quarta-feira, 26 de março de 2025

Maçãs nos vasos


“Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” Prov 25;11

Nunca vi maçãs de ouro em bandejas de prata. Possivelmente fosse adorno encontrável, naquela época, nas mesas dos reis ou, de homens muito ricos. Ainda hoje se faz arranjos de “frutas”, para decoração de ambientes; os que possuíam meios faziam de metais preciosos, não de plástico, como os atuais.

Seja como for, a ideia da figura é que é algo precioso, admirável, lindo, quando a palavra é dita em seu tempo oportuno. Algo que não está dito, mas implícito na sentença, é que se trata da palavra certa, no tempo certo. Ouro e prata devem estar presentes no “arranjo”. Qual o sentido de se dizer no momento certo, a coisa errada? Assim, além de saber o quê, devemos saber ainda, quando, falar.

No Ministério do Salvador, O encontraremos por mais de três anos, falando sobre tudo, a todos que O buscavam; porém, ante o ímpio Herodes, que esperava se divertir com algum motivo para zombar, Ele não falou nada, tampouco, operou algum sinal, segundo a tola expectativa.
Achou mais oportuno o silêncio, que gastar Aramaico buscando empatia que não desejava; ainda mais, de quem era irrelevante.

Mesmo com Pilatos que governava a Judeia então, O Salvador foi parcimonioso nas falas; em dado momento o regente disse: “... não falas a mim? Não sabes que tenho poder para te crucificar, e para te soltar?” Jo 19;10

O Senhor bem sabia. Apenas, não achou que o fato de estar diante da autoridade de então, fosse ocasião para pedir socorro, fugindo da missão, que, ousadamente enfrentava.

Reconheceu o poder do monarca, advertindo que o mesmo fora delegado do alto; porém, pontuou que as autoridades espirituais que o rejeitaram, pecavam em mais alto grau, do que ele estava para fazer, ao condenar um inocente. “... Nenhum poder terias contra Mim se, de cima não te fosse dado; mas aquele que Me entregou a ti, maior pecado tem.” V 20

Poderes espirituais têm maior relevância, por lidarem com coisas eternas; enquanto, os civis, lidam com as efêmeras.
Cotejando a importância dos ministros do Evangelho em relação às autoridades terrenas Spurgeon disse: “Não trocamos de lugar com reis em seus palácios; a menos que, eles também conheçam ao Senhor.”

Assim, Jesus falou o estritamente necessário, no momento oportuno; no mais, “... como um cordeiro mudo foi levado ao matadouro...” Is 53;7

“Portanto, meus amados irmãos, todo homem seja pronto a ouvir, tardio para falar, tardio para se irar.” Tg 1;19

Salomão esposara a ideia em dias idos: “Não te precipites com tua boca, nem teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos Céus, tu está sobre a terra; assim, sejam poucas as tuas palavras; porque da muita ocupação vêm os sonhos, e a voz do tolo, da multidão das palavras.” Ecl 5;2 e 3

Foi ele que usou as figuras aquelas, da maçã e da bandeja, coisas que, possivelmente havia em seus domínios; seu reino foi riquíssimo.

Nem sempre a fala é fala, estritamente. Quando desfila por hipócritas, nada mais é que um disfarce, um esconderijo; nos mentirosos, armadilha; não poucos fugazes temendo o que irão ouvir, também usam-na como biombo para se esconder; presto respondem o que não sabem, cuspindo platitudes, clichês, recusando-se a ruminar o que ouvem.

Todos sabemos, infelizmente, que há vozes demais falando de Cristo, vidas de menos, seguindo-o. Segundo a Divina receita, o falar e o agir devem estar juntos, como a maçã e a bandeja aquelas; “Todavia, o fundamento de Deus fica firme tendo este selo: O Senhor conhece os que são Seus; qualquer que profere O Nome de Cristo, aparte-se da iniquidade.” II Tim 2;19

Conhecemos ditos alusivos à seriedade disso, nos pregadores antigos. “O que és, fala tão alto, que não consigo ouvir o que dizes.” “Pregues O Evangelho, use até palavras, se necessário.” Advertências sobre a importância de viver consoante ao que se ensina.

A transformação de quem leva Jesus Cristo a sério se torna uma mensagem, para quem vê o antes e o depois do salvo; o que fora tirado do lodo e firmado na rocha disse: “... muitos o verão, temerão e confiarão no Senhor.” Sal 40;3

Assim, se a fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus, o ver, as transformações que ela opera naqueles que ouvem, é um testemunho imprescindível, acerca da eficácia de Cristo, O Salvador.

O vaso pode ser frágil, de barro; mas, se deixando limpar, O Senhor acondicionará preciosidades nele; “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, não nossa.” II Cor 4;7

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