“Melhor é a criança pobre e sábia, do que o rei velho e
insensato, que não se deixa mais admoestar.” Ecl 4;13
Se considerarmos apenas os adjetivos; melhor o sábio que o
insensato, a coisa resultará por demais, óbvia. Porém, analisando no prisma dos
substantivos, diria que o caldo entorna um pouco; melhor a criança que o rei?
Sim, mas uma criança sábia. Contudo, pode uma criança ser
sábia estritamente falando? Em termos de conteúdo, por razões naturais, claro
que o rei, mesmo insensato, sabe muito mais que ela.
A conclusão necessária aqui é que o pensador está
cotejando dois princípios, não, conteúdos. Se, considera insensato o que não se
deixa admoestar, age como dono da verdade, pelo caminho inverso, verá sabedoria
no seu oposto; na criança de alma dócil ao aprendizado, disciplinada, atenta a
eventual correção, essa postura, é sua sabedoria.
No rei insensato vislumbra obra acabada com pouco esmero,
de proveito duvidoso; na criança, vasto leque, potencial imenso, ainda sem uso;
o teatro da vida todo ao dispor, onde pode ser treinada para interpretar um
script virtuoso.
Embora o escopo original atente a personagens reais, seus
predicados tipificam virtudes ou, vícios, que habitam em todos nós. Qualquer
um, independentemente da idade, pode ser “rei velho”, ou, “criança sábia”.
O Salvador desafiou Seus ouvintes a destronarem o dito
soberano, dando lugar ao infante, caso quisessem entrar no Reino dos Céus. “Em
verdade vos digo que, se não vos converterdes, não vos fizerdes como meninos,
de modo algum entrareis no reino dos céus. Portanto, aquele que se tornar
humilde como este menino, esse é o maior no reino dos céus.”
Diria, sem forçar a barra, que O Salvador foi crucificado
entre um rei velho e uma criança, avaliando o comportamento dos dois ladrões que
morreram ao Seu lado. O “rei” continuava ordenando: “Se és mesmo filho de Deus,
desce da cruz, salva a ti e a nós.” O
“menino” advogou a inocência do Senhor, suplicou Seu favor em Seu Reino. Se fez
menino e entrou; o “rei” ficou de fora.
A humildade de meninos nos fará aceitarmos a correção de
quem tem autoridade sobre nós, e ensejará o desejo de aprendermos com quem for
apto a ensinar.
Entretanto, as asas velozes da tecnologia trazem o
conhecimento; os mais novos que não precisam descartar a nenhum aprendizado
inútil, obsoleto, levam imensa vantagem, ante os de mais idade, na “pilotagem”
desses aparatos. Essa “vantagem” acaba se voltando conta eles; pois, tendemos a
respeitar quem sabe mais, e erroneamente equacionam conhecimento com sabedoria.
As facilidades tecnológicas e virtuais podem fazer “reis velhos” de tenra
idade.
Aprendem a dominar a tecnologia antes de dominar a si
mesmo, estando o espaço virtual eivado dos piores vícios adultos, torna-os
acessíveis às crianças, e, desgraçadamente, pode ser mortal.
Isso acaba numa espécie de conversão do avesso. Ela,
quando se dá, traz nova vida espiritual, insta os renascidos ao crescimento
segundo Deus: “Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, fingimentos, invejas,
todas as murmurações, desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o
leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo;” I Ped 2;1 e
2
Os “convertidos” da NET sentem-se adultos precoces
detentores do saber, capazes de “filosofar” coisas profundas usando o método
“Control C Control V” mas, ineptos para dois parágrafos sem dez erros,
incapazes, ante a necessidade do raciocínio lógico. As redações nos
vestibulares denunciam isso. Como fazer esses “reis velhos” se tornarem
crianças sábias?
Se os pais ousarem tolher acesso precoce a tais
parafernálias, serão odiados pelos filhos, pois, todos seus amiguinhos têm. E,
o carvão viraria diamante antes, que o treinado no exercício do vício optasse
voluntariamente pela virtude. Jeremias sentencia: “Porventura pode o etíope
mudar sua pele, ou, o leopardo suas manchas? Então, podereis vós fazer o bem,
sendo ensinados a fazer o mal.” Jr 13;23
Sem dúvida vivemos a pior geração de todos os tempos, no
aspecto moral, espiritual, o bom e velho caráter. Vemos igrejas de mercenários
cada vez mais prósperas, e, escândalos políticos sucedendo-se em velocidade
espantosa.
Paulo anteviu: “Nos últimos dias sobrevirão tempos
trabalhosos. Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos,
soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto
natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para
com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que
amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas, negando a eficácia dela.” II
Tim 3;1 a 5
Os tempos propícios para abraçar a salvação passaram; Deus
busca ainda uns rabiscos, adultos, jovens, que consigam, nesse amontoado de
reis insensatos, se portarem como crianças sábias. A Palavra ainda vale:
“Deixai vir a mim os pequeninos; deles, é o Reino dos Céus.”