sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Ouro de tolos


“Não convém ao tolo a fala excelente; quanto menos, ao príncipe, o lábio mentiroso.” Prov 17;7

Antíteses sobre inconvenientes. O tolo que, por um momento falaria como um príncipe, e o príncipe que o faria, como tolo.

Ambos estariam em “terra estranha”; digo, agindo de modo contrário às suas naturezas. Mais notoriamente, no caso do príncipe, cuja posição demanda liderar, governar, ser exemplo. Porém, título e investidura hierárquica não definem a essência, necessariamente. É possível alguém estar em lugares altos, mesmo sendo inepto para isso. “Vi servos a cavalo e príncipes andando sobre a terra como servos.” Ecl 10;7

Por outro lado, como um tolo usaria fala excelente? O reino das palavras é sobremodo, pródigo; permite que muitas coroas sejam usadas sobre cabeças indignas. Com a célere difusão do conhecimento, há tantas pérolas que podem ser vistas na superfície, flutuando à deriva, como se fossem de parco valor; perdem-se entre espumas sujas no mar das falácias, ao dispor de quem quiser usar.

Talvez, seja justamente essa a causa da banalização; o excesso de informações em tempo exíguo, não permite que avaliemos devidamente as coisas. O que deveria ser sóbrio, contemplativo, solene, acaba trivial, vulgar, desprezível. Uma geração como a atual, onde, alguém paga milhões por uma banana colada sob uma fita adesiva, como “obra de arte”, naturalmente daria uma banana à arte de refletir em busca de entender o sentido das coisas.

Se, sentenças profundas de rebuscado saber vertem dos lábios de quem não vive, nem remotamente, à luz daquilo que partilha, facilmente identificaremos um porco entre cristais, uma mistura de coisas que deveriam se manter separadas.

Nos dias de Cristo, O Senhor referiu antiga profecia, que denunciara esse “calor” dos lábios tentando disfarçar corações frios. “Esse povo se aproxima de Mim com a sua boca, e Me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.” Mat 15;8 Naqueles dias, pois, de comunicações precárias já era possível os tolos usarem falas que não combinavam com o procedimento deles.

Necessário mais uma vez recorrer a Spurgeon: “Uma coisa boa não é boa fora do seu lugar.” No momento em que escrevo recebi duas mensagens via Watts, de um mecânico explicando os problemas do carro que deixei para orçamento. Acontece que não deixei carro nenhum. Foi um erro dele que enviou para mim uma mensagem que deveria enviar para outro. Um exemplo prático de uma coisa fora do lugar gerando estranheza.

No âmbito espiritual que demanda renúncias é onde mais ocorre de pessoas usarem falas excelentes, porções da Palavra de Deus, embora, o procedimento das mesmas nem sempre se deixe moldar pelas coisas que, eventualmente fala.

Também esse é um vício antigo, denunciado pela escrita de Davi: “Mas ao ímpio, diz Deus: Que fazes tu em recitar os Meus Estatutos e tomar Minha Aliança em tua boca? Visto que odeias a correção e lanças as Minhas Palavras para trás de ti? quando vês o ladrão consentes com ele e tens a tua parte com adúlteros. Soltas tua boca para o mal e tua língua compõe enganos; assentas-te a falar contra o teu irmão, falas mal contra o filho de tua mãe; essas coisas tens feito e Me calei; pensavas que Eu era assim como tu, mas Eu te arguirei e as porei por ordem, diante dos teus olhos; ouvi, pois, isto, vós que vos esqueceis de Deus; para que Eu não vos faça em pedaços sem haver quem vos livre. Aquele que oferece sacrifícios de louvor Me glorificará; e àquele que bem ordena o seu caminho, eu mostrarei a salvação de Deus.” Sal 50;16 a 23

Embora nossos crânios tenham sido recheados com cérebros para ser usados, a maioria segue instintiva, orgulhosa da própria ignorância, de cujo mirante moteja dos poucos que não confundem mera existência, com vida.

Muitos príncipes lograram seus principados falando para tolos, naturalmente, como tolos. Quem pensou nos “influencers” com milhões de seguidores, cujos conteúdos carecem melhorar muito para “encher” um conjunto vazio, pensou bem.

A maioria das lideranças políticas não faz melhor. A aptidão fisiológica dos conchavos, fraudes, os eleva a lugares altos, não a retidão moral, habilidade intelectual, probidade, como seria conveniente.

Reitero, o descalabro mais vergonhoso é de lideranças espirituais que, deveriam apontar para O Reino dos Céus, disputando espólios terrenos escandalosamente, com unhas e dentes, mostrando que o “Céu” no qual creem tem cifrões, não, coroas; aplausos humanos invés honras eternas.

Nesses casos, já que fizeram uma escolha rasteira e tola, seus principados também serão preteridos, por honrarem futilidades acima do Rei dos Reis.

Se, as falas nobres não recebem o testemunho de ações do mesmo calibre, as tolas atitudes herdarão a recompensa, na justa medida.
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