sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O plágio


“A quem proferistes palavras, de quem é o espírito que saiu de ti?” Jó 26;4

Quando alguém profere obviedades, coisas que até uma criança sabe, tal descuido, numa demanda que requer coisas melhores, está a portar-se abaixo do nível desejado, como se, por um momento esquecesse sobre o quê, e principalmente, com quem estava falando.

Num lapso desses de um dos conselheiros, Jó perguntou: a quem proferistes palavras? Ou seja: Ainda lembras de, com quem estás falando? Quando se precisa falar apenas por falar, não por ter algo a dizer, o silêncio faz melhor figura.

O cerne daquela disputa era que os amigos dele sem nenhuma revelação que apontasse nessa direção, tampouco, algum fato, atribuíam aos supostos pecados de Jó os infortúnios que ele sofria. Não vimos nada, nem sabemos; mas se está sofrendo assim, alguma deve ter aprontado.

Em seu “achômetro” casuísta diziam meras obviedades; como associar semeadura e colheita, coisas que o sofredor bem sabia; isso falavam como se estivessem dizendo uma grande coisa, “levantando uma lebre” que teria passado despercebida ao patriarca.

Assim, aquele que, além de educar seus filhos com ensinos e exemplo, ainda sacrificava a Deus, rogando perdão por eles, na hipótese de deixarem subir maus pensamentos aos seus corações, eventualmente, era tratado como um beócio alheio às coisas espirituais; “Para quem proferistes palavras?” Não se tratava de uma atitude arrogante; antes, de situar ao descuidado paroleiro, para que ele não perdesse o fio da meada. “Também eu tenho entendimento como vós, não vos sou inferior; quem não sabe de tais coisas como essas?” Cap 12;3

“Até o tolo quando se cala é reputado por sábio; o que cerra seus lábios é tido por entendido.” Prov 17;28

Quando, invés de um engajamento veraz, na empatia pela dor do semelhante, se descamba para o lugar comum, qualquer descuidado serve “comida fria” encontrada no prado dos chavões; a necessidade de silenciar ante o que ignoramos, assumindo isso, é desconsiderada, e facilmente nos perderemos na aridez das platitudes, apenas cansando que nos ouve, invés de ajudar a lenir seu sofrimento. Se incomodar com a dor do próximo é uma qualidade; mas contribuir para agravá-la, nos faz pesos.

Foi numa precipitação assim, que Jó identificou um “plágio” pulsando nas balelas rasas que teve que ouvir; ... de quem é o espírito que saiu de ti? Noutra parte dissera que o ouvido prova as palavras como o paladar aos alimentos; tendo provado àquelas as encontrou sem o necessário tempero. “Comer-se-á sem sal o que é insípido, ou haverá gosto na clara do ovo? Minha alma recusa a tocá-los; para mim, são como minha comida repugnante.” Jó 6;6 e 7

Pois, seja alegria ou tristeza que verta no coração do semelhante, não foi facultado aos que observam de fora, ingerir nas emoções alheias. Somos desafiados à empatia; “Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram.” Rom 12;15 Afinal, “O coração conhece sua própria amargura; o estranho não participará, no íntimo, da sua alegria.” Prov 14;10

Os plágios nunca foram tão fáceis. Além do antigo sistema, copia e cola, onde qualquer um "filosofa”, sem conhecer filosofia, ou serve profundos conselhos espirituais, estando espiritualmente morto, agora a chamada Inteligência Artificial filtra, altera, edita, escreve, modifica ao bel prazer do usuário.

Já existem “pregadores virtuais”; até um “Jesus” gerado por essa inteligência, que, alimentado por dados coletados das redes, “revela, aconselha, ensina” como se, deveras, conhecesse as vidas que o buscam.

A Palavra de Deus anteviu o plágio mor, e deu nomes aos bois: “Foi lhe concedido que desse espírito à imagem da besta para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos que não adorassem à sua imagem.” Apoc 13;15

Sabendo e vivendo o básico, poderemos, como Jó, recusar alimentos insossos, identificar as fraudes da oposição. Entretanto, essa geração sonolenta que pergunta às máquinas, sobre o significado “oculto” do nome, sobre as maiores virtudes e defeitos que possui, e pasmem! quem foi em “vidas passadas” e partilha as respostas, como identificará e denunciará o engano, se aprendeu a viver nele, e dele, gosta?

A pergunta de Jó será oportuna quando esse “Jesus” pretender dar pitacos em nossas vidas: “... de quem é o espírito que fala em ti?”

Todos os dons dados por Deus são preciosos; mas nada supera o discernimento, que fruem aqueles que vivem todo o tempo em comunhão com O Espírito de Deus. “Não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus para que pudéssemos conhecer, o que nos é dado gratuitamente por Deus.” I Cor 2;12

Quando o “Jesus” de plástico se insinuar, discerniremos; sabendo que é o diabo que tenta falar por detrás.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

"Bons" demais


“... vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a Voz do Filho de Deus, os que a ouvirem, viverão.” Jo 5;25

Duro para o orgulho humano, admitir sua condição de morto espiritual, sem O Salvador. Alguns postam em letras garrafais, que não é preciso religião para ter caráter.

Caráter e religião; coisas que precisam ser vistas nas letras miúdas. Caráter é a íntima índole, que direciona o ser; como consequência, pauta o agir. Se dizemos que determinada forma de atuar é a característica, de certa forma, estaremos lendo o caráter de alguém. Acontece que, um de bom caráter, na escravidão, é só um escravo.

O que é certo ou errado, num sentido amplo, todo o homem sabe, mesmo sem auxílio religioso. Paulo diz: “Porque, quando os gentios que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles, lei, para si mesmos são lei; os quais mostram as obras da Lei, escritas em seus corações, testificando juntamente sua consciência, e seus pensamentos; quer acusando-os, quer defendendo-os.” Rom 2;14 e 15

A consciência é um “resíduo” do homem original, que perseverou após a queda. Quem lograsse segui-la, estritamente, não pecaria. Ela, se consultada, adverte dos erros antes de cometermos, e os acusa depois que neles tropeçamos. Como disse Samuel Bolton, “Se a consciência não for um freio, será um chicote.”

Com ou sem caráter, todo homem quedou escravo do pecado após o primeiro; como “O Salário do pecado é a morte” Rom 6;23 A humanidade que fora criada para Glória do Criador, tornou-se mero reino da morte. “... a morte reinou desde Adão até Moisés...” Rom 5;14 Os que foram julgados no dilúvio não tinham mandamentos, apenas essa lei íntima; transgrediam e foram condenados.

Mesmo eventual homem de bom caráter acaba fazendo o que não quer, mercê da escravidão. “O que faço não aprovo, o que quero, não faço; o que aborreço, faço... de maneira que já não sou eu que faço isso, mas o pecado que habita em mim.” Rom 7;15 e 17 O “eu” do sujeito em apreço é prisioneiro de um feitor que o coage a fazer o que não quer. Não passa de um cativo desejando ser liberto, pois.

Então, mesmo os homens “bons” carecem de Jesus Cristo. Cornélio era um homem de oração, boas obras, de modo a ser conhecido nos Céus; nem por isso, pode prescindir de ser salvo nos termos Divinos. Teve uma visão onde lhe era ordenado que mandasse chamar a Pedro, para ouvir sobre Jesus. Pois, sem Ele, pelas próprias obras, ninguém será salvo, por razão simples: todos pecam; o pecado mata; fecha a porta. Por isso, apenas os “mortos” que ouviram a Voz de filho de Deus”, viverão.

Sé Ele religa o homem que fora desligado desde o Éden, a Deus; “Isto é: Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo; não lhes imputando seus pecados, e pôs em nós a Palavra da reconciliação.” II Cor 5;19

Desse “religare” deriva religião. Cristo é uma pessoa, não uma religião, sabemos. Mas, uma pessoa que pelo Seu Sangue e nos termos que ensinou, reconcilia pecadores ao Pai; todas as demais religiões, por bem intencionadas que sejam, justas que pareçam, são simulacros pobres, drogas espirituais tentando lenir o desejo de vida, que só Cristo pode saciar.

Esses que falam como Renato Gaúcho, “Eu sou bom, sou bom demais!” quando Cristo lhes é anunciado, mostram a mesma arrogância, o mesmo orgulho para vergonha alheia, exibido por aquele, noutro contexto.

Os refratários ao Senhor, não o são por bondade; antes, para que suas maldades fiquem onde estão, encobertas. No agir cauterizaram às próprias consciências que as denunciariam; no tocante a Cristo, mantêm “distância segura”, para traírem a si mesmos preservando a pose invés de receber a vida. “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz; não vem para a luz para que suas obras não sejam reprovadas; mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” Jo 3;20 e 21

Muitos desses, travestem seu orgulho e arrogância de aversão à “religiosidade”, nome pejorativo, com qual tencionam desacreditar a disciplina e a obediência, vitais no Reino de Deus.

Somos desafiados a ser gregários, formarmos um rebanho após O Único Pastor. Os que preferem ser rebanhos de um homem só, os supostos “templos do Espírito Santo”, se realmente fossem habitados por ele, teriam mais luz acerca da verdade, pois Ele, “convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” Jo 16;8

Os que estão convencidos que não precisam Cristo, por causa de seus bons caracteres, ainda não ouviram ao Espírito Santo.

domingo, 1 de dezembro de 2024

Desgraçando-se


“Amados, procurando escrever-vos com toda diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que foi dada aos santos; porque se introduziram alguns, que já dantes estavam escritos, para esse mesmo juízo; homens ímpios, que convertem em dissolução a Graça de Deus, negam a Deus, Único Senhor e Dominador nosso, Jesus Cristo.” Jd vs 3 e 4

Judas disse que pretendia escrever sobre amenidades, a salvação comum; mas se viu forçado a tocar um clarinete marcial. O motivo? Dissolutos infiltrados.

“se introduziram...”
primeira distinção entre alguém chamado, e o “meteco” espiritual: Enquanto aquele aguarda submisso e paciente em pleno preparo por eventual convocação, esse é autônomo, metido, se introduz por meios espúrios em busca de espaço.

Seu “modus operandi”; converte em dissolução a Graça de Deus. Dissoluto é um esbanjador irresponsável, como o filho pródigo; aquele o fez no tocante aos bens materiais, de uma herança que reclamou antecipadamente.

Os infiltrados fazem a Graça parecer mais graciosa que é, como se, o fato de Deus ser “grandioso em perdoar” como ensina Isaías, significasse que é incapaz de julgar; um sentimental que tudo tolera em nome do amor. Será?

Paulo aconselha: “Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus; para com os que caíram, severidade; para contigo, benignidade, se permaneceres na Sua benignidade; de outra maneira, também serás cortado.” Rom 11;22

A Graça faculta que nos assentemos em lugares que não seriam para nós pelo mérito. A santificação requer que mantenhamos esses assentos limpos; ou, nos incomodemos quando assim não estiverem; devemos buscar o “sabão dos lavandeiros” como vaticinou Malaquias, aludindo à Doutrina de Cristo.

Embora a cruz de Cristo seja a maior declaração de amor do universo, há mais coisas nela que o amor; “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram.” Sal 85;10 

A misericórdia não sacrifica a verdade, antes, revela-a; não faz vistas grossas ao pecado; chama aos errados de espírito para que se arrependam e perdoa; depois, preceitua: “Não peques mais.”

A justiça de Cristo reconcilia-nos com Deus, não com o ímpio sistema; “Isto é; Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não lhe imputando seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.” II Cor 5;19

A consequência do reatamento, “O efeito da justiça será a paz...” Is 32;17 alinha-nos com O Divino querer expresso na Sua Palavra. Isso faz desnecessários os contorcionismos “teológicos”, o pretenso revisionismo dos “editores” da Palavra, eufemismos e sofismas, dos que, tendo sido chamados para confrontar o sistema ímpio, por comodismo ou covardia, optam por se amoldar.

Infelizmente, pessoas que tiveram um começo ministerial saudável, alentador, ao decurso do tempo, talvez vítimas de efeitos colaterais do agir desses infiltrados, de repente começaram e pregar de modo que, suas mensagens pretéritas seriam inimigas das que hoje entregam. Teriam sido vítimas da “Síndrome de Lúcifer” como escreveu Caio Fábio, ou sido desvirtuados pelos barateadores da Graça? Talvez, as duas coisas concorram.

O que são as Igrejas “inclusivas”, as “versões” caramelizadas da Palavra de Deus, os mercenários dos shows góspeis, a igrejas com paredes escuras, jogos de luzes como espetáculos mundanos, os inúmeros desvios doutrinários, senão, vistoso stand da apostasia, onde os dissolutos infiltrados expõem seus frutos? “Pelos frutos se conhece a árvore”, ensinou O Salvador.

O Batalhar pela fé que Judas preceitua, remete a um aspecto quase impensável, em se tratando de linguagem marcial. Devemos aprender para vencer essa luta; ser edificados até à Estatura de Cristo. Só assim, teremos o antídoto necessário contra os que pervertem à fé. Devemos crescer nisso, “para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em redor, por todo vento de doutrina, pelo agir de homens que, com astúcia enganam fraudulosamente.” Ef 4;14

Quando Paulo empregou a metáfora do soldado, para ilustrar a luta espiritual, entre outras petrechos mencionou a justiça e a verdade. Por fim, a Espada do Espírito, como figurou À Palavra de Deus.

Enfim, batalhar pela fé não significa lutar pelo inalienável direito de crer; antes, empreender todas as forças, para preservação do teor daquilo em que cremos, desfazendo o mínimo postulado que se insinue num caminho alternativo; “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus para destruir às fortalezas; destruindo conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo; estando prontos para vingar toda desobediência, quando for cumprida vossa obediência.” II Cor 10;4 a 6

Notemos que, só tem autoridade para corrigir, aquele que tem a humildade de obedecer. Os que, invés disso se esforçam em ampliar à Graça, assim fazendo, mostram que suas vidas não cabem na “Porta Estreita”.

Têmpera da fé


“Todos esses, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa. Provendo Deus alguma coisa melhor ao nosso respeito, para que eles, sem nós não fossem aperfeiçoados.” Heb 11;39 e 40

Todos esses quais? Um vasto rol de fiéis ao Eterno, que, perseveraram crendo até o fim. São chamados de “Heróis da fé”. Mas, se morreram sem alcançar o que criam, não são eles uma demonstração prática de que a fé não faz sentido?

Seria a “conclusão lógica” de um cético preguiçoso, com olhos apenas para o que deseja, invés de um investigador honesto em busca da verdade.

No pórtico da “galeria dos heróis da fé” está descrita a natureza da mesma: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se espera, a prova das coisas que se não vê; porque por ela, os antigos alcançaram testemunho.” Heb 11;1 e 2

Se, não foi possível na terra, ver o que esperavam, mesmo assim prosseguiram fiéis, isso evidencia que podiam “ver” além do imanente; serão os olhos da fé? De Moisés está dito: “Pela fé deixou o Egito não temendo a ira do rei, porque ficou firme, como vendo o invisível.” Heb 11;27 Para seguir firme numa empresa tão arriscada, certamente estava de posse de algo que escapa ao alcance das vistas.

Quem equaciona fé à uma espécie de moeda para obtenção de coisas daqui, ainda não a conhece. É tão mais valiosa e preciosa, e tem objetivos tão mais excelentes, que pode prescindir de todas as posses, apenas por descansar segura na integridade de quem prometeu; isso assegura a certeza das riquezas porvir. “As coisas que o olho não viu, o ouvido não ouviu, nem subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que O amam.” I Cor 2;9 A fé não cogita que Deus prometeu; antes, está certa que Ele as preparou.

Na escola da fé, lições são escritas em baixo-relevo; a capacidade de suportar perdas, privações, incompreensões, motejos, sem descrer, são as ligas que temperam na forja da vida, a essência dos que herdarão a vida porvir. Não estamos numa fila de doações para receber; antes, para sermos doadores.

Os vencedores nela têm alterado o ser, não o ter. “Se alguém está em Cristo nova criatura é; as coisas velhas passaram e tudo se fez novo.” II Cor 5;17 Cada velharia inda latente em nossa natureza é algo que deve ser purgado no processo de santificação.

Nosso papel é viver de modo tal, que as transformações que O Senhor opera fiquem evidentes; “Porque somos feitura Sua, criados em Jesus Cristo para as boas obras, as quais, Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10

O salmista expressou isso bem claro: “Esperei com paciência pelo Senhor, Ele se inclinou para mim e ouviu meu clamor; tirou-me de um lago horrível, um charco de lodo, pôs meus pés sobre uma rocha, firmou meus passos; pôs um novo cântico nos meus lábios, um hino ao nosso Deus. Muitos, verão, temerão, e confiarão no Senhor.” Sal 40;1 a 3

Nossa “pobreza” ante os que não excedem ao alcance das retinas é o disfarce de uma riqueza eterna. Andamos, “como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo muitos; como nada tendo e possuindo tudo.” II Cor 6;10 Devemos entender que os heróis que anjos aplaudem, não raro, são “covardes” que o mundo apupa.

Se aqueles heróis morreram sem alcançar a promessa, de certa forma, também o faremos; a promessa alude ao devir. “Se esperarmos em Cristo apenas nessa vida, somos os mais miseráveis de todos os homens." I Cor 15;19

Aqui fomos desafiados ao que Deus quer; então, seremos galardoados acima do que queremos.

Fomos honrados, apesar de pecadores frágeis, de nada termos de heroico como aqueles, com o fato de que eles esperam por nós, para que, a ventura dos salvos seja comum. “Provendo Deus alguma coisa melhor ao nosso respeito, para que eles, sem nós não fossem aperfeiçoados.” Aqueles desejaram saber de Cristo, como sabemos e não puderam; “... muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não viram; ouvir o que ouvis, e não ouviram.” Mat 13;17

Então, o autor bíblico usa a figura de um estádio lotado, como se aqueles que esperam por nós para a festa comum da salvação, observassem nosso desempenho, diante dos quais, não devemos fazer feio; diz: “Portanto, nós também, que estamos rodeados por uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta.” Heb 12;1

Invés de força, paciência; o heroísmo de crer não quebra pedras; permanece crendo, ainda que os montes se abalem.

sábado, 30 de novembro de 2024

Espírito estranho


“Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?” Sal 137;4

Os judeus cativos ouvindo pedidos dos caldeus que os escravizavam, para que cantassem os “Cânticos de Sião”; salmos de louvor ao Eterno. Então responderam como vimos acima. Estavam em terra estranha, sem motivos para cantar.

Quão estranha era aquela terra? Nos dias atuais, com os meios disponíveis, uma distância facilmente percorrível num dia de viagem. Com as estradas atuais, cerca de mil quilômetros de distância entre Jerusalém, e as ruínas de onde foi Babilônia, no atual Iraque.
Pelos caminhos da época, certamente a distância amentaria uns 20%, no mínimo; o que tornaria uns 1200 quilômetros.

Para a marcha de então, uma distância interminável! Esdras quando reconduziu o povo a marcha durou exatos quatro meses. “No primeiro dia do primeiro mês, foi o princípio da partida de Babilônia; no primeiro dia do quinto mês, chegou a Jerusalém, segundo a boa Mão do Seu Deus sobre Ele.” Ed 7;9

Uma marcha de 120 dias, andando em média dez quilômetros por dia. Onde estaríamos hoje, se estivéssemos a quatro meses de casa?

Aquele povo fora liberto do Egito sob a promessa da “Terra Prometida”; estar alienado dela significava juízo, consternação, dor, invés de motivos para cantar.

Na Antiga Aliança chamou Abrão, “Sai da tua terra e dentre tua parentela para uma terra que te mostrarei...” a Nova anunciada pelo Salvador mirou mais alto: “Arrependei-vos porque é chegado O Reino dos Céus.” Não mais uma terra a um povo específico, antes um reino a todos os povos, mediante conversão.

Antes, a comunhão com O Eterno poderia exibir vínculos geográficos; tipo, prosperar na terra da promessa sob a bênção do Eterno, ou padecer em terra estranha sob Seu juízo. Na Nova Aliança, a questão geográfica perdeu relevância.

Quando a mulher samaritana inquiriu sobre o lugar certo para adoração, se em Gerizim ou Jerusalém, Jesus foi categórico. “... Mulher, crê que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis O Pai; ... os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e verdade; porque O Pai procura tais, que assim O adorem.” Jo 4;21 e 23

O “endereço” da benção é adorar em espírito e verdade, qualquer alternativa que tiver digitais de mentira, ou da carne, será “terra estranha” a tolher os motivos para cantar.

Se dentro de nós, tudo estiver bem, nossa paz com Deus restabelecida em Cristo, preservada na obediência à Palavra, capacitados pelo Espírito Santo, mesmo que ao nosso redor tudo ameace ruir, ou mesmo venha a desmoronar, ainda poderemos louvar ao Eterno, em comunhão com Ele, como tinha com Adão, antes da queda.
Paulo e Silas estavam acorrentados no cárcere, em Filipos; mesmo sem os demais presos pedirem, os fizeram ouvir cantando louvores a Deus. O Eterno moveu-se por tal fidelidade, fez a terra tremer, e abriu a prisão em socorro dos Seus.

Não devemos confundir mercenários que fingem louvar, em demanda de metais, pois esses, mesmo em “terra estranha”, alienados do santo cantam mais que rouxinóis, com supostos louvores; os de Mamon nada têm com O Eterno. “Ninguém pode servir a dois senhores; porque, ou há de odiar um e amor outro, ou se dedicará a um e desprezará outro. Não podereis servir a Deus e a Mamon.” Mat 6;24

Os judeus escravos penduraram suas harpas nos salgueiros à beira do rio; se recusaram a cantar, por não ver motivo para isso. Pois, os cativos da mentira, da carnalidade, amor ao dinheiro fariam bem se também silenciassem, até receber a libertação que O Salvador propicia; “Isto é; Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; e pôs em nós a Palavra da reconciliação.” II Cor 5;19

Os louvores que os “Babilônios” aplaudiriam, não são os do Senhor.

Rodou o mundo no século passado a música “Rivers of Babilon” do grupo Boney M, inspirada nesse incidente. O mundo dançou e aplaudiu muito; Deus não foi louvado por isso. Os louvores Dele são exclusivos. “... o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação.” Luc 16;15

O que fora impossível em terra estranha, se faz abominável em espírito estranho. Antes de se apressar a louvar, deve o pecador aprender a se lavar.

O salmo primeiro está no saltério como se fosse o porteiro da festa, onde mais 149 convidados viriam louvar a Deus. Ele explica aos “calouros” como devem se portar antes da apresentação: “... não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Sal 1;1 

Sem esses cuidados indispensáveis, não importa a interpretação, letra ou melodia dos louvores; não passa de entretenimento raso para o vão aplauso dos babilônios.

A urgência da vida


“Ah, quem me dera ser como fui nos meses passados, nos dias em que Deus me guardava!” Jó 29;2

É uma tendência humana, valorizar mais o que falta, o que se espera ter, que, o que se tem. Uma vida em seu curso normal, fluindo sem maiores óbices, corre risco de ser presa do tédio, não porque ela seja ruim; antes, pelo humano erro de leitura referido, onde, os anseios parecem mais valiosos que as conquistas.

Dessa percepção adoecida, vertem ditos como: “Eu era feliz e não sabia.” “Quem me dera voltar no tempo!” ou, a pessimista resignação do, “águas passadas não movem mais, moinho.”

Heráclito, o filósofo, dizia que ninguém passa duas vezes pelo mesmo rio; significando com isso, que, dado o mover das águas, quando passarmos a segunda vez, o rio já não será estritamente, o mesmo. Se, num sentido amplo podemos passar o mesmo rio quantas vezes desejarmos, no sentido estrito, tencionado por ele, está certo. Já não será o mesmo.

Assim é o tempo em seu incessante fluir, seu ininterrupto gerúndio que vai fazendo seu depósito no particípio. O “passando” se faz “passado”.

Eventualmente ao “descermos um degrau” percebemos melhor em qual nível estamos. Digo, alguém saudável, alimentado, sem maiores preocupações, eventualmente padece uma enfermidade, perde o emprego, uma necessidade inesperada lhe turba os pensamentos... de posse desse doído fato novo, o antes entediado percebe que fizera má leitura da situação. Agora, ao peso da nova realidade gostaria de voltar àquela e seria feliz se conseguisse.

No caso de Jó, cujo suspiro pelo pretérito realçamos, tinha um viver pleno, próspero, em paz com Deus, de bem com a vida. Por inveja da oposição, a desventura o atingiu; então, seu anseio por volver aos idos, não fora porque fizera má leitura dos dias abençoados; antes, porque a aridez da provação aumentara a sede, das águas que antes dispusera.

Dizem os poetas que as noites mais escuras acentuam o brilho das estrelas. A alma humana após a queda necessita das dores, para que conheça, quão nocivas as causas são; faça as necessárias renúncias em demanda de uma eternidade onde as mesmas não mais ferirão.

Se, o pecado desse apenas prazer, sem maiores consequências, qual a razão para o evitarmos?
Mesmo quando O Santo perdoa nossos descaminhos, junto à doçura da reconciliação, concorre o amargo da dor, da vergonha, constrangimento por termos ferido a Santidade Dele; uma vez que tomamos Seu Santo Nome como fiador das nossas vidas. 

Spurgeon dizia que, Deus ao nos perdoar faculta que não comamos o fruto dos nossos pecados; mas, faz um chá com suas folhas amargas para que o bebamos, pelo Seu cuidado com nossa saúde espiritual.

Ele É Eterno. Mas a nós limitou numa redoma de tempo e espaço, para que nela reaprendamos o caminho de casa e voltemos a ela. “De um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando O pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós.” Atos 17;26 e 27

Salomão aludira a esse limite imposto para as coisas criadas: “Tudo tem seu tempo determinado, há tempo para todo o propósito debaixo do sol.” Ecl 3;1

A obediência ao Senhor, é que bem nos situa em todo o tempo, acrescentando o necessário discernimento das coisas. “Quem guardar os mandamentos não experimentará nenhum mal; o coração dos sábios discernirá o tempo e o juízo.” Ecl 8;5

O risco de sermos negligentes na mordomia dos nossos dias, é que eles se acabem. Que as coisas, hoje acessíveis, amanhã se tornem impossíveis. Daí o alerta: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.” Is 55;6

Jeremias pontuou a desventura dos que, desprezaram as ocasiões e o tempo disponível; acabaram num “beco sem saída.” “Passou a sega, findou o verão e nós não estamos salvos.” Jr 8;20

Como vimos, desventuras trazem em seu bojo lições que permitem melhor apreciar os momentos ditosos, mas farão mais dolorosas as dores, quando for demasiado tarde para retroceder.

Os que se dão a “curtir a vida porque a vida é curta”, como dizem, muitos deles, num momento perdem suas vidas; acordam de sobressalto numa desventura cabal, descobrem tardiamente que a ilusão de dispor de todo tempo, foi a soturna armadilha que lhes deixou sem tempo nenhum.

“... vos exortamos que não recebais a Graça de Deus em vão; porque diz: Ouvi-te no tempo aceitável, e socorri-te no dia da salvação; eis aqui, agora, o tempo aceitável! Eis aqui agora, o dia da salvação!” II Cor 6;1 e 2

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Ouro de tolos


“Não convém ao tolo a fala excelente; quanto menos, ao príncipe, o lábio mentiroso.” Prov 17;7

Antíteses sobre inconvenientes. O tolo que, por um momento falaria como um príncipe, e o príncipe que o faria, como tolo.

Ambos estariam em “terra estranha”; digo, agindo de modo contrário às suas naturezas. Mais notoriamente, no caso do príncipe, cuja posição demanda liderar, governar, ser exemplo. Porém, título e investidura hierárquica não definem a essência, necessariamente. É possível alguém estar em lugares altos, mesmo sendo inepto para isso. “Vi servos a cavalo e príncipes andando sobre a terra como servos.” Ecl 10;7

Por outro lado, como um tolo usaria fala excelente? O reino das palavras é sobremodo, pródigo; permite que muitas coroas sejam usadas sobre cabeças indignas. Com a célere difusão do conhecimento, há tantas pérolas que podem ser vistas na superfície, flutuando à deriva, como se fossem de parco valor; perdem-se entre espumas sujas no mar das falácias, ao dispor de quem quiser usar.

Talvez, seja justamente essa a causa da banalização; o excesso de informações em tempo exíguo, não permite que avaliemos devidamente as coisas. O que deveria ser sóbrio, contemplativo, solene, acaba trivial, vulgar, desprezível. Uma geração como a atual, onde, alguém paga milhões por uma banana colada sob uma fita adesiva, como “obra de arte”, naturalmente daria uma banana à arte de refletir em busca de entender o sentido das coisas.

Se, sentenças profundas de rebuscado saber vertem dos lábios de quem não vive, nem remotamente, à luz daquilo que partilha, facilmente identificaremos um porco entre cristais, uma mistura de coisas que deveriam se manter separadas.

Nos dias de Cristo, O Senhor referiu antiga profecia, que denunciara esse “calor” dos lábios tentando disfarçar corações frios. “Esse povo se aproxima de Mim com a sua boca, e Me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.” Mat 15;8 Naqueles dias, pois, de comunicações precárias já era possível os tolos usarem falas que não combinavam com o procedimento deles.

Necessário mais uma vez recorrer a Spurgeon: “Uma coisa boa não é boa fora do seu lugar.” No momento em que escrevo recebi duas mensagens via Watts, de um mecânico explicando os problemas do carro que deixei para orçamento. Acontece que não deixei carro nenhum. Foi um erro dele que enviou para mim uma mensagem que deveria enviar para outro. Um exemplo prático de uma coisa fora do lugar gerando estranheza.

No âmbito espiritual que demanda renúncias é onde mais ocorre de pessoas usarem falas excelentes, porções da Palavra de Deus, embora, o procedimento das mesmas nem sempre se deixe moldar pelas coisas que, eventualmente fala.

Também esse é um vício antigo, denunciado pela escrita de Davi: “Mas ao ímpio, diz Deus: Que fazes tu em recitar os Meus Estatutos e tomar Minha Aliança em tua boca? Visto que odeias a correção e lanças as Minhas Palavras para trás de ti? quando vês o ladrão consentes com ele e tens a tua parte com adúlteros. Soltas tua boca para o mal e tua língua compõe enganos; assentas-te a falar contra o teu irmão, falas mal contra o filho de tua mãe; essas coisas tens feito e Me calei; pensavas que Eu era assim como tu, mas Eu te arguirei e as porei por ordem, diante dos teus olhos; ouvi, pois, isto, vós que vos esqueceis de Deus; para que Eu não vos faça em pedaços sem haver quem vos livre. Aquele que oferece sacrifícios de louvor Me glorificará; e àquele que bem ordena o seu caminho, eu mostrarei a salvação de Deus.” Sal 50;16 a 23

Embora nossos crânios tenham sido recheados com cérebros para ser usados, a maioria segue instintiva, orgulhosa da própria ignorância, de cujo mirante moteja dos poucos que não confundem mera existência, com vida.

Muitos príncipes lograram seus principados falando para tolos, naturalmente, como tolos. Quem pensou nos “influencers” com milhões de seguidores, cujos conteúdos carecem melhorar muito para “encher” um conjunto vazio, pensou bem.

A maioria das lideranças políticas não faz melhor. A aptidão fisiológica dos conchavos, fraudes, os eleva a lugares altos, não a retidão moral, habilidade intelectual, probidade, como seria conveniente.

Reitero, o descalabro mais vergonhoso é de lideranças espirituais que, deveriam apontar para O Reino dos Céus, disputando espólios terrenos escandalosamente, com unhas e dentes, mostrando que o “Céu” no qual creem tem cifrões, não, coroas; aplausos humanos invés honras eternas.

Nesses casos, já que fizeram uma escolha rasteira e tola, seus principados também serão preteridos, por honrarem futilidades acima do Rei dos Reis.

Se, as falas nobres não recebem o testemunho de ações do mesmo calibre, as tolas atitudes herdarão a recompensa, na justa medida.
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