segunda-feira, 2 de junho de 2025

Alegria espiritual


“Botas... as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar.” Machado de Assis

Refinada ironia do escritor. Pois, ninguém chamaria de “ventura” a algo, do qual teria pressa de se livrar. Na verdade, o “prazer” de descalçar é alívio. Então, teríamos dois tipos de prazer: o de haurir coisas aprazíveis, ou, nos livrar das incômodas.

Prazer e dor acabam sendo frutos do mesmo baraço. O que faz diferença significativa, é a ordem em que eles aparecem nas nossas vidas.

Os que se comprazem da forma dionisíaca, em banquetes, bebedeiras, orgias, precisam lidar, depois, com o contraponto do desprazer; da reposta enfermiça do corpo, à mesa desregrada; ressaca, culpa, ausência de sentido, famílias feridas pela promiscuidade.

A alegria espiritual, requer algumas “dores” antes. Somos desafiados às renúncias das inclinações naturais, “negue a si mesmo” completa submissão ao Senhor; o que, figuradamente se chama de “levar a cruz.” Porém, como a sentença aquela, do início, tivemos o prazer de ter nossos pecados perdoados em Cristo; isso enseja um alívio que, só quem descalça as “botas” sabe apreciar.

O livramento das nossas dores, (pecados) é um processo, que traz consigo alguns efeitos colaterais; tendo aprendido novo modo de viver, segundo Cristo, olhando o pretérito, inevitável certo pejo, alguma vergonha; “Que fruto tínheis então das coisas de que agora vos envergonhais? Porque o fim delas é a morte.” Rom 6;21

Nos Salmos, encontramos uma descrição dessa transição do lixo à salvação, em figuras mui expressivas: “Tirou-me dum lago horrível, dum charco de lodo, pôs meus pés sobre uma rocha, firmou meus passos. Pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos, verão, temerão e confiarão no Senhor.” Sal 40;2 e 3 A transformação fora tal, que seria uma mensagem eloquente para quem visse.

Depois de pago o devido preço, bebido das ervas amargas pelas consequências dos nossos erros, pouco a pouco, começamos a lembrar sem dor; em lugar dos constrangimentos viça a alegria pelo perdão assimilado.

Tendo recebido O Espírito Santo, para nos consolar e guiar, também nos alegramos Nele, porque nos capacita a deixarmos a maneira errônea de viver, para poder andar, agora, segundo Deus. Nesse prisma, pois, primeiro sofremos a “ressaca” necessária quando nossos descaminhos são tratados; depois, fruímos alegria no Espírito, que só quem vive sabe o que significa.

O Salmista usou exemplos daquele contexto agropastoril em que viveu, para dar uma ideia da superioridade da alegria espiritual, em face da, natural; disse que era maior do que a de um agricultor numa grande safra; “Puseste alegria no meu coração, mais do que no tempo em que se lhes multiplicaram trigo e vinho.” Sal 4;7

No caso desse sortudo do agro, a alegria pela fartura de pão e vinho estava garantida; porém, quem recebe alegria oriunda do Senhor, está alguns passos adiante; “Porque o Reino de Deus não é comida, nem bebida, mas justiça, paz, e alegria no Espírito Santo.” Rom 14;17

Quando O Salvador transformou água em vinho, numas bodas em Caná da Galileia, Seu feito ensejou estranheza, pela forma que o vinho fora disposto; “Disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.” Jo 2;10

Sim, foi essa ordem que estabeleceu O Senhor; o melhor fica por último. Primeiro, nos dá descanso para as almas, aliviando nossos fardos de pecados pelo Seu perdão; depois, nos ensina Seus caminhos, e nos capacita pelo Espírito Santo, a vivermos em santificação; à medida que crescemos andando dessa forma, manifesta Sua aprovação às nossas vidas, nos dando alegria espiritual.

O concurso das aflições é inevitável; e quanto mais alguém andar em santificação, mais tende a se decepcionar com as coisas injustas que vivenciará. Como O Espírito Santo não depende das circunstâncias para alegrar aos Seus, os que observam de fora, terão grande dificuldade para entender o “masoquismo”, de Paulo e Silas, cantando louvores no cárcere interior; de Cristo e Estêvão, perdoando seus algozes; ou mais tarde, o mesmo Paulo, subindo ao local da própria execução, como um campeão galgando um pódio. “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda.” II Tim 4;7 e 8

Muitos, sentindo dor pelas “botas apertadas” buscam o “analgésico” das drogas, bebidas, promiscuidade... Que tal uma consulta como Doutor Jesus Cristo? “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, Eu vos aliviarei.” Mat 11;28

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