“Então
disse eu: Ai de mim! Estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros,
habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o
Senhor dos Exércitos.” Is 6; 5
Isaías um
dos maiores profetas apavorado, ante a visão onde o Eterno revelou-se a ele;
estou perdido! Pensou.
Interessante que
esse registro se dá no capítulo seis do seu livro; diferente de Jeremias e
Ezequiel, por exemplo, onde a chamada Divina consta na abertura; Isaías teve
essa visão depois de vociferar em Nome de Deus contra uma série de erros;
vejamos: “Ai da sua alma! Porque fazem mal a si mesmos.” 3; 9 “Ai do ímpio! Mal
lhe irá; porque se lhe fará o que as suas mãos fizeram.” 3; 11 “ Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo
a campo, até que não haja mais lugar e fiquem como únicos moradores no meio da
terra!” 4; 8 “Ai dos que se levantam pela
manhã e seguem a bebedice; continuam até à noite, até que o vinho os esquente!”
4; 11 “Ai dos que puxam a iniquidade com cordas de vaidade, o pecado com tirantes de carro!” 5; 18 “Ai dos
que ao mal chamam bem, ao bem mal; que
fazem das trevas luz, da luz
trevas; fazem do amargo doce e do doce
amargo! Ai dos que são sábios a seus
próprios olhos, prudentes diante de si
mesmos! Ai dos que são poderosos para beber vinho, homens de poder para
misturar bebida forte;” 5; 20 a 22
Como vimos, temos uma série de ais, antes
dele ter visto ao Senhor, onde, enfim, disse: “Ai de mim”. Atrevo-me a supor
que suas profecias anteriores foram baseadas no conhecimento da Lei do Senhor,
do Seu Caráter Santo; Isaías era um homem de convicções religiosas firmes e
estilo ousado; assim, desfilou seus ditos, válidos, verazes, mas, segundo ele
mesmo admitiu, era homem de impuros lábios.
Na verdade, é fácil ser zeloso
quanto aos erros alheios, embora, nem sempre tenhamos o mesmo cuidado para com
os nossos. O Salvador ensinou que os “Limpos de coração verão a Deus”, mas, ele
viu, ainda sabendo-se impuro; desse modo, com razão temeu pela sua vida.
Habacuque registra: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, a
opressão não podes contemplar...” Hc 1; 13 Mas, a fé deve ter seu quê de
racional também, pois, lida com Aquele que nos deu intelectos. Se o Eterno
quisesse matar alguém, o faria, simplesmente; por que apareceria ao tal?
Como o
profeta admitiu e confessou sua culpa, Deus tratou de purificá-lo. “Porém um
dos serafins voou para mim, trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do
altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que isto tocou
os teus lábios; a tua iniqüidade foi tirada e expiado o teu pecado.” Vs 6 e 7
Feito isso,
ele ouviu a voz de Deus, como que, compartilhando com ele Seu problema: “Depois
disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, quem há de ir por nós?
Então disse eu: Eis-me aqui, envia a mim.” V 8
Há dois tipos de profetas. Os
ministeriais e os espirituais. Os primeiros são o que Isaías fora até então;
homens conhecedores da Palavra, intérpretes fiéis, capazes de discernir os
males que os cercam e o correspondente juízo; dessa estirpe temos em vasto
número.
Os espirituais são aqueles que ouvem a voz de Deus, que lhes revela
fatos, juízos, rumos da história até então, desconhecidos. Precisamente esse
conhecimento do devir difere Deus dos deuses de feitura humana. Mediante o
mesmo Isaías Ele disse: “A quem me assemelhareis? Com quem me igualareis e
comparareis, para que sejamos semelhantes? ... anuncio o fim desde o princípio,
desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam;” 46; 5 e 10
Assim, Deus
concede honra especial ao comissionar um profeta espiritual; deve este, honrar
a Deus falando tão somente o que Ele mandou; pois, à verdade está associado Seu
caráter.
Se, nós, até podemos acusar o cisco no olho alheio com uma trave no nosso,
um comissionado pelo Senhor deve ser purificado primeiro. Um assim poderá
dizer, eventualmente, o que disse Paulo: “Porque eu recebi do Senhor o que
também vos anunciei...”
Unção e ministério especiais demandam consagração
especial, pureza. “Tu amas a justiça e odeias a
impiedade; por isso Deus, teu Deus, te
ungiu com óleo de alegria mais do que aos teus companheiros.” Sal 45; 7
Olhares periféricos nos mostrarão erros alheios aos montes;
olharmos para Deus, o espelho da Sua Santidade refletirá nossas impurezas. Pode
nem ser divertido, mas, é medicinal.