“O escarnecedor busca sabedoria e não acha nenhuma, para o prudente, porém, o conhecimento é fácil.” Prov 14; 6
Duas
facetas interessantes nesse provérbio. Primeira: Cotejar índoles
opostas, escarnecedor versus prudente; Segunda: Atribuir predicados
diversos, sabedoria e conhecimento.
A
sabedoria bíblica sempre traz um acessório moral, diverso do
conhecimento que, embora se defina, eventualmente, com a mesma palavra,
não se trata, estritamente, da mesma coisa.
Quando o Texto Sagrado diz
que Deus apanha aos sábios na própria astúcia está ironizando aos que
adquiriram conhecimento, e mesmo que, aos olhos terrenos posem de
sábios, aos Divinos, não passam de velhacos, astutos.
Tiago faz explícita distinção entre sabedoria espiritual que enseja santidade, e animal, que gera os ditos astutos.
“se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não
vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que
vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica…Mas a sabedoria que do
alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável,
cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem
hipocrisia.” Tg 3; 14, 15 e 17
Paulo
também se encarrega de distinguir essas duas fontes; argumenta como se a
queda tivesse lançado a humanidade numa dimensão tal, que o suprassumo
fosse insano; “Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está
o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria
deste mundo?” I Cor 1; 20
Sabedoria, parece, teria sido
confiar irrestritamente em Deus; como a humanidade nunca conseguiu,
restou rebuscar a fé mediante a persuasão numa mensagem repetida à
exaustão até que alguns se salvem; mesmo que isso seja reputado,
loucura. “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a
Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura
da pregação.” V 21
Mais adiante ele reforça seu argumento; “Todavia
falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste
mundo, nem dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; mas falamos a
sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos
séculos para nossa glória; a qual nenhum dos príncipes deste mundo
conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da
glória. Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido
não ouviu, E não subiram ao coração do homem, São as que Deus preparou
para os que o amam.” Cap 2; 6 a 9
Vemos
que a sabedoria espiritual lida com coisas não vistas, ouvidas ou
pensadas, claro que, aos olhos naturais isso é doentio mesmo.
Então,
Deus serve-se dos “doentes” para a missão; “Mas Deus escolheu as
coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as
coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as
coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para
aniquilar as que são;” Cap 1; 27 e 28
Fé
ou incredulidade marcam a fronteira entre prudência espiritual e
escárnio. O que crê teme, considera, orienta-se pelo Senhor no qual
acredita. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo a prudência.” Prov 9; 10
Ao
que duvida resta o escárnio, pois, a Palavra o coloca numa condição de
caído, alienado, passível de condenação, o que fere seu orgulho natural.
O prudente sente-se seguro sob os preceitos Divinos, o tolo, aquece-se no fogo da própria estupidez; “O sábio teme, e desvia-se do mal, mas o tolo se encoleriza, e dá-se por seguro.” Prov 14; 16
Então, restam os conselhos que seguem: “Não
repreendas o escarnecedor, para que não te odeie; repreende o sábio, e
ele te amará.” Prov 9; 8 “O filho sábio atende à instrução do pai; mas o
escarnecedor não ouve a repreensão.” 13; 1
Comporta-se como a raposa da fábula de Esopo que incapaz de pegar as uvas desejadas desprezou-as dizendo que estavam verdes.
Sua
fagulha de anseio por sabedoria, predicado dos prudentes, uma vez
buscada por seus meios, apaga; aí, despreza o bem não atingido, partindo
para o escárnio. Resta o conhecimento, que até os ímpios conseguem,
como seu “Everest” intelectual; o que, para o prudente é fácil, mero
acampamento na base da escalada.
Diverso
da pecha que a fé é cega, lida com “coisas que o olho não viu, ouvido
não ouviu, nem subiu ao coração humano”, pois, vê, onde o homem natural é
cego.
O conhecimento até pode, eventualmente, lançar mão de uma sábia
jurisprudência; só a Sabedoria do Alto, pode criar uma.
O
posto mais alto logrado pelo conhecimento é o “conhece a ti mesmo” de
Sócrates. Nos caminhos da fé temos um upgrade considerável; “…Quem me vê a mim vê o Pai;…” Jo 14; 9