“Melhor é a criança pobre e sábia, que o rei velho e insensato que não se deixa mais admoestar.” Ecl 4;13
Não é o normal uma criança ser sábia; ter em si mais conhecimento que um rei. Todavia, por andar no temor do Senhor, dócil ao aprendizado, maleável aos conselhos, certamente fará melhores coisas que aquele que, presunçoso acha-se acima do bem e do mal, portador de uma luz superior, sequer necessita conselhos, admoestações.
Quem se enche de si separando-se do Senhor, escolhe a maldição; “... maldito o homem que confia no homem, faz da carne seu braço e aparta seu coração do Senhor.” Jr 17;5
Não significa que a vantagem esteja no momento do “recorte” nas vidas dos dois em apreço. O “melhor” está no fim. Onde as posturas de um e outro os levarão. “Porque um sai do cárcere para reinar, enquanto outro, que nasceu em seu reino, torna-se pobre.” V 14
A arrogância põe a perder, enquanto a humildade recomenda a lugares mais altos.
Davi era um menino que cuidava rebanhos, tocava harpa e compunha cânticos de adoração ao Senhor. Saul, um guerreiro de grande estatura, que foi ungido por Samuel, para ser rei em Israel.
Quando advertido pelo profeta sobre a interdição dos despojos dos Amalequitas, durante uma peleja, ignorou o interdito e permitiu que o povo agisse como lhe aprouvesse. Isso bastou para que fosse rejeitado, o que culminou com sua morte, mais adiante, e a perda do reino. A desculpa de poupar aos animais para cultuar ao Senhor não ajudou. “Melhor é obedecer que sacrificar...” ensinou Samuel.
Davi foi exaltado na peleja contra Golias; depois, perseguido pelo próprio Saul, pelo ciúme, ao ver que o povo se inclinava ao filho de Jessé mais que a ele. No devido tempo, quando o “rei velho e insensato” caiu nos montes de Gilboa, Davi foi guindado ao trono.
Vemos a sina de um, melhor que a do outro, no fim, não durante o percurso. Salomão versou: “Melhor é o fim das coisas que o princípio delas; melhor é o paciente de espírito que o altivo.” Ecl 7;8
Quantas vezes o rigor da caminhada enseja que gente insensata desacredite do propósito dela! Os que estavam migrando do Egito durante o êxodo, ante a mínima dificuldade logo acusavam a Moisés de os ter feito sair “errantes” deixando a “boa mesa” do Egito.
Ignoravam propositalmente que haviam deixado à escravidão sob açoites também. Marchar pra liberdade tem um preço, que alguns preferem seguir prisioneiros a pagar; quando convém, a desobediência usa meias verdades, para vestir-se de algo que não é. Uma criança não é “sábia” assim. Em geral inda tem a verdade como norte.
Por isso, Jesus requer dos Seus, que se façam como crianças, maleáveis, ensináveis, confiantes na voz dos mais velhos. “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes, e não vos fizerdes como meninos, de modo nenhum entrareis no Reino dos Céus.” Mat 18;3
Graças ao novo nascimento, da água e do Espírito, nossos “reis velhos” podem ser feitos crianças outra vez. Carece cada “monarca” “negar a si mesmo”, abdicar da presunção de saber das coisas, admitir sua crassa ignorância espiritual e se colocar dócil, aprendiz, aos pés do Senhor.
Ironizando a pretensão madura, e contrapondo com a pureza interior infantil que cada um deveria cultivar, Saint-Exupérry versou em “O Pequeno Príncipe:” “Os adultos nunca conseguem entender nada sozinhos; é cansativo para as crianças ter que explicar tudo o tempo todo.”
Pois, quem se converte a Cristo precisa assumir sua condição de adulto obtuso, rei velho e insensato, e deixar que a criança recém-nascida aprenda os novos caminhos; estreitos, é verdade, mas que no final acabarão num abençoado Reino.
Pedro aconselha: “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo.” I Per 2;2
Cada idade tem seus anseios e medos. Stephen Hawking, célebre ateu, falecido, disse: "A fé é um brinquedo de crianças com medo do escuro." Um pastor americano respondeu: “O ateísmo é um brinquedo de adultos, com medo da luz.” Platão, como que antecipando-se a esse pleito sentenciara: “O trágico não é a criança com medo do escuro; antes, o adulto com medo da luz.”
O que luz tem de “ruim” é que mostra os descaminhos dos “reis velhos”; “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas que a luz, porque suas obras eram más. Todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;19 e 20
Muito melhor temer o escuro, a ignorância espiritual, pois, que temer a verdade.
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