“Quem tem ouvidos ouça, o que O Espírito diz às igrejas; ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da Árvore da Vida, que está no meio do Paraíso de Deus.” Apoc 2;7
Há pouco deparei com o GP de fórmula 1 do Japão. Assisti duas voltas e perdi o interesse. Como posso ter deixado de gostar, tão cabalmente, de algo que tanto gostava? Na época do Senna e do Piquet, assistia até treinos desejando que eles obtivessem boa colocação.
Mesmo nos tempos menos vistosos, do Barrichello e do Massa, assistia desejado ver alguma vitória. Pensando um pouco sobre isso, cheguei a uma conclusão de algo que, acredito, ocorre com a maioria das pessoas.
Não gostamos de determinado esporte, estritamente; gostamos de vencer. Quando havia possibilidades reais, como nos primeiros pilotos citados, ou mesmo remotas, como no segundo caso, havia sentido em “gostar” de Fórmula 1.
Tanto é vero que esse fenômeno é mais ou menos, geral, que, nos dias em que o Guga Kuerten era vencedor no tênis, grande parte do país se interessava pelo esporte; talvez se repita com o João Fonseca; nos dias em que Éder Jofre e Maguila foram campeões, muitos passaram a “gostar” de boxe; nos dias áureos da seleção de vôlei, quantos também assistiam eles jogarem. Atualmente nem a seleção de futebol interessa.
Assim, parece necessária a conclusão que gostamos mais da ideia de vencer, que, de determinado esporte. Futebol é uma exceção, talvez, porque nele todos possam vencer, mesmo os mais fracos. Alguns levam a necessidade de vencer a extremos tais, que validam erros a favor e os desejam contra adversários. Para “eles” nunca é pênalti; para “nós”, sempre. Desgraçadamente, os árbitros sempre “erram contra” os fanáticos.
Normal gostarmos de ser vencedores. O que pode ser danoso às nossas almas, é quando nosso “time” defende valores deturpados.
Por exemplo, em nossa política dual, do tempo presente, os que defendem o esquerdismo gritam a torto e a direito: “Sem anistia!” Fazem isso deixando patente sua aversão ao Jair Bolsonaro; ignoram que, há centenas de inocentes, muitos idosos, presos há mais de dois anos, sem crime nenhum. Que importa? É preciso que eles vençam o “bolsonarismo”, como adjetivam num reducionismo doentio, aos patriotas, conservadores.
Se eu estivesse do outro lado, não gostaria de ter uma “vitória” assim; ou, quiçá, seja exatamente por isso, por não gostar desse tipo de coisas que eu não esteja mais; afinal, já votei na esquerda um dia. Isso quando as unhas retráteis dos gatos estavam ocultas; agora que se fizeram quais as garras do Wolverine, defendê-los é obsceno, apoiá-los é cumplicidade.
Vista nesse prisma, acredito que a vitória também precise ser passada por um pente fino; ser “derrotado” nas circunstâncias e seguir fiel nos princípios, valores, é uma vitória de maior envergadura; pois, requer a resiliência das nossas almas, coesa com os valores que acredita, mesmo que esses estejam em descrédito, enlameados, caluniados.
Lembro um incidente que aconteceu no final dos anos 90, quando eu estava em Belo Horizonte. Um menino que torcia para o Atlético Mineiro, que naquela época não ganhava nada, disse-me: “Acho que vou mudar; vou torcer para o Cruzeiro”, que acabara de ser campeão nacional. Ao que respondi: “Deixa de ser bundão, rapaz! Daqui apouco o vento vira e teu time começa a vencer e o Cruzeiro a perder, daí vais mudar de novo?” De fato, isso aconteceu, o “Galo” se fez muito mais vencedor nos últimos tempos, que seu rival.
Então, há vitórias que consistem nas conquistas que logramos nos embates, nas escolhas da vida; outras, que se fazem ver, na convicção das escolhas mesmo em tempos adversos, pela resiliência de não ser conquistado.
A vitória que Cristo requer dos Seus é dessa estirpe. Habitar num mundo que canoniza vícios e prezar pela virtude; contemplar a opulência dos maus, e não abdicar da escolha de ser bom; olhar a mentira acumulando lautos frutos indignos, e seguir amando à verdade; sofrer a reiterada incidência de escândalos dos que profanam ao Nome do Santo, sem negá-lo em hipótese alguma...
Não são essas, escolhas naturais; mas, fomos capacitados de maneira sobrenatural, para as opções segundo padrões celestes, não segundo os amontoados fúteis e efêmeros da terra.
Nossas vitórias, eventualmente, estão em “stand by”, e a maioria acha que somos perdedores, por isso; não padecermos dessa cegueira, também é um aspecto da vitória de Cristo, na qual, estamos inseridos, da qual, fomos feitos participantes.
Uma das prerrogativas de ter recebido vida eterna, é não apostar nossas fichas nas circunstâncias, como se tudo o que há fosse o que podemos ver; “Se esperarmos em Cristo, só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” I Cor 15;19
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