sábado, 30 de novembro de 2024

Espírito estranho


“Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?” Sal 137;4

Os judeus cativos ouvindo pedidos dos caldeus que os escravizavam, para que cantassem os “Cânticos de Sião”; salmos de louvor ao Eterno. Então responderam como vimos acima. Estavam em terra estranha, sem motivos para cantar.

Quão estranha era aquela terra? Nos dias atuais, com os meios disponíveis, uma distância facilmente percorrível num dia de viagem. Com as estradas atuais, cerca de mil quilômetros de distância entre Jerusalém, e as ruínas de onde foi Babilônia, no atual Iraque.
Pelos caminhos da época, certamente a distância amentaria uns 20%, no mínimo; o que tornaria uns 1200 quilômetros.

Para a marcha de então, uma distância interminável! Esdras quando reconduziu o povo a marcha durou exatos quatro meses. “No primeiro dia do primeiro mês, foi o princípio da partida de Babilônia; no primeiro dia do quinto mês, chegou a Jerusalém, segundo a boa Mão do Seu Deus sobre Ele.” Ed 7;9

Uma marcha de 120 dias, andando em média dez quilômetros por dia. Onde estaríamos hoje, se estivéssemos a quatro meses de casa?

Aquele povo fora liberto do Egito sob a promessa da “Terra Prometida”; estar alienado dela significava juízo, consternação, dor, invés de motivos para cantar.

Na Antiga Aliança chamou Abrão, “Sai da tua terra e dentre tua parentela para uma terra que te mostrarei...” a Nova anunciada pelo Salvador mirou mais alto: “Arrependei-vos porque é chegado O Reino dos Céus.” Não mais uma terra a um povo específico, antes um reino a todos os povos, mediante conversão.

Antes, a comunhão com O Eterno poderia exibir vínculos geográficos; tipo, prosperar na terra da promessa sob a bênção do Eterno, ou padecer em terra estranha sob Seu juízo. Na Nova Aliança, a questão geográfica perdeu relevância.

Quando a mulher samaritana inquiriu sobre o lugar certo para adoração, se em Gerizim ou Jerusalém, Jesus foi categórico. “... Mulher, crê que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis O Pai; ... os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e verdade; porque O Pai procura tais, que assim O adorem.” Jo 4;21 e 23

O “endereço” da benção é adorar em espírito e verdade, qualquer alternativa que tiver digitais de mentira, ou da carne, será “terra estranha” a tolher os motivos para cantar.

Se dentro de nós, tudo estiver bem, nossa paz com Deus restabelecida em Cristo, preservada na obediência à Palavra, capacitados pelo Espírito Santo, mesmo que ao nosso redor tudo ameace ruir, ou mesmo venha a desmoronar, ainda poderemos louvar ao Eterno, em comunhão com Ele, como tinha com Adão, antes da queda.
Paulo e Silas estavam acorrentados no cárcere, em Filipos; mesmo sem os demais presos pedirem, os fizeram ouvir cantando louvores a Deus. O Eterno moveu-se por tal fidelidade, fez a terra tremer, e abriu a prisão em socorro dos Seus.

Não devemos confundir mercenários que fingem louvar, em demanda de metais, pois esses, mesmo em “terra estranha”, alienados do santo cantam mais que rouxinóis, com supostos louvores; os de Mamon nada têm com O Eterno. “Ninguém pode servir a dois senhores; porque, ou há de odiar um e amor outro, ou se dedicará a um e desprezará outro. Não podereis servir a Deus e a Mamon.” Mat 6;24

Os judeus escravos penduraram suas harpas nos salgueiros à beira do rio; se recusaram a cantar, por não ver motivo para isso. Pois, os cativos da mentira, da carnalidade, amor ao dinheiro fariam bem se também silenciassem, até receber a libertação que O Salvador propicia; “Isto é; Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando seus pecados; e pôs em nós a Palavra da reconciliação.” II Cor 5;19

Os louvores que os “Babilônios” aplaudiriam, não são os do Senhor.

Rodou o mundo no século passado a música “Rivers of Babilon” do grupo Boney M, inspirada nesse incidente. O mundo dançou e aplaudiu muito; Deus não foi louvado por isso. Os louvores Dele são exclusivos. “... o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação.” Luc 16;15

O que fora impossível em terra estranha, se faz abominável em espírito estranho. Antes de se apressar a louvar, deve o pecador aprender a se lavar.

O salmo primeiro está no saltério como se fosse o porteiro da festa, onde mais 149 convidados viriam louvar a Deus. Ele explica aos “calouros” como devem se portar antes da apresentação: “... não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.” Sal 1;1 

Sem esses cuidados indispensáveis, não importa a interpretação, letra ou melodia dos louvores; não passa de entretenimento raso para o vão aplauso dos babilônios.

A urgência da vida


“Ah, quem me dera ser como fui nos meses passados, nos dias em que Deus me guardava!” Jó 29;2

É uma tendência humana, valorizar mais o que falta, o que se espera ter, que, o que se tem. Uma vida em seu curso normal, fluindo sem maiores óbices, corre risco de ser presa do tédio, não porque ela seja ruim; antes, pelo humano erro de leitura referido, onde, os anseios parecem mais valiosos que as conquistas.

Dessa percepção adoecida, vertem ditos como: “Eu era feliz e não sabia.” “Quem me dera voltar no tempo!” ou, a pessimista resignação do, “águas passadas não movem mais, moinho.”

Heráclito, o filósofo, dizia que ninguém passa duas vezes pelo mesmo rio; significando com isso, que, dado o mover das águas, quando passarmos a segunda vez, o rio já não será estritamente, o mesmo. Se, num sentido amplo podemos passar o mesmo rio quantas vezes desejarmos, no sentido estrito, tencionado por ele, está certo. Já não será o mesmo.

Assim é o tempo em seu incessante fluir, seu ininterrupto gerúndio que vai fazendo seu depósito no particípio. O “passando” se faz “passado”.

Eventualmente ao “descermos um degrau” percebemos melhor em qual nível estamos. Digo, alguém saudável, alimentado, sem maiores preocupações, eventualmente padece uma enfermidade, perde o emprego, uma necessidade inesperada lhe turba os pensamentos... de posse desse doído fato novo, o antes entediado percebe que fizera má leitura da situação. Agora, ao peso da nova realidade gostaria de voltar àquela e seria feliz se conseguisse.

No caso de Jó, cujo suspiro pelo pretérito realçamos, tinha um viver pleno, próspero, em paz com Deus, de bem com a vida. Por inveja da oposição, a desventura o atingiu; então, seu anseio por volver aos idos, não fora porque fizera má leitura dos dias abençoados; antes, porque a aridez da provação aumentara a sede, das águas que antes dispusera.

Dizem os poetas que as noites mais escuras acentuam o brilho das estrelas. A alma humana após a queda necessita das dores, para que conheça, quão nocivas as causas são; faça as necessárias renúncias em demanda de uma eternidade onde as mesmas não mais ferirão.

Se, o pecado desse apenas prazer, sem maiores consequências, qual a razão para o evitarmos?
Mesmo quando O Santo perdoa nossos descaminhos, junto à doçura da reconciliação, concorre o amargo da dor, da vergonha, constrangimento por termos ferido a Santidade Dele; uma vez que tomamos Seu Santo Nome como fiador das nossas vidas. 

Spurgeon dizia que, Deus ao nos perdoar faculta que não comamos o fruto dos nossos pecados; mas, faz um chá com suas folhas amargas para que o bebamos, pelo Seu cuidado com nossa saúde espiritual.

Ele É Eterno. Mas a nós limitou numa redoma de tempo e espaço, para que nela reaprendamos o caminho de casa e voltemos a ela. “De um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando O pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós.” Atos 17;26 e 27

Salomão aludira a esse limite imposto para as coisas criadas: “Tudo tem seu tempo determinado, há tempo para todo o propósito debaixo do sol.” Ecl 3;1

A obediência ao Senhor, é que bem nos situa em todo o tempo, acrescentando o necessário discernimento das coisas. “Quem guardar os mandamentos não experimentará nenhum mal; o coração dos sábios discernirá o tempo e o juízo.” Ecl 8;5

O risco de sermos negligentes na mordomia dos nossos dias, é que eles se acabem. Que as coisas, hoje acessíveis, amanhã se tornem impossíveis. Daí o alerta: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.” Is 55;6

Jeremias pontuou a desventura dos que, desprezaram as ocasiões e o tempo disponível; acabaram num “beco sem saída.” “Passou a sega, findou o verão e nós não estamos salvos.” Jr 8;20

Como vimos, desventuras trazem em seu bojo lições que permitem melhor apreciar os momentos ditosos, mas farão mais dolorosas as dores, quando for demasiado tarde para retroceder.

Os que se dão a “curtir a vida porque a vida é curta”, como dizem, muitos deles, num momento perdem suas vidas; acordam de sobressalto numa desventura cabal, descobrem tardiamente que a ilusão de dispor de todo tempo, foi a soturna armadilha que lhes deixou sem tempo nenhum.

“... vos exortamos que não recebais a Graça de Deus em vão; porque diz: Ouvi-te no tempo aceitável, e socorri-te no dia da salvação; eis aqui, agora, o tempo aceitável! Eis aqui agora, o dia da salvação!” II Cor 6;1 e 2

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Ouro de tolos


“Não convém ao tolo a fala excelente; quanto menos, ao príncipe, o lábio mentiroso.” Prov 17;7

Antíteses sobre inconvenientes. O tolo que, por um momento falaria como um príncipe, e o príncipe que o faria, como tolo.

Ambos estariam em “terra estranha”; digo, agindo de modo contrário às suas naturezas. Mais notoriamente, no caso do príncipe, cuja posição demanda liderar, governar, ser exemplo. Porém, título e investidura hierárquica não definem a essência, necessariamente. É possível alguém estar em lugares altos, mesmo sendo inepto para isso. “Vi servos a cavalo e príncipes andando sobre a terra como servos.” Ecl 10;7

Por outro lado, como um tolo usaria fala excelente? O reino das palavras é sobremodo, pródigo; permite que muitas coroas sejam usadas sobre cabeças indignas. Com a célere difusão do conhecimento, há tantas pérolas que podem ser vistas na superfície, flutuando à deriva, como se fossem de parco valor; perdem-se entre espumas sujas no mar das falácias, ao dispor de quem quiser usar.

Talvez, seja justamente essa a causa da banalização; o excesso de informações em tempo exíguo, não permite que avaliemos devidamente as coisas. O que deveria ser sóbrio, contemplativo, solene, acaba trivial, vulgar, desprezível. Uma geração como a atual, onde, alguém paga milhões por uma banana colada sob uma fita adesiva, como “obra de arte”, naturalmente daria uma banana à arte de refletir em busca de entender o sentido das coisas.

Se, sentenças profundas de rebuscado saber vertem dos lábios de quem não vive, nem remotamente, à luz daquilo que partilha, facilmente identificaremos um porco entre cristais, uma mistura de coisas que deveriam se manter separadas.

Nos dias de Cristo, O Senhor referiu antiga profecia, que denunciara esse “calor” dos lábios tentando disfarçar corações frios. “Esse povo se aproxima de Mim com a sua boca, e Me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.” Mat 15;8 Naqueles dias, pois, de comunicações precárias já era possível os tolos usarem falas que não combinavam com o procedimento deles.

Necessário mais uma vez recorrer a Spurgeon: “Uma coisa boa não é boa fora do seu lugar.” No momento em que escrevo recebi duas mensagens via Watts, de um mecânico explicando os problemas do carro que deixei para orçamento. Acontece que não deixei carro nenhum. Foi um erro dele que enviou para mim uma mensagem que deveria enviar para outro. Um exemplo prático de uma coisa fora do lugar gerando estranheza.

No âmbito espiritual que demanda renúncias é onde mais ocorre de pessoas usarem falas excelentes, porções da Palavra de Deus, embora, o procedimento das mesmas nem sempre se deixe moldar pelas coisas que, eventualmente fala.

Também esse é um vício antigo, denunciado pela escrita de Davi: “Mas ao ímpio, diz Deus: Que fazes tu em recitar os Meus Estatutos e tomar Minha Aliança em tua boca? Visto que odeias a correção e lanças as Minhas Palavras para trás de ti? quando vês o ladrão consentes com ele e tens a tua parte com adúlteros. Soltas tua boca para o mal e tua língua compõe enganos; assentas-te a falar contra o teu irmão, falas mal contra o filho de tua mãe; essas coisas tens feito e Me calei; pensavas que Eu era assim como tu, mas Eu te arguirei e as porei por ordem, diante dos teus olhos; ouvi, pois, isto, vós que vos esqueceis de Deus; para que Eu não vos faça em pedaços sem haver quem vos livre. Aquele que oferece sacrifícios de louvor Me glorificará; e àquele que bem ordena o seu caminho, eu mostrarei a salvação de Deus.” Sal 50;16 a 23

Embora nossos crânios tenham sido recheados com cérebros para ser usados, a maioria segue instintiva, orgulhosa da própria ignorância, de cujo mirante moteja dos poucos que não confundem mera existência, com vida.

Muitos príncipes lograram seus principados falando para tolos, naturalmente, como tolos. Quem pensou nos “influencers” com milhões de seguidores, cujos conteúdos carecem melhorar muito para “encher” um conjunto vazio, pensou bem.

A maioria das lideranças políticas não faz melhor. A aptidão fisiológica dos conchavos, fraudes, os eleva a lugares altos, não a retidão moral, habilidade intelectual, probidade, como seria conveniente.

Reitero, o descalabro mais vergonhoso é de lideranças espirituais que, deveriam apontar para O Reino dos Céus, disputando espólios terrenos escandalosamente, com unhas e dentes, mostrando que o “Céu” no qual creem tem cifrões, não, coroas; aplausos humanos invés honras eternas.

Nesses casos, já que fizeram uma escolha rasteira e tola, seus principados também serão preteridos, por honrarem futilidades acima do Rei dos Reis.

Se, as falas nobres não recebem o testemunho de ações do mesmo calibre, as tolas atitudes herdarão a recompensa, na justa medida.
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domingo, 24 de novembro de 2024

A força fraca do dinheiro


“Os tesouros da impiedade nada aproveitam, mas a justiça livra da morte.” Prov 10;2

Eventualmente deparo com postagens de bilionários gargalhando, com a legenda irônica: “Dinheiro não traz felicidade”. Rir folgadamente, qualquer humorista consegue fazer às pessoas, sem que isso signifique, necessariamente, felicidade. Porém, fica óbvio, que alguns defendem a aquisição de posses como feitoras da felicidade; descansar à sombra do dinheiro, uma grande ventura. Será?

Salomão foi o mais sábio dos humanos e riquíssimo, disse: “Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor.” Ecl 7;12

Onde a vida for o objetivo, qual a força, o poder das posses? “Aqueles que se gloriam na sua fazenda, se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles, de modo algum, pode remir seu irmão, nem dar a Deus o resgate dele; pois, a redenção da sua alma é caríssima, cessaria para sempre.” Sal 49;6 a 8

Agur cogitou até sentir inveja dos que viviam de modo ímpio, adversos à justiça, alheios a Deus, entretanto, seus bens se multiplicavam. A prosperidade dos ímpios lhe pareceu melhor conselheira, por um momento.

Depois, refez seu pensar e disse: “Se eu dissesse: Falarei assim, ofenderia a geração dos Teus filhos. Quando pensava entender isso, foi para mim muito doloroso. Até que entrei no Santuário de Deus, então entendi o fim deles. Certamente Tu os puseste em lugares escorregadios; Tu os lanças em destruição.” Sal 73;15 a 18

Sócrates o filósofo, acreditava no juízo após a morte, mesmo desprovido da revelação bíblica que temos. Defendia que as almas seriam julgadas nuas, sem riquezas, sem vestes ostentosas, títulos honoríficos recebidos na terra, nada. Apenas a relação de cada uma com a justiça seria levada em conta. Por aqui, o muito dinheiro compra grandes advogados, juízes até. Porém o juízo não será na terra, tampouco, os juízes serão os venais daqui, que, também serão réus lá.

Se, nas esferas mundanas, as aptidões culturais, a unção pela fama, posse de bens, consegue estratificar a espécie humana em “classe sociais”, separando uns e outros, para efeito do juízo final, todos estarão rigorosamente no mesmo rebanho. “Vi os mortos, grandes e pequenos que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; abriu-se outro livro, que é o da vida. Os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo suas obras. Deu o mar, os mortos que nele havia, a morte e o inferno deram os mortos que neles havia, foram julgados, cada um segundo suas obras.” Apoc 20;12 e 13

Grandes artistas, atletas renomados, tribunos eloquentes, religiosos carismáticos, magnatas da indústria, laureados do cinema, próceres da política, etc. todos ajuntados num único rebanho, arquivados sob o mesmo selo: Mortos. Qual a utilidade, a serventia das muitas riquezas, então? A justiça livra da morte (eterna) não o dinheiro. Lá nada estará à venda, tampouco, ficará oculto.

Desde muitos dias, os manipuladores da espécie humana a dividiram entre capitalistas e comunistas; aqueles seriam os exploradores do trabalho humano, em prol de amontoarem fortunas egoístas; esses, seriam os engajados em criar a chamada justiça social, a distribuição igualitária das riquezas. A manipulação logrou lobotomias tais, que para muitos um pobre se dizer de direita, soa obsceno, embora um notório ladrão, virar presidente ao arrepio da lei, soe normal. Os campos de nudismo têm lá suas regras. Quem se vestir estará errado.

Esse sistema, defensor dos “direitos iguais” foi tentado nalgumas dezenas de países, sempre com o mesmo resultado. Empobrecimento das nações, castração dos direitos elementares, eliminação covarde das vidas dissidentes e enriquecimento de alguns donos do gado, apenas.

O uso de muito dinheiro, enseja muita força, e pode impor o domínio sobre outrem, sobre uma nação até. Mas as posses resultam inúteis onde a necessidade mais urgente é domínio próprio.

Se, sequer consigo gerir bem minha própria alma, da qual sou mordomo, porque desejaria eu, poder sobre almas alheias? “... há tempo em que um homem tem domínio sobre outro, para desgraça sua.” Ecl 8;9

Não se trata dessa coisa rasa e maniqueísta, tipo, ou ama ao dinheiro, ou detesta. Trata-se, antes, de viver equilibradamente, sem desprezar o que é necessário e valioso, tampouco, dar às coisas um peso, uma importância que elas não têm.

O mesmo Agur receitou uma escolha assim: “Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês a pobreza nem a riqueza, mantém-me do pão da minha porção de costume; para que, porventura, estando farto não te negue, e venha a dizer: Quem é O Senhor? Ou, empobrecendo, não venha a furtar, e tome O Nome de Deus em vão.” Prov 30;8 e 9

sábado, 23 de novembro de 2024

A cura dos cegos


“Mas, se ainda nosso Evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais, o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo, que É A Imagem de Deus.” II Cor 4;3 e 4

Como escuras nuvens que anunciam tempestade, cobrindo o sol e turvando o dia, assim a ação do inimigo visando bloquear o Evangelho. Suas vítimas são os que se perdem; a característica espiritual dos tais, incrédulos; a condição ante à verdade, cegos.

A cegueira física pode ser suprida, em parte, por um tato refinado, uma audição apurada. A de entendimento carece a inefável ajuda do Espírito Santo, para aquecer os corações, quando a verdade é anunciada; convencer do pecado, da justiça e do juízo, como aconteceu com dois discípulos a caminho de Emaús. O Senhor ressurreto lhes falou e não O reconheceram. “...porventura não ardia nosso coração, quando, pelo caminho nos falava e quando nos abria as Escrituras?” Luc 24;32 Cegar entendimentos é obra da oposição; abrir pela Palavra, do Senhor.

Aqueles foram tidos como “néscios e tardos de coração,” pois, as Escrituras previam que as coisas deveriam acontecer exatamente como aconteceram. Logo, deveriam estar radiantes de esperança, e não desolados como estavam. A primeira consequência da cegueira espiritual, pois, é sermos feridos na esperança, reduzidos a um estado espiritual tímido, acabrunhado, medroso. Salomão associou o medo à impiedade; “Os ímpios fogem sem que haja ninguém a persegui-los; mas os justos são ousados como um leão.” Prov 28;1

Quem se exaspera por causa dos escândalos no meio religioso e abandona a fé, age como aqueles dois. Desesperaram porque as coisas acontecem exatamente como foi predito que aconteceriam. Acaso, caro desigrejado ferido, não está escrito que nos últimos dias os tempos seriam trabalhosos, por causa da maldade humana, incluindo a hipocrisia no meio espiritual? Ó néscios, e tardos de coração!

Pois, assim como O Espírito Santo em consórcio com a Palavra de Deus nos pode levar à fé, a carne em sua inclinação ao mal, associa-se ao pai da mentira e deriva para a incredulidade. Se as conveniências ímpias precisam da arena religiosa para se exercitar, natural o advento dos que “tendo aparência de piedade, neguem sua eficácia.”

Essa é a batalha espiritual que se trava em cada um, na qual, os que foram armados com dons, discernimento, pelo Eterno, devem empreender esforços para destruir a mentira e seus satélites, deixando evidente a verdade. “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus, para destruição das fortalezas; destruindo conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus; levando cativo todo entendimento à obediência de Cristo.” II Cor 10;4 e 5

O fato que o entendimento deve estar “cativo à obediência”, o chamado “jugo de Cristo”, é que faz impossível ao homem natural agradar a Deus; a orgulhosa altivez lhe soa muito mais atraente que a humilde obediência. “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus; pois não é sujeita à Sua Lei, nem pode ser.” Rom 8;7

Nos que ouvem o chamado à salvação, e recebem a Jesus Cristo como Senhor, Ele regenera o espírito, antes morto, alienado do Eterno, via “novo nascimento”; a obediência que era impossível, deixa de ser; basta que O espírito do homem, então, vivificado, seja ouvido e seguido. “Portanto, agora, nenhuma condenação há, para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.” Rom 8;1

Quem pecava sem dor, por ter a consciência cauterizada, passa a ouvir as repreensões dela, sempre que erra. Querendo acertar, é fortalecido o necessário para isso. “A todos que O receberam deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus. Aos que creem no Seu Nome.” Jo 1;12

O que cega só pode fazer seu serviço sujo em consórcio com os incrédulos. Os que creem recebem luz. Antes erravam sem perceber, até; “O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam.” Prov 4;19

Tendo estabelecido uma relação com Cristo, a justiça Dele lhes é imputada; passam a ser tidos por justos; e “A vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais, até ser dia perfeito.” Prov 4;18

Não erramos mais por cegueira. Ainda podemos errar, agora, por desobediência; pois, a luz faculta ver, a vontade é que precisa ser submissa ao Senhor, para que O obedeçamos e recebamos a eficácia da Sua remissão. “Se andarmos na luz, como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o Sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” I Jo 1;7

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Divina recompensa


“O Senhor retribua teu feito, e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar.” Rute 2;12

Boaz soubera que Rute deixara seu povo, os moabitas, e viera peregrinar em Israel, para não abandonar Noemi, que perdera os dois filhos e o marido.

“Bem se me contou o que fizeste a tua sogra, depois da morte do teu marido. Deixaste teu pai, tua mãe, a terra onde nasceste, e vieste para um povo que antes não conheceste.” V 11 “O Senhor retribua teu feito...” Muitos que reclamam dos “fofoqueiros” deveriam repensar. Quando nossos atos são bons e esses os contam, prestam um serviço à verdade; mas, se forem ruins, a culpa não é deles.

Diferente de uma “alpinista social”, que, eventualmente pode insinuar-se em busca de um casamento vantajoso, a moabita se apegara à sogra com um amor filial, sem nenhum interesse. Quando Noemi aconselhou que ficasse com seu povo ela disse com segurança: “... não instes para que te abandone e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores, irei; onde quer que pousares, ali pousarei. Teu povo é meu povo, teu Deus, o meu Deus.” Cap 1;16 Tinha conhecimento do Deus de Israel; fora casada com um judeu.

Não havia planos grandiosos, tampouco, promessas de fidelidade a serem verificadas. Apenas, um feito meritório e desinteressado, pelo qual, Boaz orou para que ele fosse recompensado. Se ele próprio, homem rico, casando com ela, se tornou parte da recompensa, é outra história. Não teria colocado os olhos numa estrangeira, por formosa que fosse, se não identificasse nela as virtudes necessárias para ser uma esposa valiosa e fiel.

Em geral invertemos a ordem, em nossa sofreguidão, demandando por bênçãos. Invés de termos feitos meritórios que agradem ao Senhor, temos anseios pra requerer aquilo que nos agrada. A Palavra situa corretamente o carro e os bois: “Porque necessitais de paciência, para que, depois de feita a vontade de Deus, possais alcançar a promessa.” Heb 10;36

Além da vontade Divina ter primazia quanto ao tempo, (deve ser feita primeiro) é também diretriz para balizar à nossa, quanto ao objetivo.

Paulo apresentou a sina dos que, mesmo fazendo o Divino querer, estariam sob ataque da oposição. “Portanto, tomai toda a armadura de Deus para que possais resistir no dia mau e havendo feito tudo, ficar firmes.” Ef 6;13

Mesmo que tenhamos “créditos” por atos corretos, isso não significa que estaremos livres dos ataques do tentador, nem, que Deus nos “deva” algo; tenha que recompensar-nos, necessariamente.

Já dizia o poeta Camões: “A verdadeira afeição, na longa ausência se comprova”. Pode O Eterno, pela demorada “ausência” nos fazer ver de que material é feita nossa fé. Se, a mesma é maciça, não oca, certamente nos manteremos fiéis, malgrado, grandes adversidades assolem. “Quem há entre vós que tema ao Senhor e ouça a voz do Seu servo? Quando estiver em trevas, não tiver luz nenhuma, confie no Nome do Senhor; firme-se sobre seu Deus.” Is 50;10

Ele pode nos fazer ver, porque, quando nos testa revela-nos a nós mesmos. Em Sua Onisciência não precisa de teste nenhum para saber de quê, somos feitos.

Eventuais atos na direção correta, são derivados naturais, de quem edificou sua casa “na Rocha”; são as obras da fé a testemunhar que a mesma é sadia. “Porque somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais, Deus preparou para que andássemos nelas.” Ef 2;10

A fé não é tão abstrata quanto parece. Se, sua essência é intangível, as consequências devem ser palpáveis, como ensina o rabino Israel de Salant: “As necessidades materiais do teu próximo, são tuas necessidades espirituais.”

Por outro lado, quem supõe um relacionamento com O Eterno, apenas porque espera obter coisas Dele, a despeito da Santa vontade, incorre em adultério espiritual; invés de algum feito a testificar em seu favor, evidencia que nem o básico, o primeiro passo deu; o indispensável “negue a si mesmo.”

Tiago aprecia tal postura: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites; adúlteros e adúlteras! Não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus.” Tg 4;3 e 4

Rute fora fiel; casara com um servo de Deus que falecera. Não atribuíra ao Eterno culpa ou falha alguma; seguiu sendo fiel; O Senhor a abençoou com novo casamento; aquela que chegara a Belém como peregrina errante, acabou senhora de um próspero do agro, e veio a ser avó do rei Davi. O Senhor galardoou grandemente sua fé.

Em parte, o que Ele fará conosco, depende do que temos feito.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Os adúlteros


“... a adúltera anda à caça da alma preciosa.” Prov 6;26

Se for mudado para o adúltero, não sofrerá nenhum prejuízo; pois, a gravidade é igual, bem como, a sentença. “... os que se dão à prostituição e aos adúlteros, Deus julgará.” Heb 13;4

“... a adúltera...”
não se trata de mero tropeço. Se a mulher é assim nominada, significa que esse é seu “normal”. A palavra define seu caráter. Alguém pode tropeçar e reconsiderar, se arrepender e não reincidir. O mau passo segue sendo mau. Porém, não é suficiente para definir o ser de alguém, como são os maus passos, reiterados.

Grassa, até entre alguns que se dizem cristãos, a “moral” do “permita-se.” Viva novas experiências sejam quais forem, a despeito das alheias opiniões. O mesmo que o Capeta disse a Eva. Permita-se! Você só tem a ganhar.

“... anda a caça...” as pessoas que vegetam na escravidão ao pecado, entre outras mazelas padecem de cegueira; agem a serviço de interesses alheios, sem perceber. A Palavra ensina: “... o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da Glória de Cristo que É a Imagem de Deus.” II Cor 4;4

Embora trabalhem para quem as cegou, a rigor não pensam assim. Acreditam estar apenas em busca de prazeres que “merecem”, para os quais se paramentam, preparam, quais caçadores a espera das presas.

Aquilo que é menos numa relação assim, dada a ilicitude por ferir o direito de outra pessoa, fazem parecer que é mais, nas “iscas” que espalham em busca de vítimas. “As águas roubadas são doces, e o pão tomado às escondidas é agradável.” Prov 9;17

O único “algo mais” que há numa loucura assim, é o deleite satânico de furtar, como se, um erro crasso fosse uma conquista, uma esperteza. A Palavra de Deus é categórica: “Não furtarás!” isso inclui, por certo, afetos alheios.

Aos prudentes, o conselho: “Bebe água da tua fonte, das correntes do teu poço; derramar-se-iam tuas fontes por fora, pelas ruas os ribeiros de água? Sejam para ti só e não para estranhos contigo; seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade.” Prov 5;15 a 18
Sacia-te teu com teu cônjuge apenas, e isso baste. Seja mulher, seja homem, o propenso ao erro do adultério, o conselho é o mesmo: Evita.

Embora ao desavisado a aventura acene suas vistosas bandeirolas de prazeres, a realidade é bem mais trágica do que parece. Do jovem que se deixa seduzir por uma mulher adúltera está dito: “... ele logo a segue com um boi que vai ao matadouro... porque muitos são os feridos que derrubou, são muitíssimos os que por ela foram mortos; sua casa é o caminho do inferno que desce para as câmaras da morte.” Prov 7;22, 26 e 27

“A adúltera anda à caça da alma preciosa.”
Sim, as almas que se deixam capitular por seduções desse tipo, perdem-se. Embora possa concorrer eventual prazer, no momento, no fim da linha o desembarque não será venturoso; “Há um caminho que ao homem parece direito; mas no fim dele, são os caminhos da morte.” Prov 14;12

Quando refere a alma como preciosa, isto é, de alto preço, a sentença evoca um ensino de Cristo: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se perder a sua alma? Ou, o que dará o homem em recompensa da sua alma?” Mat 16;26

Pode parecer libertadora a sentença, “permita-se!” mas, a rigor é um traço da escravidão ao pecado inda pujante. No fundo, a consciência tenta valorar segundo Deus, mas a força do pecado a suplanta, nos que ainda não renasceram em Cristo; “... o que faço não aprovo, o que quero, não faço, mas o que aborreço faço... de maneira que não sou eu que faço isso, mas o pecado que habita em mim.” Rom 7;15 e 17

O Senhor condicionou a libertação dos pecadores, à permanência na Sua Doutrina; o que demanda alguns “nãos” à própria natureza, “negue a si mesmo”, e um sim ao Salvador; então, não mais seremos escravos, nem cegos. “Jesus dizia, pois, aos judeus que criam Nele: Se vós permanecerdes na Minha Palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” Jo 8;31 e 32

No episódio da mulher adúltera narrado por João, Jesus manifesta sua disposição em perdoar; rejeita a hipocrisia e parcialidade dos religiosos da época.

Sua bondade não validou ao adultério, antes ordenou: “Vá e não peques mais.” O arrependimento não é mero peso de culpa, isso é remorso. O vero arrependimento é um divisor de águas, que faculta a mudança de vida nos que se arrependem.