“Nós, cooperando também com Ele, vos exortamos a que não recebais a Graça de Deus em vão.” II Cor 6;1
Embora possa ter nuances particulares, num sentido amplo, todos recebem a Graça de Deus. Sol e chuva descem sobre justos e injustos. Os desavisados se portam como se, a incidência dessas coisas fosse um direito seu, a rigor, são um favor Divino. Não o recebermos em vão, seria viver de um modo aprazível àquele que nos gerou.
Mas quando a sina de alguém não parece nada graciosa? Os que recebem filhos especiais, por exemplo, estariam sendo punidos, ou agraciados?
Ante um cego de nascença perguntaram ao Salvador: “... Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as Obras de Deus.” Jo 9;2 e 3
A ideia corrente era que a deficiência do filho seria uma punição a eventuais erros dos pais. O Salvador ensinou que não. Que assim era, para que se manifestassem as Obras de Deus.
Naquele caso, o cego foi curado, o poder e a misericórdia Divina foram manifestos de modo extraordinário. Mas, quando os portadores de necessidades especiais não são curados, seguem assim, são para alguma outra finalidade, ou para que também se manifeste através deles, as Obras Divinas?
Tendemos a ser imediatistas, querermos a explicação simplista, rápida das coisas, mesmo as que têm suas raízes na eternidade. Ora, aquele que foi escolhido para ter um filho especial, o ama incondicionalmente, apesar das limitações dele; é agraciado com a capacidade de amar, um pouco, como Deus ama.
Afinal, diante Dele, todos somos portadores de necessidades especiais. Nenhum de nós, infelizmente, anda direitinho como o Pai gostaria. Sempre Ele precisa nos tolher de certos ambientes onde nos machucaríamos; oferecer o “andador” do perdão, sem o qual não nos manteríamos em pé; e diuturnamente sofre constrangimentos, por nos ver mexer onde não deveríamos. Apesar desses lapsos todos, nos ama; tudo nos faz para nos proteger.
Assim, as Obras de Deus se manifestam através desses escolhidos, ensinando às pessoas de carne e osso, uma centelha do amor Divino que supera lapsos, e se dá, como é próprio do amor, apesar da ausência de méritos, não obstantes, as imperfeições.
Quando O Criador quis que João visse as coisas desde Sua perspectiva convidou: “Sobe aqui.” Apoc 4;1 Eventualmente O Eterno nos convida a subir, deixarmos nosso mirante raso, e vermos às coisas de ponto-de-vista Dele.
Lá, nossa “lógica” perde o sentido; nossas queixas a razão, nossos argumentos, a voz.
Alguém fez um apanhado do Divino tratar em oposição às humanas percepções, que vale a pena citar. “Eu pedi a Deus por força, para que eu pudesse ser bem sucedido, foi e dada a fraqueza, pra eu aprender humildemente a obedecer; eu pedi saúde pra que eu fizesse maiores coisas, foi me dada a enfermidade, para que eu realizasse melhores coisas; pedi riquezas para que eu fosse feliz, foi me dada a pobreza, para que eu fosse mais sábio; pedi poder para que eu tivesse o aplauso dos homens, foi me dada a fraqueza, para que eu precisasse de Deus; pedi tudo o que existe, para que eu pudesse aproveitar a vida, foi me dada a vida, para que eu aproveitasse tudo o que existe; eu não recebi nada do que pedi, mas tudo o que esperei ter; e apesar de mim mesmo, as orações que eu nunca fiz, foram atendidas; eu sou, entre todos os homens, o mais abençoado.”
Não ignoramos que as coisas mais valiosas têm um custo maior. Assim, os pais de filhos especiais carecem nossa solidariedade e compreensão; mas quando tenderem a se sentir preteridos pelo Eterno, repensem. Deus está colocando preciosidades em suas mãos, e conta com os tais para que zelem por elas.
Embora ao simplista olhar do vulgo a sina desses seja uma “cruz”, ao apreço do mundo espiritual, a graça especial de melhor conhecer o Amor de Deus lhes foi antecipada.
Além disso a eterna vigilância que tais situações demandam, tolhe que a sonolência da omissão no pecado os arraste as dores irremediáveis. Como versa certa frase: “A calmaria que nos faz dormir é mais perigosa, que a tempestade que nos mantém acordados.”
Meu desejo é que O Espírito de Deus enriqueça a percepção dos escolhidos para tarefas assim, para que, como exortou Paulo, “Não recebais a Graça de Deus, em vão.”
Do mirante eterno, as dores “insuportáveis” daqui ficarão tênues, perderão seu aguilhão, então: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada.” Rom 8;18
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