“Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se Eu te não lavar, não tens parte comigo.” Jo 13;8
O Senhor estava dando uma demonstração prática de humildade e serviço. Para isso, resolveu lavar os pés dos discípulos.
Pedro se mostrou “humilde” ao extremo, de sorte que não permitiria tal humilhação. Quando a humildade se mostra mui ciosa da própria existência e do desejo de se preservar, pode que nem esteja mais em casa. O orgulho mora de parede e meia com ela, e costuma furtar suas roupas; podendo se apresenta como se aquela fosse.
O Senhor não fez aquilo ante as multidões, ou as câmeras de TV como fazem certos “humildes” modernos. Àqueles que eram seus chegados, visto que, não tendo entendido bem a natureza do chamado, eventualmente disputavam, sobre quem deles seria o maior, desejou dar uma lição especial, longe da multidão. O maior é o que serve.
De Si Mesmo não carecia provar nada; o simples fato de se ter esvaziado da Sua Glória por amor dos pecadores, basta para não deixar dúvida nenhuma. Porém, Pedro errou a mão pensando que se recusar a fazer parte daquela lição seria humildade. Desobediência do tipo que poria tudo a perder. “Se Eu não te lavar, não tens parte comigo.”
Qualquer um de nós, que se mostrar igualmente “humilde”, a ponto de rejeitar à vontade do Senhor, por nos parecer que, Ele “desce” demais, corre o risco de ouvir a mesma repreensão; “Se Eu não te lavar, não tens parte comigo.”
Devemos buscar o esvaziamento, negação do ego em submissão ao Senhor, até que a humildade se nos torne natural. Fazermos a coisa certa sem carecer medalhas, aplausos; apenas porque é o que deve ser feito. É um caminho fácil? Não.
Tendemos ao egoísmo, amor próprio desmedido, querer tudo do nosso jeito. Vencermos os maus hábitos nos quais nos exercitamos é um processo lento, mas necessário; a santificação.
Ela não foi apresentada como uma possibilidade, uma alternativa; antes, indispensável se quisermos ver a Face do Santo. “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá O Senhor;” Heb 12;14
Paulo esmiúça: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; achado na forma humana, humilhou a si mesmo, sendo obediente até à morte, morte de cruz.” Fp 2;5 a 8
Alguns confundem humildade com desarranjo estético, mau gosto, ignorância... se o sujeito fala ou escreve errado o faz porque é humilde; não. Age assim porque tem limitações na área da comunicação. O que se veste mal, por falta de uma roupa melhor, em geral, por causa da pobreza; nada a ver com humildade.
A humildade é um estado de alma, não uma condição social. Há pessoas que não têm onde cair mortas e se acham intocáveis; “Pra cima de mim não! Eu sou mais eu!” Quem jamais viu algo assim?
Salomão viu algumas inversões. Uns que, a condição social se recusava a alinhar-se com a posição das suas almas. Pode acontecer a qualquer um; disse: “Vi os servos a cavalo, e príncipes andando sobre a terra como servos.” Ecl 10;7
Se a humildade não fosse tão importante, O Salvador não teria feito uma demonstração prática para ensiná-la aos Seus discípulos. Não existe didática mais eloquente que o exemplo.
Afinal, como reconheceríamos nossos erros, e deles nos arrependeríamos, sem a humildade de admitir que os cometemos, que O Senhor está certo em requerer que nos arrependamos e os abandonemos? Assim, mais que uma “ferramenta de serviço”, a humildade “carimba o ingresso” dos que aceitam o chamado pra passar da morte pra vida.
A Palavra nos ensina que, “diante da honra vai a humildade”; atrevo a dizer que vai diante da vida também.
Mais que os pés, nossas almas carecem de uma lavagem que regenera, como ensinou Paulo. “Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo.” Tt 3;5
Eventualmente, quando alguém abdica de pensar, e de modo idólatra e fanático se apega a algo ou alguém, se diz que sofreu uma lavagem cerebral. Embora a ideia seja correta, a expressão talvez seja imprecisa. Manipulados assim passam por uma obstrução cerebral, da qual se fazem cúmplices.
O que carece ser lavado em nós é o que suja, não o que entende; diante Deus, sujamo-nos quando pecamos. O dito a Pedro cabe a cada um de nós, pois. “Se Eu não te lavar, não tens parte comigo.”
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