“... esquecendo das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo...” Fp 3;13 e 14
“Esquecer” é uma linguagem conotativa, não significando, estritamente, esquecer. Apenas, lembrar sem dor, relegar o que passou à desimportância, perdoar; malgrado, arquivados na memória; deixar os fatos preteridos, pela incidência de novas motivações; a uma superação assim, dos eventos vividos ou vivenciados, chamamos, esquecer.
Ficar para trás, é linguagem semelhante; como se, o curso do tempo tivesse a perspectiva dos nossos olhos; olhamos o que está à nossa frente, não vemos o que fica atrás. Assim, o presente é onde atuamos, o futuro, nosso alvo, o pretérito, o que não mais vemos.
Voltemos a Paulo: Se, nos seus dias de perseguidor, cometeu coisas que seria conveniente esquecer, depois que se rendeu a Cristo padeceu enormes dores e afrontas, às quais, poderia, se quisesse, usar como troféus. Contudo, tanto as coisas feias, quanto, as meritórias, colocou no mesmo balaio; “esquecendo das coisas que para trás ficam...” Nada há de seletivo em “coisas”, é genérico, abrangente.
Alguém disse com propriedade que, as únicas desgraças verdadeiras, são aquelas com as quais, nada aprendemos. Quem encara as desventuras como docentes, evidencia mais, o que aprendeu mediante elas, do que às próprias. Se alguém menciona mais que o normal, às tristezas sofridas, as decepções passadas, é possível que as mesmas não tenham passado ainda. Deixemos, pois, o passado passar.
Circula um dito que, a ansiedade é excesso de futuro, e a depressão, excesso de passado. Melhor que reviver nossas dores, logo, é repensar os caminhos, para não repetir os erros. Quando as aflições nos ensinam, nem são tão aflitivas assim; “Antes de ser afligido andava errado; mas agora guardo a Tua Palavra.” Sal 119;67
Nossas cicatrizes na vereda da justiça têm valor; no devido tempo terão suas recompensas! É preciso que as dores sofridas sejam injustas; pois, quando não for assim, serão meras consequências das nossas escolhas, o que as tornará então, colheita, não, plantio. Para essas não haverá recompensa, porque elas já a são.
A decisão de olvidar os idos olhando mais para o porvir é uma resolução do presente, que empresta mais peso ao futuro, esforça-se em demanda do que virá, deixando de lado ao que foi. “Prossigo para o alvo.”
Pois, é a existência de um alvo, um objetivo, que tem o poder de pautar nossas escolhas, à medida que, aquilatamos a esse alvo como valioso; saber desse valor, nos fortalece para suportar o necessário, dado que, atingi-lo, compensa.
Dos salvos, a edificação, o crescimento no conhecimento de Cristo e Sua doutrina, deve ser o objetivo principal, o nobre alvo. Os ministérios de ensino foram dados para esse fim; mas só farão sentido se houver em nós o desejo pelo aprendizado.
“Ele mesmo deu uns para apóstolos, outros para profetas, evangelistas, pastores e mestres; querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério; para edificação do Corpo de Cristo. Até que, todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, homem perfeito, à medida da Estatura completa de Cristo.” Ef 4;11 a 13
Então, quando cruzamos com gente que ostenta feridas pretéritas como motivos para descaminhos presentes, “saí da igreja porque fui ferido, não fui compreendido, e tornei-me um desigrejado; sigo fiel a Cristo, mas, à minha maneira”, temos razões para desconfiar que os tais não entenderam a abrangência do “Negue a si mesmo!” “Não sabeis que os que foram batizados em Cristo Jesus, o foram na Sua morte?” Rom 6;3
Rejeição é o esperável se estamos em Cristo. Eventual aceitação que seria um fato novo, digno de espanto.
Quem inda se importa demais com o que sofre, o faz porque busca aceitação, invés de identificação com O Senhor. Cada dor sofrida, rejeição suportada, aplauso sonegado é uma ferida ainda aberta, quando há muito teria sido superada, se, o alvo importasse mais que o ego.
Lembro um poema genial de Jesser Quirino, “Quero voltar ao passado”; no qual, em dado momento diz: “Quero voltar ao passado; é lá que tenho futuro...” pois, esses, noutro contexto, parecem desejar o mesmo.
Então, caro desigrejado ferido, você saiu da igreja porque não foi compreendido, ou sequer entrou, por não ter compreendido bem o que ela significa?
Muitas vezes fazemos nosso tempo na igreja, vão, pelo fastio relativo à Palavra; “... vos fizestes negligentes para ouvir; porque devendo já ser mestres pelo tempo, ainda ... necessitais de leite, não de sólido mantimento...”
À medida que o tempo anda, nossa bagagem de passado se faz maior, no prisma terreno. Porém, quem se apossou da vida eterna em Cristo, não mais se porta como se fosse biodegradável.