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quarta-feira, 8 de julho de 2020
O Exercício espiritual
“Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter...” Ecl 8;8 Dominar o espírito, no contexto imediato sugere ter poder de evitar a morte, coisa que ninguém tem.
Entretanto, um dos frutos esperáveis dos cristãos é domínio próprio; controle sobre os seus estados de ânimo que, se não é algo impossível como o visto acima, sem dúvida é um exercício difícil.
Humildade e quietude oportuna são duas coisas preciosas de se ter, porém, que se perdem se forem usadas.
Se alguém mencionar uma presumida humildade ela desaparecerá emprestando seu assento à presunção, à arrogância. É uma joia possível de se ter apenas em silêncio, e demonstrar sua posse mediante atitudes. Ridículo ouvir alguém se gabando: “Eu sou muito humilde!” Se fosse mesmo nem saberia direito, tampouco, tocaria trombetas sobre isso.
A quietude, quando convém mais do que a fala, é mais difícil ainda. “Nada a declarar” já é uma declaração; e “sem comentários” um comentário.
O Cordeiro mudo assim se manteve perante Herodes, por exemplo, sem nenhuma palavra sequer. Na agonia da cruz só falou coisas dignas de registro, nenhum impropério contra os algozes.
O escritor é um tagarela discreto, que, quando obsequiado por certo silêncio, seus pensamentos “viciados” se põem a filosofar sobre a vida; se, convertido, toma emprestado a Palavra de Deus, óbvio; sem fechar-se a eventuais fontes paralelas que sirvam ao propósito de realçar a verdade.
Se, não “falar” sofrerá como Eliú, do livro de Jó; “Porque estou cheio de palavras; meu espírito me constrange. Eis que dentro de mim sou como o mosto, sem respiradouro, prestes a arrebentar, como odres novos. Falarei, para que ache alívio; abrirei meus lábios, e responderei.” Jó 32;18 a 20
Mediante ele O Espírito de Deus faz a “transposição” das águas do Rio da Vida, e irriga aos lugares que deseja.
Quem se dedica à arte de escrever normalmente não é ave de bandos; a solidão secretária sempre solícita e presente, enche-o de sugestões, de modo que seu “ócio” acaba gerando filhos; de qual estirpe, não sei; mas espero que tenham alguns traços do Pai Celeste.
Dentre as três formas de aprender alistadas por Confúcio; “imitação, a mais fácil; experiência, a mais dolorosa; e reflexão, a mais nobre”, eu diria que todo escritor honesto foge da primeira, (imitação, plágio não é digno de gente séria); não pode evitar à segunda, a experiência das dores da vida com suas chagas, às quais ele usa, como assessoras da terceira, a reflexão.
Oswaldo Cruz disse que observando erros alheios, o homem prudente corrige aos próprios; pode ser; mas, são nossos próprios erros, os professores, cujas aulas se fazem inesquecíveis, e os ensinos nos são tatuados em baixo relevo no coração.
Falando aos que deixaram a vida perversa em prol de Cristo Paulo cotejou numa argumentação retórica os dois estados; o de então, em Cristo, com Ele comprometidos, e a dissolução pretérita onde “livres da justiça” faziam o que queriam; disse: “Porque, quando éreis servos do pecado, estáveis livres da justiça. Que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte. Mas agora, libertados do pecado, feitos servos de Deus, tendes vosso fruto para santificação, por fim, vida eterna.” Rom 6;20 a 22
Acontece que os convertidos trazem latente em si, ainda a antiga natureza que dava asas a toda sorte de desejos, lícitos ou não; andar em espírito não é apenas adequar pensamentos à doutrina; mas, feito isso moldar o agir pelo novo pensar, segundo a “Mente de Cristo”.
É nisso, objetivamente, que consiste a cruz; a renúncia às inquietações pecaminosas latentes na alma, pela humilde postura de se deixar conduzir pelo Espírito de Deus; para, enfim, se verificar a eficácia do Feito de Cristo sobre nós; “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Rom 8;1
João também enfatizou que a Luz Espiritual não é apenas para ver, mas patrocinar um novo modo de andar; “Se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado.” I Jo 1;7
Enfim, se, como vimos ao princípio, não temos poder sobre o dia da morte, inúmeras vezes somos desafiados a escolher a vida.
A Obra do Espírito Santo é convencer; como a palavra sugere traz a ideia de uma vitória em conjunto; vencer com. Isto é, O Espírito pode ser resistido quando alguém ouvindo-O não se dá por vencido e prefere seguir do seu jeito.
Antes do domínio próprio, possível em espírito, necessitamos a renúncia própria; “Negue a si mesmo...”
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