sexta-feira, 24 de maio de 2024

Como vemos


Deparei com a frase: “Não vemos as coisas como elas são; as vemos, como nós somos.” E resolvi pensar a respeito. Será que, invés de sujeitos ímpares, racionais, inteligentes, somos mera extensão da paisagem?

Que uma pessoa tende a projetar sobre outra, seus apreços, sejam bons, sejam maus, faz sentido. Quanto mais honesta uma alma, mais chances terá de ser enganada, por presumir presentes nos elementos de sua interação, os mesmos valores que encontra em si.

Por outro lado, quanto mais vil, mas torpe, indigno de confiança alguém for, mais desconfiado; dado, saber por experiência própria, que não se pode confiar em qualquer um.

Que essa nuance empírica, tende a pincelar traços em nossas almas, parece indiscutível.

Entretanto, se levarmos a ideia às últimas consequências, descobriremos, fatalmente, que ela não foi feita para ir tão longe assim.

A Bíblia relata a saga de Ló, que, vivendo numa sociedade semelhante à atual, Sodoma, esteve para aquele habitat, como o cisne, no lago dos patos. Tornou-se o “patinho feio”, pela não conformidade de traços, com os habitantes; “Porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias sua alma justa, pelo que via e ouvia sobre suas obras injustas.” II Ped 2;8 Viu aos sodomitas como eles eram; não, como ele era. Ló era justo; aqueles, injustos.

Logo, nem sempre vemos as coisas como somos. A capacidade racional dada ao homem, permite que ele interprete, mesmo linguagens não expressas; entrelinhas, mensagens tácitas, linguagem corporal; é capaz de uma leitura sagaz do que observa, a despeito de concordar com o que vê, ou não. Foi feito um observador autônomo, não, necessariamente, uma amálgama com o ambiente.

Além disso, também não podemos levar às últimas consequências o “diga-me com quem andas, e te direi quem és.” Se, “andar” significar estritamente, identidade de gostos e valores, sim; porém, situações especiais nos forçam a andar ao lado de qualquer um, discordando pontualmente, dele; até mesmo, ignorando quais valores defende, em quais coisas acredita.

Se, na confusão de línguas em Babel, cada um, por razões óbvias, buscou andar com aquele que falava o mesmo idioma, separando-se dos demais, nas questões morais, espirituais, comportamentais, nem sempre é assim. Um pleito comum, dependendo da relevância dele, pode colocar nas ruas uma massa, em defesa do mesmo. Essa é um mosaico de “eus” totalmente distintos, que, sem maiores traços semelhantes, com apenas um interesse confluente, andam juntos, por determinado tempo.

Se, cada um visse as coisas rigorosamente como ele é, forçosa seria a conclusão que todos são obras acabadas. O crescimento seria impensável. Nossas limitações, tanto empíricas, quanto racionais, fatalmente deixam vasto espaço para um vir a ser. Digo, mostram que precisamos crescer, melhorar; se somos algo, esse algo é um somatório de imperfeições, de lapsos, que precisam ser supridos. Mais correto seria dizer que estamos, nesse ou naquele estágio, que, presumir que somos.

Então, voltando à projeção de valores, creio que vemos às coisas, certamente sob influência do “mirante” no qual estamos. Não significa que ficaremos sempre ali; antes, temos possibilidade de andar, subir; ampliando assim, o campo da visão, lograremos lonjuras maiores.

Cada um vê as coisas com a luz que possui. No que tange a Deus, porque a Luz Dele evidencia nossas imperfeições, a maioria tende a se manter distante.

Afinal, a vaidade do homem natural tolhe que admita ser visto como realmente é; mesmo fazendo todas as coisas do seu desastrado jeito, deseja a aprovação que só é possível agindo do jeito de Deus. “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas.” Jo 3;20 O ensino é: “não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12;2

Saímos, pois, da esfera meramente intelectual, o que podemos ver, para a volitiva; como desejamos ser vistos. Porque a vontade costuma suplantar a verdade; nem sempre, o que vemos logra melhorar o que somos. Tendemos a escolher nossa vontade em detrimento da Divina; “Porquanto, tendo conhecido a Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças...” Rom 1;21

Se vejo “mal lavadas” as roupas brancas da vizinha, porque minha vidraça está suja, isso é um derivado do hábito fugaz, de negar minhas imperfeições. 

Quem se deixa purificar pela regeneração da Palavra de Deus, como o cego curado em dois tempos, por Jesus, primeiro viu o propósito ao nosso respeito, dar frutos; “Vejo os homens... como árvores que andam. Depois disto, tornou a por-lhe as mãos sobre os olhos, e o fez olhar para cima: ele ficou restaurado, e viu todos, claramente.” Mc 8;24 e 25

Fora do Reino



“Ficarão de fora os cães, feiticeiros, os que se prostituem, homicidas, idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira.” Apoc 22;15

Não é uma lista exaustiva. Alguns pecados foram postos em relevo, entre eles, a mentira.

Está na moda o combate às “Fake News”; a vulgar, mentira. Quer dizer que o Governo está certo? Sim e não.

O mérito procede, a mentira é uma coisa má; o método da proibição pela força, também é; por tolher à liberdade de expressão que é um bem inegociável, onde os direitos humanos forem respeitados. Assim, estariam usando um erro para “consertar” outro.

Além disso, mentira e verdade dever ser indicadas pela força dos fatos, não pela voz de quem falar mais alto; tampouco, pelo interesse que quem pretender o controle, em favor de suas preferências particulares.

Desde sempre, patifes que detinham o poder caçaram desafetos, de maneira bem sórdida; sempre ocultando-se atrás de algum escudo “nobre”. Quando Lutero defendeu que a salvação seria pela fé, não pelas obras, ou, pelas indulgências que prelados católicos vendiam, causou alvoroço. De onde o sujeito tirara tais ideias? Da Bíblia. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;” Ef 2;8 e 9 “O justo viverá da fé...” Heb 10;39 etc.

Isso despertou o furor do Paulo Pimenta da época. Fake News, heresia!!

Embora, o pregador queria apenas ensinar a verdade ao povo, bradavam em defesa da “ortodoxia” contra a “heresia”. Os tiranos sempre precisam vestes emprestadas.

Antes, John Wycliffe pregara coisas semelhantes, foi precursor da Reforma. “A verdadeira autoridade emana da Bíblia, que contém o suficiente para governar o mundo” atreveu-se a dizer o “herege”. Esposava que, A Palavra de Deus deveria estar ao alcance de todos, em língua vulgar, não apenas para a nobreza, em latim.

Defensores do elitismo religioso vigente acusavam: “A joia da nobreza virou brinquedo de leigos”; depreciando a tradução de Wycliffe para a língua inglesa das Escrituras. Entre muitas lutas e perseguições, fez isso, para desconforto do clero; que, não o tendo queimado vivo, como era seu costume, anos mais tarde “reparou seu erro”; além de queimar os escritos, desenterrou e incinerou solenemente, os ossos do pregador.

Uns tempos depois, William Tindale retomou a empresa de Wycliffe, desta vez, traduzindo do Grego e do Hebraico, não do Latim, como fizera aquele. Influenciado pelos escritos de Erasmo de Roterdã, e Lutero, que traduzira a Palavra de Deus para o alemão. Dessa vez, o clero não cometeu o mesmo “erro”; queimou o “herege” ainda vivo, como fizera com John Huss, para “exemplo” daqueles que achassem que o povo poderia ter acesso à Palavra de Deus.

A Palavra não foi dada para privilégio de poucos; antes, ela mesma ordena que, seja pregada a todos. O rei Artaxerxes, falando ao sacerdote Esdras, recomendou que colocasse em autoridade, gente que conhecesse a Lei de Deus. “... nomeia magistrados e juízes, que julguem todo o povo que está dalém do rio, os que sabem as Leis do teu Deus; ao que não as sabe, ensinarás.” Ed 7;25

O hábito de defender privilégios, mascarando-os de defesa de valores persiste, nada de novo debaixo do sol.

Os que vendem a alma ao diabo, usam de todos os “argumentos”, mesmo opostos, se necessário, para saciedade da sua sede de poder. “Fora da Igreja Católica não há salvação”, berravam os “proprietários” de Deus. Para desacreditar o esforço dos reformadores. Hoje, o ecumenismo considera “válidas” todas as crenças, desde que se aninhem juntas à sombra do “Papa”.

Não se trata, de zelo pela verdade; antes, pelos interesses mesquinhos.

O combate à mentira é muito salutar; deve habitar em cada um de nós. Como convém tirar a trave de nosso olho, antes de ajudar o semelhante, precisamos combater a mentira em nossas próprias falas; para tanto, Deus nos capacitou, colocando um aferidor em nossas consciências, que silencia, à verdade, e brada seu repúdio à menor sombra de mentira.

A balela para consumo externo, dos que dizem combater o falso no exato momento em que o estão produzindo, não convence nem eles mesmos. Certamente suas consciências lhes dizem poucas e boas, mostrando os patifes que são.

Quem ama à verdade, pratica a mesma, por questão de saúde espiritual e psíquica. Não há alvos exteriores prioritários. Em geral, embora as pessoas costumem bordar flores no pano da sinceridade, o homem veraz causa estragos quando fala; a vida social se dá melhor com hipócritas, mentirosos.

Os que zelam por valores não priorizam convivência; antes, se amoldam à verdade; “aos seus olhos o réprobo é desprezado; mas honram aos que temem ao Senhor;” Sal 15;4

A Singularidade de Deus



“Não terás outros deuses diante de Mim.” Ex 20;3
“Olhai para Mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque Eu Sou Deus; não há outro.” Is 45;22 “Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que Eu Sou Deus, não há outro Deus, não há outro semelhante a Mim.” Is 46;9

Isso não tornaria desnecessária a exortação para que o povo não tivesse outros deuses? Se as ações humanas todas, derivassem rigorosamente da verdade, sim. Todavia, as garras do engano são mui pujantes, infelizmente.

O Deus Verdadeiro criou o homem, e tudo que há; esse, seduzido pelo enganador mor, cria deuses alternativos, ao sabor da sua vontade obtusa, e coloca no lugar do Todo Poderoso.

Paulo denunciou: “Porquanto, tendo conhecido Deus, não O glorificaram como Deus, nem Lhe deram graças, antes, em seus discursos se desvaneceram; seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. Mudaram a Glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, aves, quadrúpedes e répteis.” Rom 1;21 a 23

O problema das imagens seria inócuo se, fosse apenas um reflexo da humana ignorância. Porém, quando essas coisas se tornam depositárias dos louvores que cabem ao Eterno, usurpando-lhe o lugar, viram profanação; uma usurpação rasteira que O Santo deplora; “Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, honraram e serviram mais a criatura que O Criador, que É Bendito eternamente.” V 25

O fato de Deus ser três pessoas, em Um Só Deus, “Porque Três São os que testificam no Céu: o Pai, a Palavra, (Jesus Cristo) e o Espírito Santo; Estes Três São Um.” I Jo 5;7 Está expresso com todas as letras.

Embora não seja simples, é possível ser entendido, assim como é, que o casal deve ser um, mesmo tendo duas pessoas; aludindo à necessária coesão e unidade de propósito. Jamais encontraremos o mínimo texto na Palavra, comportando divisões, preferências, individualismos. Antes, Seja Deus Pai, seja O Filho, ou O Espírito Santo a falar, a Unidade e harmonia sempre está presente, pelo fato de Deus Ser Um; O Único Verdadeiro.

Quando vetou a pluralidade, pois, vetou a escolha do engano, que sempre redunda em prejuízo pra quem o busca. Não terás outros deuses diante de Mim, porque não há outro verdadeiro.

Sempre que, um bibelô de humana feitura recebe honras Divinas, está furtando ao Eterno. Essa balela que fazem imagens para os “santos”, mas sabem que “Deus é um só” é confissão de culpa, dos que armam vistosas procissões, aos tais, enquanto fazem ouvidos moucos à Palavra de Deus. “Eu Sou O Senhor; este É Meu Nome; Minha Glória, pois, a outrem não darei, nem Meu louvor às imagens de escultura.” Is 42;8

Por derivarmos nossas conclusões, entradas e saídas, no mundo espiritual, da Palavra de Deus, não raro, somos acusados de “fanatismo”, pelos “descolados e inclusivos” que, colocam qualquer porcaria, em pé de igualdade com O Altíssimo.

Se Deus É Único, natural que o caminho até Ele seja exclusivo. “... Eu Sou O Caminho, A Verdade e A Vida; ninguém vem ao Pai, senão por Mim.” Jo 14;6

Outro dia deparei com uma frase bonitinha: “O amor ao próximo é a única religião na qual o fanatismo deveria ser permitido.” Pois, amor ao próximo é um pilar básico da Doutrina de Cristo “... tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lhe também, porque esta é a lei e os profetas.” Mat 7;12

Querer para nosso próximo aquilo que é bom para nós, é o mais eloquente demonstrativo de amor por ele. Como conhecemos a Deus em Cristo, fomos transformados por Ele, sabemos o bem que isso enseja, seria egoísmo insano de nossa parte, não desejarmos as mesmas bênçãos aos semelhantes.

Todavia, à mínima discordância quanto aos caminhos que se afastam de Deus, manifesta por intermédio de um dos servos Dele, e pronto: “Fanatismo!” Os mesmos que advogam o amor ao próximo, recusam-se a tomar dos remédios que receitam. Por quê?

Porque chamam de amor ao mero sentimentalismo raso e tolerante, que não corrige, nem ensina; o Amor de Deus não é assim: “Porque o Senhor corrige ao que ama, açoita a qualquer que recebe por filho. Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, não, filhos.” Heb 12;6 a 8

Nosso “fanatismo” é derivado de duas coisas: Aversão aos efêmeros mundanismos, e confiança inabalável no Eterno, que sempre segue O Mesmo. Perdoem nossa firmeza; é por “culpa” do nosso Deus. “Os que confiam no Senhor serão como o monte de Sião, que não se abala...” Sal 125;1

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Os que voltam atrás



“Mas o justo viverá pela fé; se ele recuar, Minha Alma não tem prazer nele.” Heb 10;38

Quando ensinou Sua Doutrina, O Salvador disse algo semelhante: “... Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o Reino de Deus.” Lu 9;62

Primeiro, mover-se numa direção, voltar atrás, recuar. O segundo, apenas mover-se sentimentalmente; mostrar-se saudoso, desejar um retorno, ainda que, por covardia ou conveniência, não se mova para onde deseja, apenas o olhar denuncia o coração; “... olha para trás...”

Deus só se deixa encontrar, quando O buscamos capitaneados pelos nossos corações, “Buscar-me-eis, e me achareis, quando Me buscardes com todo vosso coração.” Jr 29;13 

Também nossas afirmações, profissão de fé, escala de valores, devem vir de um mover íntimo, mais que, um deslocamento corpóreo. “Porque, onde estiver vosso tesouro, ali estará também vosso coração.” Luc 12;34

Devemos, pois, ser ciosos quanto à origem de todas as nossas ações; “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” Prov 4;23

O coração pode ganhar grandes distâncias, sem que demos um passo. “Podes ir até a esquina; comprar cigarros e voltar; ou mover-se até à China, sem sair de onde estás.” M. Quintana.

Muitos que depreciaram o andar com Deus, durante o Êxodo, deles se disse que regressaram ao Egito; “Ao qual nossos pais não quiseram obedecer, antes o rejeitaram e em seu coração tornaram ao Egito.” Atos 7;39 Uma “volta” sentimental, não real, visível.

Podemos recuar, pois, para desprazer de Deus, mesmo ficando onde estamos. Infelizmente, há muitos dentro das Igrejas, que, por avessos à obediência e santificação, voltam atrás a cada nova tentação, mesmo permanecendo no local de adoração; tencionam preservar um verniz cristão, por não ter afeição suficiente pela verdade, a ponto de enfrentar às próprias misérias, demandando ajuda de quem poderia.

O problema não é errar; isso acontece com todos nós; o trágico é quando tentamos esconder, o que está nu diante de Deus. “O que encobre suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” Prov 28;13

Tantos recuam, tentando amoldar a mensagem do Evangelho aos seus desejos, invés de se deixarem moldar por ele, segundo o querer Divino. Há uma ruptura inevitável com o mundo, caso queiramos conhecer o Propósito do Pai ao nosso respeito. “... apresenteis vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Rom 12;1 e 2

A rasteirização da Palavra, ao nível das humanas inclinações desfigura sua essência, e cria “outra” mensagem, sem a eficácia Divina; “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à Graça de Cristo para outro Evangelho; o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o Evangelho do Senhor.” Gál 1;6 e 7

Pedro aludiu a uns que, voltando nos seus corações às práticas de antes, seguem pregadores, ensinando suas perversões; “Porque, falando coisas mui arrogantes de vaidades, engodam com as concupiscências da carne, com dissoluções, aqueles que se estavam afastando dos que andam em erro, prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção. Porque de quem alguém é vencido, do tal faz-se servo.” II Ped 2;18 e 19

Tendo esses conhecido a libertação que há em Cristo, por prezarem mais os desejos carnais que a salvação, desceram aquém d'onde estavam antes de ouvir e provar da Palavra da Vida; “... tornou-se lhes o último estado pior que o primeiro. Porque melhor lhes seria não conhecerem o caminho da justiça, que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado; deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao próprio vômito, a porca lavada ao espojadouro de lama.” Vs 20 a 22

Os que conseguem ver distintamente o que está em jogo, e logram discernir a Beleza de Cristo, vão até à morte, se necessário for, sem negar sua fé. Meros curiosos, que atentam às vantagens temporais mais que, às preciosidades eternas, tendem a voltar atrás, ao primeiro sinal de dificuldade na caminhada.

Muitos, tendo começado bem, persuadidos pela sugestão de algum atalho, capitulam numa coação da própria covardia; “Corríeis bem; quem vos impediu, para que não obedeçais à verdade?” Gál 5;7

Se, como vimos, Deus não tem prazer nos que recuam, se alegra nos que preservam a fidelidade. “... Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” Apoc 2;10

“... não somos daqueles que se retiram para perdição, mas daqueles que creem para conservação da alma.” Heb 10;39

Cristo não aboliu a obediência



“Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus.” Rom 7;4

Embora, para alguns, a Graça soe como mera leniência, uma facilitação, na verdade, ela chama para novo começo, Nova Aliança, com exigências, demandas, numa seriedade solene e santa.

Quando a Palavra fala que Cristo aboliu o Antigo Testamento, o fez em relação aos sacrifícios de animais, mostrando a inutilidade daqueles, meros tipos proféticos Dele. “Mas, vindo Cristo, o Sumo Sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação, nem por sangue de bodes e bezerros, mas por Seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção.” Heb 9;11 e 12

Quanto às exigências no trato com Deus e com o semelhante, nada foi abolido; antes, as exigências foram ampliadas. Basta ver, Mat 5;22, 28 e 39 por exemplo.

O Salvador garantiu: “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da Lei, sem que tudo seja cumprido.” Mat 5;18

Paulo assegurou: “... a lei é santa, o mandamento santo, justo e bom.” Rom 7;12
Não foi a Lei que morreu para nós, antes, nós que morremos para ela, que continua em vigor, sobre os que não estão em Cristo. “... vós estais mortos para a Lei pelo corpo de Cristo...”

A morte Dele, em nosso favor, é tida como sendo também nossa. “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte?” Rom 6;3

Como a Lei não foi dada para disciplinar mortos, e em Cristo estamos mortos para nosso passado de erros, estamos livres dela. Fomos chamados à vida como novas criaturas, agora, filhos de Deus. Paulo resume a ideia num verso: “Porque já estais mortos, e vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” Col 3;3

Como a função da Lei não era salvar, mas manifestar os pecados e conduzir ao Salvador, os que se agarram a ela, ainda, como tábua de salvação, não a entenderam, nem a Cristo.

Paulo pinta isso com tintas bem fortes; “Todos aqueles, pois, que são das obras da Lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da Lei, para fazê-las. É evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.” Gl 3;10 e 11

O que diferencia a Graça da Lei, além da abolição dos sacrifícios de animais, e dos seus rituais contíguos, é que agora, em Cristo, a salvação é possível. Paulo comparou esse desprendimento da Lei, mediante a “morte” em Cristo com uma viuvez, que permite novo matrimônio sem culpa.

“Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está da lei, e não será adúltera, se for de outro marido. Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a Lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus.” Rom 7;2 a 4

Nossa vida “escondida” com Cristo demanda que andemos conforme. João foi categórico: “Aquele que diz que está Nele, também deve andar como Ele andou.” I Jo 2;6

Os que se apressam à Graça, como se essa significasse licença para pecar, que respondam: “... Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? ... Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” Rom 6;1 e 2

Portanto, erram bisonhamente os que, em defesa da “canonização” de perversões, desprezam o “legalismo e a religiosidade tóxica”, dos que exortam a uma vida de obediência, santificação.

O desprezo à Lei de Cristo é muito mais grave que à de Moisés. “Quebrantando alguém a Lei de Moisés, morre sem misericórdia, só pela palavra de duas ou três testemunhas. De quanto maior castigo cuidais será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, tiver por profano o Sangue da Aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” Heb 10;28 e 29

Deus É Amor? Sim. É Seu Bendito Amor que prorroga o tempo e encoraja servos Seus a seguirem chamando os errados ao arrependimento. Breve o tempo da Graça findará; será a vez do amor pela verdade e justiça entrar em cena.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

O culto hipócrita



“Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. Corra, porém, juízo como águas, justiça como ribeiro impetuoso.” Am 5;23 e 24

Numa escolha entre culto e frutos, O Eterno não fica indeciso.

Não apenas os cânticos; também os sacrifícios se mostraram vis, distantes do que O Santo desejava. “Odeio, desprezo vossas festas; vossas assembleias solenes não Me exalam bom cheiro. Ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não me agradarei delas; nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos.” Vs 21 e 22

Não havia mal com holocaustos, quando, derivados de uma adoração sincera, ou, arrependimento. O problema acontecia quando o culto era aquilatado como uma espécie de compensação para o pecado, uma moeda de troca, onde ímpios “agradavam” a Deus, enquanto, viviam às suas ímpias maneiras.

Invés de uma correção de erros, grassava uma progressão de erros. “Ai dos filhos rebeldes, diz o Senhor, que tomam conselho, mas não de Mim; se cobrem, com uma cobertura, mas não do Meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado;” Is 30;1

O ser humano, o político, sobretudo, amolece ao som das lisonjas, se sente prestigiado, ao toque de adulações. Todavia, O Todo Poderoso, além de Justo, É Santo. Antes de se impressionar com o teatro das “espertezas”, requer sinceridade, contrição, arrependimento, verdade, honestidade.

Os “louvores” da boca pra fora já tinham sido apreciados por Isaías; apreciação reiterada pelo Salvador: “Este povo se aproxima de Mim com sua boca; me honra com os seus lábios, mas seu coração está longe de Mim.” Mat 15;8

Os que traem a si mesmos, empolgados com a própria hipocrisia e religiosidade, sem intimidade com O Senhor, também foram alvos do apreço de Jesus Cristo: “Nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos Céus. Muitos Me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em Teu Nome? em Teu Nome não expulsamos demônios? em Teu Nome não fizemos muitas maravilhas? Então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” Mat 7;21 a 23

Nosso culto não é o nosso relacionamento com O senhor; embora, possa ser derivado dele. Como reagimos às tentações do dia a dia, é a forma mais eloquente de louvor, que Lhe podemos dar; se, resistirmos resolutos ao tentador, para não entristecermos ao Espírito de Deus, O estaremos honrando.

Os frutos que O Eterno espera de nós, não medram nos púlpitos; antes, perante as pessoas; “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e coloca debaixo do alqueire, mas no velador; dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras e glorifiquem ao vosso Pai, que está nos Céus.” Mat 5;14 a 16

A adoração hipócrita sempre foi rejeitada. Por Isaías, O Santo perguntou por que eles iam ao templo e sacrificavam; “De que me serve a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem Me agrado de sangue de bezerros, de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante Mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis pisar nos Meus átrios?” Is 1;11 e 12

Por Amós, como vimos, mandou pararem de cantar; por Malaquias, avançou inda mais; desejou que fechassem as portas do templo e apagassem o fogo do altar; “Quem há também entre vós que feche as portas por nada, não acenda debalde o fogo do Meu altar? Eu não tenho prazer em vós, diz O Senhor dos Exércitos, nem aceitarei ofertas da vossa mão.” Ma 1;10

Os sacrifícios eram uma triste necessidade; todavia, os hipócritas tratavam como se esses dessem prazer ao Senhor. Por Miquéias, disse o que esperava, mais que, louvores e ofertas; “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; que é o que O Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, ames a benignidade e andes humildemente com o teu Deus?” Mq 6;8

Davi, no auge da sua tristeza e arrependimento por ter pecado, alcançou uma compreensão melhor do temor que é devido perante O Altíssimo: “... não desejas sacrifícios, senão eu daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” Sal 51;16 e 17

“Que darei ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito? Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o Nome do Senhor.” Sal 116;12 e 13

O tesouro


“Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, não nossa.” II Cor 4;7

Forma que o apóstolo Paulo figurou o homem Espiritual, o filho do “novo nascimento” em Cristo Jesus. Algo imperecível, de alcance eterno, habitando num “templo” frágil, efêmero; nossos corpos mortais.

No prisma natural, inevitável que o peso do tempo seja sentido; o homem espiritual por beber da “Fonte da Eterna Juventude”, do Espírito Santo de Deus é diferente. Então, o contraste entre um e outro; “Por isso não desfalecemos; ainda que nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia.” V 16

Espiritualmente, o curso do tempo bem aproveitado deve aumentar nossa novidade, invés de exibir traços de envelhecimento. “De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela Glória do Pai, assim andemos também em novidade de vida.” Rom 6;4

No prisma natural somos todos, criaturas; os que se convertem a Cristo recebem Nele, adoção de filhos, e são desafiados a priorizar o que tem valor superior.

No exercício; “... exercita a ti mesmo em piedade; porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.” I Tim 4;7 e 8

Nos depósitos visando o futuro; “Não ajunteis tesouros na terra, onde traça e ferrugem tudo consomem; onde os ladrões minam e roubam;” Mat 6;19

Na demanda de bens; “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, não nas que são da terra; porque já estais mortos, e vossa vida está escondida com Cristo em Deus.” Col 3;1 a 3

Por fim, no cuidado pra não perder, também devemos priorizar o mais valioso. “... Não temais os que matam o corpo, depois, não têm mais que fazer. Mas Eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei Àquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a Esse temei.” Luc 12;4 e 5

Não é uma lista exaustiva, mas um apanhado suficiente para percebermos o que tem valor maior, e deve receber, portanto, nossa atenção principal.

A frequência aos lugares onde A Palavra da Vida é ensinada, deve robustecer nosso homem interior; para isso é necessário que ele tenha saciado um apetite de recém-nascido; “Desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo;” I Ped 2;2

Alegoria para a Sã Doutrina de Cristo, que lega crescimento aos alimentados por ela.
Diferente do homem natural, que, o mero curso do tempo já faz viçar, o espiritual requer nossa diligência quanto ao que ouvimos, da parte de Deus.

É possível ser infantes com muitos dias, se não levarmos a sério o que aprendemos. “... vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os primeiros rudimentos das Palavras de Deus; vos haveis feito tais que necessitais de leite, não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça; é menino.” Heb 5;11 a 13 Meninos velhos, porque não mamaram o “leite racional.”

Então, quando vemos pessoas mencionando porções espirituais, em demanda de bens materiais, usando A Palavra de Deus com fins rasteiros, inevitável concluir que esses, se ocupam de envernizar o barro, em lugar de crescer no tesouro da graça; pervertem o fim das coisas, erram o alvo. Invés de buscar bens de inefável valor, superestimam as vicissitudes dessa vida, que qualquer má aventura pode perder.

Precisamos olhos espirituais, que só o homem interior possui, para ver, riquezas eternas disfarçados de coisas meras, na preciosidade da edificação espiritual. Foi a um ricaço, com muitos recursos terrenos acumulados, que foi feita uma pergunta que deveria nos fazer pensar: “... Louco! esta noite pedirão a tua alma; o que tens preparado, para quem será?” Luc 12;20

Além de tesouros porvir, a edificação traz livramentos contra enganos, ainda nessa vida; devemos crescer, “Até que todos cheguemos à unidade da fé, ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.” Ef 4;13 e 14

Quem não sabe o valor das coisas até pode armar a funda com pedra preciosa; “Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores, coisas que acompanham a salvação...” Heb 6;9