terça-feira, 17 de dezembro de 2024

A âncora


“Para que, por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos firme consolação, nós, que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta. A qual temos como âncora da alma, firme e segura que penetra até ao interior do véu.” Heb 6;19

Que duas coisas imutáveis são essas, que nos dão firmeza e consolação? Antes diz: “Porque quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha Outro maior por quem jurasse, jurou por Si mesmo.” V;13

Vimos a promessa de Deus e Seu juramento como garantias a Abraão, que se estendem a toda sua descendência, em Cristo.

Reter a esperança proposta, é o “refúgio” dos crentes, que fatalmente serão atacados pelos dardos da incredulidade lançados pelo inimigo. “Reter” encerra a ideia de ter novamente, como se, por um momento tivéssemos perdido, deixado de ter. Eventualmente isso acontece; mas graças a Deus, somos renovados, e a fé ressurge, onde parecia não estar mais.

A resiliência necessária é apresentada como “âncora da alma”. Âncora é um artefato mui sólido para figurar a firmeza de um bem, abstrato. Essa quando fundada, permite que a nau a qual freia, tenha certo grau de movimento na superfície, tolhendo porém, o deslocamento, enquanto não for recolhida.

Logo, mesmo que, um eventual período ruim, de maus incidentes nos assole, e por um momento nossa esperança ameace vacilar, não deixemos nosso refúgio de reter a esperança; não acrescentemos ao pecado da dúvida, a blasfêmia de atribuir ao Eterno, imperfeições. “... é impossível que Deus minta.”

Como poderemos ter convicção que as nossas almas estão ancoradas em Cristo? É viável alguém ter certeza de salvação? Não seria algo assim, pretencioso demais? Na verdade, quem assegura isso está acima das nossas almas. “O mesmo Espírito, (Santo) testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” Rom 8;16

Se “Em esperança somos salvos” como ensina Paulo, essa esperança, invés de ser fugaz, efêmera, volátil, deve ter o peso e a solidez duma âncora. Enquanto estamos presos num corpo carnal, num mundo mau, pleno de enganos e inimigo de Deus, sempre corremos riscos. Daí o alerta: "Quem pensa estar em pé, veja que não caia".

Essa história de “eleição” ensinada pelo Calvinismo eliminaria uma série de avisos quanto à perseverança; como: “Aquele que perseverar até o fim, será salvo;” Mat 24;13 etc. Melhor retermos a esperança proposta, que abraçarmos propostas espúrias que ferem a lisura das Escrituras.

Mesmo quem não possui apurada sintonia fina nas coisas espirituais, poderá ler alguns sinais que testificam, quando houve a conversão e, quando o suposto cristianismo de alguém é uma farsa.

Um bom aferidor é o paladar espiritual descoberto. Quando um “convertido” não gosta da Palavra de Deus, antes, vai aos cultos para ver pessoas, ter vida social, ou escutar louvores, mas perde o interesse quando A Palavra da Vida vai ser pregada, esse em fundadas razões para duvidar que tenha, deveras, nascido de novo. Aos tais, Pedro diz: “Desejai afetuosamente como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado para que por ele, vades crescendo.” I Ped 2;2

Se, invés de “Ter seu prazer na Lei do Senhor e nela meditar dia e noite” Sal 1;2 o sujeito prefere os “profetas” do “O Senhor me mostra,” isso, aquilo, os “reveladores” de grandezas carnais e promessas fáceis, incondicionais, o incauto em apreço se voluntaria ao engano, enquanto despreza a preciosa e indispensável edificação.

Invés de deixar nossas almas à deriva, a edificação nos fundamente e corrobora; Devemos crescer até À Estatura de Cristo, “Para que não sejamos mais, meninos inconstantes levados em redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia atuam fraudulosamente.” Ef 4;14

Óbvio que ninguém salta da infância espiritual para a maturidade. Há um longo processo de aprendizado. Assim, muitas “coisas de menino” são inevitáveis no curso entre um estágio e outro. Os que fogem da sã doutrina, exibem como que, uma síndrome de Peter Pan espiritual, recusando-se a crescer. A uns que assim fizeram foi dito: “Porque devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais que, se vos torne a ensinar os rudimentos da Palavra de Deus, e vos haveis feito tais que necessitais de leite, não, sólido mantimento.” Heb 5;12

Quando o texto diz que, a fé inabalável que retém a esperança proposta, penetra até ao interior do véu, sugere que essa desenvolve intimidade com Deus, tendo acesso aos Seus segredos até, como disse Davi: “O segredo do Senhor é para aqueles que O temem; Ele lhes mostrará a Sua Aliança.” Sal 25;14

Que soprem os “ventos de doutrina”; se nossa alma estiver presa ao que aprendeu a esperar do Senhor como a uma âncora, então, estará segura.

domingo, 15 de dezembro de 2024

Livres; mas servos


“Aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a.” I Ped 2;11

Lendo isoladamente, com quatro verbos no imperativo, pode soar que servir a Deus seja uma imposição, não, uma escolha. 

Para dirimir eventual dúvida, precisamos ler o verso anterior; o contexto imediato basta; diz: “Quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie sua língua do mal, seus lábios não falem engano.” V;10 “Quem quer”, evidencia a liberdade de escolha; mas, uma vez querendo, as condições estão postas e são categóricas.
Todos são livres para querer o caminho estreito, ou o largo; mas, a ninguém é facultado alterar nada, ampliando o que é estrito, ou modificando o que é imutável.

“Aparte-se do mal...” o primeiro aspecto do qual devemos nos apartar é a inversão de valores; se assim não for, sequer saberemos aquilatar às coisas como O Eterno as valora. Está dito: “Ai dos que ao mal, chamam, bem; e ao bem, mal; que fazem das trevas, luz; e da luz, trevas; que fazem do amargo, doce; e do doce, amargo.” Is 5;20

Se esse escrutínio não for feito, segundo a Palavra do Senhor, correremos o risco de fugir do que deveríamos buscar, e vice-versa.

O salmo primeiro é didático, sobre as coisas que devemos evitar: “Bem aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Sal 1;1

Uma coisa é amar às pessoas, orar por elas; outra distinta é querer sua companhia no erro, aceitar seus perversos conselhos ou compactuar com suas devassidões. Embora, o sol leve luz e calor aos pântanos poluídos sem se sujar, e um homem espiritual possa também, frequentar, eventualmente, ambientes malsãos sem se corromper, as ovelhas não são animais de pântanos. Seu habitat é um pouco mais limpo.

A distância maior, devemos manter, dos que, mesmo balindo como ovelhas, ainda se enlameiam como porcos; falsos são mais perigosos que adversos; “... não vos associeis com aquele que, dizendo-se irmão, for devasso, avarento, idólatra, maldizente, beberrão ou roubador; com o tal, nem ainda comais.” I Cor 5;11

“... faça o bem...”
muitos se perdem por confundir “bom”, com o “bem”. Aquele tem a ver com o prazer que sua incidência enseja; o bem, com os frutos que produz. Iluminar espiritualmente a alguém que está no escuro, por exemplo, é um bem; mas quem disso que nosso “noctívago” achará isso bom? Jesus ensinou: “Porque todo aquele que faz o mal odeia à luz; não vem para luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;20

Quem sabe a origem do verdadeiro bem, “toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação.” Tg 1;17 além de evitar más companhias e maus ambientes, como vimos, “Tem seu prazer na Lei do Senhor, e na Sua Lei medita de dia e de noite.” Sal 1;2 Esse, convencido que deve fazer o bem, empenha-se em entender o quê, Deus define assim.

“... busque a paz...” “Bem aventurados os pacificadores...” Mat 5;9 Ensinou O Salvador.
Há diferenças, entre o pacífico, o pacifista e o pacificador. O primeiro é alguém que se esforça para manter boas relações, com tato, diplomacia, para que nenhuma erva daninha belicosa brote, onde vive e cultiva a paz; pacifista é o que adota a filosofia antibélica; é contra as guerras, preferindo que eventuais diferenças sejam solvidas mediante negociação; o pacificador é um promotor da paz. Atua em ambientes onde ela está em falta; empreende esforços para que a mesma seja produzida, desarmando espíritos, considerando o contraditório, ensejando empatia, acalmando ânimos. Quem assim age é um sábio que busca a paz.

Quão diferente desse “bombeiro” é a atuação de um tolo: “Os lábios do tolo entram na contenda, e sua boca brada por açoites.” Prov 18;6 Chega num ambiente onde o fogo da contenda está aceso já, a acrescenta mais lenha.

A inércia é melhor que o ativismo, nesses casos; “Até o tolo quando se cala é reputado por sábio; e o que cerra seus lábios é tido por entendido.” Prov 17;28

“... siga-a.”
A paz personificada como alguém a quem devemos seguir. Acontece que ela não é uma causa; antes, uma consequência. “O efeito da justiça será a paz...” Is 32;17

Se alguém desejar produzir mel precisará de abelhas; quem anseia seguir em paz, deve seguir as sóbrias pegadas da justiça. Ela é boa, tanto quando nos restaura o que nos é devido, quanto quando, nos força a repor o que devemos. Em Cristo, “... a justiça e a paz se beijaram.” Sal 85;10

O que dizemos de Cristo?


“... e vós, quem dizeis que Eu Sou?” Mat 16;15

Após inquirir sobre o que as pessoas diziam Dele, O Salvador abordou aos Seus discípulos.

Aqueles que são nossos íntimos nos conhecem melhor do que os que apenas nos veem no teatro social. Esses têm uma visão periférica; podem ver o que fazemos quando atuamos, mas desconhecem como somos em ambientes reservados, nosso modo de pensar que patrocina o agir.

Em se tratando de conhecimento entre humanos, natural; pela multiplicidade desses, e a impossibilidade de interação estreita com todos. Entretanto, no que se refere ao Senhor, um conhecimento genérico, superficial, pode ensejar muitos tropeços.

Fácil alguém se dizer “escolhido do Senhor”, como diatribe a eventuais críticos; difícil é deixar isso patente, na capacidade de suportar as infâmias e rejeições várias que acompanham aos escolhidos.

Aos que separa e chama a Si, O Senhor costuma se revelar, manifestando coisas que escapam aos demais; “O Segredo do Senhor é para aqueles que O temem; Ele lhes fara mostrará a Sua Aliança." Sal 25;14 Um escolhido não carece dizer isso; O Senhor fará evidente.

Jó, na provação que sofreu, motivada pela inveja do inimigo, no fim recebeu a graça de uma “audiência” com O Senhor. No calor do desabafo desejara; “Ah, se eu soubesse onde O poderia achar! Então me chegaria ao Seu Tribunal; exporia ante Ele minha causa; a minha boca encheria de argumentos.” Cap 23;3 e 4 dissera.

Foi concedido seu desejo. Todavia, as coisas não foram como ele imaginara.
Invés de fundados argumentos, em dada ocasião assumiu sua ignorância: “... eu Te perguntarei e Tu me ensinarás; com os meus ouvidos ouvi, mas agora Te veem meus olhos; por isso, me abomino e me arrependo, no pó e na cinza.” Jó 42;4 a 6

Ante O Eterno, nossos melhores argumentos empalidecem; as mais fundadas razões carecem de solidez. Assim, o conhecimento do Santo traz, inversamente proporcional, um melhor conhecimento de si próprio. Quem lograr essa dádiva, como Jó, se abomina e se arrepende, invés de pensar em se abrigar na cabana de palha das inúteis falácias humanas. O “não há um justo sequer” ganhará amargos contornos de verdade irrefutável.

Quanto mais santo, mais íntimo do Senhor alguém for, mais humilde e menos pretencioso será. Invés de apresentar suas pretensas razões, descansará nos sábios motivos, e Integridade do Eterno. “... Quando estiver em trevas, não tiver luz nenhuma, firme-se sobre o seu Deus.” Is 50;10

Na verdade, nossos melhores discursos prescindem de palavras. É nossa atuação que os pratica. “Assim, resplandeça a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai que está nos Céus.” Mat 5;16 As obras não são meios de salvação, mas testificam sobre a mesma.

Pois, o outro lado, o dos que apenas falam a coisa certa e seguem fazendo a errada, seu testemunho é de hipocrisia, não de salvação; “Confessam que conhecem ao Senhor, mas negam-no com suas obras, sendo abomináveis e desobedientes, reprovados para toda a boa obra.” Tt 1;16

Eventualmente deparo com uma postagem que desaconselha a falar de Jesus, pois, já há muitos fazendo isso; e prescreve viver como Ele viveu, pois há poucos assim.

Como diatribe à hipocrisia é válido o conselho. Entretanto, se usado como veto à pregação do Evangelho, como usam fazer os que confiam em si mesmos, cabe lembrar uma coisa: Viver como Jesus Cristo viveu, implica também, ensinar; pois, Ele fez isso em todo Seu ministério.

Nosso agir na contramão do mundo certamente despertará curiosidades, acerca dos motivos para esse; e Pedro aconselha: “Santificai O Senhor Deus em vossos corações, e estai sempre prontos para responder com mansidão e temor, a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” I Ped 3;15

Eventualmente, pois, carecemos dizer quem Jesus Cristo é, usando também, palavras. Como disse alguém: “Pregue o Evangelho o tempo todo; se necessário, use até palavras.”

Afinal o que fazem ou pretendem fazer, os inimigos do genuíno Evangelho, senão, alterar partes da Palavra? Cobrar coerência entre falas e atitudes é uma coisa justa; mas usar como argumento a existência de hipócritas, para amordaçar aos que não são, não vai colar.

Esses que tencionam que os valores de Deus sejam efêmeros, biodegradáveis, reformáveis, precisam ler o que Jesus Cristo disse, com melhores lentes: “O Céu e a Terra passarão; mas as Minhas Palavras, não hão de passar.” Mat 24;35

Não venham com a falácia de restringir isso ao estritamente dito pelo Senhor. Ele É A Palavra de Deus na íntegra. Das Escrituras disse: “Elas testificam de Mim.” Qualquer imposição espúria seria como se disséssemos que O Senhor mente. “Quem dizeis que Eu Sou?”

sábado, 14 de dezembro de 2024

O incidente no avião

“Educa a criança no caminho que deve andar; e até quando envelhecer, não se desviará dele.” Prov 22;6

A responsabilidade dos pais como assessores do Criador, para formação de bons caracteres, nos que, por meio deles vêm ao mundo.

Não defendo um “desapego” em relação aos filhos, nos moldes de Gibran: “Vossos filhos não são vossos filhos; são filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma...”

Deus atrela pais e filhos por um liame bem estreito. Responsabiliza aos genitores pela formação dos gerados, e condiciona a longevidade desses, à obediência ao mandamento de honrar pais e mães. “Honra teu pai e tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra.” Ef 6;2 e 3

Num cenário de inimizade, falta de afeto entre esses, a maldição grassa. Num ambiente assim, foi predito que o precursor do Messias viria. “Ele converterá o coração dos pais aos filhos, e coração dos filhos aos seus pais, para que Eu não venha e fira a terra com maldição.” Mal 4;6

O dever paterno é de amar; isso é ponto pacífico. Não é igualmente consensual, o quê, significa; como isso se manifesta. O sentimentalismo excessivo, que glamouriza malcriações e se enternece quando deveria corrigir, é um derivado da frouxidão moral, não do amor sóbrio, que convém aos pais.
Dessa frouxidão emergem, “proteções” como a famigerada “Lei da palmada”, ensejando pimpolhos mimados, que acham que o mundo é um paraíso dos direitos, onde tudo podem fazer, invés de um educandário, para aprendizado dos deveres.

“Educa a criança no caminho que deve...” Quanto aos direitos, tendemos a querer mais do que nos pertence, sem carecer ensino. Uma nuance básica da educação é colocar limites aos desejos, com toda higidez amorosa que um, não! oportuno, enseja.

Todos tomamos conhecimento do incidente ocorrido num avião que voava entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, recentemente. A Jovem Jeniffer Castro se recusou a trocar de assento com uma criança mimada que queria o seu lugar junto à janela.

Como a “supermãe” filmou o incidente, ou alguém da família, e jogou nas redes sociais, denunciando à “falta de empatia” da moça para com uma criança, a coisa viralizou. A Net explodiu com a repercussão do caso; Jeniffer ganhou mais de dois milhões de seguidores; sem nada demais, nada ter feito, se tornou uma celebridade, apenas por ter resistido aos desejos e mimos do menino malcriado.

Embora concordando com a atitude dela, e depreciando a da mãe que invés de educar o filho prefere arrostar aos estranhos, não vejo motivo para “seguir”, idolatrar à jovem, ou quem quer que seja. Todavia, a carência de referenciais é tão alarmante, que, uma coisa mínima como essa, assume proporções de um assunto de Estado; a protagonista tornou-se uma super star.

Não poucas vezes tomo emprestada a frase de Charles Spurgeon: “Uma coisa boa não é boa, fora do seu lugar.” No contexto em que disse isso, referia-se a escolher sobriamente, cada um, para servir na obra de Deus segundo a aptidões demonstradas pelo mesmo. Porém, sua frase é ainda mais abrangente que isso.

Quem há de dizer que uma criança não é uma coisa boa? Entretanto, nada estará mais fora do devido lugar, que um infante, no lugar do adulto. Quando, invés dos pais, sensata e sobriamente dizerem aos filhos como as coisas devem ser, esses se impõem no grito, na birra e acabam recebendo o que desejam, tomam os lugares dos seus omissos pais, e ficam mais de uma década de vida, deslocados dos seus lugares. Os pais, “amorosos” acabam cumprindo ordens, aceitam as funções de crianças, por se mostrarem ineptos para a vida adulta e suas demandas.

Acontece que, a autoridade dos pais sobre os filhos repousa, em grande parte, sobre uma fibra moral chamada exemplo; cuja têmpera, mui poucos nessa geração perdida possui. O “faça o que digo, mas não faça o que faço” não funciona. Lembro um amigo de saudosa memória que dizia aos seus filhos: “O que vires o pai fazer, podes fazer igual.” É preciso ter “café no bule” para conseguir falar assim.

Quando o texto diz que, uma criança educada no caminho do dever, não se desviará nem quando envelhecer, não esposa que a boa educação é uma garantia para sempre. Mesmo os de boa formação podem escolher maus caminhos. O que não vai se desviar é a lembrança do ensino, as digitais do caminho aprendido.
Quando agir mal saberá que está atuando assim. Terá ciência do seu erro ao violar o que respeitou desde cedo.

“É no desprezo dos pequenos deveres, que se faz a aprendizagem das grandes faltas.” Suzanne Necker

A "boa" colheita dos maus


“... há justos a quem sucede segundo as obras dos ímpios, e ímpios a quem sucede segundo as obras dos justos...” Ecl 8;14

Essa colheita invertida desafia nossas mentes; sobretudo, porque está sedimentado no saber popular, a tal “Lei do retorno”, ou, “Semeadura e ceifa”. O conceito é bíblico, “Não erreis. Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso ceifará.” Gál 6;7 há alguns desdobramentos que também são.

“Sucede” significa que acontece após; não, que será a recompensa final. Depois de uma impiedade, nosso imediatismo cogitaria a necessidade do juízo; sobretudo, quando a mesma nos prejudica; nem tanto, quando é cometida por nós.

A longanimidade Divina permite essas discrepâncias, durante a qual, porfia para que os errados de espírito reconsiderem, se arrependam e aprendam o caminho de Deus. Por ser Eterno, Ele tem outro tipo de “urgências”; “... não tenho prazer na morte do ímpio; antes que ele se converta e viva...” Ez 33;11

A prosperidade dos ímpios foi abordada por Agur, no salmo 73. Embora, o senso lógico dele tenha embotado por um pouco, ao parecer que Deus valorizava à maldade, considerando às coisas no prisma espiritual, entendeu melhor. “Quando eu pensava entender isso, foi para mim muito doloroso; até que entrei no Santuário de Deus, então, entendi o fim deles. Certamente Tu os puseste em lugares escorregadios; Tu os lanças em destruição.” Sal 73;16 a 18

Tendemos a ver o necessário processo como se fosse o produto. Quantos Israelitas, durante a marcha para a terra prometida, acusaram Moisés de ser um farsante, uma vez que estavam no deserto, não, numa terra fértil como predito?

Ora, estavam em marcha, não haviam chegado. A travessia foi prolongada em quarenta anos, por causa da incredulidade deles. Sim, mesmo as coisas da terra, relacionadas com o agir Divino, junto aos que chama, demandam por fé. Se, num sentido amplo envia sol e chuva sobre justos e injustos, àqueles que chama para si, O Senhor responsabiliza a agir de modo honroso.

O ímpio pode coisas que o santo não pode; não porque aquele seja maior; antes, porque esse representa O Eterno. Pertencer a Deus é sobremodo, honroso; porém, responsabilizador, consequente, sério. Quem nada tem a perder, nada carece guardar; o que recebeu o dom da vida eterna recebeu um tesouro inefável, que deve zelar.

Os que observam mais o percurso que o destino, têm maiores chances de serem vítimas do enganador, que, com suas ilusões costuma paramentar aos caminhos do erro, como incautos decoram as “Árvores de Natal.” O Valor de um caminho não tem a ver com nuances do percurso, eventuais facilidades, prazeres; antes, com o objetivo ao qual conduz; A Palavra ensina: “Há um caminho que ao homem parece direito; mas, no fim dele, são os caminhos da morte.” Prov 14;12

Tendemos a ser mais acessíveis nas carências que na prosperidade; não há momento mais permeável para a Palavra de Deus, que um auto fúnebre, por exemplo. A eloquente presença da morte a pautar nossa finitude tende a deixar no fundo das algibeiras, ainda que por um pouco, vícios como arrogância, egoísmo, indiferença, orgulho, e abrir ouvidos para a esperança, a justiça e a misericórdia Divinas; “... ali se vê o fim de todas as coisas, e os vivos o aplicam aos seus corações.” Ecl 7;2

Assim, se somos mais abordáveis em nossas fragilidades que nas horas de exaltação, quando vemos um ímpio de vento em popa, fazendo as maiores atrocidades e tudo “dando certo”, pode ser um indício que Deus já tenha desistido do tal. Quem premia a maldade não é O Senhor.

Por fim, resta considerarmos em qual contexto a ceifa inevitável acontecerá: “Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas, o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.” Gál 6;8

Corrupção ou vida eterna serão consequências no porvir, da semeadura feita aqui. Embora nosso ímpio próspero, em apreço, pareça semear maldades e colher benesses, a colheita que conta deveras, não será aqui; Paulo ensina: “Se esperarmos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19

Ainda que, nuances de quem abraçou o chamado à vida eterna possam e devam ser vistas aqui, certamente, a recompensa espera no além. Foi às portas da morte que Paulo disse: “Desde agora a coroa da justiça me está guardada, a qual, O Senhor, Justo Juiz, me dará naquele dia; não somente a mim, mas também a todos os que amarem à Sua vinda.” II Tim 4;8

Enfim, se você atua de modo justo e as coisas não “dão certo”, peça olhos espirituais, para identificar melhor as bênçãos que encerram.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Sete razões


“Confia no Senhor de todo o teu coração, não te estribes no teu próprio entendimento.” Prov 3;5

O que há de errado com nossos entendimentos? Uma série de coisas ocorre; não pretendo esgotar, tampouco, abordar na devida ordem. Apenas considerar sua incidência.

Somos chamados a desconfiar dos nossos entendimentos abraçando À Palavra de Deus, em lugar deles; portanto, nesse escopo, humano x Divino, pretendo investigar as razões da inconfiabilidade das nossas percepções.

Razão primeira: Somos carne. Essa é uma rebelde incurável; “Porque a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois, não é sujeita à Sua Lei, nem pode ser.” Rom 8;7 Por isso, a salvação requer o “novo nascimento” para regeneração espiritual; a “mortificação” dessa, pela nossa submissão ao Espírito Santo; “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo O Espírito.” Rom 8;1

Segunda: Quem colocou o homem “no trono” em lugar de Deus, foi o inimigo; foi ele o mentor e proponente da autonomia e independência em relação ao Criador. Assim, cada “livre pensador” que pretende verter as coisas de si mesmo, a despeito de influências espirituais, no fundo, goste ou não, é um seguidor de Satanás, o autor intelectual e moral da rebeldia; a pretensa liberdade desses, mascara suas escravidões. “... sois escravos daquele a quem obedeceis...” Rom 6;16

Terceira: nossa finitude torna temerário, tomarmos dentro dela, decisões que impliquem a eternidade. Tiago ensina: “... não sabeis o que acontecerá amanhã; porque, o que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, depois se desvanece.” Tg 4;14 Malgrado, em sua cegueira presunçosa, o bicho-homem nos clamores “científicos” pretenda dizer como foram as coisas há “milhões de anos”, a rigor, é um frágil verme que erra no presente, ao qual, nem o amanhã pertence.

Quarta: Nossos corações por sofrer a corrupção das emoções, são péssimos juízes; as mesmas coisas que nos permitimos, não raro, negamos aos semelhantes, reféns desse corrupto juiz, e suas sentenças interesseiras. Por isso, O Salvador ensinou: “... com a medida com que medirdes, medirão a vós...” Mc 4;24 O Criador sentencia: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, O Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins, para dar a cada um segundo seus caminhos, segundo o fruto das suas ações.” Jr;17;9 e 10

Quinta: como a autonomia humana, pelo rompimento com O Eterno, foi ideia da oposição, cada um que assim age, incorre em maldição; “Assim diz O Senhor: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne seu braço e aparta seu coração do Senhor.” Jr 17;5 Se aquele que O obedece, pode ser dito dele que é um homem “segundo o coração de Deus”, o rebelde autônomo atua segundo o enganador ao qual deu guarida no íntimo.

Sexta: nossos entendimentos não são nossos, estritamente; usando a incredulidade dos que se recusam a confiar em Deus, como “cabeça-de-ponte” o inimigo obra o download de todos os seus vícios, fazendo parecer que são de interesse humano. “Nos quais, o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho de Glória de Cristo, que É a Imagem de Deus.” II Cor 4;4 quando alguém cunhou que “mente vazia é oficina de Satanás” sabia o que estava dizendo. Ou buscamos a Divina influência, ou seremos buscados pela maligna, sem muito esforço.

Sétima: não somos convidados a trocar seis por meia dúzia, como se diz das coisas inócuas. Quando O Eterno ordena que deixemos nossas maneiras rasas de pensar, convida-nos a voltarmos para Ele; e explica o motivo: “Porque Meus pensamentos não são os vossos, nem vossos aminhos os Meus, diz O Senhor; porque, assim como os Céus são mais altos que a Terra, são os Meus caminhos mais altos que os vossos; e os Meus pensamentos mais altos que os vossos.” Is 55;8 e 9

Por essas e outras, confiarmos em nossos míseros e parcos entendimentos fecha sobre nós, a possibilidade de sermos socorridos em tempo oportuno, por nos fazer ignorar que carecemos desesperadamente de socorro. “Tens visto um homem que é sábio aos seus próprios olhos? Pode se esperar mais do tolo, do que dele.” Prov 26;12

Enfim, o que desconfia do próprio entendimento, e confia no Senhor, não descansa inerte sobre isso, como se uma boa teoria bastasse; antes, se esforça via oração, leitura, meditação, para entender e se aplicar, às coisas prescritas pelo Senhor. “Tem seu prazer na Lei do Senhor, e na Sua Lei medita dia e noite.” Sal 1;2 “Bendito o homem que confia no Senhor, cuja esperança é O Senhor.” Jr 17;7

domingo, 8 de dezembro de 2024

O infeliz Natal


“Do mundo são, por isso falam do mundo, e o mundo os ouve.” I Jo 4;5

Referência aos falsos profetas, a serviço do Anticristo. Cristo e os Seus, têm outro endereço; “Dei-lhes Tua Palavra e o mundo os odiou; porque não são do mundo, assim como Eu não Sou.” Jo 17;14

Tiago disse: “Adúlteros e adúlteras, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus.” Tg 4;4

Atualmente, o mundo se adorna de luzes e arranjos, as ditas decorações de Natal. Muitos cristãos fazem o mesmo. Dirão que não se trata de amizade com o mundo, mas, recordar o nascimento de Cristo.

Ouvi um pastor renomado dizendo: “O pinheiro, porque é uma árvore que segue verde sempre, significando a perenidade do Evangelho; enfeites apontam para o fruto do Espírito; a estrela no alto, lembra a que anunciou o nascimento do Salvador. Portanto, quem quiser enfeitar sua árvore que faça, defendeu. Porém, Papai Noel, aí já é outra história;” ressalvou.

Que cada um seja livre para fazer escolhas, de acordo; Deus leva a liberdade de expressão às últimas consequências; a cruz mostrou isso.

Algo carece ser dito, a bem da verdade, porém. Não há registro do dia do nascimento do Senhor; 25 de dezembro é uma data com outra conotação; tampouco, há mandamento para comemorar. A morte, sim. “Fazei isso em memória de Mim”, disse do rito da Santa Ceia.

Que os do mundo estejam espiritualmente cegos e não consigam entender as exatas implicações é esperável; “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; não pode entendê-las, porque se discernem espiritualmente.” I Cor 2;14 adiante, acrescenta: “Mas o que é espiritual discerne bem a tudo, e de ninguém é discernido.” V 15

Como faria alguém uma decoração natalina nos moldes do mundo, que é inimigo de Deus, e separaria à mesma, da figura obscena, do Noel?
Acaso algum cristão espiritual, usaria a figura do Arco Íris para simbolizar algo? Malgrado seja bíblico, apareça no Gênesis, foi usurpado pelos movimentos LGBTs, e por essa razão, uma pessoa com o necessário discernimento evitaria usar um signo maculado pelo erro, para que aquilo que pretender simbolizar não seja confuso, nem associado a posturas que A Palavra de Deus deplora.

Assim, mesmo dando à árvore, e aos enfeites a conotação citada no início, necessariamente o nosso cenário “natalino” remeteria ao mundo de Noel; com sua furtiva visita noturna, suas vestes polares em pleno trópico, suas renas voadoras, e sobretudo, o espírito consumista que grassa nesse tempo, como em nenhuma outra época do ano. Jesus bate às portas dos corações e só entra nos se abrem para Ele; jamais o faz, furtivo, no escuro; Noel não o representa.

Por que será que nessa época aumentam suicídios, depressão, acidentes, bebedeiras... seria pela atuação mais intensa do “Espírito do Natal?”

Não duvido que haja algumas raias mais limpas no caminho largo; contudo, levam ao mesmo lugar que as sujas; perdição. Nosso desafio é entrarmos pela porta estreita, trilharmos o caminho estreito. 

Quem, deveras, tenciona honrar a Cristo, não o faz num dia apenas, como um filho rebelde que, em geral ignora seus genitores, mas produz ensaiado barulho e “homenagens”, no dia das mães, dos pais.
Essa hipocrisia não engana nem ao hipócrita. Ele conhece a farsa que encena.

Eu sei, os “liberais” se apressarão a denunciar minha “religiosidade”, novo termo que cunharam para mascarar sua licença mundana, sua aversão à disciplina e obediência, coisas que são caras aos fiéis.

Ora, quem foi desafiado a negar a si mesmo e “sair do mundo”, se tencionar fazer isso arrastando a bagagem mundana após si, apenas deixa patente a resiliência ímpia, de seu mundano e rebelde coração, sua carnal impotência, ante os prazeres e o comodismo.

Se Cristo nasceu em nós, o fez em vários dias diferentes, cada um por sua vez; e as “luzes desse natal” devem fulgir na fachada das nossas ações, não nas das nossas casas. “Assim, resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem ao vosso Pai que está nos Céus.” Mat 5;16

Quem não conseguir resistir a uma seduçãozinha chinfrin como essa, como resistirá, quando o sedutor mor se levantar, na pessoa do Anticristo?

Quem não pode ser fiel nem nas coisas pequenas, porque seria nas grandes? O fato que nossos pais mentiram para nós acerca dessas coisas, por estarem cegos, não significa que devamos seguir com a farsa, se, agora vemos. Afinal, “... fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais.” I Ped 1;18