria sequer precisa do engano dos pregadores falsos; os próprios corações se encarregam disso.

Muitos embarcam no oba oba do momento, como certo populacho no Egito que, vendo Deus pelejar maravilhosamente pelos escolhidos contra Faraó, e os libertados saírem do cativeiro com grandes despojos decidiram embarcar junto como se a peregrinação pelo deserto fosse um convite para festa.

Esses tributários das emoções, eram os primeiros a choramingar ante as dificuldades e devanear em voltar ao Egito.

Na Parábola do Semeador, O Salvador falou das sementes sobre pedras que nascem rápido e por não ter raízes fundas ao primeiro sol murcham.

Desse calibre é a “fé” dos que se baseiam meramente em emoções, invés de o fazerem na imutável Palavra de Deus; no Seu Santo Caráter; “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando andar em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor, firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

Muitos possuem suas fés de plástico para decoração das mesas do próprio engano. Pintam imaginários horizontes coloridos e animam um ao outro; “confie, creia, tome posse, vai dar tudo certo;” chamam a essa doença de fé. Só otimismo raso e inconsequente.

A fé sadia supera a falta de horizontes por ser aferida por um “Prumo” excelente; “Quando estiver em trevas e não ver luz nenhuma...” Cadê o horizonte? “Confie no Nome do Senhor” a Santa Integridade, na qual se pode confiar mesmo em circunstâncias adversas.

Então, muitos começam e não acabam, porque invés de uma confiança inabalável no Piloto, que sabe como levar, e onde devem chegar as naus das suas vidas, querem eles ser os timoneiros; escolher por si mesmos as direções.

Mais que confiança, como pensaria o incauto, fé demanda obediência, por ter um conteúdo, uma doutrina na qual crer, e pela qual, andar.

Se, sairmos fora da mesma, a consciência, essa faculdade do Espírito regenerada, nos acusará; se não lhe dermos ouvidos, não acabaremos a obra; naufragaremos. “Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.” I Tim 1;19

sábado, 11 de julho de 2020

A Caçada da Fama


“Como eu queria ser ‘fera’ em alguma coisa”!

Ouvi isso há muito tempo. Do nada, a frase renasceu e me fez pensar. No contexto, a pessoa sonhava em ter grande talento para algo e auferir fama e aplausos, por isso.

Seria hipócrita negar que, em algum momento das nossas vidas sofremos dessa doença também. Alguns jamais se curam; outros se deprimem vendo a “ferocidade” alheia e nenhum traço disso em si.

A grandeza na maioria das vezes é apenas uma sombra ilusória como versa uma fábula de Gibran: “Uma raposa saiu bem cedo em busca do seu almoço; subiu numa duna e contemplou sua sombra gigantesca e pensou: ‘preciso de um camelo para o almoço’; passou amanhã toda buscando em vão, por um camelo; ao meio dia, sol a pino, exausta, olhou novamente sua sombra escondida sob o corpo e refez: ‘pensando bem, um rato bastará’”

Quantos de nós deixam escapar os ratos que estão ao alcance devaneando com camelos que não precisam; digo, deixam de fruir as coisas boas que possuem, em demanda de grandezas que não carecem.

A verdadeira grandeza toma suas próprias iniciativas como diz no Talmude: “A grandeza foge de quem a persegue e persegue a quem foge dela”.
Em linhas gerais, numa alma razoavelmente saudável e inteligente a poção do tempo mesclada às experiências vai desenvolvendo anticorpos; muitas coisas que um dia nos pareceram caras, ora, nem importam mais; algumas se fazem desprezíveis, até.

Como disse Mário Quintana: “Chega um tempo na vida em que a opinião dos outros é mesmo, deles;” não nos diz respeito mais. Nos libertamos da tirania dos aplausos e das críticas.

Infelizmente todos somos bem mais ferozes do que pensamos. Platão plasmou uma alegoria mui eloquente para definir a natureza humana com seus múltiplos apetites, e a pobre da consciência relegada num cantinho impotente, que ele chamava de Razão.

Disse que todos somos um invólucro de pele, contendo dentro uma besta policéfala, (Monstro de várias cabeças) e no alto, um homenzinho minúsculo. Cada traço da natureza, ira, desejo, os apetites desordenados, falsidade, são uma cabeça da besta; a razão que quisera agíssemos segundo ela, mas não tem força diante do bicho, queda impotente.

Quem jamais ouviu alguém saindo rumo à esbórnia dizendo: “Vou fazer isso e aquilo (vícios vários) e não quero nem saber!” Contra quem dava tal recado? Nada mais que uma cabeça do monstro mandando o homenzinho calar. A diatribe se voltava contra o próprio bom senso que tentava advertir do erro.

Na verdade muitos que buscam fama o fazem pelo “efeito colateral” do dinheiro que costuma vir junto com os aplausos; entretanto,
“Dinheiro é como água do mar: quanto mais você toma, maior é sua sede. O mesmo se aplica à fama.” Arthur Schopenhauer

Ou, como disse Salomão, quem amar o dinheiro, jamais dele se fartará.

Parece que os “feras” também têm lá seus problemas; talvez ante escrutínio mais preciso, a coisa não seja tão glamorosa quanto parece.

Outras vezes acontece de gente talentosa morrer, praticamente anônima; depois da morte seus feitos ganharem relevância que jamais tiveram durante suas vidas; de casos assim, foi Einstein quem falou: “A fama é para os homens como os cabelos - cresce depois da morte, quando já lhe é de pouca serventia.”

Ou seria dona grandeza buscando tardiamente a um fugitivo escondido no além?

Talvez uma fama póstera seja menos ruim, pois, livra dos efeitos colaterais danosos, como bajulação vazia e perda de privacidade.

Aliás, foi o mesmo Einstein que disse: “Tente ser uma pessoa de valor, não de sucesso.” Parece que estava contente com o tamanho dos seus “cabelos”.

Quando a Bíblia ensina que a sabedoria é melhor que a força, isso nos deveria fazer pensar. Que valeria um “Sniper” fora de série, capaz de acertar num alvo a Quilômetros, se atirasse no alvo errado?

Para muitos ramos da psicologia, os seres humanos carecem maior autoestima. Segundo Deus, nosso problema básico é o egoísmo e seu subproduto mais caro, o orgulho. Daí o tudo começar pelo “Negue a si mesmo”.

Invés do insano desejo de sermos feras, portanto, deveríamos aprender a ser meras ovelhas.

Pois, no mundo novo que O Senhor idealizou para o milênio após a Volta de Jesus Cristo, até mesmo as feras serão “repaginadas”; “Morará lobo com cordeiro, o leopardo com o cabrito se deitará; o bezerro, o filho de leão e o animal cevado andarão juntos; um menino pequeno os guiará. Vaca ursa pastarão juntas, seus filhos se deitarão juntos; o leão comerá palha como o boi.” Is 11;6 e 7

Alguns fazem pacto com o Capeta para ser conhecidos na Terra; os sábios fazem pacto com Cristo e são arrolados no Céu.

O Chamado de Deus


“... Deus... de antemão te designou para que conheças Sua vontade, vejas aquele Justo e ouças Sua voz. Porque hás de ser Sua testemunha...” Atos 22;14 e 15

O que se deu com a chamada de Paulo, de certa forma se dá com todos os cristãos.

“Designa de antemão”, predestina; Não significa, como entendem os calvinistas, que Deus pré-escolhe; escolhe aqueles que aceitam os termos da reconciliação mediante Cristo; prepara de antemão o destino; “Vou preparar-vos lugar...” Eis a “predestinação”!

“Para que conheças Sua Vontade...” A condição essencial, o negue-se, fará necessariamente o convertido cambiar suas vontades naturais pela Divina.

Conhecê-la será impossível, enquanto a minha ainda estiver no comando; “Porque assim como os céus são mais altos que a terra, são Meus caminhos mais altos do que os vossos, e Meus pensamentos mais altos do que os vossos.” Is 55;9 “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, não nas que são da terra;” Col 3;1 e 2

Se, para negar à própria vontade e buscar as coisas de cima é necessário “ressuscitar com Cristo”, óbvio que, antes carecemos “morrer” com Ele; “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte?” Rom 6;3

“... Vejas Aquele Justo...”
Se, Deus por ser Espírito não pode ser visto, O Verbo Encarnado, Deus Manifesto, pode. “Quem vê a mim vê O Pai” Ensinou. “... sendo o resplendor da Sua Glória, e a Expressa Imagem da Sua Pessoa...” Heb 1;3

Atributos atinentes ao Poder e Sabedoria, as próprias obras da Criação mostram; “... Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto Seu eterno poder, quanto Sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas...” Rom 1;20

No entanto, os sentimentos Divinos foram demonstrados cabalmente na Obra de Cristo; “Ninguém tem maior amor que este, dar alguém Sua vida pelos seus amigos.” Jo 15;13 Ou, “Deus prova Seu Amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rom 5;8

Acontece que, se, por ter se feito semelhante a nós, Jesus pode ser visto, tocado... não é numa imagem física que se O vê, deveras. (Deus vetou imagens, de iniciativa humana, aliás; algumas ordenou; querubins sobre a Arca e uma serpente de metal, não para ser cultuadas, mas para propósitos pontuais.)

Paulo nosso apóstolo em apreço teve o privilégio de ver a Cristo fisicamente mas, colocou como superior o conhecimento espiritual; “... ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não O conhecemos deste modo.” II Cor 5;16

Então, o conhecimento espiritual, invés de uma satisfação mental, de suprir uma curiosidade por ter “visto” algo, ou, no caso, alguém, enseja uma identificação transformadora; “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas passaram; eis que tudo se fez novo!” II Cor 5;17

Mais que numa imagem tangível pois, Deus quer ser conhecido por identificação espiritual, em Seus Atributos e valores. O Salmista dissera que esperava ver a face de Deus na justiça; “Quanto a mim, contemplarei Tua Face na justiça; e me satisfarei da Tua semelhança quando acordar.” Sal 17;15

“Porque hás de ser sua testemunha...” Normalmente se passa por alto a essência de ser testemunha como se, a mesma fosse qualquer um que, dissesse saber ou, ter visto algo acontecer.

Entretanto, mesmo nos imperfeitos tribunais humanos, eventual testemunha, antes de inquirida jura com a mão sobre a Bíblia não dizer nada mais que a verdade; se, eventual oponente puder provar que, a mesma mentiu em parte, todo o testemunho será descartado, bem como a testemunha deixará de ter relevância.

Ademais, faz diferença “ser” testemunha ou “ter” um testemunho a dar. Mais que algo a contar, simplesmente, aquele que é testemunha de Cristo, deixa isso patente com ações; “Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai, que está nos céus.” Mat 5;16

Parecer algo é coisa muito fácil; as redes sociais estão aí para demonstrar que a maioria sabe cultivar rosas que não dão espinhos.

Porém viver Cristo, num mundo que cultua a mentira, não raro, nos faz parecer loucos. “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” I Cor 1;18

quarta-feira, 8 de julho de 2020

O Exercício espiritual


“Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter...” Ecl 8;8 Dominar o espírito, no contexto imediato sugere ter poder de evitar a morte, coisa que ninguém tem.

Entretanto, um dos frutos esperáveis dos cristãos é domínio próprio; controle sobre os seus estados de ânimo que, se não é algo impossível como o visto acima, sem dúvida é um exercício difícil.

Humildade e quietude oportuna são duas coisas preciosas de se ter, porém, que se perdem se forem usadas.

Se alguém mencionar uma presumida humildade ela desaparecerá emprestando seu assento à presunção, à arrogância. É uma joia possível de se ter apenas em silêncio, e demonstrar sua posse mediante atitudes. Ridículo ouvir alguém se gabando: “Eu sou muito humilde!” Se fosse mesmo nem saberia direito, tampouco, tocaria trombetas sobre isso.

A quietude, quando convém mais do que a fala, é mais difícil ainda. “Nada a declarar” já é uma declaração; e “sem comentários” um comentário.

O Cordeiro mudo assim se manteve perante Herodes, por exemplo, sem nenhuma palavra sequer. Na agonia da cruz só falou coisas dignas de registro, nenhum impropério contra os algozes.

O escritor é um tagarela discreto, que, quando obsequiado por certo silêncio, seus pensamentos “viciados” se põem a filosofar sobre a vida; se, convertido, toma emprestado a Palavra de Deus, óbvio; sem fechar-se a eventuais fontes paralelas que sirvam ao propósito de realçar a verdade.

Se, não “falar” sofrerá como Eliú, do livro de Jó; “Porque estou cheio de palavras; meu espírito me constrange. Eis que dentro de mim sou como o mosto, sem respiradouro, prestes a arrebentar, como odres novos. Falarei, para que ache alívio; abrirei meus lábios, e responderei.” Jó 32;18 a 20

Mediante ele O Espírito de Deus faz a “transposição” das águas do Rio da Vida, e irriga aos lugares que deseja.

Quem se dedica à arte de escrever normalmente não é ave de bandos; a solidão secretária sempre solícita e presente, enche-o de sugestões, de modo que seu “ócio” acaba gerando filhos; de qual estirpe, não sei; mas espero que tenham alguns traços do Pai Celeste.

Dentre as três formas de aprender alistadas por Confúcio; “imitação, a mais fácil; experiência, a mais dolorosa; e reflexão, a mais nobre”, eu diria que todo escritor honesto foge da primeira, (imitação, plágio não é digno de gente séria); não pode evitar à segunda, a experiência das dores da vida com suas chagas, às quais ele usa, como assessoras da terceira, a reflexão.

Oswaldo Cruz disse que observando erros alheios, o homem prudente corrige aos próprios; pode ser; mas, são nossos próprios erros, os professores, cujas aulas se fazem inesquecíveis, e os ensinos nos são tatuados em baixo relevo no coração.

Falando aos que deixaram a vida perversa em prol de Cristo Paulo cotejou numa argumentação retórica os dois estados; o de então, em Cristo, com Ele comprometidos, e a dissolução pretérita onde “livres da justiça” faziam o que queriam; disse: “Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. Que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas agora, libertados do pecado, feitos servos de Deus, tendes vosso fruto para santificação, por fim, vida eterna.” Rom 6;20 a 22

Acontece que os convertidos trazem latente em si, ainda a antiga natureza que dava asas a toda sorte de desejos, lícitos ou não; andar em espírito não é apenas adequar pensamentos à doutrina; mas, feito isso moldar o agir pelo novo pensar, segundo a “Mente de Cristo”.

É nisso, objetivamente, que consiste a cruz; a renúncia às inquietações pecaminosas latentes na alma, pela humilde postura de se deixar conduzir pelo Espírito de Deus; para, enfim, se verificar a eficácia do Feito de Cristo sobre nós; “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Rom 8;1

João também enfatizou que a Luz Espiritual não é apenas para ver, mas patrocinar um novo modo de andar; “Se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” I Jo 1;7

Enfim, se, como vimos ao princípio, não temos poder sobre o dia da morte, inúmeras vezes somos desafiados a escolher a vida.

A Obra do Espírito Santo é convencer; como a palavra sugere traz a ideia de uma vitória em conjunto; vencer com. Isto é, O Espírito pode ser resistido quando alguém ouvindo-O não se dá por vencido e prefere seguir do seu jeito.

Antes do domínio próprio, possível em espírito, necessitamos a renúncia própria; “Negue a si mesmo...”