Alguém disse: “O sábio fala porque tem algo a dizer; o tolo, porque tem que dizer algo.”
No primeiro caso, o teor do que vai ser dito justifica à fala; no segundo, pela inquietação, as falas brotam espúrias, sem nexo ou sentido; talvez, o desejo de ser visto, escutado, motivaria o tolo a se expor, mesmo quando o silêncio seria melhor.
Salomão ensina: “Até o tolo, quando se cala, é reputado por sábio; o que cerra seus lábios é tido por entendido.” Prov 17;28
Jó não estava requerendo dos amigos, algo que eles não pudessem dar; na verdade quando vieram a ele e viram a grandeza da sua desventura, emprestaram seu silêncio solidário durante uma semana. “Levantando de longe os seus olhos, não o conheceram; ergueram a sua voz e choraram, rasgaram cada um o seu manto, e sobre suas cabeças lançaram pó ao ar. Assentaram-se com ele na terra, sete dias e sete noites; nenhum lhe dizia palavra alguma, porque viam que a dor era muito grande.” Cap 2 vs 12 e 13
Admirável, a postura inicial deles! Uma solidariedade silente, empática, que recusava a falar, temendo aumentar à dor do já intensamente sofredor.
No entanto, chegou um momento em que eles falaram; invés de empatia com o desventurado, culpavam-no pelo que estava passando. Ele defendeu sua inocência e reclamou dos maus tratos que seus amigos lhe infligiam. Então, enfadado deles disse aquelas palavras desejando que eles calassem a boca. O ouvido prova às palavras como o paladar ao alimento, ensinou; as falas deles não tinham tempero nenhum.
Como é difícil ao ser humano pretensioso e falastrão, a honestidade sóbria de um “não sei”. Mesmo não sabendo se mete a especular, tecer conjecturas tentando explicar coisas para as quais, não tem uma explicação. A necessidade tola aquela, de ter que dizer algo, mesmo que esse não tenha sentido, ou não seja oportuno.
Na presença de Deus somos convidados à parcimônia nas falas; “Guarda o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal. Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, tu estás sobre a terra; assim sejam poucas as tuas palavras.” Ecl 5;1 e 2
Eventualmente a consciência culpada cobra alguma coisa; informa seu hospedeiro sobre a carência de higiene moral, espiritual. Denuncia a um mau passo convidando ao arrependimento e à mudança. Quem não está habituado a banhar-se nessas límpidas águas, quando desafiado costuma se esconder atrás do biombo das falas; não fala para dizer algo; antes, para não precisar ouvir, uma denúncia íntima que o tenta corrigir. Sua agitação é sua fuga.
Por isso, a inquietação gratuita, além de ser uma característica dos tolos, é também uma denúncia de impiedade; “Mas os ímpios são como o mar bravo, porque não se pode aquietar; suas águas lançam de si lama e lodo. Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus.” Is 57;20 e 21
Retratando a mulher adúltera, na ansiedade para “aproveitar” a ausência do marido, e se “divertir”, Salomão conta: “Estava alvoroçada e irrequieta; não paravam em sua casa seus pés. Foi para fora, depois pelas ruas, ia espreitando por todos os cantos;” Prov 7;11 e 12
Assim, os amigos de Jó, quiçá, assolados pelos próprios temores, tentavam “colar” nele alguma culpa, pelo que parecia um duro juízo que o infeliz estava sofrendo. Se, alguém da estatura dele passava por aquilo, o que seria deles, se fossem julgados, então? Talvez fugindo dessas íntimas questões, atribuíam pecados a Jó sem ter condições de demonstrar que falavam a verdade. Por isso, invés de falar assim, o silêncio seria uma postura mais sábia, ponderou aquele.
Às vezes, nem basta que as palavras estejam certas; é necessário que a ocasião seja oportuna também. “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita no seu tempo.” Prov 25;11
Quando a plenitude da verdade seria uma carga mui pesada, O Senhor reteve parte, em atenção à fraqueza dos discípulos; “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não podeis suportar agora.” Jo 16;12
Não precisamos saber tudo, nem poderíamos. Mas, se conseguirmos entender quando é mais oportuno calar do que falar, esse discernimento já nos livrará de muitos males.
Às vezes, inadvertidamente falamos até o que não queríamos; depois, levamos uma surra do silêncio que ecoa nossa estupidez. Enfim, um provérbio hindu versa: “Quando falares, cuida para que tuas palavras sejam melhores que o teu silêncio".
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